Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Vinícius Cabral
ACABOU A BRINCADEIRA
A história começa mais ou menos assim: ano passado a Epic Games, empresa de videogames responsável por alguns títulos hiper populares (como o Fortnite), comprou o Bandcamp. Sim, o nosso querido www.bandcamp.com. A melhor e talvez única plataforma de música independente que sobreviveu ao rolo compressor dos streamings e à épica recuperação do oligopólio vexatório das grandes gravadoras.
Muita gente critica o site, principalmente pelo seu aplicativo, realmente péssimo em termos de usabilidade. Isso sem contar, claro, que no Brasil o site nunca chegou propriamente a decolar. Mas de pouquinho em pouquinho, como quem não quer nada, o Bandcamp soma todos os anos uma média de 100 milhões de dólares em vendas de artistas independentes ao redor do mundo. Artistas como eu, e como vocês que me leem. Mesmo pouco popular em terras brasileiras, o site foi responsável pela receita mais substantiva que já tive nos meus dois projetos musicais (godofredo e The Innernettes).
No fim das contas, mesmo com todos os defeitos, o Bandcamp se firmou como uma referência para a música independente. Editoriais com curadoria, dicas e artigos, e o famoso “Bandcamp Friday” (iniciativa em que o site abre mão das porcentagens de administração na venda de discos e merchs em algumas sextas-feiras do ano), ajudaram a solidificar essa posição. Com tudo isso, muitos estranharam o porquê da Epic Games querer comprar a empresa.
No final de setembro de 2023 o mistério foi solucionado.
A Epic Games, que comprou o Bandcamp por um preço de “banana” e não mexeu em praticamente nada no site, “passou o ponto”. Vendeu o Bandcamp para uma empresa de licenciamento de músicas, a gigante Songtrdr. Aí sim ficou claro o processo. Tratava-se apenas do habitual rolo compressor de compra-valorização-venda que caracteriza a pilhagem acumulativa do capitalismo tardio.
A Epic Games não estava interessada em melhorar o Bandcamp. Mexeu algo no aplicativo, melhorando um pouquinho a navegação, mas nada significativo. Também não mexeu em nada substancial em termos conceituais e de conteúdo. Ela simplesmente comprou o Bandcamp para vendê-lo por um preço maior. Mas, desta vez, para um conglomerado que tem muito interesse no Bandcamp, por trabalhar com licenciamento musical.
E o rolo começou a passar. Em menos de um mês, a Songtrdr já demitiu uma pancada de gente (com foco no setor editorial do site). O que significa, basicamente, que a intenção deles é desmontar o Bandcamp como uma plataforma de curadoria e atendimento a artistas underground, e se aproveitar do enorme catálogo de músicas adquirido para promover negócios de licenciamento cada vez mais baratos. Afinal, sabe-se lá se, a partir de agora, quando subirmos uma canção no Bandcamp, estaremos doando-a para licenciamento em diversas mídias diferentes através da Songtrdr (naqueles “termos de uso” em letrinhas minúsculas).
Parece conversa de “crackudo” de bolsa de valores, mas é importante que todos entendam o que está em jogo no capitalismo tardio em relação aos setores criativos da sociedade. Desde o Spotify, que domina fatias inteiras do mercado e, inclusive, é dono de porcentagens significativas em empresas de distribuição (como a Distrokid), até este imbróglio Bandcamp-Epic Games-Songtrdr, o que vemos é a irreparável tendência à concentração, excluindo os pequenos de toda e qualquer margem de manobra que eles possam ter. É a “mainstreamização” completa da música. Processo que parece só se fortalecer.
Para quem vive de música, como a gente (consumindo e produzindo), tudo isso é muito grave. Fantano falou muito bem sobre isso aqui, e a Pitchfork também. As corporações já mataram nossa libido e comprimiram todo o nosso tempo, transformando-nos em escravos de produção de conteúdo para plataformas. Agora, pretendem eliminar mesmo as iniciativas mais minúsculas de respiro.
Talvez não haja mais underground daqui a alguns anos, se este não começar a bater suas asinhas no vasto (e aparentemente inabitado) mundo offline. No online também ainda há muitas alternativas. Mas nenhuma delas passa pela plataformização e pela dependência dos mesmos agentes responsáveis pela pilhagem observada a olhos nus.
A gente precisa acordar, antes que seja tarde demais.
Por Bruno Leo Ribeiro
RIP MÚSICA INDEPENDENTE?
Que a música independente vai continuar existindo e sendo importante pra música andar pra frente e puxar a critiviade eu não tenho a menor dúvida, mas o gigante do Streaming Spotify tá tentando enterrar os pequenos.
Saiu essa semana a notícia que em 2024 o Spotify não vai mais pagar pelos streamings se os artistas não alcançarem um número mínimo de plays. Os números parecem pequenos, com 200 plays por ano, o artista vai poder receber, se não, não ganha nada.
O dinheiro não é o problema aqui, o problema é a mensagem que passa. Nenhuma gravador ou artista grande vai se pronunciar contra isso. Pra eles tanto faz. Dizer abertamente sem vergonha de dizer que não vai pagar quem não tiver muito play é vergonhoso. Se a sua plataforma existe e tem gente pagando mensalidade, você tem que pagar todo mundo, mesmo que tenha 5 plays. Esses 0.5% de artistas com menos de 200 plays é muito dinheiro ainda. Pra onde vai esse dinheiro?
Pro artista pequeno, não faz tanta diferença ganhar 20 dólares. Talvez faça, já que isso já paga a anuidade dos distribuidores pra colocar sua música lá, mas esse não é o ponto. O ponto é que aquela mensagem que os streamings tão aí pra ajudar os ouvintes terem acesso é pura balela.
Com a música cada vez mais plastificada e entediante, a pior coisa que vai acontecer é todo mundo só escutar música básica ou músicas feitas pra playlists que soam como música de elevador.
Uma boa parte dos artistas do mainstream estão fazendo apenas os mesmos acordes e músicas familiares pra não desagradarem os ouvintes e outra parte dos artistas tão fazendo bossa-nova-chill-ambient-music pra entrarem nas playlists oficiais e dos curadores pagos que existem por aí. Nisso, todo mundo vai acabar ouvindo apenas música segura e básica e o gosto das pessas vai sendo moldada por isso.
Quando o Indie ou o Alternativo tentarem fazer músicas mais criativas e mais diferente, ninguém vai gostar.
Nunca foi tão importante ter curadoria. Nunca foi tão importante o ouvite se ligar nisso e continuar sua busca pelo novo, diferente e pelo criativo.
Por Brunno Lopez
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Sim. Eu sei que todo mundo já sabe. Até quem não sabe diferenciar uma Mapex de uma DW sabe. E mesmo com todos sabendo, eu não poderia deixar de reverenciar o retorno do baterista mais genial que a Berklee College Music poderia formar.
Desde 2009, quando o clipe de ‘Whither’ mostrava Mike Portnoy andando em câmera lenta e acenando num tom velado de despedida, eu espero por esse momento. Desde os segundos finais de ‘The Count Of Tuscany’, eu aguardo por esse instante.
O mundo passou por tantas coisas nesse período – e ainda passa – mas o que nunca efetivamente passou foi a esperança desse acontecimento. A influência máxima de alguém que transcendeu seu instrumento e o colocou como protagonista. Se a bateria canta tão alto quanto um refrão, se um groove soa tão indispensável quanto uma frase, a culpa é dele.
É também culpa dele os presentes que ganhamos em forma de Flying Colors, The Winery Dogs, Adrenaline Mob, Sons Of Apollo e outros tantos projetos que tinham sua assinatura nas baquetas. Porém, o Dream Theater sempre foi sua maior expressão artística.
Não há nada mais maravilhoso do que estar em casa.
E se ele está, todos estamos.
Por Márcio Viana
A NÃO VOLTA DOS QUE SE FORAM
Se o texto do Brunno Lopez aí acima celebra uma grande volta, o meu chega para falar de uma não-volta, que foi tratada – pelo menos aqui no Brasil – como uma volta, e isso diz muito sobre nossa imprensa musical e seus caça-cliques.
Vi em muitos lugares, principalmente no site que um dia se chamou Twitter, um grande estardalhaço, dizendo que Liam Gallagher anunciava a volta do Oasis para uma turnê comemorativa dos 30 anos do lançamento de seu álbum de estreia, Definitely Maybe.
Foram necessários mais alguns cliques para descobrir que a tal volta não incluiria seu irmão e atual desafeto, Noel Gallagher.
Foi necessária uma rolagem de tela para descobrir que a tal volta sequer incluía os integrantes de qualquer formação da banda. Foi necessário buscar outras fontes para descobrir que pode ser, talvez, quem sabe, a tour conte – em alguns shows – com a participação de Bonehead, guitarrista da formação que gravou o álbum.
Foi inevitável rir quando a Folha publicou a imagem abaixo, que mostra a última formação da banda, mas descrevendo como se fosse a formação original, e ainda trocando o nome do baterista Alan White pelo do tecladista Jay Darlington, que não estava na foto. Além disso, Andy Bell foi descrito como baxista, e Gem Archer parece tocar um inusitado instrumento chamado centro.
Em resumo: foi preciso, tal qual um participante das Olimpíadas do Faustão, desviar de várias barreiras e obstáculos para chegar à real notícia, que é simplesmente:
Liam Gallagher, com sua banda de apoio, irá fazer uma turnê comemorativa de 30 anos do lançamento de Definitely Maybe, disco de estreia de sua antiga banda, o Oasis.
165 caracteres, incluindo os espaços. Olha que coisa: cabia num tweet!
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana