Newsletter Vol. 209

A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Vinícius Cabral

UM MALVADO GENTIL

Todo mundo que conheceu João Donato é rápido em dizer que o artista era um amor de pessoa. Simpático, risonho, boa praça. Seu semblante registrava um enorme sorriso em quase todas as fotos que tirava, especialmente quando era fotografado ao piano, seu instrumento principal. Curioso não ser esse o Donato que estampa a capa de um de seus maiores clássicos. Em A Bad Donato vemos um cara meio sisudo, com metade do rosto nas sombras. A perna esticada e a postura meio desleixada, porém, dão uma relaxada na cena.

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Assim como o que se ouve nos 29 minutos de música de A Bad Donato, a capa é agressiva apenas em certa medida. Como os sopros em ataque e guitarras wah-wah em loop de The Frog (uma de suas melodias mais conhecidas, que ganha aqui um arranjo de tirar o fôlego) a senha de Donato neste disco é: fusão. Um pouco de samba, um pouco de jazz. Donato esbarra, também, em sonoridades cubanas, no Afro Beat e no funk de James Brown, compondo aquilo que a frase de algumas das prensagens do disco destaca: João Donato’s psychadelic-funky-experience. Geralmente sou contra slogans, mas este mata a pau.

A Bad Donato é realmente uma experiência, embalada por canções enormes como Lunar Tune, um xote-rock-lisérgico inacreditável. Donato hipnotiza com suas teclas, enquanto os arranjos, minuciosamente construídos por ele e Eumir Deodato, não deixam espaço para nenhuma ressalva. Trata-se de uma das maiores obras instrumentais daquilo que se convencionou chamar de jazz fusion. Que, à época, é claro, ainda não havia sido definido como gênero, ou experiência. Donato bebe sempre, e principalmente, da canção brasileira. Apesar deste ser um dos discos compostos em sua estadia nos EUA, trata-se de um exemplar indispensável daquilo que nossa música instrumental sempre teve de mais inventivo.

O artista partiu semana passada (realmente, é uma geração inteira que se despede de nós, pouco a pouco), mas deixou enormes sorrisos, melodias inesquecíveis e arranjos malvadões para celebrarmos.

Ouça A Bad Donato aqui 


Por Bruno Leo Ribeiro

4.1 QUE PODERIA SER 10

POP QUIZ: TOM CHAPLIN OF KEANE

“Os favoritos do Alternativo adulto seguem sua estreia com outro álbum de clichês e canto sério.“. Assim começa a crítica da Pitchfork pro disco que vou recomendar como Clássico.

Depois de um estrondoso single “Somewhere Only We Know” no seu disco de estreia, há quem não tenha curtido o Radioheadish-Pop da banda inglesa Keane. Não há como negar que as melodias melancólicas da banda não tenham chamado a atenção. A banda ficou conhecida e por dois anos aprenderam a virar uma banda de arena que poderia muito bem ter permanecido tocando em bares pequenos.

Com o segundo disco, “Under the Iron Sea” a banda me pegou de vez. Ali no ano de 2006, as bandas comercialmente viáveis tinham um pouco dessa onda. Não é de se espantar que muitas delas me inspiraram a compor e fazer música parecida. É tudo contexto.

Quando a crítica reclama de clichês e melodias previsíveis eu me pergunto: “qual é o problema?”. Não é porque alguém tem mais espaço e é comercialmente lucrativo que temos que esperar um disco de ruptura que muda tudo e espanta a clientela. Tá tudo bem seguir fazendo música que é cativante e fácil de gostar. E o Keane fez isso no seu sophomore.

Música também pode ser confortável, fácil de aprender e de cantar. Estou cada dia mais convencido que fazer o simples e confortável é muito mais difícil. Editar um texto, editar um filme, simplificar o que tá meio complicado é uma arte pouco dominada. Complicar as coisas pode soar pretencioso e geralmente é a ferramenta que os picaretas usam pra fingirem que são mais inteligentes.

Música fácil, que não dá pra pular nada, melodias que vão grudar na sua cabeça e produção amarradinha, também pode ser um clássico. Apesar da Pitchfork ter dado nota 4.1 pra esse disco, pra mim já é um clássico. Um dos discos mais confortáveis e bonitos na sua simplicidade da sua década. E se eu gosto, pouco me importa em receber validação de gente que se preocupa muito mais em justificar seus gostos do que debater uma obra.

Ouça aqui 


Por Márcio Viana

O MELHOR DISCO SOLO DE UM BEATLE

A esta altura de dois mil e vinte e três, é possível que quem tenha visto (ou mesmo quem não tenha visto) o documentário de Peter Jackson, saiba da reputação de Billy Preston como o jovem sorridente e talentoso que transformou o clima das sessões de gravação do famigerado Get Back, projeto idealizado e cancelado pelos Beatles. A princípio, o material seria aparado e podado por Phil Spector, que ao assumir o trabalho para transformá-lo no derradeiro álbum Let it Be, realizou uma jardinagem selvagem, cortando mais do que deveria e irritando os integrantes que ainda se importavam.

Pois bem, a passagem de Preston pelos ensaios e gravações do quarteto o credenciou para figurar na história como um dos diversos “quinto beatle” que se revezam nos textos deslumbrados por aí. Se há deslumbramento, cabe observar, no caso do tecladista em questão a alcunha é justificável. Preston emprestou (desculpe) todo seu talento para trazer novidade às sessões àquela altura monótonas e desinteressadas do quarteto, que tinha naquele momento outros focos.

Mas há vida durante e depois dos Beatles, e Billy Preston já estava em uma produtiva carreira solo, com incentivo e colaboração de George Harrison. Em meio às gravações da banda, o músico produzia e lançava seu quinto álbum de estúdio, Encouraging Words, lançado pela Apple, a malfadada gravadora do quarteto. Co-produzido por Harrison e Preston, o disco traz até canções que depois seriam lançadas pelo beatle em seu primeiro disco solo, como All Things Must Pass e My Sweet Lord, além de I’ve Got a Feeling, de Lennon e McCartney, presente também em Abbey Road.

Ocorre que aqui, nas canções dos Beatles e nas demais músicas do disco, Preston faz sua mágica e adiciona mojo no clima, como fez nas gravações do quarteto, causando na gente a mesma sensação. É até injusto destacar somente estas canções, já que Billy Preston é autor da maioria das composições e arranjos do disco, que traz aquele clima gospel, cortesia das participações de membros das bandas de apoio de Sam & Dave e Temptations.

Se Billy Preston pode ser considerado o quinto beatle, vale prestar atenção em sua carreira solo, porque ela tem jóias raras (e o título deste texto pode soar emocionado, mas causa o impacto que eu queria proporcionar).

Ouça Encouraging Words aqui 


Por Brunno Lopez

I’LL BE WAITING

Há alguns dias atrás, Jeff Scott Soto usou sua rede social pra lembrar do aniversário da morte de um dos maiores baixistas de todos os tempos: Marcel Jacob. O músico, que foi companheiro de banda do vocalista por 19 anos, trouxe contribuições riquíssimas não apenas para o hard rock mas para toda a música, principalmente para os adoradores das quatro cordas.

Entre os grandes álbuns lançados pelo Talisman, o destaque fica para o debute homônimo de 1990, que trazia toda a energia de um grupo tranquilamente capaz de ocupar os lugares mais altos da cena AOR do planeta. Jacob era o groove cardiovascular pulsante que bombeava graves com potencial de fornecer litros infinitos de bloodbass a todos os bancos plasmáticos do universo rock n’ roll.

Começar o dia com essa transfusão de hits desconhecidos é a melhor coisa que se pode fazer por alguém que merecia mais holofotes do que conquistou.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

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