Newsletter Vol. 206

Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro

DIFÍCIL, PORÉM FÁCIL

SHINee announce the release of their 8th album 'HARD' with a comeback  teaser and logo/header update | allkpop

Desbravar novos territórios sem ter um guia é como viajar sem um mapa. Tem lugares que uma busca na internet basta pra se ter uma ideia do que fazer e o que conhecer numa viagem, mas tem lugares que um guia é fundamental.

Sem um guia, nunca conseguiria entra no mundo do K-Pop. É um universo cheio de lançamentos, que realmente preciso de uma curadoria pra ouvir realmente o que é sugerido. A minha guia oficial é a Ana Clara Matta. Um belo dia ela me disse, “Escuta Atlantis do SHINee”. Não me arrependi, tanto que foi uma das minhas escolhas de um dos meus discos favoritos daquele ano.

Fiquei tão encantado que tudo que envolve o grupo eu meio que fico sabendo por tabela. Tanto que Key, integrante do SHINee lançou dois discos solo que adoro.

Agora o grupo me solta mais um album impressionante. O “HARD – The 8th Album”, é um Jazz-post-R&B-Pop de muita qualidade. Cada play que dei nos útlimos dias, uma música diferente virou a minha favorita.

Começou com Identity. Depois fiquei fascinado em Like It, depois em The Feelling e depois… Bem, a próxima ainda não sei. Depois desse post eu vou descobrir qual é a escolhida da vez.

O Pop genericão tá cada vez mais parecido com música que foi feita por Inteligência Artificial. Porém o K-Pop tá fazendo diferente. É Pop? Claro que é. Mas tem um temperinho diferente. Os acordes são diferentes. As transições são mais interessantes. A energia e tensão das músicas são chegando no limite de saturação. O que é ótimo!

É melhor tentar e realmente impressionar, do que fazer música confortável. Se for pra ouvir música confortável, vou dar play nos discos que eu já gosto. Não vou perder tempo ouvindo trilha de fundo da C&A, só porque a música tá bombando sei lá onde.

Prefiro continuar procurando a minha música favorita do HARD do SHINee. E ai? Qual foi a sua música favorita? Escuta lá e me conta.

Ouça aqui 


Por Vinícius Cabral

ELES ESTÃO CAGANDO

Um dos grandes itens saudosos do indie rock noventista são as compilações de lados b e sobras de estúdio. Por mais experimental que a banda fosse em seus álbuns oficiais lançados por gravadoras, sempre haviam aquelas canções um pouco além da conta, que não se apresentavam como singles e que traziam à tona de maneira indulgente os desejos mais livres dos artistas. As coletâneas geralmente eram lançadas separadamente mas, em alguns casos, saíam como bonus em álbuns de carreira.

Foi assim que botei minhas mãos em uma versão dupla do disco oficial Radiator, de 1996, da banda galesa Super Furry Animals. O CD adicional era essa (interessantíssima) coletânea, Out Spaced. O disco acentua o lado eletrônico da banda, com canções espaciais e suaves como Dim Brys Dim Chyws ou Dim Bendith. Também mostra uma banda mais conectada às esquisitices de repetições de loops, em um “neo-kraut” que deve ter influenciado meio mundo. É o caso da canção mais controversa do disco, The Man Don’t Give a Fuck, composta por duas partes distintas. Na primeira um loop suave se repete à exaustão, seguido por um silêncio. Rompendo o vazio, surge a segunda parte, um hit absoluto sustentado pelo refrão inesquecível (“The man don’t give a fuck about anybody else“).

A ousadia das primeiras faixas se comporta em alguns momentos mais tradicionais indie pop, daqueles que Gruff Rhys, compositor e líder do grupo, domina tão bem. É o caso, certamente, de Guacamole (um daqueles hits pop punk clássicos de Gruff), e da belíssima Pam V, lançada originalmente em um EP de 1995. Como era de costume nos anos 90, as bandas lançavam muitos singles e EPs entre os álbuns oficiais, e muitas dessas músicas não aterrissavam nos álbuns, apesar de extremamente boas. Literalmente não havia espaço nos LPs para tanta ideia legal, e as compilações serviam para que estas músicas “perdidas” achassem um lançamento apropriado.

Em uma era em que nada se perde, mas também nada se escuta propriamente, é interessante pensar no quanto os artistas prolíficos de décadas anteriores precisaram de anos e anos de carreira, composição e curadoria para construir um conjunto da obra do qual não se descartam nem os lados b. Out Spaced está entre os discos mais provocadores e criativos da carreira dos galeses. É experimental e pop em uma medida equilibradíssima. O trabalho sucessor, Guerrilla, começa a levar a banda para um universo mais radiofônico, que culminará no clássico Rings Around The World, de 2001. Um álbum perfeito, mas bem mais palatável e acessível. Os SFA são uma banda a se explorar disco a disco, lado b a lado b. Quando menos esperamos, surgem verdadeiras pérolas perdidas. O que também vale para Mwng, o disco experimental de 2000 (entre o Guerrilla e o Rings) que até hoje se registra como o único da disco da banda inteiramente cantado em galês.

Apesar dessa dica ser ousada para os fãs tradicionais da banda, não me furtarei a dá-la: para quem não conhece o grupo galês, Out Spaced é um bom lugar por onde começar. De certa forma o disco traz os melhores atributos da banda distribuídos e bem equilibrados em uma tracklist magistral. Depois deste momento os rapazes de Cardiff talvez nunca tenham sido tão livres e criativos em um disco. Nesta compilação é notório o fato de que eles estavam realmente cagando para a ideia de recepção, tanto de público quanto de gravadora. Cagaram e andaram, e divertiram muita gente no processo.

Ouça Out Spaced aqui


Por Márcio Viana

SABER AMAR

Meu mais recente play foi em mais um episódio da série Bios: Vidas que marcaram a Sua. Depois da estreia brasileira com os Titãs, em que a banda exorcizou alguns de seus fantasmas, o que talvez tenha contribuído para a turnê de reunião Encontro, sucesso total de público, desta vez a série conta com os relatos de Os Paralamas do Sucesso.

Aqui, porém, o vôo é de cruzeiro e, ainda que não tire o brilho e a grandeza da banda, talvez seja mais do mesmo para quem já assistiu ao documentário recente Os Quatro Paralamas. Em enredo conduzido pela jornalista Roberta Martinelli, Bios leva o espectador a uma jornada mais emotiva pela história da banda, com algumas imagens interessantes de gravações de discos, unidos a declarações e ensaios do trio e de pessoas envolvidas com a banda, como o empresário José Fortes, o radialista e fotógrafo Maurício Valladares e o jornalista Silvio Essinger.

No fim, o saldo é positivo, claro, e nunca é demais saber sobre a banda e sua trajetória. Para quem tem acesso ao canal Star +, vale demais.

Em tempo: no momento da escrita deste texto, Herbert Vianna continua internado por conta de uma pneumonia leve. O comunicado oficial emitido pela banda dá conta de que o cantor e guitarrista passa bem e respondendo satisfatoriamente ao tratamento, mas alguns shows tiveram que ser cancelados. Seguimos na torcida pela sua pronta recuperação.

Veja o trailer de Bios: Os Paralamas do Sucesso aqui


Por Brunno Lopez

SPILLWAYS

A música é uma arte marcial pois consegue nos imobilizar com movimentos que não conseguimos prever, por mais treinados que pensamos ser. Em minhas ressalvas sonoras, a obra do Ghost nunca sequer foi uma possibilidade de subir no tatame das canções capazes de me fazer beijar a lona sem expressar qualquer resistência. Mas as técnicas utilizadas para romper as barreiras de julgamento prévio não podem ser subestimadas e, num despretensioso programa de rádio, entre um rock e outro, um certo teclado que flertava com ‘Runaway’ aliado a um vocal bem postado que desfilava numa melodia que aprisionava a atenção fez o volume aumentar, aceitando o golpe sem saber ao certo de onde ele veio.

Fato é que ‘Spillways’ – que mais tarde descobri ser uma espécie de ‘Mary On a Cross’ desse álbum – usa e abusa de tudo o que funcionou tempos atrás, só que com muito mais autoridade. E ainda que o conteúdo da maioria das letras tenha uma arquitetura voltada ao, digamos, oculto, ao menos essa faixa parece trazer uma reflexão mais aberta do que apenas apontar os dedos para o cristianismo com teatro de símbolos.

Era o que precisava para escutar e, evidentemente, gostar. Compreendo que é sempre relevante ter algo a dizer, seja o que for, porém, expressões que se apoiam em temáticas gratuitamente satânicas nunca foram interessantes ao meu ponto de vista. Por mais artístico e bem executado que seja, a energia ao redor desse epicentro não se faz atraente à sensação que espero ter do produto final de uma banda. (Difícil afirmar, ainda que pareça).

Colocando isso de lado e observando a estrutura de composição, é inegável – ao menos nessas duas faixas – a riqueza de elementos viciantes aos ouvidos. Linhas que parecem simples, que fixam com facilidade e, a medida que captam, apresentam desdobramentos quase inesperados, porém, igualmente poderosos em sua proposta de não ser algo possível de se ignorar.
Em ‘Spillways’ , Tobias Forge transborda excelência tanto na criação rítmica quanto na caneta. Se pensarmos que toda a ambientação cativante dos acordes está calcada numa letra que está apoiada na discussão de temas puramente humanos, é algo realmente grandioso. Valer-se de um som acessível em meio ao visual que soa como se Misfits, Kiss e King Diamond saíssem pra jantar no Outback é um convite para a curiosidade.

Funciona?
Muito.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana