Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 165

19  de setembro de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro (e Daniel Motta)

OZZY E SEUS AMIGOS.

Esses dias saiu mais um disco do Ozzy e acabei debatendo sobre a necessidade da existência desse disco. Me soou como mais um desses discos de supergrupo que não me dizem nada. Acabei conversando bastante com nosso amigo/colaborador/ apoiador Daniel Motta e ele acabou escrevendo a transcrição da nossa convesa.

Segue abaixo:

Bruno Leo: Cara, ouvi o novo do Ozzy. Completamente desnecessário. Acho que a Sharon ligou pro Tony Iommi, Duff, Chad Smith, Rob Trujillo, Jeff Beck e falou assim: “Galera, o Ozzy tá bored pra caralho aqui em casa e eu preciso que esse homem faça alguma coisa pra parar de encher o saco. Bora gravar um disco?”

Daniel Motta: Cacetada, bicho! Eu ouvi rapidinho só porque fiquei curioso de como seria o Mike MccReady (do Pearl Jam) tocando metal. Achei o riff bom, mas não ouvi o resto direito.

Bruno: O disco não é ruim, mas também não é bom não. 

Na minha cabeça veio o meme do tava ruim, tava bom, mas parece que piorou. Bruno continuou:

– É aquela pegada de supergrupo sem alma, sabe?

Mas nada me prepararia pra próxima frase dele

– Vou falar: o último disco bom do Ozzy é o No More Tears (Nota do Editor: tá, a observação é válida. De fato nenhum disco depois desse foi tão bom ou relevante. Segue o jogo). Ozzmosis tem duas boas e depois nem sei mais o que veio. Eu acho que os três primeiros são perfeitos e depois na metade dos anos 80 ele deu uma escorregada.

Ufa, saquei que o Bruno estava com isso entalado na garganta. Fiquei só falando “hum-hum” pra ele saber que eu estava ouvindo. Bruno segue:

– Digo mais, o Ozzy solo só lançou 4 discos bons na vida toda dele. 

Se a gente estivesse sentado no banquinho da Praça É Nossa com Carlos Alberto de Nóbrega, esse seria o momento em que a Vera Verão começaria a gritar EEEEEEEEPA!

Que paulada, amigos! Palavras fortes estavam sendo ditas. Precisei de alguns segundos pra perceber que nunca antes na minha vida fiquei tão ofendido com alguma coisa que concordo 100%. 

– Teve aqueles disco com o Gus G. que porra, nem ouvi irmão. Sem tempo, né? A Sharon explora demais o velho. Não ouvi o disco todo e não gostei.

Ouça aqui o Patient Number 9 do Ozzy e se ofenda ou concorde com nosso relato


Por Vinícius Cabral

A GERAÇÃO (NÃO TÃO) PERDIDA DE MINAS GERAIS

A volta da “vida normal” (e dos eventos encavalados) tem produzido reflexões importantes sobre o estado das coisas nas cenas independentes ao redor do mundo.

Aqui em BH tem ficado cada vez mais claro que algo realmente transformador aconteceu na cidade entre o final dos anos 2000 e os dias atuais. Há quem atribua a efervescência cultural e urbana que se instalou na cidade, mais claramente a partir de 2010, a um contexto político: BH teve um gostinho do fascismo neoliberal nesta época pelas mãos do prefeito-empresário Márcio Lacerda. O canalha tentou cercar a cidade, e o tiro saiu pela culatra. Teimosamente, o belo horizontino, geralmente tão sutil e cauteloso, se jogou na rua.

É desta época a famosa Praia da Estação e a retomada (ou, alguns diriam, criação) de um carnaval de rua. Assim como o surgimento de inúmeros eventos, a consolidação de casas de show e a derradeira participação da cidade em circuitos importantes de shows internacionais. Quem vivia falando que não tinha nada para fazer na cidade, ou que ela era conservadora e quieta demais, começou a ficar sem argumentos.

Mas nem tudo eram flores.

Coincidência ou não, o fortalecimento destes elementos acabou enfraquecendo uma certa cena realmente independente. Editais se avolumaram, o carnaval foi sendo “privatizado”, e algumas bandas locais ficaram grandes demais para a cidade, enquanto outras morreram. O que justifica a máxima que tenho visto ser usada por algumas pessoas, de que “o carnaval matou o indie de BH”. Faz sentido, se pensarmos que a cidade teve realmente uma mudança de foco. Mas há duas coisas a serem corrigidas neste raciocínio.

Em primeiro lugar, o indie nunca morre. Em segundo, uma coisa não pode (e não deve, nunca) matar a outra.  Apesar disso, é certo dizer que a cidade teve um vácuo de cena realmente independente. Vácuo que foi muito bem aproveitado por alguns agentes isolados. De um lado projetos como o Grupo Porco (que volta triunfalmente este ano) e The Innernettes (que sim, faz parte dessa história), casados a bandas maiores, mas altamente independentes (como Constantina), que seguiam cavucando circuitos mais underground e buscando um novo público, através de pequenos e médios eventos, como o Pequenas Sessões e o histórico Eletronika. Por outro, a banda Lupe de Lupe, que conseguiu (ao menos inicialmente, sozinha) capturar totalmente uma garotada que, por volta de 2012/2013, não passava dos 15 anos de idade. Com letras quase infantis, de uma revolta básica e crua (como no clássico dos caras, Há Algo de Podre No Reino de Minas Gerais), a banda parecia cruzar adequadamente Sonic Youth e Legião Urbana, o que por algum tempo fez muito sentido. Liderada por Vitor Brauer, os caras conquistaram os corações da garotada revoltada, para quem a cidade ainda era uma várzea, conservadora e mofada. 

Nada mais justo. 

Veio daí a famosa Geração Perdida de Minas Gerais, que nunca foi propriamente um selo ou um grupo, mas que funcionou bem como uma espécie de hub de artistas, todos gravitando estéticamente em torno da Lupe de Lupe. Jonathan Tadeu, Wagner Almeida, Ginge (a primeira “super-banda” do grupo), Fernando Motta, Mafius, etc. Este grupo ocupou o vácuo com habilidade, capturou um público sedento pelo indie, e surfou nessa onda. Até crescer demais. A Lupe de Lupe foi para a Balaclava, alguns artistas começaram a ter visibilidade nacional, e os projetos, embora ainda sejam muito unidos, foram se desarticulando. Especialmente na criação de eventos. 

A verdade é que a Geração talvez já não esteja tão perdida assim. Amadureceu e achou um nicho fiel, embora ainda sedento por eventos fixos. Foi daí que identificamos, a partir do trabalho do Undergrations, de nossa eterna parceira Maria Caram, um novo vácuo pós-pandemia: a Geração Perdida se encontrou, e deixou seus artistas mais recentes meio sem “casa”. O Undergrations tem fechado esse gap, escalando as últimas adições do “selo” em seus eventos (Gabriel Campos e, logo mais, em outubro, o Grupo Porco) e propondo a ousada (mas não impossível) tarefa de juntar todo o underground belo horizontino dentro de um projeto coerente e permanente. 

Enquanto isso não acontece e a história ainda está sendo escrita, vale compartilhar o último projeto do grupo da Geração. Quebra Asa é o novo supergrupo dos caras, e funciona como uma espécie de Norvana, juntando Vitor Brauer, Jonathan Tadeu e Fernando Motta (este, sem dúvida, o mais talentoso de todos) em uma porradaria realmente nirvanesca, bem anos 90. Compartilho abaixo o primeiro single do projeto, que já circula em uma mini-turnê pelo Brasil enquanto vocês lêem este texto.  

Veja o videoclipe de Vontade aqui


Por Márcio Viana

REVOLUÇÃO É O CAOS

Na última semana estive no Sesc Avenida Paulista para conferir o último dia de um final de semana do Festival 1,2,3,4, que reuniu algumas bandas do punk brasileiro, com o destaque para o Black Pantera (que talvez seja um pouco além desta classificação, o que não torna este um espaço desconfortável para a banda mineira). Com abertura da banda veterana e indispensável As Mercenárias (acrescida do onipresente Edgard Scandurra e do performático Jonnata Doll) e num espaço interessante para shows – dois palcos, o que permite o início imediato de um show após o final do outro – o trio mostrou que não estava para brincadeira e entregou uma apresentação cheia de energia e inspiração, mesmo em um ambiente tão intimista. Show para poucos privilegiados.

Inevitável que após a apresentação, eu voltasse minha atenção para o trabalho mais recente do grupo, Ascensão, que intencionalmente ou não, reproduz bem a energia da banda no palco, em faixas muito inspiradas, como Revolução é Caos, Padrão é o Caralho, Fogo nos Racistas e Eles Que Lutem.

Em tempos tão hostis, me parece indispensável poder canalizar a raiva. Que bom que existe o Black Pantera, forte candidato nas listas de melhores do ano.

Ouça Ascensão


Por Brunno Lopez

NO BINGO DO HARD ROCK, A DINAMARCA

Quando menos se espera, o entretenimento de qualidade sonora inquestionável aparece e faz a alegria daqueles que já não acreditavam mais que teriam seus números marcados na cartela da música pseudo-oitentista.

Felizmente, a Frontiers Music assina um duo maravilhoso, o Taboo.

Um duo dinamarquês formado pelo vocalista Christoffer Stjerne e o guitarrista Ken Hammer que resgata toda a essência do hard rock que amamos, porém, com um toque moderno viciante.

Pra ter um selo de qualidade irretocável, quem assina a mixagem é a lenda do metal dinamarquês Jacob Hansen.

Com tudo isso, 2022 é um ano de cartela cheia. De hits.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana