Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
A BANDA QUE GOSTARIA DE GOSTAR MAIS E AGORA GOSTO
O Dave Grohl é uma daquelas figuras que eu adoro. É o maior papagaio de pirata da música. Está em todos os lugares e todos os projetos. Muita gente vê isso como forçado, mas eu entendo ele como um cara que nunca deixou de ser um adolescente empolgado cheio de posters na parede. Ele é a empolgação do Rock and Roll.
Já sua música não me emociona tanto. O Foo Fighters é uma banda que eu gostaria de gostar mais. Se tiver tocando, não pulo. Mas também não acordo com aquela vontade de ouvir. Talvez uma ou outra música eu realmente goste de verdade. Já o show da banda sempre me traz uma energia bacana. Um sorriso no rosto. É um daqueles showzáços que mesmo os não fãs vão curtir. Não tem como não ficar feliz vendo o Dave ao vivo.
Mas sempre dou play nos discos da banda. Não pra falar mal com propriedade, mas pra sempre dar aquela moral. Como se fosse o disco de um amigo. Já dou play com boa vontade, nunca com preguiça e foi assim que dei play no disco “But Here We Are” que saiu na sexta-feira passada (dia 2 de junho).
O disco foi me divertindo e quando vi, estava ouvindo novamente. Acho que foi o primeiro disco da banda que fiquei com vontade de ouvir no loop. E foi assim minha sexta feira. Tentando gostar mais do que eu realmente gosto. Uma banda de um cara maneiro, que tá sofrendo com uma dor gigantesca pela perda do seu baterista e amigo.
Foi uma sexta divertida. Com aquele Rock de trilha de cafeteria. Mas que pela primeira vez me fez perguntar pra Siri que música é aquela pra depois ouvir com calma em casa. Se o Foo Fighters não é pra você, talvez o “But Here We Are” seja. Bom riffs, belas canções, muita emoção nas performances e muita homenagem pra quem merece. Uma boa pedida pra quem quer gostar mais da banda.
Por Vinícius Cabral
SEMIÓTI(CANÇÃO)
Poema Acaso, de Augusto de Campos, 1963
Como muitos já sabem, defendi recentemente uma dissertação de mestrado. No dia 2 de junho de 2023 me tornei mestre, após 3 anos atravessados por uma pandemia mundial, inúmeros desafios pessoais e profissionais e muita escrita completamente maluca. E foi sendo bem maluco que consegui me formar com louvores. Criei um modelo de análise semiótico que prioriza a relação de sentidos em semioses. Mas, antes que eu comece a falar outra língua e perca meus estimadíssimos leitores, voltarei ao tema principal de nosso encontro semanal. Toda essa loucura foi, o tempo todo, atravessada pela música.
Nos meus agradecimentos, contemplei Augusto de Campos, Tetê Espíndola, a banda 4 Track Valsa (Casino), Jards Macalé, Stephen Malkmus e Rosário Bléfari. Descobri nesta jornada que, um punhado de canções que permeiam a minha experiência como artista, são canções semióticas. Obras que colocam a linguagem verbal para dançar em padrões melódicos nada convencionais, compondo um conjunto poético vivo, de associações (semioses, pois) intermináveis. É o caso do brilhante Walter Franco em sua obra-prima Revolver, a qual esqueci de mencionar na dissertação, mas que menciono aqui para fazer justiça. Os poetas-irmãos, genialmente responsáveis pela poesia concreta, Haroldo e Augusto de Campos, junto com o semioticista, crítico e poeta Décio Pignatari, meio que batizam toda essa linhagem transgressora da música brasileira, que homenageei em texto e em uma playlist que, afinal, é o objeto destas linhas.
Como a música me atravessa em tudo, e a associação entre poesia, semiótica e canção é viva e vibrante, selecionei 5 canções em uma playlist provocadora. Ela começa com Jaguadarte, poema de Augusto de Campos musicado por Arrigo Barnabé e cantado por Tetê Espíndola, no seminal Pássaros na Garganta (já estudado em um Raio X). A canção, “quase-dodecafônica”, é um poema vivo de melodia absolutamente bizarra. Na sequência, destaco a brilhante Trevas, do último disco de Jards Macalé. A canção é musicada pelo mestre Jards, a partir de uma tradução de “Canto I” de Ezra Pound, feita pelo trio imbatível: Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos. Recomendo também que assistam o clipe desta canção, que é um dos melhores clipes dos últimos anos, sem nenhuma dúvida. Ainda do Jards, inclui a Boneca Semiótica, de 1974. A música conta com participação do designer Rogério Duarte na letra, que meio que completa este caleidoscópio semiótico-tropicalista-concreto.
Para completar a listinha, meti a espetacular Toque Frágil, de Walter Franco, que utiliza um só verso (O sorriso do cachorro tá no rabo) e o joga de cabeça para baixo em um loop roqueiro frenético e bizarro. Nesta linha, encerro a lista com uma música de minha autoria, da banda godofredo: Calma. Fiz esta canção a partir de um mantra (chamado kiirtan) para subverter, de alguma forma, o sentido das sílabas em um loop catártico. Quem já viu essa ao vivo acha que deu certo. Deixo para os queridos ouvintes tirarem as conclusões. De qualquer maneira, a música faz uma homenagem à tradição concretista no rock brasileiro. E posso prometer: virá muito mais disso, em formas mais sofisticadas, no próximo álbum.
Por ora, deixo todos com a playlist e uma lição: quando vocês acharem que os sonhos de vocês são difíceis, tortuosos e dolorosos de alcançar, não se enganem. Eles são mesmo. Chega uma hora que vale a pena, mas tomem cuidado se decidirem enveredar pela academia. Tem muita coisa complicada ali, incluindo os rituais de validação de novos conhecimentos. Sorte nossa que, na poesia e na canção, os rituais e limites só existem para serem quebrados.
Ouça a playlist aqui semióti(canção)
Por Márcio Viana
AMÉM, PAUL SIMON
Há alguns dias, numa conversa no grupo de whatsapp, o nosso apoiador e colaborador Christian Bravo chamou a atenção para o novo disco de Paul Simon, Seven Psalms, com uma frase que me fez correr pra ouvir: “periga ser o Blackstar do Paul Simon”.
Bem, vejamos: Blackstar é o álbum que David Bowie preparou para se despedir da carreira e da vida, embora quase ninguém soubesse de sua condição. Paul Simon tem 81 anos, se aposentou dos palcos há cerca de cinco anos, devido à perda parcial da audição no ouvido esquerdo. Seven Psalms é um álbum de canções interligadas, não divididas de forma tradicional. Funciona como uma peça de sete movimentos, todos eles embalados pela voz e violão de Simon, acompanhados de alguns poucos elementos como harpas e cordas, além do grupo vocal Voces8 e a esposa de Simon, a cantora e compositora Eddie Brickell, fazendo do disco uma experiência um tanto solitária.
Segundo o artista, a ideia do disco surgiu em um sonho, que o fez acordar todos os dias de madrugada para compor, inspirado no Livro dos Salmos. Nelas, Paul Simon reflete sobre crença, expectativas e sobre esperar. E é assim que se encerra Seven Psalms, com Wait, em que o cantor manifesta sua opinião de que ainda não é hora de partir: “minha mão está firme, minha mente ainda está clara”.
Sendo ou não uma despedida, o fato é que Paul Simon tem um legado imenso e um papel importante no que convencionamos chamar de música pop, e este disco, não tão pop e definitivamente não um disco de canções individuais, é um belo registro de quem é dono de seu próprio trabalho.
Por Brunno Lopez
CRY TO HEAVEN
Se vocês pegarem o som que o Creeper fazia no início da carreira para este single lançado recentemente, parece outra banda. E isso é bom? Sim, isso é ótimo.Derivados de um punk dinâmico e direto, passando depois pra um pop mais melodioso, a versão 2023 desses ingleses ousados aportou num rock moderno e viciante.
Assistam ao clipe pra entender os lugares que eles revisitaram nessa fase atual de uma banda que, mais uma vez, chega pra trazer álbum do ano.
Tô só que choro no paraíso.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana