23 de Dezembro de 2019
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção. (O Brunno Lopez já tá em clima de festas e tirou uma semaninha merecida de férias).
NOTÍCIAS
Bruno Leo Ribeiro
HÁ ESPERANÇA?
John Petrucci e Mike Portnoy formaram o Dream Theater há mais de 30 anos. Mesmo liderando a banda, em 2010, o baterista Mike Portnoy queria um tempo. Entre os ciclos infinitos de bandas que é de gravar, sair em turnê, divulgar o disco, entrar em estúdio de novo e gravar um novo disco e sair em turnê e por aí vai, o Mike queria uma pausa. Ele sempre foi responsável pela montagem do set, organização das datas, os conceitos dos shows e muito mais. Uma hora cansa. Ele pediu uma pausa, mas a banda quis seguir, então ele anunciou que ia sair da banda.
Um divórcio complicado que acabou em acordos judiciais e muitas tretas. Não estou aqui pra defender um lado ou o outro lado, quem me conhece bem sabe meu sentimento, ainda mais por ser muito fã do Mik… Ops… me posicionei.
Desde que saiu, especula-se quando ele irá voltar. Será que volta?
A entrada do baterista Mike Mangini não foi ruim, mas muitos fãs (eu) dizem que a banda perdeu a alma rock n roll com a saída do Portnoy. Então sempre rola a esperança de uma volta, uma turnê de reunião… aquelas coisas que as bandas fazem pra ganhar um dinheiro extra. Mas parece que o Dream Theater não vai voltar mesmo. Nesses 9 anos, o Portnoy gravou um disco com o Avenged Sevenfold, fez turnê com o Twisted Sisters, com o Stone Sour, e montou milhares de bandas como The Winery Dogs, Sons of Apollo e muitas outras. A vida seguiu. E a banda ainda lançou 4 discos sem ele.
Então que chega a época de Natal e o Portnoy posta em suas redes uma foto curtindo uma noite especial com seu amigo John Petrucci. Foi o suficiente pra aquecer os corações desses fãs que esperam por uma volta.
Será que tem chance? Bem, eu acho que não. O Mike já postou foto com o Jordan Rudess (tecladista do Dream Theater) e em outras ocasiões, com o próprio John Petrucci. Parece uma relação saudável de ex. Mas acho que criativamente e musicalmente a banda e o Mike estão em outra sintonia. Cabe aos fãs, curtirem essa foto, comentarem “Please, come back!” e escutar os discos antigos da banda.
Afinal, no espírito do Natal, o importante é acreditar.
Vinícius Cabral
JUICE WRLD E A CRISE DOS ANTIDEPRESSIVOS
Algo bastante obscuro parece permear a vida dos nossos queridos jovens da Geração Z (os “Zoomers”). No dia 8 deste mês de dezembro, mais um rapper na flor da idade morreu em decorrência de overdose de pílulas, após sofrer uma convulsão no aeroporto de Midway em Chicago. Desta vez se foi o talentoso e extremamente promissor Juice WRLD, autor de uma das mixtapes de Trap mais interessantes do ano. O destino trágico de Juice mimetiza o de Lil Peep, falecido a dois anos exatamente na mesma idade, e por um motivo similar: um coquetel de Fentanil e Xanax. O que será que está levando tantos jovens à uma dependência química tão forte em antidepressivos? No refrão de um dos clássicos do ano, a talentosíssima “Zoomer” Billie Eilish emenda um: “I don’t need no Xanny, to feel better”. Aparentemente passou a ser um motivo de força e orgulho evitar o Xanax ou qualquer outro tarja preta. Excesso de informação e dependência na liberação de dopamina promovida pelos dispositivos e redes sociais? Angústia exacerbada pelas incertezas políticas e econômicas de um mundo sem referências ou padrões funcionais? Romantização do uso de remédios como uma ferramenta de socialização e relaxamento (como fica evidente em diversas e diversas músicas icônicas deste período e desta geração)? Seja qual for o motivo, a depressão e seus supostos remédios (que lidam com a doença criando uma dependência inacreditável) tem mantido uma das gerações mais iluminadas, confrontacionais e talentosas da história da humanidade em uma condição de apatia permanente, fomentando outros males como a overdose, o suicídio e a demência (sim, há males psiquiátricos seríssimos sendo provocados pelo uso de drogas prescritas, como esquizofrenia, demência e síndromes de todas os tipos). No fim das contas, pode ser que isso tudo seja, simplesmente, um reflexo da falência de um sistema que não acompanha o ritmo da evolução humana em nenhum setor. Seja na economia, na política ou na saúde pública, vivemos ainda em um mundo completamente despreparado para lidar com as nuances mais subjetivas da existência, e a forma como lidamos com a tristeza e a depressão deve muito a isso; diante de uma crise, ou a rejeitamos, desafiando o senso comum e a ciência, ou “cortamos o mal pela raiz”, na esperança de que as pílulas possam, magicamente, resolver todos os problemas. Felizmente (ou infelizmente) o ser humano, (e os “Zoomers” em específico) são bem mais complexos do que isso.
Márcio Viana
CHEGADAS E PARTIDAS
A essa altura, não é nenhuma novidade a informação que chegou há cerca de uma semana: John Frusciante está de volta aos Red Hot Chili Peppers em substituição ao seu substituto, Josh Klinghoffer. O anúncio foi discreto, feito nas redes sociais da banda e nas do baixista, Flea, que depois ainda respondeu a alguns fãs e garantiu que Klinghoffer falará sobre sua saída em uma entrevista em 5 de janeiro de 2020.
Sobre Frusciante, para além de tudo o que foi falado, parece curioso o fato da banda agora ter encontrado um jeito maduro de lidar com suas idas e vindas. Em contato com a formação desde que substituiu Hilel Slovak, em 1988, ele deixou o grupo pela primeira vez por volta de 1992, período em que os Peppers completaram a turnê do simbólico Blood Sugar Sex Magik com outros guitarristas transitórios, Arik Marshall e Jesse Tobias, até encontrar Dave Navarro, à época longe do Jane’s Addiction, banda que o projetou.
Com Navarro eles gravaram One Hot Minute, excelente disco, porém um disco melancólico, marcado por um período sombrio. O suicídio recente do amigo Kurt Cobain influenciou Anthony Kiedis a escrever a letra de Tearjerker, e o álbum todo passeia por esse clima de tristeza.
Na sonoridade, uma outra mudança é nítida: se Frusciante era claramente influenciado por Jimi Hendrix, Navarro tinha em seu estilo outro lendário guitarrista: Jimmy Page. One Hot Minute tem muitas passagens que lembram Led Zeppelin, seja no peso de Warped ou na delicadeza de My Friends e principalmente na já citada Tearjerker.
A formação com Navarro não durou muito, e logo após sua saída, Frusciante estaria de volta por três álbuns: o mega-estrelato de Californication, a estabilidade em By the Way e o imenso Stadium Arcadium. Veio novamente a estafa.
E eis que Frusciante deixou novamente a banda, sendo então substituído por seu parceiro em projetos solo, Josh Klinghoffer, que vinha tocando com a banda como músico de apoio, nós teclados, guitarras e alguns vocais.
Klinghoffer, no período em que esteve nós Peppers, trouxe uma estabilidade nunca vista. Foram dez anos tocando juntos e dois discos lançados, o médio I’m With You e o incrível The Getaway. Em turnês, tocou de tudo com a banda, inclusive músicas de One Hot Minute, que Frusciante não tocava.
É curiosa a ruptura em um ambiente aparentemente harmônico e equilibrado, mas imagino que tenha sido um rompimento digno. Do lado de Frusciante, imagino que o retorno – para além das questões financeiras, que sim, pesam – venha trazer um frescor após o período mais longo em que permaneceu fora da banda. Foram dez anos afastado.
Resta saber se o retorno inclui a retomada da parceria com o produtor Rick Rubin ou se continuam trabalhando com Danger Mouse, repetindo a experiência incrível de The Getaway, onde a banda experimentou novas formas de composição. Confesso preferir essa segunda opção, mas resta saber como seria com a nova/velha formação esse trabalho.
Deixo aqui um som para celebrar os guitarristas do Red Hot Chili Peppers, o primeiro EP do Ataxia, parceria de Frusciante e Klinghoffer, Automatic Writing.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana