28 de agosto de 2023
Bom dia, boa tarde boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
O AMOR VIAJA EM VELOCIDADE ILEGAL.
No nosso episódio sobre Clássicos, Novos e Nostalgia comentamos bastante sobre essa “volta” do Blur. No fundo, a banda “nunca acabou” oficialmente. Deu aquela pausa porque provavelmente o Damon Albarn tava bastante ocupado ganhando dinheiro com o Gorillaz.
Claro que pro resto da banda, não foi exatamente igual. Mas agora com esse novo disco do Blur (que meio que soa como seria se a banda não tivesse dado uma pausa), me bateu uma certa nostagia por causa dos riffs de guitarra Graham Coxon (perdão, fui vendido) e fui lembrar o tanto que ouvi o seu disco solo chamado “Love Travels at Illegal Speeds” de 2006.
O título do disco poderia ser muito bem uma música do Whitesnake ou da fase Sammy Hagar do Van Halen, mas de farofa não tem nada. É um disco de Rock-Rocão-Cru-Punk-Direto que eu adoro.
Os riffs e timbres de guitarra são demais. Agora ouvindo novamente, lembro porque esse disco foi um dos que mais ouvi em 2006 (um dia a gente faz um cronologia da música de 2006). Tem uma vibe meio Clash, meio Sugar, meio Power Pop com pitadas de Bowie (talvez o sotaque e jeito de cantar me leve pra esse lugar). Tem que ouvir.
É um disco que me traz pra um lugar muito bonito e muito legal. Num momento da minha vida que eu não aguetava mais ouvir os Strokes da Suécia, os Strokes da Austrália e até os Strokes o Brasil com o Moptop. Esse disco é direto, real, irreverente e muito bem amarradinho.
Meu amor por esse discos anda em velocidade muito acima das permitidas por lei.
Por Vinícius Cabral
O (AUTÊNTICO) LO-FI HIP HOP
Os gêneros de internet são uma maravilha. Tomemos o lo-fi hip hop como exemplo. Não é lo-fi, nem hip hop. Sequer é um gênero e, é claro, isso significa que a primeira afirmação deste texto é irônica. A coisa toda não passa de uma tendência de beats genéricos e reducionistas que, em tese, são ideias para as pessoas ouvirem enquanto fazem outras atividades, como estudar. Trata-se de uma redução massacrante de outras tendências virtuais melhor estruturadas, como o vaporwave, o city pop e o future funk.
Mas o quê isso tudo tem a ver com o disco Erotic Probiotic 2, debut do artista de Baltimore Marcus Brown? Bom, como alguns outros artistas têm rascunhado, o que Marcus desenha neste instigante álbum é uma espécie de lo-fi hip hop ao pé da letra. Suas canções têm bases simples, com samplers lo-fi tocados a partir de controladoras, e sobrepostos pelos seu vocal, grave e marcante. O disco foi todo gravado no porão da casa de seus pais em Baltimore*, o que contribui para o clima relatado acima, e traz pérolas mágicas, como Daddy, Soap Party, Unbreak My Love e The Fields.
Essa última é uma espécie de carta de intenções do álbum. Samplers “esfumaçados” se conjugam a um beat simples de miami bass e à uma performance que realiza a façanha de lembrar, a um só tempo, Sade, Frank Ocean e Afrika Bambaataa. E, claro, isso tudo com uma letra antológica. O refrão chega a ser uma espécie de hino da inevitável transformação do idealismo liberal estadunidense em pesadelo decadente.
Once or twice I prayed to Jesus / Never heard a word back in plain English / More like signs or advertisements / Telling me to be keep consumerizing
Acho que os melhores artistas estadunidenses já estão de saco cheio da promessa (nunca cumprida) da felicidade identitária/nominalista. É tudo promessa vazia. Da salvação prometida por um surrado símbolo (Jesus) à felicidade prometida por hambúrgueres e novos gadgets inúteis. Como um artista negro, crescido em uma das cidades mais violentas de seu país, Marcus Brown não apenas compreende a tragédia estadunidense, como a transforma em poesia.
Cortante e inesquecível.
*Marcus reproduz a vibe da gravação em uma espécie de videoclipe ao vivo para o single Daddy. O vídeo é espetacular.
Por Márcio Viana
A VIDA É UM JOGO
Jayne Dent é uma artista interdisciplinar, musicista, compositora e produtora que mora em Newcastle, Reino Unido, segundo seu próprio website. Dito isso, ela atende em seu projeto como Me Lost Me, e acaba de lançar seu novo álbum, RPG, que faz bastante jus ao nome. Cada faixa soa como um pequeno jogo de RPG, em que alterna entre o folk e o eletrônico.
Paradoxalmente à viagem do disco em adentrar um mundo dentro de um jogo, a faixa de abertura se chama Real World, em que ela se vale de uma conversa com o artista Adam Wilson Holmes sobre videogames e a confusão entre o real e o irreal.
Não é um disco fácil de se gostar, mas é bom de se gostar. Ela subverte algumas estruturas musicais tradicionais e explora, especialmente nas melodias vocais, outros caminhos possíveis de criatividade.
Talvez não seja um disco para se ouvir enquanto se faz alguma outra coisa, me parece que as músicas exigem alguma atenção.
Outro grande destaque é The God of Stuck Time, bem no meio do disco, que foi composta em um momento de tédio da artista em um quarto de hotel.
Entre synths e vocalizes, RPG é uma viagem interessante e vale dedicar algum tempo aos seus jogos musicais.
Por Brunno Lopez
MEU MUNDO E NADA MAIS
Quando fui ferido, foi por essa versão. Vi tudo mudar e foi também por essa versão. Claro, a audácia da simplicidade provoca e talvez fosse exatamente isso que eu precisasse no momento exato que ouvi Jay Vaquer dando orgulho para Guilherme Arantes.
Como um adorador de covers bem feitos, até me sentia um pouco ausente em indicações dessa modalidade, logo, recebi com efusividade tal canção. O frescor da interpretação do cantor carioca oferece novas sensações para um hino tão regravado. E pensar que Guilherme Arantes tinha apenas 16 anos quando compôs essa faixa, tão cheia de reflexões de um universo adulto e confuso.
Regravações são importantes pois, às vezes, o ouvinte só consegue se conectar com a mensagem quando outra voz aborda as letras. Pode ser um acento diferente numa sílaba ou uma técnica inesperada feita no refrão, quem sabe um jeito peculiar de mudar o andamento de uma determinada passagem.
Por aqui, o destaque fica para o final sussurrado de beleza assustadora.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana