Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
AMO MUDAR DE IDEA
Confesso que tenho sentimentos conflitantes quando uma banda ou artista super veretano lança um disco novo. Tem os artistas que tão fazendo música pra se divertir e a gente curte mesmo assim (Deep Purple). Tem os artistas que lançam um disco bem fraco e acaba atrapalhando um pouco da carreira (Iron Maiden). E tem os que acertam demais, principalmente quando a gente tem expectativas baixas.
Falei milhões de vezes que os Rollings Stones não precisavam mais lançar mais nada. Com uma carreira com mais de 30 discos de estúdio (vocês podem ouvir um pouquinho de cada um desses discos no nosso Especial Rolling Stones aqui), eu sempre disse que eles não precisavam de mais nada novo. Mas ainda bem que eles acertaram e eu mudei de ideia.
O Hackney Diamonds é um disco delicioso de ouvir. Depois do ótimo clipe de Angry, fiquei atento. Com a música em participação da Lady Gaga perdi o interesse (por achar que ela tava apenas sendo um backing vocal de luxo), mas no esquema grande das coisas, o disco completo é muito legal.
Não vai ficar na prateleira de discos clássicos da banda, mas é um ótimo disco no nível do Bridges to Babylon de 1997. Está ali no mesmo nível. Bons riffs, ótimas melodias e nenhuma firula. Tudo feito com muito bom gosto.
A única coisa que tenho que observar é que o disco poderia ter apenas 10 músicas. Acho que 12 ficou um pouquinho demais e acaba ficando muito no mesmo conceito, mas mesmo assim é bom de ouvir.
Quando falo que os veteranos tem que parar de lançar é porque sempre tenho o receio de me decepcionar, mas não é o caso aqui. E eu amo quando tenho que mudar de ideia. Taca play nas lendas.
Por Vinícius Cabral
NINGUÉM OUVIU
Ainda não me conformo que só fui explorar a fundo a carreira da banda argentina Suárez em 2022. Não me conformo também que, em pleno 2023, siga sendo dificílimo conseguir informações sobre a banda no Brasil. Não há um raio x, um perfil ou matéria significativa para ilustrar tudo o que eu falo sobre eles solitariamente nesta newsletter.
Vá lá que este ano a sala de cinema do Minas Tênis Clube, em BH (comandada pelo meu amigo Samuel Marrota), trouxe o cineasta Martín Reijtman para uma conversa, onde ele falou um pouco da insuperável e inesquecível Rosário Bléfari, dona da porra toda à frente da Suárez. Mas ainda foi muito pouco. E eu, em uma viagem de trabalho, perdi a conversa.
Lamentações à parte, é hora de celebrar mais uma descoberta destas que mudam a vida da gente. Nas minhas contas, Suárez tinha apenas 4 álbuns de estúdio, dentre os quais a obra inesquecível Galope, sobre a qual escrevi na edição de nº 164 desta newsletter. Acontece que, após o Excursiones, de 1999, último disco cheio de estúdio, a banda lançou um EP pelo seu selo independente no final de 2000. A pequena obra chama-se 29:09:00, e é uma pancada. Trata-se de um disco de apenas 5 faixas, todas versões de canções de uma outra banda, ainda mais ostracizada por aqui, a espanhola Le Mans.
E é aí que a coisa fica mais densa e complicada. Não era do feitio da Suárez fazer covers, mas a banda havia se apresentado algumas vezes explorando o repertório da banda espanhola, e registrou 5 destas interpretações neste EP explosivo. É inacreditável, já no primeiro play, notar as semelhança da faixa Zerbina com Stereolab. Acontece que a canção foi lançada pela banda espanhola em 1995, em uma versão ainda mais arrojada e moderna do que a que Suárez nos apresenta aqui. Um ano antes, portanto, de Emperor Tomato Ketchup cristalizar definitivamente o som do Stereolab, e o estilo que nos acostumamos tanto a associar ao indie do início dos anos 2000. Será que a sonoridade que chamo de stereolabiana foi antecipada por uma banda independente espanhola praticamente anônima ainda em 2023? É uma hipótese a ser perseguida.
O legado de Le Mans ainda seguirá como algo que preciso desenrolar devidamente. Por ora só posso adiantar que ouvi seus principais singles e álbuns, e há algo muito potente ali, que não cabe neste pequeno texto, dedicado majoritariamente à argentina Suárez. As canções originais de Le Mans já são antológicas por si só. Mas na voz de Rosário, clássicos como Zerbina, Mi Novela Autobiográfica e Un Rayo de Sol soam ainda mais urgentes e necessários.
Porque Rosário, e a banda Suárez, têm esse poder: o de jogar em um liquidificador tudo aquilo que entendemos como “típico” do indie rock noventista e bagunçar com uma indolência totalmente latino americana. O impacto deste meteoro alucinante chamado Suárez não pode ficar restrito às curtas linhas que dedico à banda nesta newsletter.
Por Márcio Viana
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO ANARQUISTA
Em seu site oficial, Sunny War, cantora, compositora e guitarrista/violonista classifica seu som como folk/punk. Não é exagero. Em seu quarto álbum, intitulado Anarchist Gospel, ela mistura as influências do blues do Delta com as de Bad Brains, folk setentista e outros elementos.
O disco é produzido em parceria com Andrija Tokic, famoso por seu trabalho junto ao Alabama Shakes, e é cheio de convidados como Jim James, do My Morning Jacket, o guitarrista Dave Rawlings, os cantores e compositores Allison Russell e Chris Pierce, entre outros.
Há espaço para uma bela cover de Baby Bitch, do Ween, com refrão acompanhado de um coral infantil, contrastando com a melancolia da letra.
O clima do álbum tem certa razão, por ter sido gravado em meio a situações de perda vividas por War, e tudo se explica em sua declaração presente no site oficial:
“Este álbum representa um período muito louco da minha vida, entre a separação e a mudança para Nashville e a morte do meu pai. Mas agora sinto que as piores partes já passaram. O que aprendi, creio, é que a melhor coisa a fazer é sentir tudo e lidar com isso. Apenas sinta tudo”.
Por Brunno Lopez
O POP ALTERNATIVO FAZ UM ACENO
Quase um outubro inteiro se foi e com ele aquela urgência em definir mais uma compilação deliciosa de melhores discos desse ano. Até agora, 2023 parece prolífero em diversas cenas e na minha esteira completamente desconectada de qualquer régua especializada, grandes álbuns já aparecem muito confiantes no título.
Um desses, que ainda não chegou com material completo, é o single impressionante da banda australiana – elas gostam de ser chamadas de banda, escolhi respeitar – The Veronicas. A sonoridade de ‘Perfect’ flerta com a melhor versão delas, misturando rock adolescente de 2005, só que agora com temáticas mais adultas e indispensáveis.
As vozes das gêmeas se complementam naturalmente e trazem uma reflexão relevante (ainda que um tanto quanto superexplorada) sobre a fascinação por comparações em decorrência da demanda interminável de redes sociais e seus padrões de perfeição infinitos
No âmbito musical, ainda que as linhas sejam quase previsíveis, o refrão surpreende por explodir após ter seu primeiro trecho cantado apenas no vocal, sendo duplamente catchy. Jessica e Lisa sabem como criar canções com alto poder de fixação e essa é mais uma amostra de que as australianas estão em forma.
Às vezes, tudo o que a gente precisa é de uma sonoridade que já nos confortou, porém, com um abraço mais forte e atualizado.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana