05 de setembro de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
AINDA COM GASOLINA PRA QUEIMAR
Ano passado, um dos discos que foram parar na minha lista de melhores do ano foi o primeiro mini álbum solo do KEY, integrante do SHINee, chamado BAD LOVE. O BAD LOVE foi um disco que mostrou pra mim e pra todo mundo que ouviu, que a saturação na experimentação do pop da Coreia do Sul é muito acima da média. A produção, composição e inovação nas transições e melodias, são o mais puro ouro do que se pode fazer no Pop mundial.
Enquanto artistas chegam no limite do ciclo e fazem discos retrôs, KEY chega mais uma vez, agora com seu segundo lançamento completo chamado Gasoline, mostrando que ainda dá pra puxar mais pra cima o sarrafo e não precisa fazer um disco em homenagem ao passado.
O que se destaca na diferença entre o BAD LOVE e o Gasoline talvez seja na voz. O ataque da voz nas melodias, fazem que cada música seja uma surpresa. Num mundo onde o Pop tá cada vez mais genérico e seguro, feito pra ser música de fundo de lojas de Fast Fashion, ouvir o Gasoline é uma agradável surpresa. Vale cada segundo do seu play.
Por Vinícius Cabral
GENEALOGIAS PORTEÑAS
Juana Aguirre (acima) e Rosario Bléfari (abaixo)
Não tenho conseguido acompanhar lançamentos com muito entusiasmo. Entre o pop híbrido e marcante (embora já, talvez, em declínio) das grandes estrelas, e um underground muito rico, mas ainda totalmente obscuro e mal mapeado, tenho ficado com a segunda opção. Como diria um amigo meu, “é sobre isso, e tá tudo…”.
Nas últimas semanas entrei na semiose interminável do rock argentino, esbarrando com uma artista de quem já havia ouvido falar, mas sem dar o play: Juana Aguirre. A ouvi pela primeira vez só agora, com o maravilhoso single de El Muro, uma canção simples e forte, com um traço porteño inconfundível e uma energia invejável. A artista estreou em carreira solo ano passado, com um disco bastante intrigante, o Claroscuro. O trabalho segue a linha acústica, ambiente e experimental que se observa no novo single, embora este seja ainda melhor. E isso talvez por estar mais claramente conectado a tradições líricas, melódicas e harmônicas do rock argentino.
Me chamou muita atenção a relação estilística entre Juana e outra grande artista do país, Rosario Bléfari, falecida precocemente em 2020. Rosario liderou a banda Suárez nos anos 90, se tornando um cânone do underground argentino da década*, ao representar o shoegaze e o lofi em terras porteñas com muita personalidade e talento. Basta ouvir Morirían, do primeiro álbum do grupo, para que a associação com Aguirre fique clara. É incrível saber que, por mais que as terras do sul consumam todo o “lixo ocidental” (já cantando em verso por alguns mineiros aí) empurrado em sua goela, sempre haverá referências locais para reconhecermos a identidade de um determinado artista.
Neste caso, há uma verdadeira genealogia. De um artigo do Lá Nación, recapitulando os melhores momentos da carreira de Bléfari após sua terrível morte por câncer com apenas 54 anos, tiro as palavras a seguir (o comentário leva em conta o primeiro single de Suárez, Brilla, lançado originalmente em uma coletânea de 1993 chamada Ruido): “A canção é pura hipnose, e capta o ruidismo que Nirvana havia tornado pop, mas não nos confundamos: Suárez é muito local. Sua genealogia aponta para o segundo disco de Almendra, e a união entre Brilla e Desmaya (a outra canção incluída em Ruido) são como um single perfeito do pioneiro selo Mandioca, se gravado 25 anos depois, como na série alemã Dark”.
De fato, é possível conectar, a partir deste lançamento de Juana Aguirre de 2022, três gerações do rock argentino. Haja história, e haja música boa pra conhecer, deste país tão pequeno.
*Além de cânone indie nos palcos, Rosario também se consolidou como atriz em 1998, protagonizando o belíssimo filme de Martín Rejtman, Silvia Prieto. O filme lida com questões bastante representativas daquilo que eu considero a verdadeira base contracultural dos anos 90 em diante: a subcultura indie. Uma comédia inesquecível, simples, e com um charme inenarrável (garantido em boa parte pela performance inspirada de Rosário).
Por Márcio Viana
AGORA E SEMPRE, A VOLTA DO TERMINAL GUADALUPE
A emblemática banda curitibana Terminal Guadalupe voltou a se reunir para o lançamento de um álbum após 15 anos do último lançamento, o disco A Marcha dos Invisíveis, de 2007. “Se reunir” do jeito que dá: hoje a maior parte dos integrantes mora fora do Brasil, somente o vocalista Dary Esteves Jr (que participou recentemente do Silêncio no Estúdio no episódio dedicado a There is a Light That Never Goes Out dos Smiths) ainda está residente em Curitiba. O guitarrista Allan Yokohama e o novo baixista Marcelo Caldas moram em Portugal, o baterista Fabiano Ferronato na Alemanha.
Mesmo assim, houve a possibilidade de alinhamento para a composição de 10 novas canções, gravadas com a colaboração do renomado produtor Iuri Freiberger (baterista da lendária banda gaúcha Tom Bloch e participante de inúmeros projetos).
No último sábado, fui convidado pelo Dary para acompanhar a pré-audição para convidados (obviamente virtual, pelo Zoom) e conheci em primeira mão as faixas que estarão no lançamento, que chega às plataformas no momento em que você lê este texto. Não por acaso, o álbum chega às plataformas digitais em 5 de setembro, data do 53º aniversário do Ato Institucional nº 13, o AI-13. Foi o mecanismo pelo qual a ditadura militar endureceu o regime e passou a expulsar “legalmente” qualquer cidadão tido como “inconveniente”.
O disco abre com faixa em espanhol, Ahora Y Siempre, com participação do uruguaio Dany Lopez no piano e voz, com letra fazendo ode ao bom combate e trecho do discurso do deputado federal Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, em 5 de outubro de 1988, por ocasião da promulgação da Constituição:
“Temos ódio à ditadura
Ódio e nojo
Amaldiçoamos a tirania
Onde quer que ela desgrace homens e nações
Principalmente na América Latina”
Black Song, em inglês, inspira-se no episódio envolvendo o assassinato de George Floyd nos EUA, remetendo à frase do ex-jogador Juninho Pernambucano, que apontou a existência de inúmeros Georges Floyd também no Brasil.
Há também uma canção em italiano, Privè, com participação de Franco Cava, carioca renomado compositor de sambas-enredo e fluente no idioma (!!!).
Ao longo do álbum, tomamos conhecimento de um conjunto de canções que são crônicas de nossa realidade atual, com alguma dose de esperança, externada na faixa de encerramento, A Flor de Drummond, que acaba por ser a canção em que a guitarra mais aparece, diferentemente dos trabalhos anteriores da banda, mais homogêneos na sonoridade roqueira.
A banda, que já se utilizou do bordão “esta guitarra também mata fascistas” (mensagem presente no violão de Woody Guthrie), está de volta, com a missão de ocupar novamente este espaço e este objetivo, mesmo que não seja somente com as guitarras. O passo inicial está dado.
Por Brunno Lopez
IS THERE ANYBODY OUT THERE?
Quando estou apaixonado por uma banda, eu não consigo escrever muito. Esse grupo alemão está no repeat aqui e quando o álbum sair, já esperem uma resenha bem emocionada.
Até lá, clica forte nesse link.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana