Newsletter Vol.201

29 de maio de 2023

A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

DANÇARINA PARTICULAR PARA SEMPRE

Tina Turner foi uma das artistas mais icônicas e influentes da história da música. Sua voz poderosa era cheia de emoção e energia. Ela era a Rainha do Rock.

No Rock tivemos inventoras, rainhas e mulheres ícones, o resto é apenas o resto. Tina foi gigante. Simplesmente a melhor.

Ela desafiou as convenções e superou adversidades em sua vida pessoal e profissional. Sua jornada inspiradora de reinvenção e resiliência é uma fonte de inspiração pra todo mundo.

O seu quinto álbum, o clássico “Private Dancer”, foi o seu primeiro álbum lançado depois de passar por vários anos desafiadores pra seguir sua carreira solo. Esse clássico absoluto impulsionou a Tina a se tornar uma estrela solo gigantesca com um sucesso comercial em todo o mundo.

Não tenho muito mais o que falar sobre a Tina. Ela era maior que a música. Ela cortou o mato pra muita gente poder passar com um pouco mais de facilidade.

Agora o mundo da música tá bem mais chato e vazio. Mas ainda dá pra gente fingir que ela nunca nos deixou dando play nesse disco perfeito.

Ouça aqui 


Por Vinícius Cabral

O MANIFESTO RIDÍCULO (E INESQUECÍVEL) DOS “SURFISTAS DE CÚ”

Locust Abortion Technician começa com a conversa de uma criança com o pai. – “Papai, o que significa arrependimento?”— “O engraçado do arrependimento, filhão, é que é melhor se arrepender do que você fez, do que daquilo que você não fez. Por falar nisso, se você vir sua mãe esse fim de semana, não esqueça de dizer a ela que…”SATAN, SATAN, SATAN, irrompe Gibby Haynes, com seu artefato vocal (o Gibbytronix). Na sequência, uma “versão” anfetaminada do riff de Sweet Leaf do Black Sabbath invade o ar.

A cena acima é bem apropriada para descrever esse disco maluco. Uma colagem de riffs copiados e riffs originais, devaneios, samplers, manipulação de fitas, mugidos de vaca e gritaria sem sentido. Tudo isso misturado, é claro, a uma iconoclastia escatológica de primeira. Ao chegar em Kuntz, a maluquice se concretiza de uma maneira absolutamente incompreensível. A música inteira é o sampler de uma canção tailandesa, com alterações no pitch que garantem uma cacofonia esdrúxula. Ainda que seja absolutamente possível entender o legado desse tipo de manipulação, “jogada” a princípio aleatoriamente em um disco, não deixa de ser surpreendente o efeito que a canção exerce no ouvinte. Por quê, exatamente, esses caras resolveram meter uma dessas em 1987? É uma dúvida que nunca será respondida.

O disco parece ser isso, quanto mais se ouve: um enorme ponto de interrogação. Uma pulga atrás da orelha e um incômodo permanente. Se em Hay os gritos são guitarras manipuladas e em U.S.S.A os estampidos iniciais parecem botas de soldados, não há nenhum som neste disco que pareça ser apropriado, como não há também nenhum som que pareça fora de lugar. O paradoxo dos Butthole Surfers é simplesmente este, enfim. O de uma banda que parece fazer canções totalmente desnecessárias e inesquecíveis, a um só tempo.  

E é assim que chego ao ato final do álbum, a escrota 22 Going On 23. A música traz um instrumental desencontrado, enquanto usa samplers de ligações de mulheres denunciando os abusos sexuais que sofreram. Por alguns instantes parece que a obra encontra um propósito crítico. Mas é só por alguns instantes. Quando a canção se dissolve em sons de mugidos de vacas, estamos de volta ao caleidoscópio impossível dos Butthole. Nada faz sentido, mais de uma vez, da mesma forma. E não é este, afinal, o maior propósito da arte?

A banda teve, entrando nos anos 90, alguns momentos de fama. O hit Pepper, de Electriclarryland, de 1998, bombou na MTV, e a banda foi reverenciada por covers e interpolações de outras bandas pop e de metal, bem mais famosas. Teresa Nervosa, a baterista intermitente da banda (que toca neste disco em review) é também atriz, e tem uma participação antológica no filme Slacker, o primeiro longa de Richard Linklater, totalmente independente. Teresa (e os Butthole em geral) provavelmente não sabiam disso àquela altura, mas o filme de Linklater de 1990 é um dos maiores manifestos da “cultura slacker”, totalmente iconoclasta e radical, dos anos 90. Os Butthole Surfers anunciaram a potência contracultural da década anos antes, em obras ridículas (e necessárias) como Locust Abortion Technician.

Sim, esse disco é ridículo. E você precisa ouvi-lo agora.

Ouça Locust Abortion Technician aqui 


Por Márcio Viana

UM MONSTRO AMIGÁVEL

Sempre gostei de discos de ruptura. Em 1994, o R.E.M. estava com o mundo a seus pés, dizendo assim, a grosso modo, mas sem que isso pareça exagero. Afinal de contas, a banda vinha de um estrondoso sucesso de público e crítica com Out of Time e Automatic for The People. Uma opção na hora de gravar um novo álbum seria fazer um pouco mais do mesmo, para reverberar um pouco mais nesse feedback positivo.

Mas o reverb que a banda preferiu partiu mesmo partiu da guitarra Les Paul de Peter Buck, e o R.E.M. decidiu que queria sonoridade mais “de rock”, incentivado pela vontade do baterista Bill Berry de sair em turnê – curiosamente foi logo nesta turnê que o músico desmaiou em um show, em decorrência de um aneurisma cerebral que acabou por tirá-lo de parte da agenda e por levá-lo a deixar a banda um tempo depois.

Além disso, em 1994 o mundo estava mudando. O mundo da música, especialmente, havia sofrido um baque com a perda de Kurt Cobain, e Michael Stipe lamentava ainda mais, já que estava envolvido na concepção dos próximos passos de Kurt, com ou sem o Nirvana. Emblemático o fato de que estivessem conversando sobre sonoridades de instrumentos acústicos, e que o R.E.M. tenha optado pelo caminho inverso em Monster. Era a realidade pedindo por som e fúria, talvez.

E foi numa canção sem bateria que a referência a Kurt se fez presente, Let Me In, uma espécie de carta de Stipe a Cobain, levada só por guitarra distorcida e voz.

Mas ao contrário do que possa parecer ou se especular, Monster não foi uma “volta às origens”. O que se via aqui era um R.E.M. diferente, meio punk, meio glam, com letras que se valiam desse lado mais “sujo”. O disco estreou em primeiro lugar nas paradas, mas talvez isso ainda tenha sido embalo de seus antecessores. Hoje talvez o álbum destoe de tudo que a banda fez antes e depois, mas quem é que vai dizer que ele não era necessário?

Em 2019, em comemoração ao 25º aniversário do álbum, foi lançada uma versão deluxe, que inclui demos (de faixas inéditas), versões ao vivo e uma versão remixada do disco, feita por insistência do produtor Scott Litt, que considerava a primeira mixagem “feita às pressas”.

Ouça Monster aqui 


Por Brunno Lopez

LONGE DO SOL

O post grunge é um terreno perigoso que já fez muitas bandas caírem no esquecimento. Em 2002, grupos que se aventuravam por esse caminho poderiam erroneamente se enquadrar numa cena mais pop do que parecia, desplugando as guitarras de uma vibe intensa pra serem julgados por uma ou outra balada.

O 3 Doors Down vinha de um excelente debute, consolidando Kryptonite como um hit quase inovador e tinha nesse segundo ato a oportunidade de expandir seu nome no cenário do rock daquela época. E assim se fez.

Ainda que “Here Without You” tenha feito o papel de abrir portas gigantescas no mainstream, quem abraçou o disco soube que existia muito mais do que tal excelente faixa. A banda equalizou a efervescência da juventude em canções mais coesas e pulsantes, com o ápice sendo encontrado em “Ticket To Heaven”.

Away From The Sun é o álbum que o mundo precisava ouvir. E provavelmente ainda precisa.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana