Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. A coluna também permanecerá em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Vinícius Cabral
TERVE MAUSTETYTÖT*
Quem sou eu para falar da Finlândia com o nosso querido Bruno Leo tendo morado em Helsinque por mais de uma década, não é mesmo? Mas vou falar, porque é do país do extremo norte do planeta que veio minha última descoberta envolvendo a união entre duas das minhas maiores paixões: cinema e rock alternativo.
Está rolando no Mubi uma mostra do cineasta finlandês Aki Kaurismäki. Mostra incrível, daquelas que mereciam um catálogo e várias rodas de conversa. Quase todos os filmes do diretor estão online e, por muita insistência de alguns amigos (não é, Christian?!) resolvi começar por suas primeiras obras de maior destaque, na chamada “trilogia do proletariado”.
Me apaixonei logo de cara com o estilo lacônico, sarcástico e metódico de Kaurismäki, com o Sombras no Paraíso, de 1986. A forma como o cineasta envolve a alienação do trabalho em uma crônica travestida de romance platônico evoca mestres como Godard e Chaplin, mas sempre de uma forma muito particular. Aki é, afinal, um baita autor.
Sua marca própria se manifesta em pequenos detalhes, como no uso que faz da música, seja saindo de radinhos de pilha, seja de forma incidental com acentos dramáticos (como na inesquecível sequência final de Sombras no Paraíso), seja com bandas performando ao vivo. Kaurismäki foi tão longe com a música que, depois de contar com diversos artistas do rock finlandês no elenco de seus filmes, resolveu propor a criação de uma banda cover em 1986, a Leningrad Cowboys. Como o nome já indica, a banda brinca com a polarização da Guerra Fria, bem às vésperas da dissolução da URSS. Claro que a banda ganhou dois longas metragens (hilários, por sinal), mas seu som nem é muito digno de nota, uma vez que a banda se notabilizou por covers de clássicos do rock. O mais marcante nos Leningrad Cowboys, claro, é a performance satírica e os penteados pontudos excêntricos que viraram marca registrada da banda até hoje (sim, eles ainda estão em atividade).
Depois de ver quase todos os seus filmes no Mubi, tive que ir ao cinema assistir seu último trabalho, o espetacular Folhas de Outono, de 2023. O filme é uma obra-prima, que de certa forma dá continuidade à “trilogia do proletariado”, trazendo um retrato atualizado dos dramas da classe trabalhadora finlandesa. E é claro que a música está presente. Mas, desta vez, além do incrível uso de canções finlandesas e de Tangos nas trilhas incidentais (sim, Kaurismäki ama Tango argentino), a banda que aparece performando está longe de ser um grupo de caras com penteados pontudos. Trata-se do duo indie finlandês Maustetytöt, que na língua fino-húgrica significa “Spice Girls”.
Pois de pop as garotas não tem muita coisa. Não tive tempo ainda de desvendar sua breve discografia (de apenas três discos), mas em uma rápida pesquisa por seus principais singles já deu para perceber que o grupo traz, nos melhores momentos, um dream pop à lá Beach House. Nos piores, soam como um synth-wave meio dark à lá 80s (a exemplo da britânica Nation of Language). Antes que eu afunde a minha cova e morda muito minha língua, por ora vou apenas dizer que a canção que as irmãs tocam em Folhas de Outono, Syntynyt suruun ja puettu pettymyksin, é absolutamente inesquecível. Confiram aqui uma apresentação da canção ao vivo (as versões ao vivo desta música são incrivelmente melhores do que a de estúdio).
E, claro, assistam tudo o que puderem do Kaurismäki, já que os filmes estão no Mubi. Depois de alguns meses, vai ser só na base do torrent. Vale dizer também que, se Folhas de Outono não estiver em cartaz na sua cidade, ele entra no Mubi ainda esta semana, no dia 19 de janeiro.
*Terve significa algo como “ei”. A saudação é uma das palavras mais ouvidas nos filmes de Kaurismäki, marcados por diálogos esquisitos e, muitas vezes, sem propósito aparente.
Por Márcio Viana
CANÇÕES DE RESGATE
Há duas semanas eu estava falando aqui do disco a ser lançado pela Sleater-Kinney. Eis que Little Rope chegou, como uma corda lançada para puxar alguém de um buraco. E é literalmente isso.
Hoje reduzido a um duo, após a saída da baterista Janet Weiss, em 2019, o grupo formado por Carrie Brownstein e Corin Tucker, vem com um trabalho visceral, um processo de cura por conta de um drama vivido por Brownstein e compartilhado por Tucker.
A dupla estava na Itália, trabalhando na pré-produção do álbum, em 2022, quando Tucker recebeu ligação da embaixada dos EUA, que tentava notificar sobre o falecimento da mãe e do padastro de Carrie Brownstein em um acidente de carro.
A partir daí, o disco ganhou outro significado, ou melhor, se tornou outro disco, é claro. E o nome Little Rope representa exatamente esta corda a ser jogada para resgatar alguém. A expressão do título vem da canção Small Finds, que diz: give me a little rope.
É um conjunto de 10 canções com muita coesão, e vale muito ouvir do início ao fim.
É sobre luto, sobre sensação de impotência diante de algo inevitável, é sobre revolta. Tudo isso embalado por uma sonoridade muito forte, o que nos traz algum conforto. É Sleater-Kinney fazendo o que sabem fazer, e é um dos discos de 2024, desde já.
Por Bruno Leo Ribeiro
O PEIXE NÃO ESTÁ MORTO
Existem algumas bandas nacionais que eu gosto de apoiar mesmo não sendo totalmente fã. Consigo a separar, reconhecer e respeitar estilos que não sou muito chegado, mas que sei da importância. Uma dessas bandas é o Dead Fish.
No dia 19 de janeiro a banda capixaba lançou mais um disco e fui dar aquele play pra dar uma moral e conferir o novo trabalho. E mais uma vez a banda não decepcionou. Pra quem é fã, tenho certeza que o disco “Labirinto de Memória” agradou demais.
No meu gosto pessoal, o ponto alto do disco é com a música “Aos Poucos”. Gostei bastante dos riffs da música. Outra música que gostei muito é “11 de Setembro”. Mas o disco é todo consistente.
As letras com muita crítica social foda não tem vergonha de falar o que precisa ser falado. Dead Fish é uma banda necessária. O Rock Nacional, que muita gente adora matar, ainda não morreu. Tem muita coisa boa por aí, incluindo o Dead Fish, que está na estrada há muito tempo.
O disco pode ser considerado conceitual. É uma narrativa de como é ser brasileiro e seus problemas como ditadura e neo-liberalismo. Uma perspectiva entre o passado e o futuro.
O som do disco flutua entre Hardcore, Emo Core e Pop Punk. Uma mistura bem bacana pra quem curte esse tipo de som.
O ano mal começou e já tem seu destaque nacional. Tomara que o disco seja lembrado no fim do ano. É aquela coisa… Lançar um disco bem no começo do ano pode dar certo e levar o público a ouvir o disco até o fim do ano, ou ser esquecido. Mas a real é que Labirinto de Memória tem tudo pra ir até o fim do ano com destaque. Grande lance, Dead Fish! Mandou bem demais.
Por Brunno Lopez
TELLUS TIMELINE
A Suécia – sempre ela- já colocou suas garras com força no recém-inaugurado pódio de discos de 2024. Soando como AOR, melodic hard rock ou qualquer outra definição bem gostosa dessa prateleira preciosa, o trabalho mais recente do Autumn’s Child é um daqueles discos que fazem você querer acreditar que ainda existe esperança no mundo, principalmente na cena musical do gênero.
Apesar do nicho exigir elementos protocolares para emplacar a devoção dos fãs, eles trazem uma pluralidade bem interessante em seus escopos de influência, o que resulta em certas canções de absoluta riqueza e apreciação.
Em meio aos refrões bem escritos e melodias cativantes, tem espaço para viajar em momentos que fariam o ABBA se sentir bem representado e episódios singelos que usam a melhor versão que o Beatles já ofereceu ao mundo.
Primeiro 10/10 do ano por aqui e olha que nem de notas eu gosto.
Ouça aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana