Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Vinícius Cabral
UM NOVO REI
O Brasil costuma escolher bem seus cantores. Depois do reinado totalitário da genial Marília Mendonça, quem desponta firme como cantor mais ouvido do país é o pernambucano João Gomes.
Dono de um vozeirão fenomenal, grave e marcante, João cresceu profundamente em sua curta carreira (o rapaz tem apenas 20 anos!!), apresentando uma evolução vocal digna de nota em seu novo disco, chamado Raiz. O cantor está mais confiante, o que se reflete em algumas interpretações impressionantes registradas no disco e reproduzidas ao vivo.
Além do óbvio talento, João é muito carismático, e parece ter um excelente gosto musical. O que se comprova pelo convite que fez ao rapper Don L (certamente o melhor rapper do Brasil atualmente) para uma palhinha em um show recente em BH. Acontece que o popular cantor de piseiro é fã absoluto de Don L, e registrou em vídeo uma interpretação que fez, no camarim do show, de um dos sucessos do rapper cearense. Que conexão maravilhosa, não é mesmo?!
Outra conexão maravilhosa eu descobri quando ouvia a perfeita Prejudicado, canção de abertura do álbum Raiz. Ao estudar atentamente o estilo vocal do cantor pernambucano, me toquei que ele às vezes atrasa a entrada das melodias vocais no compasso “correto”, e às vezes adianta. Além disso, o cantor estica algumas sílabas e encurta outras, brincando com as palavras na métrica habilmente. Acabada a canção, percebi que há outro cantor popular brasileiro que é mestre nestes recursos. Sim, ele mesmo. O Rei. Roberto Carlos.
A essa altura, vocês já devem ter achado que eu enlouqueci de vez. Mas posso provar a conexão. Ouçam Prejudicado e, em seguida, Cavalgada, do rei Roberto. O método de atrasar na “cabeça” das notas e de alongar ou encurtar sílabas é recorrente nas duas canções. Percebam como Roberto canta “vou me agarraaar aos teus cabeeeeelos”. Ou como João Gomes canta o verso “O abandonaaado sai preeeeejudicado”. Neste caso os dois esticam as sílabas, enquanto que, em outros momentos, as comprimem.
Pode parecer que estou propondo uma abstração muito grande. Mas há um padrão nesta analogia, e eu não acredito em coincidências. Seria influência direta? Ou existe, no canto brasileiro, algumas características que conectam diversos cantores, de diversos gêneros? Eu aposto todo o meu dinheiro na segunda hipótese. João Gomes canta de uma forma naturalmente brasileira, e isso fica explícito até na forma como ele interpreta Esperando Aviões, do infalível Vander Lee. Se a versão original gravada pelo compositor é mais “desconjuntada” em uma métrica maluca (que acelera e desacelera meio que a esmo, mais radicalmente) João Gomes a “comporta” de um jeito que não trai a canção. Pelo contrário. O cantor ressalta nela os versos mais marcantes com a técnica que utiliza. O que o conecta inexoravelmente a Roberto Carlos e outras dezenas de cantores e cantoras populares do país.
Sim, o conecta também a Marília, a rainha que perdemos muito cedo. Nossa sorte, porém, é que a indestrutível cultura brasileira parece sempre nos agraciar com cantores magníficos, inventivos e incomuns. O Brasil é foda.
E longa vida ao piseiro e ao genial João Gomes, que ainda tem (esperamos) uma longa carreira pela frente. Trata-se de um novo rei (diríamos, um reizinho?) do canto popular brasileiro.
Por Márcio Viana
O CLUBE DOS TRÊS
Sempre foi muito difícil definir o som de uma banda como o XTC. Fundada em 1972 e em atividade até 2006 – com alguns hiatos, é verdade – a banda no entanto foi muito influente no nicho do powerpop, art-rock, ou qualquer rótulo que possa se encaixar.
Acontece – “como deveria acontecer”, diria Kurt Vonnegut dando voz ao ícone da religião bokononista em seu livro Cama de Gato (essa é uma citação totalmente gratuita, relevem) – que alguns ciclos terminam, e talvez a separação do grupo a partir da percepção de que não havia mais conexão entre seus membros para manter a parceria, tenha sido a melhor escolha.
O vocalista e guitarrista da banda, Andy Partridge, chegou a declarar em um passado recente que não vinha escrevendo canções e estava esperando que o encanto musical voltasse, enquanto se dedicava a pesquisas sobre eventos de OVNIs.
Bom, me parece que seu desejo se tornou realidade, e no final de abril, Partridge apresentou seu novo projeto, junto aos músicos Jen Olive e Stu Rowe, o The 3 Clubmen.
Em seu primeiro single, Aviatrix, o trio apresenta um som experimental cheio de referências que obviamente passam pelo som do XTC, mas vão além, trazendo um pouco de jazz e música influenciada por trilhas de ficção científica, segundo o próprio release da banda.
Ainda que seja um projeto novo, o trio já tem trabalhado junto desde o fim do XTC. O EP de estreia sai no dia 30 de junho, mas já dá pra ter uma ideia do que vem por aí, pelo single.
Por Bruno Leo Ribeiro
IMPERDOÁVEL
Esses dias li a entrevista da Lenda da Música Nile Rodgers sobre ter colaborado com o grupo Le Sserafim. A resposta dele é bem simples até, “Isso pode soar meio nerd, mas eu amo o fato de que muito do K-pop que estou ouvindo ultimamente, tem muitas mudanças harmônicas. As mudanças de acordes são muito mais interessantes do que o que tem acontecido em outros lugares nos últimos anos. E isso me deixou animado, porque venho de uma formação jazzística, então ouvir mudanças de acordes como essas é muito legal.”
O Rick Beato sempre fala isso em alguns vídeos e muita gente chama ele de chato. Ele fala que o Pop tradicional feito nos EUA, por exemplo, fica parado nos mesmos 4 acordes e apenas melodias de escala pentatônica. Eu concordo.
Existe uma inovação no K-Pop que passa batido por quem ainda não quer entrar nessa festa. E se o Nile Rodgers tá falando, quem sou eu pra discordar dele?
No álbum Unforgiven (Le Sserafim album) que saiu agora em maio, isso fica muito claro. São ótimas canções que tem aquela estrutura que estamos familiarizados por ser Pop, mas tem muito mais tempero. É muito mais interessante.
O disco conta com várias participações e samplers inesperados e também, com a brilhante participação do Nile Rodgers na música “Unforgiven”. É um disco que dei play e ainda estou processando, mas com certeza merece muita atenção.
Ano passado o EP chamado “Antifragile” já tinha me chamado a atenção e esse álbum completo não foi nenhuma decepção. Se o K-Pop ainda te faz ter alguma dúvida, acho legal seguir as palavras da Lenda Nile Rodgers e tacar play em Unforgiven e ser surpreendido. Imperdoável é ainda não quebrar essa barreira e jogar um olhar carinhoso no que o K-Pop está produzindo.
Por Brunno Lopez
QUANDO AS COISAS COMEÇAM A FAZER SENTIDO
O tempo tem seu charme e sua maldição. Passa pra uns, arrasta pra outros e acelera vertiginosamente pra terceiros. Onde é que estamos nós nessa reunião inevitável de radicais livres? Ouvindo música. Bom, eu estou.
Quando tinha menos idade, escutar “Just Older” não tinha o mesmo significado que hoje. Provavelmente não era assim nem mesmo pro Jon Bon Jovi, há 23 anos atrás, com o lançamento do Crush que trazia essa faixa por lá. Fato é que as estações vão se alternando e as mensagens das canções costuram significados novos e marcantes.
Ao menos, ao contrário de todos nós, as músicas não envelhecem. Melhor do que isso, conseguem contar diferentes histórias com a mesma estrutura.
É assim também com “What’s Left of Me”, dez anos mais pra frente, que segue olhando pra trás. A banda quer apenas se lembrar do que foi pois não existe nada substancial pra contar? É assim com nossa forma de viver? E se não tivermos sorte de experienciar a apoteose na infância e juventude correndo o risco de atravessar o mar da meia idade sem um barco seguro de memórias?
Só o vinho escapa do etarismo.
E as músicas de nossas bandas favoritas.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana