IT’S A CLASSIC
Por Márcio Viana
MAMÃO: VI TOCAR
Uso esta newsletter dedicada aos clássicos para falar sobre um músico que por si só é um clássico. A semana começou com a notícia da perda irreparável do baterista Ivan Conti, o Mamão, aos 76 anos. Conhecido por ser integrante do trio Azymuth, junto com o baixista Alex Malheiros e o tecladista José Roberto Bertrami (falecido em 2012 e substituído desde então por Fernando Morais e Kiko Continentino), Mamão esteve envolvido, quase sempre junto com seus colegas de banda, em grande parte dos discos do que chamamos de Música Popular Brasileira, tocando com nomes como Paulinho da Viola, Roberto Carlos, Gal Costa, Chico Buarque, Jorge Ben, Raul Seixas e muitos outros. Esteve, também com o Azymuth, diretamente envolvido com o disco de Odair José, O Filho de José e Maria, que retratamos em um Raio-X aqui no Silêncio no Estúdio. A única vez em que tive o privilégio de vê-lo tocando ao vivo, aliás, foi em uma apresentação de Odair, tocando o disco na íntegra com a formação mais recente do Azymuth.
Com o Azymuth, o baterista praticou uma sonoridade próxima do jazz-rock e do progressivo, sendo influência para muitos músicos contemporâneos. A banda, quase sempre instrumental, flertou com o pop algumas vezes, sobretudo no hit Linha do Horizonte (com letra de Paulo Sérgio Valle), seu maior sucesso. O trio alcançou o sucesso internacional, com aclamados shows nos EUA e na Europa.
Para quem não conhece o grupo, vale começar do começo, por isso indico o primeiro álbum, Azymüth, de 1975.
Por Vinícius Cabral
APESAR DOS PERIGOS
Aconteceu. Curado de uma pneumonia, Luís Inácio Lula da Silva encontrou-se com Xi Jinping no Grande Salão do Povo. Na recepção, encaminhando-se ao local da reunião, Lula foi recebido como um rockstar, ao som da canção Novo Tempo, de Ivan Lins. Lançada em 1980, a música acabou tornando-se um símbolo da redemocratização. A pertinência do resgate da canção no contexto da visita histórica da comitiva brasileira à China não escapou à minha sensibilidade.
Mas como tenho a missão política de saltar do corte ao todo, fui resgatar o álbum de onde a música saiu, até para me familiarizar um pouquinho mais com a obra de Ivan Lins, artista que considero subestimadíssimo. Autor de canções pop perfeitas, Ivan é sempre associado a hits radiofônicos meio cafonas. Mas seu talento como compositor e cantor não o restringe a isso. Canções deste disco, como Setembro/Caminho de Ituverava, confirmam a impressão que sempre tive do artista, de se tratar de uma cruza improvável entre Tom Jobim (em seu eruditismo brasileiríssimo) e Lobão (com sua levada pop rock também tipicamente nacional). Herdeiro evidente do progressivo nacional dos anos 70, Ivan expandiu os horizontes desta cena com uma síntese entre o progressivo, o hiper melódico (que também esbarra, certamente, em Milton e em seu Clube da Esquina) e o pop radiofônico.
Apesar de trazer canções inevitavelmente cafonas (como Barco Fantasma, um fado esquisitíssimo), Novo Tempo é um disco inspirador, com momentos mágicos como Arlequim Desconhecido, a já citada Setembro, Bilhete e, claro, a faixa-título, inesquecível. A música soa como algo entre Elton John e Milton Nascimento, e tem, indiscutivelmente, uma das letras mais densas do período. Arrepio toda vez que Ivan canta “…estamos na rua / quebrando as algemas / pra nos socorrer”. Um hino de resistência e transformação, certamente muito adequado ao momento atual.
Ver dois dos chefes de estado mais importantes do mundo desfilarem ao som da canção não deixa de me trazer esperanças. Apesar dos perigos, contornar a torpe e cruel hegemonia estadunidense se desenha como uma das únicas formas de fazer florescer um mundo multipolar, efetivamente diverso cultural e economicamente. Um mundo onde artistas como Ivan Lins desfilem lado a lado com os gringos de quem sempre ouvimos falar e sempre reverenciamos (ainda que automaticamente) como se este fosse o curso natural das coisas.
Por Bruno Leo Ribeiro
SEU MINUTO, MEU SEGUNDO
Parece outra vida quando o Gram, banda de Indie Rock de São Paulo, lançou o seu segundo disco, “Seu Minuto, Meu Segundo” em 2006. Quando a banda apareceu para o público geral com o clipe super bonitinho do gatinho triste que vai perdendo suas vidas de “Você Pode Na Janela” em 2004, muito se esperava do segundo álbum da banda.
Ninguém se decepcionou (falo por mim). Seu Minuto, Meu Segundo é um disco super gostosinho de ouvir e pra mim já é um clássico. O disco tem aquele ar de bandas Indie meio Travis, misturado com muitos Beatles. Suas harmonias e melodias são muito John Lennonianas. O que é ótimo. Não é surpresa ao saber que o primeiro vocalista, vocalista e pianista da banda, Sérgio Filho e o baixista Marcello Pagotto tocavam juntos numa banda chamada Mosva e The Beatless, um cover dos Beatles
Em 2002, eles formaram o Gram junto com o guitarrista Marco Loschiavo e o baterista Fernando Falvo. Assim eles gravaram seu disco de estreia chamado “Gram”.
Depois do Seu Minuto, Meu Segundo a banda acabou terminando em 2007 e voltou com um disco em 2014 com um novo vocalista chamado Ferraz, mas em 2018 a banda acabou novamente.
É uma pena ver como que uma banda Indie no Brasil seguem seus rumos, seus empregos e seus boletos pra pagar, mas ainda bem que pelo menos sua arte está aqui registrada pra sempre e é sempre bom a gente jogar esse holofote pra eles nunca serem esquecidos. O clássico Seu Minuto, Meu Segundo, merece sim, um destaque maior na cena de Rock Nacional e se depender de mim, eles nunca serão esquecidos. Quase sempre dou play em “Perto do Fim” e me emociono. Uma das canções mais belas escritas em português. Certamente eles me inspiram de várias maneiras.
Por Brunno Lopez
MONSTROS FAMOSOS
Houve um tempo (espero que tenha passado) em que as pessoas escolhiam músicas para casamentos baseadas unicamente no ritmo, sem se importar com o conteúdo das letras em inglês. Eu preciso agradecer a isso, pois, mesmo que absurdamente impróprio, foi assim que conheci “Saturday Night”, presente neste álbum excelente do Misfits.
Como não era próximo dos noivos, até hoje não sei se o homem fazia alguma ideia do que estava cantando para a entrada da noiva, traído pela melodia de balada numa música em que o personagem simplesmente assassina a mulher da canção.
Ao menos, esse foi meu passaporte para buscar o restante do trabalho dessa banda que faz um melodic punk como ninguém. (Mesmo que tenha transformado uma entrada clássica numa marcha fúnebre nupcial)
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana