14 de novembro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
GAL IMORTAL
Em 1968, praticamente fechando a Tropicália, a maravilhosa Gal Costa gravou seu primeiro disco solo, mas por conta da prisão de Caetano Veloso e toda a repressão do regime militar, a gravadora segurou o lançamento desta obra prima que foi lançada apenas em 1969.
Diferente do esperado, seu autointitulado é um disco de Rock e não de MPB. Tem psicodelia, Rock Progressivo e Tropicalismo. É um disco que nos presenteia com seu lindo timbre de voz e mostra sua diversidade, seu poder, sua técnica e sua versatilidade.
Durante toda a carreira, ela fez de tudo um pouco. Foi moderna, inspiradora, inovadora e nunca teve medo de testar e fazer parcerias primorosas como na música Cuidando de Longe com participação da também imortal Marília Mendonça.
Gal transpira sedução e charme. Em um vídeo resgatado nesta semana em sua homenagem, ela praticamente tira a roupa do Jorge Ben apenas com seu olhar. Sua voz vai nas nossas almas e nos muda e acompanha as notas mais agudas dos solos de guitarra.
Pra mim, ela é a maior que temos. Se eu fosse fazer um Top 3 cantoras que me emocionam, Gal está no topo, seguido por Marisa e Elis.
Tudo que poderia ser dito sobre ela na última semana já foi dito. Eu só queria mesmo colocar em algumas palavras um pouco do meu clubismo e emoção.
A Gal no seu disco de estreia de 1969 foi “Sebastiana” e abrilhantou “Namorinho de Portão” e melhorou o mundo com todo o seu olhar “Divino, Maravilhoso“. Mas “Se Você Pensa” que a “Baby” realmente nos deixou, saiba que ela sempre será “A Coisa Mais Linda Que Existe“.
Se despedir é difícil demais. Por isso meu texto é sobre imortalidade. E enquanto pudermos ouvir sua voz, a Gal nunca morrerá.
Por Vinícius Cabral
O MUNDO NO SUL GLOBAL
A talentosa compositora e celista Mabe Fratti
Não é só o Vinicius que resolveu se render incondicionalmente à música latino-americana. Na última semana de outubro a Pitchfork deu um excelente destaque a duas artistas latinas absolutamente fora do comum, seguindo a tendência que já apontei aqui, iniciada pela invasão argentina na KEXP.
A primeira é Lucrecia Dalt. Colombiana radicada na Alemanha, a artista lança um disco exuberante, chamado ¡Ay!. Conciliando seu histórico na música eletrônica com novas investigações estéticas, a colombiana entrega uma espécie de neo-bolero, inventivo e inédito. Um disco experimental, mas com momentos pop impressionantes, como em No Tiempo e Contenida, ambas com acentos de Beach Boys imersos em um clima latino (provavelmente advindo das melodias e levadas de bolero). Um disco escandaloso.
Melhor ainda é o segundo álbum de Mabe Fratti, Se Ve Desde Aquí. Desta vez uma guatemalteca, radicada na cidade do México. Foi num portal mexicano, aliás, que a descobri (o fantástico IndieRocks). Dias depois, chegou um review entusiasmado na seção Best New Music da Pitchfork, para a minha surpresa e deleite. Mabe é violoncelista, e constrói suas canções em torno do instrumento, em um disco também bastante experimental. Seja em músicas que utilizam riffs de cello como base, como na espetacular Cada Músculo, seja utilizando o instrumento como um contrabaixo quase jazzístico, como em Desde el Cielo, Mabe nos hipnotiza com uma sonoridade inacreditável e melodias inspiradas.
Um dos pontos altos do álbum é o diálogo entre a faixa No Se Ve Desde Acá, que termina com a frase-título cantada em verso, e a próxima canção, Esta Vez, que termina com um refrão espetacular, conduzido por um riff de cello e os versos: Todo se ve desde aquí. Não se vê nada daqui/tudo se vê daqui. Arrepiante. O disco ainda tem espaço para um clássico instantâneo: a canção Algo Grandioso, provavelmente o hit do disco.
A jovem artista guatemalteca também trafega em um universo relativamente inédito. Apesar de surgirem algumas associações aqui e ali (Fiona Apple e Joanna Newsom, certamente), Mabe constrói sua própria sonoridade, em um conjunto raro de canções perfeitas, em letra, melodia, harmonia e performance.
Tratam-se de duas obras que reforçam a evidência (para mim já muito clara) de que a américa latina não só aprende direitinho. Aprende, interioriza, digere, e faz melhor. Nossa hora chegou.
E, por favorzinho, não subestimem as dicas deste humilde texto. Tratam-se de duas obras primas, que certamente transcenderão as cercanias caóticas do inacreditável ano de 2022.
Ouça ¡Ay!, de Lucrecia Dalt aqui
Ouça Se Ve Desde Aquí, de Mabe Fratti aqui
Por Márcio Viana
A FORÇA DO VENTO DAQUELA ESQUINA
Escrevo em uma semana marcada por despedidas, nas perdas irreparáveis da imensa Gal Costa e do importantíssimo Rolando Boldrin, além da despedida dos palcos de Milton Nascimento, e por isso não posso me furtar a falar de música brasileira, ainda que não produzida por brasileiros.
Explico: Force of the Wind, disco do coletivo bielorusso SOYUZ (ou em sua língua pátria СОЮЗ) é um disco completamente inspirado no som e nas letras do Clube da Esquina, e isso fica claro desde o primeiro acorde da coleção de canções interpretadas em inglês, russo e português (cortesia da participação do brasileiro Sessa), caso de Como é que vai você.
O que esperar então do grupo liderado por Alex Chumak? Tudo de velho e tudo de novo: ainda que emule por completo a atmosfera e as estruturas das canções do Clube, a reverente obra traz novos elementos, como alguns contrapontos jazzísticos e alguns passeios pelo pop.
Há várias formas de se ouvir uma obra como Force of the Wind. A que eu escolhi foi a de estar escutando uma justa homenagem. Caso queira concordar ou discordar, escolha sua plataforma preferida no link abaixo e venha ouvir comigo.
Por Brunno Lopez
VOCÊ AQUI
Dizem que poesia e música andam numa linha tênue que pode transformar essa união em obra-prima ou numa mistura heterogênea. Bem, a cantora e compositora Melina Massarani consegue fazer desse processo uma combinação tão absurdamente natural e inevitável.
Em “Você Aqui”, lançado no último dia 11, ela mostra um pouco dessa construção tão bem arquitetada de letra poética e melodia envolvente. A magia da produção ficou por conta de Milton Guedes, capturando com rara sensibilidade todas as nuances de uma obra que fala de amor de um jeito suave e ao mesmo tempo poderoso.
Num período em que perdemos nomes tão incríveis do nosso cenário musical brasileiro, é um abraço de conforto e esperança quando encontramos vozes com timbres tão imprescindíveis.
Fica aquele desejo de que o país seja gentil com todo esse talento e faça-o voar para além de Goiás, ganhando não apenas o resto de nossas fronteiras, mas o mundo.
É sempre urgente conectar os ouvidos para novas frequências, artistas que ainda ousam fazer arte com alma.
Melina faz.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana