31 de outubro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
MEIAS NOITES
Quando viramos fã de algum artista por conta de algum lançamento, sempre criamos expectativas para os próximos. Por isso é importante deixar claro quando a paixão está acima do debate de uma obra. Quando falo de algum disco que é lançado ou de um clássico, sempre tento puxar mais para o lado passional da coisa. Sou 100% clubista e emocionado.
Fazer uma crítica “opinativa” requer estudo e muito cuidado. Falar mal por falar mal é o que mais se faz na internet pra se tentar criar algum tipo de engajamento. A moeda social dos likes faz pessoas irem em extremos opostos. Falar exatamente o que os fãs querem ouvir ou falar mal de alguma coisa pra ficar na defensiva, ganhar visibilidade pra ficar conhecido e receber algum apoio de quem acaba concordando com você.
No caso de “Midnights” da Taylor Swift, nunca escondi que sou um Swift. Nunca tinha entrado na carreira, nas teorias ou nos pormenores dos discos lançados até o folklore de 2022. Acompanhar os lançamentos das versões regravadas, acaba sendo um jeito que uso pra descobrir melhor sua obra com uma visão da Taylor de hoje em dia. Fui ouvir o Fearless e o Red completo assim que saíram suas novas versões.
Com cuidado, fui ouvindo aos poucos a discografia e me deparei com uma produção pouco inspirada no Lover de 2019. O Reputation de 2017 é um disco muito superior. Com certeza o Lover causou uma certa estranheza em quem vinha de uma sequência com 1989 e Reputation. Temos que concordar que o Lover é um disco que não empolga tanto.
Foi esse sentimento que tive com o lançamento do Midnights. Tá longe de ser um disco ruim, mas achei um disco que funcionaria melhor se tivesse sido um disco pós Lover e pré folklore. Quando analisamos uma obra, precisamos pensar na composição, nas letras, no conceito, na consistência e na produção. E foi na produção que mais torci o nariz.
O produtor Jack Antonoff achou uma fórmula que ele se sente seguro e tá preso nela. Não gosto de criticar pessoalmente ninguém, até porque o trabalho de uma pessoa não quer dizer nada sobre quem ela é e tenho certeza que ele deve ser um produtor ótimo de se trabalhar e de se sentir seguro num ambiente tão tóxico como o da indústria musical. Porém, a carreira da Taylor foi expandindo desde seu disco de estreia. A caminhada pelo Fearless, Speak Now, Red, 1989 e do Reputation, foi uma jornada de uma artista achando a sua voz, inovando e influenciando o som do Pop dos anos 2010s.
Quando saiu o “folklore” e o “evermore” em 2020, esse desenvolvimento não necessariamente se traduz em evolução. Evolução quer dizer se tornar melhor e o talento da Taylor sempre esteve presente, então seu crescimento foi baseado em experimentação e experiência. Foi uma expansão pra uma Taylor Swift mais “Indie”.
Quando falo que o Midnights me parece um passo pra trás é sobre isso. É um disco com músicas boas que vão te emocionar, com letras que vão parecer que foram escritas pra você e melodias encantadoras como a Taylor entrega em todos os seus trabalhos. O problema é que o disco parece um disco seguro. Um disco pra se estabelecer. Mas a Taylor não precisa mais disso. Ela tem o tamanho pra expandir pra onde ela quiser.
Todo o marketing e divulgação do disco nos levou para um lugar noturno, pensativo, melancólico e ousado, mas o produto final não foi esse. É um disco que tem isso em suas letras, mas na entrega da produção e das composições, ficou parecendo uma continuação de um disco que começou em 2019 e só veio pro mundo agora em 2022.
O Midnights chegou com músicas repetitivas e algumas até bobinhas. Anti-hero, música de trabalho, parece uma música que o CHVRCHES faria e “Vigilant Shit”, parece uma homenagem estranha ao trabalho da Billie Eilish e seu irmão Finneas.
Os destaques do disco pra mim são ”Lavender Haze”, ”Snow on the Beach” com participação da Lana Del Rey, ”Karma”, “Question…?” e ”Labyrinth” na versão normal do disco.
Na versão “3am” do disco com faixas bônus, ”The Great War”, “Would’ve, Could’ve, Should’ve” e ”High Infidelity”, são as mais delicinhas. Coincidências ou não, são as músicas com produção do Aaron Dessner do The National.
É um disco que dá pra curtir, cantar, se emocionar, mesmo com algumas faixas mais fracas e uma produção segura. O mais importante? Não deixo de admirar em nada a Taylor por conta da minha pequena crítica. Ainda acho ela gigante e maravilhosa.
Ouça aqui o Midnights versão 3am completo
Por Vinícius Cabral
A PROVA DE FOGO
Geralmente eu tenho reservas em relação a bandas que disparam a lançar álbuns ano após ano. No contexto hiperconectado em que vivemos, é normal lançamentos serem rifados a esmo só para cumprir tabela no mercado guiado por algoritmos.
Dry Cleaning, uma das maiores revelações do rock alternativo dos últimos anos, parece ter escapado dessa lógica. Apesar de lançar seu segundo LP pouco mais de um ano após a estreia espetacular em disco com New Long Leg (ainda meu álbum favorito de 2021), o trabalho não soa como mera encheção de linguiça.
É certo que boa parte do disco é conduzida pela fórmula que a banda apresentou de maneira tão competente em sua estreia. Mas este fato não prejudica tanto Stumpwork como seria de se esperar. Nos piores momentos, o disco parece ser composto por “sobras” do longo processo criativo do primeiro álbum. Afinal, a pandemia represou uma série de ideias que não caberiam todas em New Long Leg. Nos melhores momentos, porém, a banda apresenta novas ideias. E é esse o grande trunfo deste Stumpwork.
Já em Anna Calls From The Arctic (faixa de abertura), ouve-se uma cozinha diferente. Estão lá os vocais declamados e um hipnotizante loop de baixo, assim como as guitarras cirúrgicas. Mas a base é construída por synths, que nos introduzem um mergulho harmônico diferente. Hipnótico, surreal e pulsante. São as mesmas ideias do primeiro álbum, levadas a um novo patamar. Em outro destaque, Don’t Press Me, a fórmula do primeiro disco parece intacta, até que a brilhante Florence Shaw arrebenta em um refrão cantado. A artista se diversifica. Canta, murmura melodias e, claro, declama. Apresenta um repertório de novidades que, seguida pela extrema versatilidade dos músicos, é capaz de criar novos rumos para a banda.
Em resumo, eu diria que Stumpwork é muito menos consistente que seu antecessor. Mas apresenta faixas individuais que chegam a superar os melhores momentos de New Long Leg. Casos de Anna Calls From The Arctic, Gary Ashby (com uma interpretação inusitada e inspirada de Florence), a já citada Don’t Press Me, e No Decent Shoes For Rain. Essa última mostra que os loops, em uma certa atmosfera “krautrockiana”, também podem abrir novas caixas de ferramentas para a banda – como também se conclui a partir da brilhante faixa de abertura, uma das melhores do ano.
Se poderia ser mais estratégico lançar essas canções potentes como singles, e o resto do disco como Lados B, isso já não sou eu quem tem que dizer. A 4AD, e certamente a própria banda, decidiram trazer Stumpwork ao mundo como o segundo álbum. O esperado, e temido, sophomore.
Se existe o consenso de que os segundos discos são uma prova de fogo para bandas novas, podemos respirar aliviados. Dry Cleaning passou na prova. E será uma banda cada vez mais relevante se seguir decisivamente os novos caminhos que rascunha neste irregular, mas encantador, segundo álbum.
Bonus Track: Meu take imediato (e em tom de desabafo) sobre o histórico 30 de outubro de 2022 segue aqui, no meu Substack: https://viniciuscabral.substack.com/p/o-pesadelo-ainda-nao-acabou?sd=pf. Leiam, e se puderem, se inscrevam também!
Por Márcio Viana
ADIVINHA, DOUTOR, QUEM TÁ DE VOLTA NA PRAÇA (OUTRA VEZ)
Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável, diz Marcelo Yuka na abertura de Jardineiros, primeiro disco do Planet Hemp em 22 anos.
Não é a mesma banda: dos membros iniciais, estão o vocalista Marcelo D2 e o baixista Formigão, com a companhia de BNegão, que esteve com a banda em seu primeiro disco. Juntam-se a eles o baterista Pedrinho, que substituiu Bacalhau já no registro anterior, A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, de 2000, e o guitarrista Nobru, assumindo a vaga que foi de Rafael Crespo.
É a mesma banda: com o tempo de estrada e a longevidade da formação (Nobru já toca com o grupo desde 2015; Pedrinho desde 1999), o Planet Hemp vem com tudo no novo disco, completamente dono de seu som e de suas rimas.
Além de começar marcando gol com o trecho de entrevista de Yuka, o grupo passeia por terreno conhecido e traz colaboradores habituais e novos para garantir seu porto seguro: neste caldeirão entram Tropkillaz, Criolo e Black Alien, que foi integrante da banda em substituição a BNegão entre 1997 e 2001.
Há inclusive um flerte com o trap, em colaboração com o argentino Trueno, na faixa Meu Barrio.
Não sei se consigo expressar a importância que esse disco tem para o Brasil atual, mas creio que ele se junta a quase uma dezena de álbuns lançados este ano por artistas que entenderam a necessidade de um discurso que trouxesse uma interpretação fiel e crítica do que foram os últimos sei lá, dez anos. Por mais que o Planet Hemp ainda centre algum foco na questão da legalização das drogas, a banda sabe e soube transformar em letra toda a indignação pelo autoritarismo que não está mais atrás da porta, já está na sala de jantar e já se senta à mesa.
E é aí que o ecletismo sonoro nos traz alguns petardos como Distopia, com sonzão pesado e participação de Criolo nas rimas, e Taca Fogo, hardcore de deixar Jello Biafra morrendo de orgulho (incluindo o clipe).
Se é fato que começamos a dar alguns pequenos passos para fora do caos, é preciso saber que ainda falta muito para encontrarmos a paz, e este registro é uma polaroid bastante fiel do que temos passado. E que seja em breve somente isso: passado.
Por Brunno Lopez
XEQUE-MATE
O Alter Bridge sempre foi uma banda consistente em suas jogadas no campo do Hard Rock. Dessa vez, após quase 20 anos de partidas memoráveis com estratégias firmes, o tabuleiro virou por completo e mostrou que a banda sabe jogar com as peças do jogo.
Em “Paws&Kings”, toda essa evolução de Myles Kennedy, Mark Tremonti, Brian Marshall e Scott Phillips chega ao clímax, derrotando todos os adversários de seu som e reinando altivos com provavelmente um dos trabalhos mais impecáveis da banda.
É sempre prazeroso quando podemos enxergar que a química criada pelo tempo de estrada promove uma evolução musical, e essa evolução aumenta o range de possibilidades do grupo. A prova? Bem, Alter Bridge é capaz de fazer absolutamente qualquer coisa e “Fable of a Silent Sun” demonstra um flerte poderoso com o prog.
São combinações assim que elevam patamares e mostram o quanto os dissidentes do Creed dominam o xadrez do rock moderno e poderiam ocupar lugares tão altos quanto sua capacidade de criar canções tão icônicas.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana