16 de Novembro de 2019
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Bruno Leo Ribeiro
AQUI É TRABALHO!
Até pra ouvir música já é pensando em conteúdos pro Silêncio no Estúdio. Já planejando 2020 pra vocês, comecei a estudar tudo que posso sobre o KISS. E já escutei toda a discografia fazendo anotações pra gravação do primeiro especial do ano que vem. Mas ouvindo os discos, tem um que sempre me chama atenção. Ele não é um clássico, ele não é aclamado, ele é sempre lembrado por talvez 1 hit só. Os anos 80 do KISS é bem estranho. Começou muito ruim e terminou bem. E acho que o Crazy Nights é um disco que se não existisse, o KISS hoje em dia não existiria. É um disco essencial que salvou a banda. Talvez tenha sido o disco do KISS que mais escutei quando era criança. Quando tinha 8 anos, meu irmão chegou em casa com a cópia do Crazy Nights (1987) e eu escutava sem parar. Foi ali que virei fã de KISS. Geralmente se vira fã de KISS por causa do KISS ALIVE ou do Destroyer ou do Love Gun, mas eu fui conhecer esses discos depois.
Lembro que ouvia basicamente o Crazy Nights. Quando meu irmão comprou o disco de hits, “Smashes, Thrashes & Hits”, fui conhecer as coisas mais antigas da banda e o resto é história.
Além do grande hit, Crazy Crazy Nights, que abre o disco, a minha música favorita do disco é a segunda faixa, “I’ll Fight Hell To Hold You”, mais um hit genial do nosso querido Starchild (Paul Stanley). Além dessas duas, esse disco tem uma das baladas de hard rock farofa mais bonitas de todos os tempos, a linda, “Reason To Live”.
O Crazy Nights é um disco esquecido e meu papel aqui é trazer esse disco pros holofotes pra vocês conhecerem um pouco mais do melhor do Hard Rock Farofa do Kiss. Um disco que fez a banda segurar a onda e seguir. E se tornar uma das maiores bandas do mundo. Pelo menos pra mim :).
Vinícius Cabral
A MAIOR BANDA DE TODOS OS TEMPOS (MAS SERÁ QUE É? … MAS, PERAÍ É CLARO QUE É! … PERAÍ, SERÁ?) *
A maioria que nos lê e ouve já deve saber que, assim como John Lennon, eu sou libriano. O que parece não denotar apenas um senso de indecisão, mas também um interesse profundo pelas grandes questões da humanidade (tá, talvez eu deva um pouco disso ao meu ascendente em aquário … o Lennon eu já não sei). Uma dessas grandes questões para mim sempre foi, e segue sendo, uma bastante cabeluda: qual é o verdadeiro legado dos Beatles? Por trás da aparente unanimidade, o que leva este quarteto de rapazes britânicos a gerar um verdadeiro êxtase catártico em tanta gente? Ao mergulhar na minha missão de pensar o “Especial The Beatles” para este querido podcast, me debrucei mais uma vez sobre essa questão, mergulhando na discografia da banda depois de pelo menos uns 15 anos de uma existência “Beatle Free” e, em alguns momentos, bem crítica da “unanimidade” beatlemaníaca. Neste período eu tive a oportunidade de conhecer a discografia completa de outras bandas da época (Dylan, The Beach Boys, The Kinks, The Who, The Monkees, Pink Floyd – era Syd Barret – Silver Apples, The Velvet Underground, etc etc). Diante dessa exposição me vi inclinado ao exercício óbvio de concluir que, por um lado, é um absurdo atribuir aos Beatles tudo de revolucionário, inovador e diferenciado que surgiu na década de 60. Por outro lado, e isso afirmo com veemência após me re-debruçar sobre a obra da banda, é igualmente absurdo afirmar que os Beatles, no meio da miscelânea criativa e revolucionária dos anos 60, não foram a banda mais completa e importante do período. Quando lançavam suas propostas em discos ou singles, por mais que fossem processos iniciados por outros artistas em outros contextos, é ali que essas propostas se consolidavam. Não fosse pela sua popularidade inacreditável (até hoje eu acho absolutamente histérico e misterioso todo aquele frisson) algumas ideias tão ousadas quanto copiar e colar elementos não-musicais, manipular fitas, brincar com proto-samplers, colocar instrumentos ao contrário, realizar colagens sonoras e testar diferentes possibilidades de gravação em estúdio, talvez não tivessem sido assimiladas tão cedo. Eu às vezes imagino os fãs mais “conservadores” da banda sentando para ouvir, em 1966, Tomorrow Never Knows. A reação que visualizo é, quase sempre, esta daqui, tão bem escrita e representada pelos brilhantes responsáveis pela série Mad Men. Dentro desse universo absolutamente experimental e groundbreaking da banda, indico dos meus recent plays duas músicas presentes em singles, que talvez representem perfeitamente (melhor do que as que entraram nos álbuns) o universo estético dos queridos Revolver e Sgt. Peppers Lonely Heart’s Club Band: Rain, lado B do single de Paperback Writer, de 66, e Strawberry Fields Forever, gravada durante sessões do Sgt. Peppers. Enquanto a primeira já mostra o tom lisérgico dos vocais arrastadíssimos de Lennon e as experimentações com vozes ao contrário ao final da canção, a segunda representa uma das maiores inovações “acidentais” da história da música: ao propor que se juntassem dois takes cantados em tons diferentes na edição da música, Lennon acabou levando George Martin e Geoff Emerick (o engenheiro de som) a reduzirem o pitch do segundo take preferido de Lennon (cantado, pelo que consigo identificar, um tom acima). Com isso, o efeito arrastado da performance vocal e a densidade das orquestrações ganhou um tom sinistro e misterioso, que é, até hoje, um dos grandes elementos dessa canção que eu, por décadas, guardei como uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos, sem ter a mínima ideia dessa história inusitada que trago pra vocês a respeito dos bastidores de sua produção.
*As curiosidades e dicas deste texto não foram todas apresentadas em nosso “Especial The Beatles”, porque tem coisa que a gente só guarda pros mais íntimos! 😉
Ouça Strawberry Fields Forever
Entenda de forma ilustrada o processo de edição de Strawberry Fields Forever
Márcio Viana
FILHO DE PEIXE, MAS NADANDO EM OUTROS MARES
Assim como o Vinícius Cabral, depois do especial dos Beatles eu resolvi mergulhar um pouco mais fundo e explorar alguns tesouros escondidos na discografia da banda. Poderia falar aqui do álbum Let It Be… Naked, que de nu não tem nada, basicamente, e que funciona mais como – ainda que visto como tentativa de reparação de George Martin sobre sua própria história – apresentação do produtor Gilles Martin ao mundo, com este empurrãozinho do pai.
Comuns na história dos Beatles depois dos Beatles eram os boatos de retorno da banda com outra formação, eventualmente até com o filho de alguns dos que já se foram assumindo o lugar do pai.
Fato mesmo é que todos os quatro tiveram filhos que de alguma forma embarcaram nessa de fazer música. Alguns mais bem sucedidos do que os outros, é verdade.
Julian Lennon, o primogênito de John, até tentou alguma carreira como cantor, e conseguiu emplacar um hit, Too Late for Goodbyes, menos por sua qualidade do que pelo fato de ser filho do homem.
Melhor sorte teve seu meio irmão, Sean Lennon, até porque de certo modo desprezou um pouco o estrelato e produziu álbuns respeitáveis sem contar com o lastro de ser filho de artistas.
James McCartney tem carreira musical e lançou alguns EPs. Para além, participou da gravação e do clipe da versão do The Cure para Hello Goodbye.
Zak Starkey resolveu seguir a mesma carreira do pai, Ringo, mas se inspirou em outro baterista para tal: emulou as pancadas de Keith Moon e acabou tornando-se seu definitivo substituto no The Who.
Fiz essa longa introdução para falar que ando ouvindo o single mais recente de Dhani Harrison, Motorways.
Dhani, discreto em seu trato com a mídia, foi responsável por finalizar e mostrar ao mundo o álbum de seu pai George lançado postumamente, Brainwashed.
Fato é que, não considerando a inevitável hereditariedade na voz e em algumas harmonias, Dhani Harrison faz um som muito diferente de George. Esta Motorways, por exemplo, tem batidas que fariam bonito num disco de Paul Simon, se este fosse adepto de alguns recursos eletrônicos.
Sim, o som produzido por Dhani tem um quê de eletrônico. E até por isso fui reouvir o álbum dele lançado em 2017, IN///PARALELL. Disco fantástico, recomendo demais a audição de All About Waiting, em dueto com Camilla Grey.
Ouça aqui Motorways (Erase it)
Brunno Lopez
A NOVA VOZ DO SHAMAN, EM PORTUGUÊS
Quando vocalistas de metal decidem deixar o inglês de lado – e o próprio metal em si – para criarem canções em nossa tão valiosa língua, o resultado costuma ser surpreendente.
E esta foi a atmosfera que encontrei ao escutar o talentosíssimo Alírio Netto, mais precisamente na última segunda-feira. E desde então, está no repeat perigoso brilhando neste que certamente será o pódio dos meus recent plays. Até janeiro, ao menos 5 músicas desse disco continuarão acalmando meu dezembro.
Não se engane com o nome e a capa: Ao olhar rapidamente você pode justificavelmente achar que se trata de um trabalho do padre Fábio de Melo. Mas não: “João de Deus” não é um material religioso. Produzido por Edu e Tito Falaschi, Alírio ainda trouxe para o time os membros do Angra Felipe Andreoli (baixo) e Marcelo Barbosa (guitarra), além de Milton Guedes (saxofone).
Existe um bom gosto distribuídos elegantemente por todas as faixas, até naquelas que propositalmente soam mais pop. “O Palhaço” traz uma letra questionadora e um refrão admirável, daqueles que te abraçam na primeira sílaba.
“Retrato” é uma demonstração do artista em se conectar visceralmente com o ouvinte. Só piano, sentimento e notas vocais em encaixes melodiosos deslumbrantes. Se você fechar os olhos, vai desejar pegar todas as suas coisas e morar na música.
Na contagiante “Nada Mais Importa”, Alírio se despede com a certeza de que marchou com coragem para apresentar novas sonoridades. É um trabalho distante do ambiente confortável que consagrou o cantor e talvez por isso, seja tão precioso.
Ouça o disco do Alírio Netto aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana