05 de dezembro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
CHRISTINE MCVIE
Quando achamos que já dá pra respirar depois da perda da Gal e do Erasmo, eis que chega a notícia da passagem da Christine McVie do Fleetwood Mac. Cada dia que um artista da música nos deixa, mais eu penso se estou preparado para perder mais um. Caetano, Gil, Chico, Ozzy, Springsteen… será que vou aguentar?
Por mais que seja doloroso, a morte é algo que aprendemos a lidar com as próprias músicas dos artistas que amamos. Quando se escuta Songbird do Fleetwood Mac, cantado pela maravilhosa Christine, aquela frase inicial, “For you, there’ll be no more crying”, é impossível não se emocionar. Assim vamos criando laços e curativos pra todas as nossas dores.
Alguns artistas que nos deixaram eu não consigo ouvir por um tempo. Outros, eu fico em um loop infinito ouvindo tudo que eles fizeram. Talvez seja uma forma de provar pra mim mesmo que eles são imortais. Se eu estiver com saudade, basta colocar pra tocar e ouvir suas vozes.
Nessa semana ouvindo Fleetwood Mac, ouvi mais o clássico Tusk de 1979. O Tusk não chega a ser uma obra de arte mitológica igual ao Rumours, mas é um disco de gigantes. Um pouco mais ameno e com menos tensão. De uma banda que se amava, mas se detestava. Que você pega asco, mas tem que lidar com a pessoa ali do lado, porque são quase uma família e tem uma banda pra respeitar. Mas apesar de todas as tretas, brigas, separações, voltas e términos, eles sabem que se tornaram pessoas melhores por aquele convívio e pela mágica que acontecia quando os 5 se juntavam.
O Tusk já começa com a Christine compondo e cantando em “Over & Over” e, seguindo a dinâmica do Rumours, o disco duplo se divide entre canções da Stevie Nicks, Lindsey Buckingham e da Christine McVie.
Ela ainda nos presenteou com as lindas “Think About Me”, “Brown Eyes” e a música que fecha o disco com um título mais do que perfeito, “Never Forget”.
Obrigado, Christine McVie. Nunca vamos te esquecer.
Por Vinícius Cabral
COMPLEXO DE VIRA-LATA
O rapaz da foto é Dave McGowan, baixista de bandas como Teenage Fanclub e Belle & Sebastian. O disco que ele segura firmemente com o polegar é o Sonhos e Memórias, já tão falado aqui, do saudoso gigante Erasmo. Eu não sei se Dave já conhece a obra-prima, mas sua expressão parece indicar que sim.
Aqui no Brasil a gente costuma pensar, meio que por padrão, que todas as obras canônicas de uma determinada época vêm de fora. Dificilmente concebemos que um disco nacional possa ter sido tão à frente do tempo que, ao ser descoberto décadas depois, gere espantamento e entusiasmo.
Mas Sonhos e Memórias é um disco assim; gera espantamento pela sonoridade à frente do tempo. Nos envolve em um universo particular e autoral, enquanto antecipa clichês contemporâneos do rock alternativo.
Acidentalmente? Em arte, não acredito em acidentes. Tavito, Amiden, Erasmo e o grande time escalado na gravação deste cânone eram artistas à frente do tempo. Deve ser chocante se deparar com uma obra dessas, 50 anos depois. Sábado Morto, Sorriso Dela, Minha Gente, Meu Mar, Grilos, entre outras, parece que foram gravadas ontem.
Como nos mostrou o grande Márcio Viana, a banda japonesa Kikagaku Moyo gravou fielmente Meu Mar em 2022. Desavisados poderiam achar que se trata de uma composição original dos japoneses. Ouçam por vocês mesmos as duas versões. Acredito que a recepção estética sensível de cada um dos leitores será capaz de confirmar meu argumento.
Já passou da hora de admitirmos que o Brasil pode não somente replicar tendências de fora, mas produzi-las. Se isso é algo percebido por japoneses e britânicos, e não por brasileiros, só pode ser mais um indício do complexo de vira-lata que nos persegue.
Sonhos e Memórias, meus amigos, é um dos maiores álbuns da história do rock.
Por Márcio Viana
VOCÊ ME ABRE SEUS BRAÇOS
Por mais que tenhamos falado muita coisa sobre Fullgás no Especial Marina Lima, ano passado, esse é um tema que não se esgota, e eu tenho de aproveitar que assisti a um show de Marina Lima pela primeira vez (com direito à presença do irmão e parceiro da cantora, Antônio Cícero, na plateia) para acrescentar mais algumas palavras sobre este clássico.
Outra informação relevante é o recém-lançado livro sobre o álbum, escrito por Renato Gonçalves para a coleção O Livro do Disco, da Editora Cobogó. No livro, detalhes técnicos e criativos se mesclam, como por exemplo a já sabida base de composição criada em um teclado Casiotone e inspirada na batida de Billie Jean, de Michael Jackson. O baixo tocado por ninguém menos que Liminha segue a mesma inspiração, ainda que tudo isso seja dotado de uma originalidade ímpar.
Fato é que Fullgás, lançado em 1984, é um trabalho tão bem construído musicalmente e liricamente que pode muito bem passar por um disco de 2022, haja vista tratar-se de um manifesto de reconstrução de um país em frangalhos após uma malfadada tentativa de se vender uma suposta competência nunca consolidada por administradores portadores de farda.
Digna de nota é também a versão de Marina para Mesmo Que Seja Eu, do nosso já saudoso Erasmo, em que a cantora demonstra na prática o que explicou no show: o que a faz querer gravar uma canção de terceiros é a sensação de que queria tê-la escrito. Mas não só isso: mais do que interpretar, Marina reinventa essas canções, e as torna suas. Mesmo Que Seja Eu é uma dessas em que a versão supera a original, e ganha um tom irônico impossível de ser reproduzido pelo autor.
Ainda sobre o show, Marina afirmou que sempre gostou muito de estudar música, e isso explica o fato de a artista estar sempre alguns passos à frente em sua obra. Marina correu para que o pop brasileiro pudesse andar. A gente só tem a agradecer.
Por Brunno Lopez
FOGOS DE ARTIFÍCIO
O último ato do maestro André Matos nos microfones do Angra foi carregado de turbulências internas e isso afetou consideravelmente alguns pontos da produção do disco. Porém, mesmo que tais detalhes sejam perceptíveis – ainda mais pelo material vir na sequência do intenso Angels Cry e do lendário Holy Land – podemos considerar que tais imprecisões funcionam como elementos que dão personalidade ao Fireworks.
Talvez o prenúncio do adeus quase silencioso da formação original tenha tornado as canções valiosas, como quando encontramos flores em meio aos escombros de uma mansão que já teve dias melhores. Vamos andando pelos quartos devastados e percebemos “Lisbon” brilhando num canto. Mais alguns passos e observamos “Metal Icarus” decorando outro cômodo esquecido.
Ao fim da visita, “Gentle Change” aparece e te dá um daqueles abraços reconfortantes que te fazem comprar a casa – no caso, o álbum.
Tal qual um investimento imobiliário, o Fireworks é aquela casa que talvez precise de reformas mas a gente escolhe morar do jeito que está porque se acostumou com a vizinhança.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana