20 de fevereiro de 2023
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. Neste período, entre dezembro e fevereiro, deixaremos o espaço de lançamentos em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Bruno Leo Ribeiro
QUERIA VIRAR VOCÊ
Caroline Polachek entregou tudo. Esse poderia muito bem ser meu review em um Tweet. Mas vou elaborar um pouco mais.
O novo disco “Desire, I Want To Turn Into You” começa com a belíssima Welcome To My Island. Com um canto que lembra os sons de baleia que ajudam no sono dos bebês, Caroline Polachek já mostra que domina seu conceito, ideias e voz. Quando ela canta o verso, “Float on the ocean blue” duas vezes, é pra ficar apaixonado pelo disco. Nesse momento, nada mais importa. Nem precisava ter outras músicas. O jeito que ela canta essa frase tinha que estar num museu. Se o Nobel tivesse prêmio por performance de melodia de voz, certamente a Caroline ia ganhar esse ano.
Ao fundo, um “Oh Oh Oh Ahhh” bem familiar. Um conforto que Don’t You (Forget About Me) do Simple Minds e Something To Believe In do Bon Jovi, já tinha nos dado. Mas agora é a Caroline Polachek que grita Oh Oh Oh Ahhh pra nos abraçar. É pra gente cantar junto essa parte, enquanto ela entrega todo o seu talento no resto da letra.
Que eu gosto do Pop, todo mundo meio que já sabe. Mas quando o Pop é feito com fórmulas pré estabelecidas pelo algoritmo de TikTok, eu fico com preguiça. Esse Pop é sempre muito bem produzido, polido e bem executado, mas são músicas que são feitas pra dancinhas nos Apps sociais e trilha de fundo nas lojas de fast fashion. É o Pop Zara. Aqui temos um Pop Indie. É mais trabalhado. É um Pop Marimekko, cheio de cores e formas aleatórias. Tem cara e soa como Pop cheio de compressão, mas tem criatividade e personalidade de sobra.
O disco segue com Pretty In Possible e é quase uma homenagem ao R&B da Sade. Tem uma sensualidade vibrante e uma inocência que se ouvia nos anos 90 com a Dido. Bunny is a Rider traz aquela modernidade de Pop sofisticado dançante e contagiante, mas sutil. Sunset tem o calor da música latina com uma leitura e tempero alternativo. Crude Drawing Of An Angel e I Believe seguem em ótimo nível criativo e logo em sequência temos Fly To You com participação de Grimes e a já citada acima (e não foi surpresa) Dido!
Agora vem o meu caso de amor. Blood and Butter. Quando Caroline canta a frase “inside you”, esse “You” aportou pra mim. É a certeza que ela está falando da gente. Nada vai tirar da minha cabeça que ela fala que esse lugar é aqui e aqui é dentro de você. É o momento que o disco me ganhou 400%. Depois da frase “ocean blue…”, aqui foi a confirmação que vou querer esse disco sempre ao meu lado. É o disco que escutei durante esses dias igual o meme do Chandler de Friends segurando um LP.
Hopedrunk Everasking me leva pra um lugar transcendental. Butterfly Net é um Indie Rock delícia que traz um ar Tori Amos que adoro. Smoke tem uma produção e vários detalhes altamente criativos e dissonantes que causam uma estranheza gostosa. Coisa de música que a gente não está acostumado, mas nos fascina. O disco termina com Billions, que me leva pro “Trip Hop” dos anos 90. Perdão, eu detesto o termo Trip Hop, mas foi o que consegui pra descrever.
A melhor instrumentação de “Desire, I Want To Turn Into You” é a voz da Caroline. Eu AMO ter essa fascinação por artistas que não me pegaram antes. Mas sempre dou chance. Sempre percebi que tinha uma coisa diferente ali no Pop Indie da Caroline Polachek, mas as músicas dela ainda não tinha me emocionado tanto.
Por isso que digo que certos discos e artistas merecem sempre nossos ouvidos. Depende do nosso contexto de vida, o que estamos passando e o que estamos vivendo e desejando. A música nos bate de maneiras diferentes. Quantos inúmeros discos eu nunca curti, mas alguns anos depois, passei a amar.
A melhor coisa da vida é mudar de ideia. Se você não mudar de ideia ouvindo a frase “Float on the ocean blue” na música Welcome to My Island, não será meu texto que vai mudar a sua ideia, mas fico feliz em ter tentado. Deixe a Caroline te conquistar.
Por Vinícius Cabral
EU ODEIO LISTAS (HUEHUE)
Lista de coisas que eu odeio:
1. Eu odeio azeitona.
2. Eu odeio lagartixa.
3. Eu odeio o imperialismo e a hegemonia estadunidense.
4. Eu odeio me fantasiar.
5. Eu odeio quando alguém fala “você é igualzinho o fulano de tal” (sério, foda-se).
6. Eu odeio BBB (e a Globo, de modo geral).
7. Eu odeio clichês de música pop e artista que não é pop reproduzindo isso.
8. Eu odeio quando todo mundo faz a mesma coisa achando que é super subversivo.
9. Eu odeio a big tech, os bilionários psicopatas e toda uma cultura voltada à adorar celebridades.
10. Eu odeio Joy Division (eu sei que é incoerente, desculpem).
Lista de coisas que eu amo profundamente:
1. Yo La Tengo
Em tempo: o disco novo do trio é simplesmente seu melhor trabalho, talvez, desde And Then Nothing Turned Itself Inside Out, de 2000. Mas por ora linko dois videoclipes da banda que são a representação mais perfeita que já vi daquilo que eu chamo de anti-rock.
Assista aqui o clipe de Tom Courtenay
Assista aqui o clipe de Sugarcube
Por Márcio Viana
MENOS UM DILEMA NO TEMPLO
Desde o ano passado, o Pato Fu vem lançando em forma de single algumas canções que culminarão no novo álbum do grupo mineiro, que comemora três décadas de sua fundação. O trio original neste momento se completa com a volta do baterista Xande Tamietti e com a continuidade do tecladista Richard Neves, que sucedeu Lulu Camargo.
Destes singles, destaco o lançamento de janeiro deste ano, com as três canções lançadas juntas Fique Onde eu Possa Ver, Regresso e a impressionante Silenciador, que é da qual quero dedicar algumas linhas desta newsletter.
Sempre admirei a riqueza lírica do grupo mineiro, mas uma composição que sempre impressionou de forma mais marcante foi Um Ponto Oito, registrada no disco Isopor, lançado em 1999. Nesta faixa, eu considero que foi alcançado um discurso fortíssimo e mais pesado do que muito hardcore por aí.
Eis que agora chega Silenciador, com letra com uma visão muito consciente dos nossos tempos em que discursos religiosos servem como amparo para o ódio ao que é diferente do que a sociedade espera.
Saca só o início: Mais um milagre na capela / Da fé brotou um empreendedor / Deus fala pelo cano de meu revólver / E a bíblia é o meu silenciador.
Às três canções citadas, juntam-se as outras três lançadas em 2022, A Besta, No Silêncio e Curral Mal-Assombrado. Não deve faltar muito para um álbum cheio. Vamos aguardar.
Por Brunno Lopez
AOS COMPOSITORES, O CÉU
Qualquer pausa feita durante o dia para admirar o respiro teimoso da língua portuguesa em forma de letra musical é válido. Então, deixarei aqui os versos de “Não tem fim”, single do Ludov, composto por Vivi Rocha e Habacuque Lima. Além das palavras bem escolhidas, a forma como a melodia escorre por elas deixa a construção ainda mais encantadora.
Era um jogo raro
Em que a regra a gente faz conforme a vez
Como quem abre um dicionário e encontra três
Ou quatro interpretações pras mesmas leis
Era um filho ingrato
Uma revolta na surdina, insensatez
Lançando os discos na piscina, embriaguez
A explosão de uma usina
Não tem fascinação
Não tem perdão
Não tem resolução
Era o que ninguém imaginava que um dia fosse ser
Como quem pega o escapulário e vai beber
Como quem tira os sapatos pra correr
Era como um raio imprevisível
Destrutivo pra valer
Como quem dorme com o inimigo sem saber
E toma vinho envenenado
Não tem culpado não
Não tem razão
Não tem explicação
Foi um furacão
Seus pés não tocam o chão
Te vejo da esquina
É tanta confusão
O vidro da retina
Reflete cristalina
A fronha de algodão
Na qual repousa a mão
Que logo descortina
O sonho de menina
O olho de dragão
A sina inevitável de rainha
Não tem fascinação
Não tem perdão
Não tem resolução
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana