Newsletter Vol. 226

Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro

TENHA UM ÓTIMO DIA

Outro dia tava conversando com amigos e veio um papo sobre J-Rock. Gênero de Rock do Japão e fui atrás de algumas coisas e fui dando play em vários artistas recomendados e parei no Special Others.

Eu fiquei completamente fascinado. Não conhecia. É uma banda que mistura Jazz e Post-Rock instrumental, que te leva para lugares interessantíssimos da mente.

O disco que se repetiu em loop esses dias por aqui foi o Have a Nice Day, disco lançado em 2012.

A banda se formou em 1995 e ainda estou naquele processo de achar os detalhes, história e informação sobre a banda. Mas eu fiquei tão encantado que nem consegui fazer tanta pesquisa. Tem que ouvir.

Ainda tenho 8 discos da banda pra me atualizar, inclusive um novo lançamento em outubro de 2023, mas ainda não cheguei lá. To achando que é capaz da minha lista de melhores discos do fim de ano, que achei que já estava fechada, vai mudar. Eles são realmente muito bons.

Ouça aqui


Por Vinícius Cabral

ESPERO QUE ENTENDAM

Não entenderam.

Ebony, com apenas 20 anos na cara, muita coragem e talento, abalou o status quo do rap nacional no último dia 15, em um movimento que pode ser considerado histórico.

Lançou uma diss no YouTube de nome Espero Que Entendam (prod • LARINHX), com a seguinte descrição: “Essa é a minha contribuição pros 50 anos de hiphop”. No vídeo, uma foto amadora da rapper. Na música, terra arrasada. Um beat seco e barras limpas (no melhor estilo hiphop mesmo, lembram?). Chamou todo mundo na chincha: BK, Felipe Ret, L7NNON, Orochi, Major, Djonga e, principalmente Baco Exu Do Blues, que tomou uma tão grande que deve estar até agora se mordendo.

Baco, aliás, que até então tinha lançado a última grande diss relevante do rap brasileiro, com sua Sulicídio, ao lado de Diomedes Chinaski. Os artistas reivindicavam um lugar na cena nacional, dominada por artistas do sudeste. Funcionou, ao menos para o Baco, que hoje é gigante e lança até feats totalmente duvidosos (como aquele deplorável com Luísa Sonza).

Desta vez, o que Ebony reivindica é um lugar de respeito para uma mulher rapper em um cenário historicamente dominado por homens e por uma cultura de objetificação complexa. E ela o faz de forma absolutamente clássica: cuspindo linhas, cuspindo barras. Em versos, Ebony desmonta os machos da cena, e desmonta, por fim, a própria cena, mostrando de quê, afinal, ela é feita. Um raro talento, que aponta para algumas das últimas grandes rappers gringas, como Lil’ Kim e Nicky Minaj, e as coloca em perspectiva diante da nossa realidade local.

Ninguém entendeu. Um a um, os rappers citados por Ebony começaram a se manifestar em tweets imbecis. Alguns fazendo piada, outros tentando sair por cima. O Orochi chegou a publicar um story raivoso (mas apagou). Não era para aparecer uma mina colocando todos eles à prova. Ninguém esperava por isso e, por mais de 24 horas, este foi o único assunto comentado da música brasileira. Teve até “fã” de rap reclamando de diss – um recurso clássico e tão intrínseco ao rap que que criticá-lo é manifestação de ignorância (ou de desrespeito às tradições do gênero).

Ebony foi tão grandona que seu feito mal cabe nesse texto. Ainda vai reverberar muito e pode trazer mudanças significativas para o cenário do rap no Brasil. E ela o fez assim, sem pedir licença, usando o recurso da diss, lançando a música do nada, e tweetando coisas como: “esses meninos fãs de rap tudo tem pai ausente pq os rapper q eles gostam n tão nem aí pra eles o dia q eles vierem pro pop ter uma MÃE eles vão entender o que eu tô falando” (sic).

Para completar, o evento todo serviu para lançar holofotes sobre seu 1º LP, chamado Terapia. Lançado em outubro, o disco estava voando abaixo do radar, mas tem tudo para ser devidamente descoberto. Aliás, talvez seja o melhor disco do rap nacional em 2023. Sem brincadeira. Mas isso não é à toa. Ebony anuncia (também na diss) que estuda hiphop – sua história, suas tradições – , e que está no jogo para ser a melhor. Será. Ou já é?

Ouça Espero que entendam aqui

Ouça Terapia aqui


Por Márcio Viana

ARTE ARTE ARTE

Barbara Recanati foi vocalista e guitarrista do Utopians, seminal banda argentina que durou de 2005 a 2017, e terminou tristemente, com um caso de assédio sexual a duas menores de idade, cometido e admitido pelo guitarrista Gustavo Fiocchi, que culminou em sua demissão e com um inevitável fim do grupo, dada a repercussão.

Mas Barbi seguiu em frente, após ter cuidado pessoalmente do caso, e passou a cuidar de uma produtiva carreira solo, que chega agora ao seu segundo álbum, El Final de Las Cosas, que sucede Ubicacion en Tiempo Real, de 2020.

Lançado em junho deste ano, El Final de Las Cosas me agrada a cada audição, e vai aos poucos galgando lugares em minha lista de melhores do ano (sem spoilers). Atribuo a isso as boas texturas de guitarras e synths, aliadas a versos espertos como “de todas as minhas versões, você me deixou a pior” (em Para Vos) ou “estou mais feliz e muito mais triste do que antes” (em Arte Arte Arte), talvez um autodiagnóstico que vá encontrar muitas pessoas a se identificarem nesse pós/durante-pandemia.

Tudo isso acontece sob o tempero de canções simples, com poucos acordes, mas com uma personalidade e potência incríveis. Disco que traz satisfação e sorriso no rosto a quem escuta.

Aqui, ela comenta cada faixa do álbum, vale ler.

Ouça El Final de Las Cosas aqui


Por Brunno Lopez

DE DUAS HORAS, DUAS CANÇÕES

Retornos nos fazem abrir o coração e os ouvidos para certas coisas. No caso, o retorno de Mike Portnoy ao Dream Theater nos tornou mais suscetíveis aos trabalhos nos quais ele não participou.

Não, não existe nada de errado com Mangini – na verdade, tudo é até certo demais com ele – e na viagem pelos discos do baterista na banda, foi possível encontrar alguns grandes momentos.

Foi ao passar pela discografia dos caras no último episódio do podcast, juntamente com meu xará Bruno Léo, que me deparei com o longo e desafiador “The Astonishing”.

É muita informação até para as durações intermináveis do prog que o grupo pratica. Apesar do enredo interessante, talvez faltou alguém na produção incluir uma síntese ou outra ao Petrucci.

Isso acontece nas belas e elegantes duas faixas do álbum: “Three Days” e “Lord Nafaryus” carregam uma alma teatral envolvente, equilibrando peso e poesia nos moldes poderosos que o Dream Theater construiu sua carreira, só um pouquinho mais, digamos, vitoriano.

Se é bom?
É excelente.

Ainda que só duas vezes.

Ouça aqui e aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana