10 de outubro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
UM COLOSSO
Literalmente um colosso! Assim podemos definir o Koloss do Meshuggah que em março deste ano fez 10 anos de lançamento.
Sou desses que acho que um disco lançado hoje pode nascer clássico. É muito mais pela sua importância, potência, influência e legado. Não apenas por ser antigo. Não precisamos esperar um número X de anos.
Terça-feira da semana passada fui no meu 4º show do Meshuggah aqui em San Francisco. E o show como sempre me surpreendeu.
De todos os shows que assisti na vida, o Meshuggah com certeza é a banda com o nível de dificuldade mais alto em execução de suas músicas. O que eles fazem não é fácil. E por isso mesmo, digo que eles são os melhores performers ao vivo que já vi em nível de execução musical (seguidos de Rush e Dream Theater).
O show foi baseado no novo disco Immutable, lançado agora 2022, mas ali no meio daquele repertório, na penúltima música do show, tivemos a paulada na cara chamada Demiurge. Se eu tivesse que definir o que é o Meshuggah, Demiurge é a música que resume o que a banda faz.
O Koloss é um disco brutal, extremamente bem tocado e bem mixado. Já nasceu clássico. Muita gente prefere o Obzen (que tem a famosa Bleed), mas eu acho que a banda chegou ao seu melhor no Koloss (tive o privilégio de ver o show dessa turnê) e ver a banda tocando ao vivo qualquer música desse disco é uma aula de musicalidade e inovação dentro do Metal.
O Djent é basicamente pegar o Pop Metalcore e colocar uns riffs quebrados iguais aos que o Meshuggah faz. Mete um refrão com vocal meio Pop Punk e pronto. Temos as bandas de Djent. Por isso que eu acho que o Meshuggah detesta ser chamado de “inventores do Djent”, pois eles não fazem Djent. Eles fazem um Extreme Jazz Metal.
Sei que não é pra todo mundo, mas se o Meshuggah conseguir te emocionar, você pode entrar num loop infinito daqueles tempos impossíveis de se bater cabeça.
Por Vinícius Cabral
VEM PRO PAI, VEM
Semana passada Come To Daddy, single eterno de Aphex Twin, presente em EP homônimo, completou 25 anos.
A data me faz quebrar o protocolo dessa coluna de clássicos. Não destaco o EP do qual a música faz parte, mas a música em si. Ou ainda, o conjunto audiovisual que constrói um verdadeiro universo Come To Daddy. Richard D. James (o Aphex) nunca foi um artesão de álbuns. Seu trabalho gira em torno de marcas registradas, que se consolidam muitas vezes em singles e videoclipes que valem por dezenas de discos conceituais somados.
O single em questão, para além da virtuosidade musical, tem um videoclipe perturbador, inovador e inesquecível. As crianças, com a cara sorridente de James estampadas em CGI, traduzem a perturbação que a obra produz. Musicalmente, o beat alucinante de drill ‘n bass sustenta a gritaria vocal que complementa o universo estético da obra. O conjunto se manifesta como algo entre Atari Teenage Riot, Kubrick e Cronenberg. Sombrio, alucinante e aterrorizador. Uma música que é cinema, e um vídeo que é música. Uma obra musical em perfeita apresentação audiovisual.
Aphex é múltiplo e inquieto. E me faz lembrar que clássicos não precisam ter necessariamente um formato. Divirtam-se com o videoclipe histórico que compõe essa magnífica obra do genial Richard D. James.
Por Márcio Viana
O JAIR QUE VALE A PENA OUVIR
Na última semana, estive em um show do cantor e compositor paulista Jair Naves, conhecido por seu trabalho solo e por sua passagem à frente do Ludovic (que volta e meia ainda se reúne para alguns shows).
A apresentação foi especial, comemorando os dez anos do lançamento de seu primeiro álbum, chamado (tome fôlego) E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas.
O disco, de conteúdo altamente pessoal/emocional, combina bem a tensão dos acordes com a tensão semelhante nas letras. Temas como violência, medo, espiritualidade (ou ausência dela) e família constroem esse álbum de nome comprido que resume a narrativa presente nele e resolve suas questões em canções com nomes igualmente inspirados, como Pronto pra Morrer, Guilhotinesco, Carmem, todos falam por você ou No fim da ladeira, entre vielas tortuosas.
Por falar em tomar fôlego, há que se reparar que, dez anos depois, todo o conteúdo continua (em alguns casos tristemente) atual.
Presente em minha lista dos maiores discos da década de 2010 a 2019, o álbum, ao completar seus 10 anos de lançamento e se tornar repertório de um show comemorativo, se consolida como um clássico indie, já que segue muito lembrado e cantado a plenos pulmões pelo artista e pelo público, numa relação catártica impressionante.
Num momento de muita tensão política, vale o grito proferido (talvez exageradamente, claro, porém simbólico) por alguém da plateia do show: O único Jair possível!
Por Brunno Lopez
ABÓBORAS CLÁSSICAS AO MOLHO PAULISTANO DA ATUALIDADE
A dica é de clássicos e até posso dizer que estou cumprindo esse papel quando relato o show histórico que presenciei no último sábado, na capital paulista. O Helloween desfilou muitas canções de seus discos imortais, sendo assim, roubo um pouquinho no jogo pra incluir essa experiência nessa newsletter tão especial de reminiscências sonoras.
De “Skyfall” até “I Want Out”, a banda alemã não economiza em técnica e carisma. É o tipo de show que se assiste pulando e sorrindo, pois o power metal que eles fazem tem um espírito de felicidade incontrolável. E ao mesmo tempo, faz chorar quando Andi e Kiske duetam num “Forever and One” da vida. São as emoções que vai se alternando, assim como os solos de Sasha, Weikath e Kai. Se algum dia alguém disse que menos é mais, certamente não faz ideia da pluralidade que três guitarrista e três vocalistas podem produzir.
Viajando pelo repertório de uma carreira carregada de hinos e mudanças de formação, observar a história se reunindo diante dos olhos não tem preço (até tem, mas a gente parcela e vida que segue). Não existe absolutamente nenhum ponto baixo na performance desses sujeitos ao longo de toda a noite. Dani e Marcus são metralhadoras de uma cozinha que não para, numa precisão absurda e sem perder o feeling. Kai é aquele sujeito que dá vontade de abraçar. Weikath, mesmo com sua pose mais estática, ainda arrisca suas gracinhas e é indispensável. Enfim, na trajetória de perdão e esquecimento de rusgas, quem ganha é o fã. Porque o Helloween de 2022 é uma das experiências mais incríveis e divertidas que se pode ter.
Quando ouvi “Best Time”, percebi na hora que eles estavam falando do show. Só que dessa vez, o que o refrão cantava no futuro, veio para o presente.
É que presente, meus jovens. Que presente.
“I will have the best time of my life”
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana