A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Vinícius Cabral
A GUITARRA MACUMBEIRA DE BEN
Relutei demais em começar a falar desse cara. Principalmente porque, não sei se é de conhecimento de todos, mas Jorge Ben inventou a música por volta de 1963.
Depois que o carioca de madureira pegou em um violãozinho e levou sua invenção mundo afora, a história nunca mais foi a mesma. E não me refiro aqui meramente à invenção de um gênero. O que nosso Jorge do subúrbio carioca fez foi reinventar o samba. Algo que João Gilberto fez em paralelo, de sua própria maneira e com efeitos totalmente distintos. Ben mostrou que pode ter samba no rock, no soul, ou no funk. Tudo que Jorge tocou era samba- ou macumba, para parafrasear nossa amiga, Lara.
E é uma espécie de rock-funk de macumba que Jorge estreia neste África Brasil. Não satisfeito em inventar a música, aqui Jorge Ben inventou a guitarra. Não que não houvesse um excelente flerte com instrumento em alguns de seus álbuns anteriores, mas em África Brasil o instrumento ganha proeminência como ferramenta estética e de composição. Foi a partir de uma troca auspiciosa com Dadi, baixista dos Novos Baianos, que Jorge se ligou (literalmente) na guitarra. Dadi queria um baixo Precision que Jorge tocava. E Jorge estava de olho em uma Ibanez de Dadi. Fizeram a troca e o resultado ficou para a posteridade*.
O álbum já começa, em Ponta de Lança Africano (Umbabarauma), com uma guitarra agressiva, trazendo um riff típico de Ben na Ibanez turbinada por um flanger. É essa também a marca da antológica Xica da Silva. Jorge Ben se desafia bastante esteticamente aqui, seja na forma agressiva (quase punk) com que entrega os vocais na faixa África Brasil (em uma nova versão de Zumbi, mais elétrica e agressiva do que a original encontrada no clássico A Tábua De Esmeralda), seja na descontração hilária de Meus Filhos, Meu Tesouro, ou O filósofo. Os desafios estéticos chegam a seu ápice na metade final do álbum, especialmente em Cavaleiro do Cavalo Imaculado, canção-macumba que entrega um loop devastador.
Este é um álbum que apresenta diversas das vertentes já exploradas por Jorge na primeira década de sua carreira e, em função da guitarra e de influências renovadas (do funk, do soul e do afro beat), abre novos caminhos, que serão devidamente desenvolvidos mais a fundo em trabalhos posteriores. Um disco de certa forma consagrado, mas ao qual talvez não dediquemos a devida atenção com mais frequência.
*A história é relatada no livro “África Brasil: Um Dia Jorge Ben Voou Para Toda Gente Ver”, de Kamille Viola.
Por Bruno Leo Ribeiro
HORA DE SACUDIR A VIDA DO HOMEM COMUM
Pra mim, o Tears For Fears é nível máximo de banda. A dupla Smith/Orzabal é canônica como Lennon/McCartney. Não só porque é uma banda que domina as melodias Pop como também são cheias de crítica social foda.
Em 1989, lembro bem do lançamento do The Seed of Love, mas eu não tinha a menor ideia que uma das minhas músicas favoritas do disco começava com a frase “High time we made a stand and shook up the views of the common man”. Chegou a hora de tomarmos uma posição e sacudir as opiniões do homem comum. Sowing the Seeds of Love foi uma música feita em 1987 durante a semana de eleição que o partido conservador da Margaret Thatcher ganhou pela terceira vez.
Quando eu era criança, só me ligava que a música parecia MUITO com I Am The Walrus dos Beatles com pitadas de Penny Lane. Um pastiche daqueles que a gente aceita, porque a música inspirada é coisa divina. Depois que comecei a entender do que a música se tratava realmente, comecei a gostar ainda mais da banda.
O disco inteiro, não somente a música que inspira o nome do disco, ainda conta com Woman In Chain, Swords and Knifes e Famous Last Words que são perfeitas. Mas talvez a melhor música da banda, pra mim, (desculpa Everybody Wants to Rule The World) seja Advice For A Young At Heart. Só aquela intro com a percussão com um bongozinho fazendo tatatatatatata já me deixa todo arrepiado.
Melodia, progressão de acordes, letra, transições, mixagem, produção, arranjos, vozes e detalhes. Essa música tem absolutamente tudo que uma obra de arte precisa. Só por essa música já vale dar o play no disco todo.
É um disco que poderia ter sido feito semana passada. Sua mensagem de posicionamento e amor acima de tudo é muito atual. Acho que o Tears For Fears é uma das bandas que mais me emocionam. Eu AMO. Sempre bom reviviver esse play e plantar um pouco mais de amor. A gente tá precisando.
Por Márcio Viana
A FEBRE DA LUA CHEIA, MAIS UMA VEZ
Já se passaram seis anos desde que Tom Petty deixou um vazio no lugar que ocupava dentro da música.
Não é a primeira vez que se fala deste disco nesta newsletter – e tudo bem. O Bruno Leo, na edição 85, de março de 2021, já o colocou entre seus recent plays daquela época, e você pode ler o relato dele aqui.
Mas acontece que eu venho ouvindo este clássico e dando uma revisitada na obra de Tom Petty, e me lembrei que foi com este disco que tomei conhecimento de sua existência, bem à época de seu lançamento, com I Won’t Back Down e Free Fallin’ tocando bem nas rádios de rock.
É bastante curioso pensar em Full Moon Fever como um álbum solo de Petty, primeiro por conta de sua indissociável parceria com os Heartbreakers, ainda que seu nome sempre apareça à frente. Segundo porque a maioria dos integrantes acabou fazendo uma participação no disco, sobretudo o guitarrista Mike Campbell.
Para além dos dois singles, o disco se revela um belo template do folk rock produzido naquela virada de década, moldando tudo o que viria depois neste segmento.
Naquele momento, o produtor mais requisitado nesta área era Jeff Lynne, do Electric Light Orchestra, que havia acabado de produzir o disco Cloud Nine, de George Harrison, e integrava com ambos e mais Bob Dylan e Roy Orbison os Travelling Wylburys, supergrupo deste estilo. Petty acabou convencendo Lynne a produzir algumas músicas, e foi tratando com ele canção por canção, até que ao final houvesse um disco inteiro produzido por ele.
Além de quase todos os citados Heartbreakers (menos o baterista Stan Lynch), há participação de quase todos os Travelling Wylburys (menos Bob Dylan).
Outros destaques, além dos dois primeiros singles, são o belíssimo solo de Campbell em Runnin’ Down a Dream e o ritmo sessentista de Yer So Bad e The Apartment Song.
Em resumo, é um álbum para ouvir sem pular faixas. Viva Tom Petty!
Por Brunno Lopez
MOB RULES (E NÃO É SABBATH)
Quando mergulhamos nos oceanos do Power Metal, todos esperam performances virtuosas com melodias relativamente complexas e BPM’s na velocidade da luz. Porém, em 1999, os alemães do Mob Rules desafiaram os padrões do estilo e criaram um álbum energético, cativante sem os alicerces ‘obrigatórios’.
Savage Land é o resultado ousado dessa nova mescla de ingredientes, que ainda que segurem a mão na complexidade, conseguem um debute delicioso de ouvir. Direto ao ponto, muito bem produzido, linhas vocais que grudam na cabeça e, se podemos colocar um ponto alto nesse equilibrio, ele fica por conta dos fills de encaixe perfeito do baterista Arved Mannott.
E como o Márcio Viana disse sobre o álbum do Tom Petty, é pra ouvir sem pular faixas.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana