09 de janeiro de 2023
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
OLHOS DE DIAMANTE
Já comentei várias vezes que o Deftones nos anos que terminam em 0, lança seus melhores discos. Em 2000 foi o White Pony, em 2020 foi o Ohms e em 2010 o melhor disco da carreira da banda (e meu favorito), o Diamond Eyes.
Na minha busca pela discografia do Deftones em vinil, finalmente consegui uma cópia do Diamond Eyes e rodou bastante na vitrola aqui na última semana. Foi o meu presente de Natal mais do que especial.
Se for analisar friamente, o White Pony foi o disco mais importante e mais pretensioso da banda, que acabou dando certo e furou bolhas. O pessoal que gostava de metal, acabou curtindo e quem gosta de Indie também gostou. Foi o disco que uniu tribos e mostrou o quanto a banda é criativa, visceral e etérea. Pra muita gente pode ser o melhor por ser o primeiro grande importante disco ali dos anos 2000, mas pra mim a banda ainda tinha muito o que mostrar.
Nos discos seguintes a banda acabou lançando discos muito bons, mas nada que virasse meme ou tatuagens inspiradas pela sua capa, assim como foi com o White Pony. Falamos bastante disso no episódio especial Deftones com o meu amigo André Motta, confere lá o papo completo sobre a discografia da banda. Mas em 2010, o Diamond Eyes se mostrou um disco mais sexy, mais sedutor, mais melódico e mais versátil.
O disco tem uma jornada única que funciona muito bem em sua sequência de músicas. Começa com pedradas, fica mais espacial e as interpretações do Chino Moreno só confirmam o que sempre achei, ele tem a voz masculina mais sexy do Rock.
O repertório é impecável e não tem nenhuma música fraca. Todas tem sua beleza e sua personalidade. Diamond Eyes, Beauty School, Rocket Skates e Sextape são os grandes destaques pra mim, mas tudo é sublime.
É desses discos que vou ouvir pelo resto da vida e vai me levar pra 2010. Foi na turnê desse disco que vi a banda pela primeira vez e me marcou pra sempre. É um disco que escuto praticamente sempre e não só recentemente. Casou que particularmente, ouvi mais vezes na última semana.
Por Vinícius Cabral
A FEBRE DE MANEL
Por puro acidente, passamos o ano novo com uma família portuguesa. O encontro reacendeu toda a minha paixão pelo rock português, já bastante explorada em nosso episódio sobre o tema. Mas claro que, dada a riqueza da música de além-mar, há artistas e bandas que merecem uma imersão mais detida.
Um dos maiores é, sem dúvida, Manel Cruz. Poeta, compositor e frontman, Manel tem inúmeros projetos solo. Mas foi projetado a partir do final dos anos 90 à frente da mítica Ornatos Violeta, banda com uma discografia curta, mas profundamente influente. Com dois álbuns de estúdio (Cão!, de 1997 e O Monstro Precisa de Amigos, de 1999), a banda se reuniu em 2022 para concertos em diversos festivais do país. O que torna o timing desta retrospectiva bastante pertinente.
O primeiro disco, Cão! (meu preferido), é mais cru e direto. Apresenta aquelas fusões noventistas clássicas de rock alternativo, ska, funk e demais gêneros. O trabalho tem clássicos absolutos, como O Amor é Isto, Mata-me Outra Vez, Punk Moda Funk e Dama do Sinal, e ainda apresenta o melhor do humor e do senso melódico do genial Manel por todo álbum, e em interlúdios como Letra S (partes I e II).
Mas foi com O Monstro Precisa de Amigos, segundo álbum, que a banda se consagrou definitivamente. Apesar de ser um trabalho com produção mais grandiloquente (e por isso me agradar menos), o disco definitivamente nos captura com clássicos como Chaga, Dia Mau, Coisas, Para Nunca Mais Mentir, Capitão Romance (a maior!) e Ouvi Dizer, provavelmente o maior hit do grupo.
Mais tarde foi editada uma coletânea de lados B e canções inéditas “perdidas” do grupo (com pelo menos um clássico inesquecível, Devagar, que linko aqui em uma versão ao vivo emocionante). Mas é a partir dos discos oficiais de estúdio que a banda se define, e ajuda a definir e consagrar Manel Cruz como uma das vozes (e canetas) mais habilidosas da história da música portuguesa. O enorme talento do artista teve seguimento nos projetos solo Pluto, Supernada e Foge Foge Bandido.
Com esta última, Manel lançou, inclusive, um dos melhores discos portugueses que já ouvi, o O Amor Dá-Me Tesão/Não Fui Eu Que Estraguei. Duplo, o álbum é uma coleção de clássicos, que inclui a perfeita Borboleta – primeira música do artista que ouvi, e que resume bem o gênio de Manel em letra e melodia. Inesquecível.
Como são várias dicas de uma vez só, recomendo o percurso que eu mesmo encarei: comecem por Borboleta (link acima) e depois corram para os álbuns de estúdio abaixo. Que este seja só o princípio de uma imersão longeva na obra do brilhante Manel Cruz. Artista que encarna o humor, a acidez e a inconformidade dos grandes poetas, e que demonstra seu longo e versátil arsenal de linguagens ao longo desta notável discografia.
Que começa, claro, pelos geniais Ornatos Violeta.
Ouça O Monstro Precisa de Amigos aqui
Por Márcio Viana
SE ESTAS PAREDES CANTASSEM
O play desta semana foi no streaming, mas não o de áudio, e sim na plataforma Disney +, onde estreou esta semana o documentário Se Estas Paredes Cantassem, de Mary McCartney.
Como o próprio sobrenome avisa, Mary teve uma ligação muito forte com o estúdio da EMI, frequentado regularmente pelo pai, Paul McCartney, com e sem os Beatles, que aliás foram os responsáveis diretos pelo batismo do local com o mesmo nome da rua, a partir da última gravação da banda (lançada antes do derradeiro Let it Be, cujas gravações foram deixadas de lado, com o lançamento realizado já com a banda encerrando as atividades). Após o lançamento de Abbey Road, o lendário estúdio passou a ser chamado desta forma.
Catapultado pelo depoimento de Paul e pelas lembranças da rotina da família McCartney, que morava a poucos passos do local, o documentário segue com relatos de nomes como Elton John, Roger Waters, David Gilmour, Jimmy Page, Noel e Liam Gallagher (em depoimentos individuais, é claro), o nosso grande mestre Nile Rodgers e o filho do produtor George Martin, Giles Martin (também produtor e responsável por alguns trabalhos de recuperação de discos dos Beatles).
Com pouco mais de uma hora e meia, o documentário equilibra a parte histórica com a dose emocional, que traz nos relatos dos entrevistados algumas lembranças de momentos mágicos proporcionados em gravações (destaque para o Oasis fazendo uma festa de arromba no local e sendo convidado a se retirar – fato confirmado por Noel e refutado por Liam).
Para quem gosta de histórias sobre gravações de discos, o documentário – embora não se apegue tanto a questões técnicas – entrega bom entretenimento. Se você não estiver saturado de tanta informação sobre os Beatles, vale dar uma olhada.
Por Brunno Lopez
MONSTRO
Acasos do acaso trouxeram uma descoberta dupla e igualmente prazerosa. De um lado, mais uma vez, o timbre marcante do vocalista do Taboo (que já falei aqui) só que dessa vez com sua outra banda, o H.E.R.O. Do outro lado, uma voz inédita em meus ouvidos que explodiu como um hecatombe necessário e irreversível: Melissa Bonny, por onde é que você andou esse tempo todo? Essa mulher é absolutamente incrível e não apenas nessa canção. Alguns segundos depois já estava ouvindo todo o seu trabalho no Ad Infinitum. Até gutural a moça faz. E eu nem gosto desse estilo, mas o dela eu achei interessante. Tanto que é bem possível que o futuro disco deles esteja em minhas análises.
Porém, por enquanto, vale muito esse play em “Monster”, com esse dueto adorável.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana