26 de setembro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
ESTAÇÕES DO ANO
Sexta passada, saiu o 3º disco temático do Weezer chamado “SZNZ: Autumn”. Desde o SZNZ: Spring lançado em março deste ano, a banda vem entregando discos divertidos temáticos sobre as estações do ano.
A ideia é bem legal, já que o Weezer, mesmo pra quem não curte, nunca teve medo de testar. Gostando ou não das músicas pós Green Album, o Weezer teve bons momentos na sua carreira.
Acho que o problema do Weezer é o gerenciamento de expectativa. Eles não vão mais fazer um disco como o Blue ou o Pinkerton.
A banda foi brincando de fazer música se divertindo durante os anos, lançando discos de cover, discos de glam metal, de pop e etc.., o que eu acho super válido.
Entre os 3 discos temáticos lançados até agora, o Autumn foi o que mais gostei. O Spring tem algumas coisinhas interessantes e o Summer também, mas o Autumn é mais consistente.
A coisa boa é que todos os 3 discos são curtinhos então dá pra dar play sem ver o tempo passando.
Não são discos pra entrar em lista nenhuma, mas vou deixar registrado aqui porque acho que vale o play. Não é nada inovador ou de outro mundo. É Weezer basicão, Pop Rock de Arena, mas não tem problema nenhum nisso.
O Autumn é um disco divertido e isso já vale o play.
Por Vinícius Cabral
A INVASÃO HERMANA
Não é só pra dizer “eu avisei”. É porque a história é foda demais.
Mas, sim, eu avisei. E todos vocês estão de prova que estamos cantando a bola do indie argentino com ênfase aqui, no bom e velho “você viu primeiro no Silêncio no Estúdio”.
2022 provavelmente vai ficar para a história do rock dos nossos vizinhos como o ano em que furaram realmente a bolha. Eu já vinha notando uma presença cada vez maior de bandas argentinas em festivais e iniciativas gringas. Cheguei a postar aqui neste espaço a banda Las Ligas Menores em um evento da rádio estadunidense KEXP. Pois bem, aquele evento já era parte de uma parceria da rádio com o Centro Cultural Kirchner, do Ministério da Cultura do país (que saudade eu tenho do nosso). Parceria que, em 2022, se transformou em um festival, cujo lineup está na imagem acima e que inclui vários artistas que tenho colocado nas newsletters e nas minhas playlists de discotecagem, tais como Sara Hebe, Juana Molina, Fin Del Mundo, Mi Amigo Invencible e Atrás Hay Truenos.
A parceria com a rádio é simplesmente um fato gigantesco. Coloca os argentinos no centro de um dos projetos mais concorridos e populares no nicho indie em termos de performance hoje em dia (o Live on KEXP). O que, basicamente, significa dizer que os hermanos estão com a bola. Tornam-se um dos principais pólos de interesse do indie internacional, sem nenhuma dúvida. E não é sem méritos. Há um conjunto tão forte de artistas no país hoje (em quase todos os nichos, diga-se, do punk ao “neo-tango”) que demorou para os holofotes se instalarem.
Outra evidência do que estou dizendo é acontecimento recente: a apresentação, também no Live on KEXP (mas fora do festival), da Él Mató A Un Policía Motorizado, banda que provavelmente já é o maior projeto indie da América Latina hoje. A performance é histórica, por alguns motivos. Primeiro, porque os caras entregam um dos melhores shows (gravados) que já vi em minha vida – é uma performance concisa, forte, detalhista, tecnicamente impecável e, ainda assim, super enérgica. Depois, porque Santiago, à frente da banda, dá a letra na entrevista, citando suas influências: as argentinas Suárez (parece familiar?!) e Peligrosos Gorriones, e as gringas, Pixies, Sonic Youth, Pavement, Guided By Voices. Lembram o que eu sempre falo aqui? Sobre como essas bandas pavimentaram algo muito alternativo lá atrás, que até hoje não se esgotou e que, antes, construiu uma identidade a ser referenciada, adaptada e modernizada?
Pois é. Um dos portadores do bastão é a Él Mató, que puxa atrás de si uma legião de artistas latino-americanos especialmente mágicos. Quem está com a bola desta vez (e promete golear os adversários com ela) são nossos queridos hermanos. Aproveitemos a invasão hermana enquanto ela acontece (e aguardemos a nossa vez).
Bonus-Track: não é um assunto estritamente musical, então deixei de lado. Mas semana passada o mundo perdeu Jean-Luc Godard, um dos maiores cineastas da história e, sem dúvidas, uma das minhas maiores influências como artista e ser humano. Fui tomado por uma emoção muito grande, que me levou a arriscar umas linhas em meu substack. Na verdade, o episódio serviu para que eu tirasse da gaveta este projeto. Atualizarei o blog de escrita aqui e ali, inclusive repostando alguns textos antigos meus escritos para esta newsletter. Se inscrevam lá para acompanhar esta nova empreitada.
Por Márcio Viana
OS TITÃS NO CAOS
Andei pensando aqui e me dei conta de que já falei dos Titãs em vários textos desta newsletter ao longo dos anos, além de ter feito o Raio-X do disco Cabeça Dinossauro. A banda tem uma carreira longeva e uma produção que alterna entre grandes pérolas e algumas coisas bem dispensáveis.
Em alguns momentos, daria para atribuir os maus momentos à quantidade de integrantes, pensando que tudo precisava ser decidido a dezesseis mãos (e eles promoviam realmente votações para decidir repertório). Com o tempo, o número de mãos a levantar foi se reduzindo, até chegar às dos três integrantes remanescentes, acrescidas dos dois agregados e já veteranos de banda, que agora até colaboram com composições. O que poderia ser excesso, talvez agora seja falta.
Eis que, comemorando 40 anos de sua existência/resistência/insistência, o trio/quinteto lança Olho Furta-Cor, com 14 faixas.
Deixei para escrever sobre este disco agora, ao invés de falar sobre ele na semana dedicada a lançamentos porque queria fazer uma reflexão mais ampla e também porque não é exatamente uma recomendação.
Primeiramente, é preciso ressaltar que sim, os integrantes têm todo o direito de existir como banda e defender seu legado, isso é ponto pacífico em minha concepção.
Outro ponto pacífico é: Caos, primeiro single, lançado um pouco antes, é a melhor canção do disco, e isso é um mau sinal. Trazida pelo guitarrista Beto Lee, que se apresenta com a banda desde a saída de Paulo Miklos, é uma parceria do músico com seus pais, Roberto de Carvalho e Rita Lee, e é inconfundível o estilo de composição da artista, ainda que aqui ela peque no timing, ao trazer uma mensagem neutra num momento político em que o melhor é se posicionar. Em notas relacionadas, o refrão (melodicamente muito semelhante a La Bamba) traz a frase “hay gobierno, soy contra”, ironicamente cantada por Sérgio Britto, filho e neto de políticos de carreira.
Outro momento de destaque também parece reverenciar Rita, e curiosamente também é obra de um titã agregado, o baterista Mario Fabre, que substituiu Charles Gavin em 2010 e desde então segue com a banda. Em Miss Brasil 200 anos ele atualiza a Miss Brasil 2000 da cantora, e colabora nos vocais junto com Britto.
Fato é que eu sinto que Olho Furta-Cor, ao mesmo tempo em que levanta a bandeira da resistência de uma banda que hoje tem mais ex-integrantes do que integrantes, também deixa expostas todas as dificuldades em se manter. Tony Bellotto, alçado a cantor após a saída de Miklos, ainda é sofrível na função. Se na abertura em Apocalipse Só, com levada indígena e apoio de coral infantil, Bellotto não compromete, em Eu Sou o Mal a tentativa soa um tanto risível, se me permitem ser mais ácido.
Sérgio Britto, por sua vez, acaba por ocupar o maior espaço do disco, por ser hoje o principal compositor do grupo, e também por ter que dar conta da maioria dos vocais, dada a limitação apontada acima e a indisponibilidade de Branco Mello, que ainda se recupera da retirada de um tumor na garganta, aparecendo aqui nos vocais de apenas duas canções, em que foram usadas as vozes gravadas na pré-produção.
Talvez por isso, tenha aqui uma repetição de temas por parte de Britto, que em sua carreira-solo já havia composto uma canção sobre São Paulo, e aqui opta por musicar dois poemas de Haroldo de Campos, São Paulo 3 e São Paulo 1, nesta ordem em pontos diferentes do álbum. É válido, mas talvez para quem mora aqui esse encanto tenha se dissipado um pouco, pelo menos temporariamente. Falta uma visão mais atual da cidade e de seu estado (não o da federação, e sim a situação em que se encontra).
Ressalto também que tecnicamente o álbum até soa bem, com bom desempenho dos músicos, incluindo Branco Mello, que parece bem adaptado à função de baixista. Criativamente, o álbum fica bem abaixo dentro da discografia da banda.
Deixo para o final os pontos mais baixos: Raul, homenagem ao cantor baiano, não parece ter muita conexão com sua obra, ficando mais próxima talvez de algo que os Raimundos pudessem produzir. E uma explicação possível para a falta de ousadia do disco: fechados com o selo Midas Music, os Titãs escolheram Sérgio Fouad e Rick Bonadio como produtores, e parece que a filosofia implantada foi a professada pelo outro Rick, o Rubin, aquela da premissa de que produtor é o fã profissional. Parece que faltou desafiar um pouco mais a banda. Se a produção não ajuda, escolher Pedro Bial para escrever o release também não me parece uma forma de trazer palavras que fujam do clichê e da bajulação. Mas enfim.
A banda, dentro de suas limitações, segue em turnê. Que seja sempre em nome da diversão e arte para qualquer parte.
Por Brunno Lopez
READY TO RUMBLE
Mais uma vez a Suécia aparece por aqui com suas produções impecáveis, dessa vez com o Cyhra, um supergrupo que tem gente do In Flames, do Khamelot e também do Amaranthe. Mas honestamente, isso não importa. O que importa mesmo é o som que eles fazem.
O single mais recente apresenta um som tecnicamente mais acessível do que o das bandas antigas de seus atuais membros. Claro, as influências da cena metal estão perambulando por aqui e por ali, porém, existe um frescor de personalidade que faz com que essa canção seja impossível de passar despercebida.
E o mesmo acontece com o clipe. Eles queriam fazer uma analogia ao fim da pandemia e a necessidade de se voltar ao ritmo, tal qual um lutador de boxe parado precisa reencontrar sua melhor forma.
Acho que eles conseguiram.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana