Newsletter Silêncio no Estúdio Vol. 180

02  de janeiro  de 2023


Feliz ano novo queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio! A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

FILHOS DE BABEL

Confesso que a primeira vez que ouvi falar direito do Mumford & Sons foi quando eles ganharam o Grammy de Melhor Álbum em 2013. Como previsto, claro que torci o nariz e fiz igual o Fábio Porchat que disse que nunca viu o filme da GKay, mas sabe que foi ruim porque falaram pra ele.

Essa era a minha sensação quando via as listas do Grammys há alguns anos, mas depois de um tempo eu passei a dar mais chance pros indicados e premiados.

Claro que existe jabá e injustiça, mas onde é que não tem? Eu só vou saber se o disco mereceu ganhar se eu realmente ouvir com carinho. Não dá pra ter uma pré concepção de alguma coisa sem focar na sua obra.

Eu não posso ter ranço do Mumford & Sons por eles terem vencido o prêmio e não ter sido o Channel Orange do Frank Ocean.

Mas toda essa minha percepção mudou de uns tempos pra cá. Não que eu tenha evoluído, só não ligo mais. Uso as premiações pra conhecer alguma coisa que não conhecia e estava fora da minha bolha. E foi assim com o Babel.

Dei uma chance pra esse disco depois de ver pela primeira vez o clipe de Lover of the Light na TV (com o lindo Idris Elba). O clipe é muito bonito e a música me pegou de jeito.

Fui conferir o disco inteiro e realmente o disco é muito bom. Não chega a ser uma super bola fora da indústria ter dado o prêmio de disco do ano pro Babel. Mas eu vou deixar essa dica aqui pra você ouvir e decidir. 

Mas Babel é um clássico? Eu acho que sim.

Ouça aqui Mumford & Sons


Por Vinícius Cabral

AGRESSÃO/CALMARIA

Surfer Rosa está para o Doolittle assim como o Trompe Le Monde está para o Doolittle e para o Sufer Rosa. Os três estão para o Bossanova como o Bossanova está para uma espécie de amálgama da breve discografia dos Pixies

A banda se reuniu e lançou um álbum de inéditas em 2022, mas não dá pra desapegar do período constante em que esteve na ativa, quando lançou 4 álbuns absolutamente impecáveis. É um pecado, aliás, tentar apontar um favorito dentro de uma discografia tão coesa. 

Meus argumentos em favor de Bossanova não são nada extraordinários. Há no disco amostras de todas as linguagens que a banda aprofundou nos outros trabalhos: a surf music revisitada e ruidosa (como em Cecilia Ann e Ana), o groove indie matador que marcou o cânone Doolittle (como em Dig For Fire), o punk mais cru e de progressões cíclicas que marcou o Surfer Rosa (como em Rock Music), e por aí vai. 

Bossanova ainda guarda a marca de trazer duas canções com dinâmicas bastante particulares: All Over The World e The Happening. Ambas possuem uma terceira parte que funciona como uma ponte de versos livres. No caso de The Happening, quase uma declamação de cenas particulares e autobiográficas. Uma das melhores canções da banda, sem dúvida nenhuma. 

Claro que, à altura da gravação desse disco, Kim Deal e Black Francis já não se suportavam. As participações vocais da baixista são reduzidas, mas indispensáveis a cada momento. No fim das contas, foram os Pixies que inventaram a dinâmica agressão-calmaria. O famoso loud-quiet-loud segue firme (musical e contextualmente) nesta obra indispensável da história do rock alternativo. 

Ouça Bossanova aqui 


Por Márcio Viana

NO FIM DA ESTRADA COMEÇA UMA GRANDE AVENIDA

Rita Lee completou 75 anos de idade no último dia de 2022, e uma grande forma de relembrar de sua importância é a audição do Raio-X sobre seu maior clássico, o álbum Fruto Proibido, feito aqui no Silêncio no Estúdio pelo Vinícius Cabral em 2020.

Mas hoje quero também falar sobre o início do legado pós-Fruto Proibido, em outro álbum clássico, gravado ainda com o Tutti Frutti, o imenso Entradas e Bandeiras.

Primeiro falemos sobre as entradas: o álbum marca a saída do Tutti Frutti do baterista Franklin Paolillo, tendo sido substituído pelo igualmente brilhante Sérgio Della Monica (que posteriormente acumularia trabalhos com outros grandes artistas, como Marina Lima e Cazuza, entre outros). A troca de baterista fez diferença na sonoridade, ainda que a guitarra marcante de Luís Sérgio Carlini permanecesse por ali.

Abrindo com Corista de Rock, o álbum já diz a que veio, com aquelas grandes sacadas que somente Rita é capaz de escrever. Mas é na terceira faixa que a coisa explode, meus amigos, e não é à toa que Coisas da Vida se tornou um clássico instantâneo. A canção, escrita  e musicada pela própria cantora, é inegavelmente uma das grandes pérolas da música brasileira dos anos 70, com sua métrica influenciando diversos compositores ao longo do tempo.

O nível segue bastante alto ao longo do disco, mas quero destacar aqui também a continuidade da parceria com Paulo Coelho, que além de escrever Posso Contar Comigo e Superstafa com Rita e Carlini, ainda traz uma parceria sua com Raul Seixas, Bruxa Amarela, uma das grandes performances vocais de Rita Lee neste disco. Sobre essa canção, uma coisa curiosa é o fato de que Raul chegou a tentar gravá-la nos anos 70 com o nome de Check-Up, só conseguindo fazê-lo em seu penúltimo disco A Pedra do Gênesis, de 1988, e suprimindo a participação de Paulo Coelho na composição. Coisas de Raul.

A turnê do disco marcou a entrada de Roberto de Carvalho no Tutti Frutti, tornando-se parceiro musical e casando-se com a cantora. Foi por esta época que Rita foi presa em casa, grávida de seu primeiro filho do casal, o também músico Beto Lee. Obviamente a prisão era fruto de uma suposta necessidade da ditadura militar de punir exemplarmente o ícone, como “exemplo para a juventude”. Inevitável que Rita tenha saído dali ainda maior, ao contrário de quem a prendeu, que nunca, em nenhum tempo, serão ninguém.

Ouça Entradas e Bandeiras aqui 


Por Brunno Lopez

AMO VIRA-LATAS MAS ADORO POODLES

Quando ouvi Jakob Samuel rasgando suas cordas vocais nos versos iniciais de “Seven Seas”, lá pelas bandas de 2007, automaticamente percebi que se tratava de algo que merecesse mais atenção – e se fosse um doguinho, seria adoção.

Pois bem, o The Poodles mostrava ali que tinha muita raça pra fazer o Hard Rock sueco latir bem alto nos ouvidos dos adoradores do estilo. Foi assim que o disco Sweet Trade passou de uma simples novidade para um clássico incontestável e indispensável em minhas trilhas sonoras do glam europeu.

Ah, e não vale dizer que os caras não têm pedigree por não ser possível encontrar o disco nos streamings, hein? Mas felizmente existe o clipe de Seven Seas, deixando um gostinho desse som adorável.

Assista aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana