25 de Novembro de 2019
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS
Bruno Leo Ribeiro
#NEVERFORGET
Muitas bandas mais experientes estão em turnês infinitas de aposentadoria. Lembro bem que em 1995 vi o Ozzy no Monsters of Rock em São Paulo, numa suposta turnê de despedida do Ozzy. Vamos fazer as contas… são 24 anos se despedindo. Isso inclui o Scorpions que já fez 6 mil shows de despedida, o Kiss que anunciou ano passado a turnê “Last Kiss” e já vai fazer mais uma volta ao mundo e por aí vai.
Há 4 anos, o controversos do Mötley Crüe fizeram uma turnê mundial anunciando o fim da banda. Até aí tudo bem. Não que eu tenha ficado triste. Mas esse ano a banda lançou um filme biográfico (que até falamos mal no episódio de Filmes Sobre Música) e a banda voltou a ficar em evidência.
Claro que eles iriam aproveitar o hype do filme pra anunciar uma volta. Eu, particularmente, achei desnecessária, mas alguns fãs devem ter curtido e principalmente porque o guitarrista Mick Mars falou na época do fim da banda que caso eles voltassem a tocar, eles não cobrariam pelos ingressos. (Assistam o vídeo aqui).
Tomara que os fãs não se esqueçam dessa promessa. #Neverforget. Então se for pra voltar, que seja pela música e não pelo dinheiro e pelo hype. Toquem de graça como prometeram. Mas vamos combinar que uma banda que deixou um filme como o The Dirk sair como saiu, representando todas as mulheres do filme como corpos e antagonistas, não se pode esperar muito por essa promessa.
Vinícius Cabral
CANCELANDO DEUS
Em uma época em que fundamentalistas religiosos invadem os palácios da política internacional com discursos medievais, um dos artistas mais importantes das últimas décadas parece ter se convertido fervorosamente à fé evangélica. A essa altura do campeonato vocês já sabem de quem estou falando, e não vale a pena gastar saliva tentando entender por que uma figura tão inquieta, inovadora e transgressora resolve caminhar por essa linha conservadora, chegando a proibir sua filha de 6 anos de usar maquiagem e determinadas roupas que, agora, como um cristão, ele considera “indecentes”.
Nada disso é exagero. Pra poupar o tempo de vocês, dou o spoiler: ele gravou um álbum gospel de louvor, chamado Jesus is King (isso mesmo…Jesus é Rei). Diante disso, tenho dado risada com o dilema de seus fãs mais fervorosos: comprar 30 quilos de pano no centro da cidade ou, finalmente, admitir que Kanye West pode ser cancelado?
Pelo Instagram, um amigo meu traçou uma relação curiosa com outra figura importantíssima da cultura pop que resolveu trafegar por ondas fundamentalistas a partir de uma seita religiosa: o Tim Maia. A diferença, ressaltei, é que enquanto o primeiro engrossa um coro reacionário perigosíssimo que invade nossos tempos e se espalha como um câncer, o outro apenas confrontava o status quo vigente, apostando em uma seita que, apesar de ser uma seita e, portanto, sectária e fundamentalista, trazia em seus preceitos narrativas instigantes o suficiente para qualquer um que tivesse “dropado” um ácido a mais no início dos anos 70. Kanye, possivelmente, não está drogado ou encantado com a narrativa de uma “nova” fé, mas pode estar com distúrbios mentais.
Isso quer dizer que eu atribuo a fé a distúrbios psiquiátricos? De maneira alguma. Não a fé, mas o sectarismo religioso. Esse sim, dotado de regras, determinações, preconceitos e, ocasionalmente, doses de violência, se assemelha ao distúrbio. Após quase duas décadas de uma carreira outrora irretocável, tendo influenciado praticamente todo o mundo da música, Kanye pode descansar. Para mim já deixou seu legado e já se esgotou tanto criativamente que, além de repetir seu modus operandi na criação e produção, acabou se tornando uma excrescência para um cenário que (hoje em dia, apesar dele) olha para o futuro e experimenta as temáticas progressistas que povoam, sobretudo, a mente dos jovens.
De tanto cantar sobre o quanto ele próprio era uma espécie de “Jesus Negro”, Kanye acaba incorporando o Jesus “oficial” da fé evangélica cristã norte americana, sem se dar conta de que vivemos em um período de revisionismo histórico (seja ele progressista ou reacionário) e que, em uma visão bastante razoável, talvez Jesus tenha, de fato, sido negro. Negro, grandioso e revolucionário, como o próprio Kanye um dia já se autoproclamou, e com alguma dose de sanidade.
Márcio Viana
COME ON NOW, TRY AND UNDERSTAND
Eu já havia jogado a toalha quando percebi que os ingressos para o show extra da Patti Smith haviam esgotado em segundos. Parte de um projeto chamado Popload Social, o show exclusivo, realizado no Auditório Simón Bolívar, dentro do Memorial da América Latina, cairia como uma luva, já que seria mais barato, num local fechado e sem ter que aguardar outros shows. A essa altura da vida, meus amigos, não tenho tido saco para frequentar festivais.
Mas fato é que milagres acontecem, e na antevéspera do show aconteceu uma reabertura da venda de ingressos. E foi assim que me conectei a um dos shows da minha vida.
Muito bem. E qual é a razão de um dos shows da minha vida estar em uma newsletter cuja temática é a de notícias? Simples: a vinda de Patti Smith ao Brasil não se resumiu ao palco. Foi um acontecimento. Primeiramente, a cantora e compositora aproveitou a passagem pelo país para lançar dois de seus livros ainda inéditos por aqui, O ano do macaco e Devoção (este último não tão inédito: chegou a ser lançado como bônus de um clube do livro, para um público restrito). No evento de lançamento, realizado em horário comercial, no Sesc Pompeia, Patti realizou a leitura de trechos de seus livros, falou sobre literatura, música e sobre a importância de cuidarmos do nosso planeta.
Nos dias seguintes, os shows. Catarse total no Popload Festival, segundo relatos. No dia seguinte, o show que ainda reverbera em minha mente.
Tenho alguns privilégios na vida. Não consegui ver um show de David Bowie, nem de Lou Reed, mas vi muitas das minhas influências. Foi indescritível ver e ouvir Jorge Mautner, Jards Macalé, Gal Costa, Gilberto Gil e Paul McCartney. Edgard Scandurra tocando em vários projetos ao longo de um ano, em shows em lugares diversos.
Mas a apresentação sem comparação até o último sábado havia sido a de Luiz Melodia cantando o disco Pérola Negra na íntegra no Theatro Municipal de São Paulo, em 2008. Até o último sábado. Aí Patti subiu ao palco do emblemático Auditório Simón Bolívar. Subiu ao palco com o jogo ganho, por isso não guardou hits para o final: abriu o espetáculo com Dancing Barefoot. Parte do público, ainda sem entender que um show íntimo não significa um show exclusivo e regrado, ou talvez se considerando mais consumidor do que fã, pediu silêncio aos que gritavam empolgadamente para a cantora. Coube a ela a direção: “Não façam silêncio! Gritem!”.
Patti Smith é tão incrível que cantou Beds Are Burning do Midnight Oil como uma velha canção de sua lavra, e o fez linkando-a a um discurso a respeito das queimadas na Amazônia.
Muitos foram os grandes momentos do show de uma sorridente e agradável Patti Smith (“temos que nos divertir”), e eu passaria dias falando sobre tudo o que rolou, mas concluo aqui falando do bis, com a incrível e necessária People Have The Power, em que ela encaixava palavras de incentivo ao público (“acredite”, “use a sua voz”) entre o refrões. Mágico.
Para ilustrar o texto, indico essa versão de After the Gold Rush, de Neil Young, cuja interpretação no show levou centenas de pessoas às lágrimas, posso assegurar. Na saída, era possível visualizar as pessoas com os olhos marejados e um sorriso no rosto.
After The Gold Rush, com Patti Smith, pra testar seu coração.
Brunno Lopez
HEAVY ROCK RADIO II
Cover e Jorn Lande na mesma frase é sinônimo de satisfação extrema. No mesmo álbum então, é apoteose musical da mais alta qualidade possível.
É com essa atmosfera que fui surpreendido com o Youtube me notificando efusivamente do primeiro single da parte II desse trabalho magnífico do norueguês com voz mais poderosa em atividade. Não entrarei em muitos detalhes da carreira desse mago pois tenho a intenção de fazer um cuidadoso Raio-X sobre ele no ano que vem.
Por enquanto, posso dizer apenas que cliquei na notificação e me deparei com uma versão inspiradíssima de “Lonely Nights”, do Bryan Adams. E olha: muita banda faz covers respeitáveis mas o menino Jorn humilha. Bate na outra face, ri da cara do perigo e consegue a proeza de nos fazer esquecer a necessidade da existência da canção original.
Outro ponto interessante é que o lançamento veio com um ótimo videoclipe. E é com ele que eu encerro em complexo êxtase esta estimada newsletter. Das quase 90.000 visualizações do vídeo, umas 80.000 são minhas. Conto com vocês para que ele alcance a marca de 100.000 – o que é irrisório se olharmos para os números que este inigualável artista merece.
Assista o vídeo de Lonely Night
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana