16 de janeiro de 2023
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
LIGAR O RADAR PRO GLOBO
O mundo está cada vez mais acessível e cada vez mais fácil (e ao mesmo tempo mais difícil) acompanhar tudo que acontece pelo globo. Se já é complicado seguir todas as tendências musicais apenas no Brasil, imagina seguir tudo dos EUA, Inglaterra, Austrália, África e Ásia. Mas é bom ter uma ideia geral do que acontece por aí. Há dois anos, comecei a prestar atenção no Blues do Deserto (guitarras do Saara) e descobri alguns artistas impressionantes como o Mdou Moctar.
Em 2018, produzi um curta metragem pra Finnair (cia aérea da Finlândia) e a ideia eram dois mundos diferentes se encontrando na Finlândia (*tudo isso como ação de publicidade pra divulgar que a Finlândia é o ponto mais curto para a Ásia). Pois bem. A ideia é basicamente uma escritora de New York que nunca mostrou seu rosto e assina seus livros de ficção como S.P. Novak. E do outro lado do mundo, um fotógrafo Coreano que é fã desses livros e será o primeiro a finalmente tirar um retrato da(o) autor (ninguém sabe que é uma mulher). Você pode assistir o filme aqui.
O filme é dirigido por dois diretores diferentes pra justamente diferenciar o mundo da S.P. Novak e do Johnny, o fotógrafo Coreano. Quando viajei para Seul para as filmagens da parte do Johnny, uma coisa ficou clara. Lá a direção, figurino, produção, locação, tom de voz e tudo mais do que você possa imaginar é muito diferente do que estava acostumado. Durante a conversa com o diretor pra acertar os detalhes da história, percebi que eu teria que ir no fluxo deles. Já no lado de cá das filmagens, foi bem mais fácil ter “lugar de fala” e sugerir nuances nas atuações e detalhes.
Quando o filme terminou, exibimos o filme num hangar do aeroporto com convidados do mundo todo. Percebi que eu era um profissional melhor. A minha essência nunca mudou, mas aumentei o repertório de respeito e detalhes que nunca tinha me ligado.
Com a música é a mesma coisa. Quando leio o review de melhores discos de 2023 da Ana Clara (leia aqui), sobre o disco “Indigo” do Kim Namjoon (chamado aqui de RM) do BTS, aprendo nuances na música que de repente não estavam claras. Um disco que de certa forma, nem é meu tipo de chá, mas que entendo racionalmente a grandeza de um disco que tem até participação da maravilhosa Erykah Badu.
2023, fiquei com o radar ligado no que deu pra seguir. Gostei de muita coisa fora do eixo USA/UK, mas ainda sim, o que chega pra mim é o que fura as bolhas de seus países e regiões. Mesmo sendo filtrado, acho importante ligar o radar, ouvir, gostar e até desgostar das coisas que tem por aí, mas é importante sair um pouco pra evitar o mundo repetitivo e cíclico da música. Só com a mistura do que cada país faz que teremos inovações, mesmo sem perder suas essências. Afinal, tudo é mistura e repertório.
Por Vinícius Cabral
O ESPÓLIO
Lá vou eu de novo falar de CD.
Em conversa recente, fui colocado diante de uma questão bem óbvia ao criticar o “rolê vinilzeiro”: afinal de contas, por que o CD é tão melhor? Além da resposta óbvia, associada à relação custo/benefício/praticidade, fui obrigado a cavar mais fundo por um argumento satisfatório.
Me ajudou muito o fato de, dias antes, eu ter gastado quase duas horas na loja de discos mais próxima da minha casa. Na experiência, repetida muitas vezes ao longo de 2022, percebi uma coisa que é pouco comentada. Existe um verdadeiro “apagão” do vinil, mais ou menos entre a segunda metade dos 90 (quando o CD passou a ser a mídia oficial) e os 2010 (quando o streaming começou a imperar e o vinil retornou com força como artigo de luxo).
Neste período tudo passou a ser lançado prioritariamente em CD, e muitas obras foram reeditadas. Foi o império das coletâneas, boxes, lançamentos especiais de bandas clássicas e, claro, do desfile discográfico de um momento extremamente fértil e criativo, especialmente da música independente. Os selos pequenos passaram a ser distribuídos por majors para o resto do mundo, e foi assim que chegaram ao Brasil, por exemplo, tantos desses CDs que tenho reencontrado nas prateleiras da cidade.
Todo este acervo está espalhado por aí. O que restava em lares de colecionadores maníacos passou a voltar às lojas, que também desencalharam recentemente pilhas e pilhas de CDs lacrados, compreendendo um período de três décadas. O “apagão” do vinil é claramente percebido por qualquer um que visite uma loja de discos. As raridades e reedições em vinil, caríssimas, se destacam. Mas o que lota as prateleiras e se impõe como um verdadeiro espólio de um período mágico recente, são os CDs.
Foi neste novo garimpo que comecei a me assustar com a abrangência dos acervos. Em várias lojas de BH, isso para ficar só no meu país, é possível achar em CD a discografia completa dos Beatles, ou do Iron Maiden e, ao mesmo tempo, edições raras de PJ Harvey ou Stereolab. O CD abrange diversos períodos, porque foi uma mídia criada “para ficar” e substituir de vez o vinil. Quem pode dizer que não ficou?
Enquanto em 2022 eu devo ter comprado dois ou três vinis (principalmente por causa do custo), os CDs voltaram a se empilhar nas minhas estantes, de lançamentos à raridades: um clássico do Vampire Weekend aqui, um box do Mundo Livre S/A ali, uma coletânea do Pavement, um lançamento de Nilüfer Yanya … foram muitos os CDs comprados em 2022, inclusive um importado diretamente da China. O maravilhoso Bildungsroman, da banda Hiperson (que já destaquei nessa newsletter), veio do outro lado do mundo para a minha estante por um preço modesto, que não daria pra pagar nem uma mísera reedição de qualquer coisa no bolachão.
Antes que pareça que este texto é uma propaganda gratuita financiada pelas lojas de discos de BH, é importante dizer que não estou sozinho nesta odisséia “cdmaníaca”. Ao revisitar virtualmente as lojas de discos de Buenos Aires, para dar dicas ao Christian que passará as férias por lá, encontramos no instagram de uma das lojas uma publicação destacando matéria recente do Clarín.
Os jovens estão descobrindo a melhor mídia física de música, seja pela grandiosidade do acervo disponível, seja pelos custos mais atrativos para uma geração que não tem grana. O que os charts internacionais de vendas de discos físicos demonstram é que essa é uma tendência no mundo, que ainda custa a chegar ao Brasil, mas deve chegar em breve.
Ninguém aqui poderá dizer que eu não avisei.
Por Márcio Viana
PARAÍSOS ARTIFICIAIS
O álbum “Disintegration” do The Cure é um marco na história da música e um dos trabalhos mais importantes da banda. Lançado em 1989, este álbum é uma obra-prima de gêneros como o rock alternativo e o darkwave. A produção é impecável e as letras são intensas e profundas, tratando de temas como o amor, a solidão e a depressão.
A faixa de abertura “Plainsong” é uma introdução perfeita para o álbum, com seus arranjos orquestrais e letras melancólicas. “Pictures of You” é outra faixa destacada, com seu ritmo acelerado e letra emocionante sobre o fim de um relacionamento. “Lovesong” é uma canção romântica e emocionante, que se tornou um hit mundial. “Last Dance” é uma faixa poderosa e intensa, com letra desesperada e instrumentação intensa.
A banda também mostra sua habilidade para experimentação com faixas como “The Same Deep Water as You” e “Homesick”, que incluem elementos de jazz e música eletrônica. A faixa final “Untitled” é uma despedida perfeita para o álbum, com sua letra melancólica e instrumentação suave.
Em resumo, “Disintegration” é um álbum épico que é uma obra-prima do rock alternativo e da música em geral. A banda The Cure mostrou seu talento para a criação de música intensa, emocional e profunda com este disco. É um álbum obrigatório para qualquer fã de música e um exemplo de como uma banda pode criar algo especial e duradouro.
Gostou da resenha acima? E se eu te disser que não fui eu quem a escreveu?
Esta semana comecei a experimentar o Chat GPT, ferramenta da OpenAI que pretende revolucionar as buscas pela internet, escrevendo textos inteiros, em qualquer idioma. Como não poderia deixar de ser, meu foco foi a música, tanto na questão da escrita sobre assuntos musicais, quanto como ferramenta para auxiliar na composição. A questão é muito ampla, e na realidade creio que a princípio não corremos os riscos de sermos substituídos por um robozinho escritor ou compositor. Pra começar, repare que a resenha acima traz um bocado de clichês, até porque é uma colcha de retalhos.
De primeira, pedi à ferramenta que escrevesse versos falando sobre o sentimento de inadequação perante o mundo. O resultado foi esse, que publiquei no Medium.
Logo depois, comecei a testar a escrita em português, e é aí que a ferramenta apanha mais. Pedi ao ChatGPT que escrevesse uma canção em que todos os versos terminassem com palavras proparoxítonas, e dei a deixa nomeando a pretensa composição como Insólito. Ele ignorou completamente minha requisição e escreveu alguns versinhos bem chinfrim:
É tão insólito
Ver o sol brilhar
E o céu azul claro
Sem se preocupar
Com o medo de chorar
Não será dessa vez que conheceremos um Chico Buarque Robô.
Voltando ao inglês, pedi que a máquina compusesse uma canção chamada Ex Machina, que falasse sobre como as pessoas esperam uma solução milagrosa para seus problemas (como a própria ferramenta, por exemplo). Achei curioso este trecho em especial:
We’re not machines, we’re human
We have the power to choose
We can rise above our struggles
If we refuse to lose
Ex-machina, ex-machina
We’re searching for a miracle
But redemption lies within us
We just have to learn to heal
Dito isso, concluo que ainda falta muito para que esta ferramenta possa ser útil para compositores e escritores, e acho que ela AINDA não é uma ameaça também, uma vez que tem um escopo bem limitado de dados e datas (a base de dados deles ainda se limita a 2021, portanto não experimente perguntar a ele quem é o presidente do Brasil, para não se decepcionar). Acho que pode ser um auxílio interessante para ajudar na estruturação, mas não é uma ferramenta para composição.
Em relação à resenha, prometo para breve um texto sobre o disco Disintegration do The Cure, mas nada automático. Como costumo dizer, prefiro que tenha um coração batendo por trás de cada palavra.
P.S.: em sua newsletter, Nick Cave escreveu sobre o ChatGPT e sobre a experiência de simular a composição “ao estilo Nick Cave”. Obviamente ele escreve bem melhor do que eu, e o texto está imperdível. Leia aqui.
Por Brunno Lopez
PERSONA 5 – NOTA 10
Não, isso não é um review de jogo – se bem que fiquei deveras curioso em jogar um pouco desse game – e sim um ode a mais uma versão brilhante de trilha sonora. No caso, uma canção bem específica dessa saga que foi lançada lá em 2017.
“Last Surprise”, a faixa tema, tem elementos deliciosos de prog, uma atmosfera super rock n` roll e ainda acrescenta pitadas de jazz-groove-fusion. Um belo trabalho realizado pelo Tournament Arc em parceria com a excelente voz de Casey Lee Williams.
Make RPG great again!
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana