17 de outubro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.
RECENT PLAYS
Por Bruno Leo Ribeiro
O RETORNO DA LANCHONETE DOS SONHOS
O Red Hot Chili Peppers sempre foi aquela banda que eu meio que gosto e meio que tenho preguiça. É uma banda que já teve seus momentos maravilhosos e momentos que eu nem ligava pros lançamentos.
É uma banda com músicos incríveis, mas que de vez em quando eu acho que cada um tá tocando uma coisa e esse método cubista de composição nem sempre dá certo (pra mim). Enquanto o baixo tá tocando um super riff, a bateria tá ali no groove e a guitarra tá fazendo firulinhas com outra pegada e o vocal tá numa linha melódica meio torta.
Mas só disso ser considerado mainstreaming já é válido. Tem alguma coisa nessa estranheza do RHCP que fascina as pessoas. Por mais que os versos pareçam mais “alternativos” (com bastante aspas), os refrões quase sempre caem na acessibilidade do Pop Rock de Hollywood.
Quando foi anunciado que o John Frusciante voltaria pra banda pela 53º vez, todo mundo ficou curioso. Foi uma nostalgia dos super fãs e claro, curiosidade de quem gosta do John como guitar hero.
Eu estava na curiosidade de ouvir o que ele criativamente poderia trazer de volta pra banda super veterana. Como se pode inovar numa banda extremamente estabelecida? Difícil dizer, mas quando saiu o Unlimited Love, eu achei o disco cansativo, longo e meio “safe”.
Foi um disco pra dar certo. Na sua formulinha básica daquele método meio cubista que citei acima e refrões tentando grudar na cabeça, mas acho que o disco acabou falhando na parte de ser catchy. Nada ali é memorável a ponto de ficar na sua cabeça por mais de 20 anos igual os hits do Californication.
No anúncio de um segundo álbum da banda, no mesmo ano, eu torci o nariz. As expectativas de um disco meio parecido era grande. No histórico de artistas que lançaram dois discos por ano, a grande maioria é apenas um disco de sobras que a banda gostava, mas que ficam com cara de lado B.
Na sexta-feira, assim que saiu o disco, eu fui dar play pra ouvir os Riffs do Frusciante e me surpreendi. O “Return of the Dream Canteen” é um disco bem mais versátil, criativo, solto, agradável, melódico, alternativo e experimental.
Ficou bem claro que o Unlimited Love foi um disco das músicas mais “mastigáveis” e o Return é um disco que a banda se divertiu mais.
O melhor do RHCP pra mim é a molecagem e o deboche no seu jeito de tocar e compor. O “Return” traz essa malandragem com músicas que não se parecem tanto. De músicos excelentes que entraram no estúdio pra se divertirem e no seu método de cada um tocar uma parada, acabaram criando nesse segundo lançamento, uma consistência em cima da diversão e da alegria.
Esse RHCP do Return of the Dream Canteen é um RHCP que me leva pra um lugar bacana. Sem preguiça e sem vontade de pular várias faixas. É um disco pra curtir o dia, lembrar do passado e apreciar os pequenos detalhes que fazem do RHCP, uma das maiores bandas da terra, mesmo não gostando tanto assim.
Ouça aqui o segundo lançamendo do RHCP no ano
Por Vinícius Cabral
O ROCK BRASILEIRO É FEMININO
Falar do que tenho ouvido essas últimas semanas é quase sacanagem de tanto spoiler que eu teria que dar das próximas edições. Vou aproveitar então para aprofundar algumas reflexões que surgiram a partir da pesquisa para o episódio da semana passada.
Antes de Pássaros na Garganta parar nas minhas mãos, eu não fazia ideia do quão brilhante era Tetê Espíndola. Conhecia seu hit óbvio, que sempre ouvi sendo diminuído como se fosse uma versão tupiniquim de Kate Bush (o que é uma óbvia palhaçada). Havia adentrado mais a fundo na carreira de sua irmã, Alzira E, que o Christian me aplicou despretensiosamente. Me interessei pela veia roqueira e autoral da artista e, quando comecei a puxar o fio, logo logo caí na vanguarda paulista. No que, rapidamente, fui lançado de volta à Tetê.
Nesse vai e vem, muitas reflexões se adiantaram ao meu contato com seu álbum de 82, que destrincho no Raio X. O que não ficou falado no episódio, porém, e que acho de extrema importância para debatermos aqui, é o evidente pioneirismo das mulheres no rock brasileiro. Alguns podem argumentar que este álbum da Tetê passa longe do rock. Mas, como a própria artista esclarece, suas canções foram sempre pautadas por instrumentos de sonoridades nacionais utilizados em bases de blues. Qualquer analista minimamente competente consegue identificar essas bases em canções que, neste disco em específico, soam como uma espécie de folk pantaneiro – uma definição talvez mais apropriada até do que a, mais midiática, diga-se, “sertanejo lisérgico”, dada pelo Arrigo.
Seja como for, a trajetória de Tetê aponta o tempo todo para o evidente pioneirismo feminino em nosso cancioneiro moderno. O primeiro rock em terras brasileiras foi gravado por uma mulher (Nora Ney); a primeira grande estrela do gênero no país foi, provavelmente, Celly Campello; Rita Lee rasgou os Mutantes ao meio para criar uma das obras roqueiras mais competentes do continente; Marina Lima e Fernanda Abreu subiram o sarrafo nos anos 80, introduzindo aqui várias vertentes da música moderna eletrônica internacional; por aí vai. São muitos os exemplos de como as mulheres brasileiras não tiveram medo da novidade e romperam os padrões vigentes.
Tetê o fez, inclusive, em pelo menos dois momentos: quando criou suas primeiras obras, cheias de regionalismos, mas penetradas por uma voz inédita, inconfundível e de efeitos absolutamente desconcertantes, e quando levou esta voz ao contexto do moderno pop brasileiro dos anos 80 (adiantado por figuras como Marina Lima). Tetê mudou para sempre a história de nossa música, com os falsetes e gritos que, de fato, mais pareciam pássaros presos em sua caixa torácica. Foi responsável por uma sonoridade nunca antes desbravada.
Aqui e, provavelmente, no mundo.
Ouça Pássaros na Garganta aqui
Por Márcio Viana
DANCE COM ELES
Sex Beatles foi uma banda com curto período de atividade, apenas cinco anos, de 1990 a 1995, período em que lançou dois discos, Automobilia (1994) e Mondo passionale (1995). Formada por Alvin L (guitarra e teclados), Cris Braun (voz), Ivan Mariz, Marcelo Martins (bateria) e Vicente Tardin (baixo), a banda misturava influências de pop e glam rock com letras bem sacadas, cortesia de Alvin, compositor conhecido por seus trabalhos com diversos artistas, mas principalmente pela parceria com Marina Lima, como citamos no especial que fizemos sobre a cantora no nosso episódio #146.
Eis que agora, como forma de celebrar a chegada de seus álbuns às plataformas de streaming, a banda se reuniu virtualmente para lançar um single duplo com as inéditas Oui je regrette tout! e Dance comigo…
Outra razão para o lançamento é acompanhar a chegada ao YouTube de um documentário de 2011 sobre a banda, Memorabília.
O single duplo foi lançado há um mês, mas só neste final de semana ouvi. Apesar de não trazer nada de novo, é bacana observar que a sonoridade da banda ainda funciona bem para os dias de hoje.
Por Brunno Lopez
QUERIDO SHERLOCK, AGAIN
Discos inteiros estão relativamente escassos na modernidade fonográfica. Então, de single em single, os artistas que temos profundo respeito e admiração começam a tentar povoar esse universo infinito de canções novas que explodem constantemente nos streamings da vida como se fossem realmente necessárias. A grande maioria não é, e sequer poderiam ser pois não existe tempo para se ouvir com cuidado o que esse monte de gente acha que tem a dizer.
Nesse balaio de urgências dispensáveis, eis que aparece o Dear Sherlock com seu novo som de novo curioso: “Tracatu”
Era o que precisava pra renovar os plays nessa banda que já havia me conquistado com outros trabalhos bem interessantes.
Quem descobrir o que é Tracatu me fale.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana