20 de março de 2023
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. Neste período, entre dezembro e fevereiro, deixaremos o espaço de lançamentos em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Bruno Leo Ribeiro
DJENT É OU NÃO É UM GÊNERO?
Segundo o Periphery, Djent não é um gênero. Acho que isso tem muito mais a ver com a brincadeira deles não quererem ser rotulados como tal, do que realmente querer dizer que o Djent não existe.
Mas o que diabos é Djent? Djent veio basicamente como um termo nos fóruns de músicos que gostavam do som do Meshuggah. O “Djent” se refere ao som que a guitarra faz. Acabou que toda essa galerinha foi montando suas bandas com essa inspiração de riffs quebrados e marcados e tudo isso acabou virando o “gênero Djent”. Você pode ouvir mais sobre no nosso episódio #65 – É Djent ou Metal Moderno?.
Dentro dessas inúmeras bandas que surgiram veio o Periphery lá de Washington, D.C, nos EUA. Dessa onda toda, sempre foi a minha favorita, mas eu achava que a banda já tinha entregado o seu melhor trabalho no segundo disco. Depois eles mantiveram o nível e sempre entregaram bem, mas nada com muita expansão. Até o dia 10 de março.
Há duas semanas, eles soltaram o seu quinto disco chamado “Periphery V: Djent Is Not A Genre”. Essa brincadeira que comentei no começo é absolutamente correta. Pra esse disco, Djent não é um gênero. A banda faz o seu som “Djent”, mas expandem muito mais. Tem elementos de Jazz, Shoegaze, Emocore, Metalcore, Alt Rock, Dreampop, Hard Rock e Metal.
Os riffs de guitarra em “Wildfire” e “Atropos”, que abrem o disco, são brutais. Ao mesmo tempo, com um temperinho de Killswitch Engage, os refrões são melodiosos e belíssimos. Essas duas músicas são quase como uma preparação para o fã que esperava por isso. Mas depois tudo se modifica, apesar de ter um pedaço de Jazz no meio de Wildfire.
O disco segue com mudança em “Wax Wings” que tem elementos até de Pop Alternativo com guitarras extremamente pesadas. É interessante demais ouvir um Pop alternativo com essa leitura de músicos virtuosos com ótimo gosto em harmonias interessantes e criativas. O riff inicial em “Everything is Fine!” é quase uma versão de um Progressivo Extremo meio Death Metal Morbid Angel dos anos 90. Coisa linda.
“Silhouette” é a música mais bonita do disco. Uma experimentação de sintetizadores que poderia muito bem ser aclamada pelo mundo se fosse interpretado por The Weeknd ou Post Malone. Ótimas linhas melódicas e um ar mais sereno dando uma pausa na brutalidade e peso. É um Pop Alternativo feito por metaleiros usando apenas Synths e guitarras limpas e beats eletrônicos com inspiração em Dream Pop.
“Dying Star” começa quase como um Alt Rock pesado com acordes gostosos e um groove delicioso. É quase uma música para unir as tribos do Djent e Alt Rock. Logo em sequência temos “Zagreus”, que é quase uma homenagem aos fãs de Meshuggah dos fóruns de internet misturados com Krisiun e Emocore. É uma loucura. Amei!
As duas últimas músicas do disco, “Dracul Gras” e “Thanks Nobuo” tem mais de 10 minutos cada e resumem todos os elementos de discos anteriores da banda, trazendo alguns novos temperos. Um Prog Djent com transições e progressões incríveis que fazem qualquer fã antigo da banda se deliciar com tudo que está acontecendo.
Resumindo. É o segundo melhor trabalho da banda na minha opinião desde o disco Periphery II. Uma super obra com conceito, começo, meio e fim. Tudo fazendo muito sentido e muito criativo. Um dos álbuns que estarão com certeza na minha lista de favoritos do ano. Ainda tá cedo, mas ele já me pegou demais. Espero que goste também.
Por Vinícius Cabral
O SHOEGAZE VENCEU
Que a terra não é plana a gente sabe. Que a banda curitibana terraplana é espetacular, talvez a gente não saiba ainda. Eu certamente não sabia, pelos singles que a banda havia soltado despretensiosamente por aí. O grupo está no elenco da Balaclava, e isso já é para muita gente motivo para prestar atenção. Eu sou um pouquinho mais exigente. Precisava de um trabalho coeso. E veio.
Dos primeiros acordes da faixa-título, abrindo o disco, já se percebe que é o shoegaze que está comandando. Sim, o shoegaze venceu. Não é um exercício estritamente nostálgico acessar o subgênero, coisa que tem sido feita por bandas nacionais, latinas e inclusive gringas (já destaquei bastante este traço em Alvvays, em seu lindo disco de 2022). Talvez seja o caso, simplesmente, de assumir que o shoegaze é, assim como o dreampop e o pós-punk (e as experiências mais radicais de um indie esquisitão e lofi) uma identidade particular do indie, que cabe ser acessada em inúmeros contextos. A terraplana faz isso muito bem.
Com poucas faixas (apenas 8, em 25 minutos), o disco é uma porrada emotiva, sincera e marcante. Os vocais femininos de Stephani Heuczuk (baixista e vocalista), às vezes dobrados por um dos guitarristas, garante aquela conjunção clássica que nos encanta na obra dos cânones (especialmente em My Bloody), mas mostra também muita identidade, em variações sutis e contemporâneas. As letras são um encanto à parte. cais começa com um verso paralizante: “vou voltar a morrer por dentro”. A música se desenvolve em uma melodia bizarramente triste, enquanto se reflete sobre mortes (internas e externas). Amor, perda, ausência … trata-se de um álbum que acessa todos estes temas de uma forma orgânica e honesta.
olhar pra trás é, até aqui, para mim, o melhor disco nacional do ano. E mostra uma banda que não deve nada a ninguém. Sei que as críticas já pipocam, aqui e ali: “mas de novo o shoegaze?!“, “mas a mixagem é ruim!”, “mas cadê a bateria?”, “não ouço direito as letras!”, entre uma enorme lista de etcéteras. No fundo, a cena do rock brasileiro tem sempre mais recalque e crítica de nariz torcido do que fã. O que é triste. Ainda que terraplana não seja seu estilo, é inegável que a banda executa o que se propõe com tanta competência quanto qualquer banda gringa atual. Se isso já não basta, o que é preciso, então, fazer?
Por Márcio Viana
ROOTS, GLORY ROOTS
Serei sucinto porque a apresentação dispensa o texto mais longo: não é exatamente um lançamento, mas uns dias atrás Annie Clark, nossa querida St. Vincent, esteve no programa do Jimmy Fallon e se juntou ao sempre proficiente grupo The Roots, residente do talk-show, para uma versão destruidora de Glory Box, do Portishead, e essa coisa linda toda pode ser visualizada logo abaixo.
Assista aqui St. Vincent & The Roots – Glory Box
Por Brunno Lopez
CANISSO
O rock nacional é um sobrevivente ou já pode se considerar um passado saudoso? A resposta deveria ser sempre não, e talvez seja, mas vale o destaque de pesar quando um daqueles que colocou seu dedo na história (e no baixo) nos deixa.
Por mais que o Raimundos atual não seja a melhor representação do que já foi um dia, fica aquela lembrança de um tempo efervescente do som que ele fazia ao lado de seus companheiros.
O Angra teceu uma homenagem ao vivo, com convidados, mostrando toda a importância de Canisso ao contexto do rock brazuca.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana