Newsletter Vol. 216

11 de setembro de 2023

11 de setembro de 2023

Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. A coluna também permanecerá em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório. 


LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE

Por Vinícius Cabral

DIALÉTICA DO TEMPO PERDIDO

Nos primeiros acordes de Minha Mãe é Perfeita eu já estava vendido. Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo faz o rock nacional retroceder uns 50 anos para avançar outros 50 em seu maravilhoso segundo álbum, Música do Esquecimento.

Quando digo retroceder aqui, que fique claro, é no melhor dos sentidos. A banda já havia demonstrado uma filiação particular com o rock brasileiro dos anos 70 em seu disco de estreia de 2021. Um pouco de Os Mutantes aqui, umas viradas à lá Gal-Fatal ali, os solinhos em fuzz, entre outras coisas, construíram claramente essa filiação. No segundo disco as referências seguem ali, mas parecem soterradas por uma sobrecarga de originalidade, que traz ao disco a sensação de estarmos diante de algo novo.

O disco traz composições de Sophia e dos incríveis “perda de tempersVicente Tassara e Téo Serson . É produzido incrivelmente pelo pianista e compositor recifense Vitor Araújo (que também toca o piano da incrível Time To Say Goodnight), e tem Ana Frango Elétrico em uma consultoria criativa. É um time pesado, que se completa com a participação do brilhante Negro Leo em Quem Vai Apagar a Luz, uma das melhores canções do disco.

Mas é aí que tá: não há canção ruim em Música do Esquecimento. Nem o samba esquisito e deslocado de Deus Tesão, faixa que encerra o trabalho, desabona o senso de ineditismo do trabalho. Não é aquele ineditismo idealizado de uma espécie de interjeição (como, “puta que pariu, ninguém nunca fez isso”). É um simples sentimento de que nada disso está sendo feito. Por isso ressalto no início deste texto a ideia de retroceder para avançar. O rock nacional só parece evoluir quando olha para trás com um comprometimento com a atualidade que, automaticamente, nos lança mais para a frente do que para trás.

O jeito de Sophia e seus “perda de tempers” encararem a canção brasileira é a um só tempo despretensioso e bastante singular. O suposto descomprometimento das letras (agradeço a sacanagem com a classe média burguesa de esquerda na sensacional As Coisas Que Não Te Ensinam na Faculdade de Filosofia) não consegue esconder a sofisticação dos arranjos e melodias deste disco, que mixa rock alternativo e música brasileira de uma forma original, desafiando a todo tempo os clichês insuportáveis que ainda teimam em reinar entre os gêneros.

Em uma referência à divertida Baby Míssil, eu diria que outra dialética que se apresenta aqui é a do tempo perdido. Em tempos de excesso e saturação completa, dar um play em um disco é, para mim e para muitos, uma perda de tempo que tem que ser altamente justificada. Música do Esquecimento justifica cada segundo dedicado ao disco. São 44 minutos que você nunca vai sentir que perdeu. Vai fundo.

Ouça Música do Esquecimento aqui


Por Márcio Viana

ALIVE AND KICKING

Depois de uma precoce separação em 1995 e um retorno 22 anos depois, o Slowdive lança em 2023 o segundo álbum de sua segunda vinda, Everything is Alive, com oito faixas em que a banda capricha no que sabe fazer: o shoegaze bem construído com texturas cativantes.

Surpreendentemente, o álbum parece mais próximo dos discos da banda nos anos 90 do que com seu antecessor, autointitulado, de 2017, que é um pouco mais – com muitas aspas – “barulhento”.

Aqui a parada é um pouco mais melódica, e talvez a explicação para isto e para o título escolhido, é o fato do disco ser dedicado às perdas recentes sofridas por integrantes – a mãe da guitarrista Rachel Goswell e o pai do baterista Simon Scott faleceram em 2020.

A ideia então foi que o disco não refletisse um clima sombrio, mas trouxesse, dentro do possível, alguma esperança, a começar pelo título. O plano inicial inclusive, segundo declarado pelo guitarrista e vocalista Neil Halstead como um disco mais minimalista e eletrônico, mas o conceito foi mudando ao longo da produção.

Quem gosta de shoegaze vai bater os pezinhos.

Ouça Everything is Alive aqui


Por Bruno Leo Ribeiro

GRANDE ESCALA

Layover | V | BIGHIT MUSIC

Mais um trabalho da expansão do multiverso BTS foi lançado na semana passada. Kim Tae-hyung, mais conhecido como V, lançou um EP solo com cheiro de perfume de bar de Jazz cheio de gente linda e sensual.

o EP Layover é literalmente uma escala na jornada do fenômeno que é o BTS. Os trabalhos solo dos integrantes durante o hiato por conta do serviço obrigatório, mostra que o grupo é ótimo junto, mas que seus talentos individuais fazem a roda girar bem.

Layover é uma obra de 6 faixas pra se ouvir em loop. Tomando uma coisinha, lendo um livro e pensando na vida. É um R&B Soul com pitadas de Jazz que em uma audição às cegas faria até o mais concervador dos ouvintes se render.

Aprendi com a vida que dar play com a menta aberta é a melhor coisa. Tem tanta coisa boa no mundo que chega ser meio infantil diminiur algum estilo, diminuir fãs e movimentos musicais.

O Gatekeeping não faz sentido pra mim. Ouvir K-pop e, saber um pouquinho desse universo, me fez ouvir coisas incríveis. Claro que nem tudo me agrada, mas que tem muita coisa boa, tem.

Se deixar se permitir a ouvir coisas com a cabeça aberta só vai te dar de presente um monte de surpresas inesperadas e inesquecíveis como o Layover do V. Sente num lugar confortável, mete um fone bom e taca esse play. Aproveite a jornada e suas escalas.

Ouça aqui


Por Brunno Lopez

O BATERISTA DA PITTY

Há algum tempo tenho acompanhado diversos conteúdos dos mais diversos bateristas. Esse costume já era algo comum em minha rotina, afinal, tem uma bateria montada aqui no meu quarto, a mesma que me acompanhou por tantas apresentações pelo interior de São Paulo, Paraná e até capital. Durante a pandemia, essa busca aumentou consideravelmente, trazendo novos nomes – principalmente brasileiros – em minha lista de personalidades indispensáveis da baqueta.

Um desses foi o Jean Dolabella. Claro que não era um personagem totalmente fora do meu radar, até porque quem toca no Sepultura nunca passará desapercebido na cena, entretanto, a versatilidade do músico me chamou a atenção.

Além de um excelente podcast, o Prática na Prática, Jean tem um rotina de publicações em suas redes sociais onde aborda grooves, set-ups e demais informações sobre sua rotina de estudo e shows. E é isso que atrai: com um kit bem enxuto, Jean faz miséria e mostra que não é preciso ter uma infinidade de tambores e pratos pra se destacar.

É bem provável que a maioria das pessoas só esteja efetivamente o conhecendo de verdade por causa de seu trabalho com a Pitty. Excelente, por sinal. O line-up da cantora está super redondo e muito dessa sincronia repousa nas mãos e pés desse cara.

Muitas vezes olhamos o rock nacional apenas pelos expoentes que estão com microfones ou guitarras, mas a verdade é que a bateria sustenta o sucesso de qualquer projeto, seja solo ou banda.

Ele com a Pitty no The Town


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana