29 de agosto de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
INSPIRAÇÃO VEM DE QUALQUER LUGAR
Meus filhos ainda são muito pequenos, mas já descobri algumas do universo deles que são bem legais. Minha filha AMA um desenho chamado Steven Universe que tem uma mensagem muito bacana sobre amor. Meu filho me mostrou o mundo do Minecraft e fico fascinado com as coisas que ele constrói.
Aprender com os filhos nos fascina e foi exatamente o que aconteceu com o Robb Flynn do Machine Head.
Seu filho adolescente mostrou pra ele num Anime japonês chamado Attack On Titan e essa história inspirou o novo disco conceitual da banda chamado ØF KINGDØM AND CRØWN.
O Machine Head nunca foi uma banda que fui super fã, mas gosto de ouvir de vez em quando. Acho que eles de certa maneira a banda foi a ponte entre o Thrash Metal da Bay Area e o Groove Metal. Eles são uma mistura desses dois mundos e tem um som muito peculiar e autêntico. Muitas melodias boas, agressividade, riffs matadores, progressão e principalmente o uso de harmônicos nos riffs de guitarra.
Em 2007 a banda lançou o The Blackening, que pra mim é um dos maiores discos da história do Heavy Metal. Merece um troféu no Hall of Fame do Metal. Depois a banda seguiu tentando usar a mesma fórmula, mas acabou ficando meio previsível.
Agora com o ØF KINGDØM AND CRØWN, a banda chega em um altíssimo nível de progressão, qualidade, produção, composição e melodias que não fica muito atrás do seu melhor trabalho.
Realmente estou impressionado com a qualidade desse disco. Ouvi uma vez e já estou ouvindo em loop enquanto escrevo esse texto.
Pra quem gosta de Metal bem feito, que se renova, que é pesado e que não soa igual a nada que tem por aí na modinha, o KINGDØM é pra você.
Ouça aqui o ØF KINGDØM AND CRØWN
Por Vinícius Cabral
“MÚSICA É REITERAÇÃO”
Vou fazer uma “suposição informada”, como dizem os gringos: 9 em cada 10 bandas independentes atuais provavelmente apostam em uma agenda constante de lançamentos e na produção ininterrupta de conteúdo, na esperança de se consolidar. Ironicamente, são as exceções à regra que vão nos marcar mais.
É o caso da Las Ligas Menores, de quem já falei aqui um tanto quanto superficialmente. A banda platense tem apenas dois LPs gravados, o último sendo há quase 5 anos atrás (2018), e tem poucos singles fora dos álbuns. O que torna a missão de digerir toda sua discografia algo totalmente possível – e necessária. Para a banda argentina, fugir às “regras” não evitou a consolidação. Muito pelo contrário. O grupo apostou em uma intensa agenda de shows ao vivo, tendo ido parar no Coachella em 2017, e na KEXP em 2021. Tudo isso, claro, sem muito material propriamente novo para lançar; apenas repetindo os sets e aperfeiçoando permanentemente as canções. “Música é reiteração”, já diria Marina Lima.
A estratégia funcionou muito bem. Minha relação com a banda, por exemplo, foi se aprofundando paulatinamente, até que eu conseguisse digerir o primeiro álbum (homônimo, de 2014), mais cru e lofi, e me aproximasse do amadurecimento impressionante do grupo, que pode ser observado no segundo LP, Fuego Artificial, de 2018. Um disco cheio de camadas e bem mais consistente que o primeiro em termos de composição, execução, e até mixagem.
Na exibição na KEXP que linko abaixo, a banda arrebenta tudo. Contando com dois singles novos (as perfeitas Hice Todo Mal, La Nieve e Peces En El Mar) e hits antigos como 1.200 Km (repaginada de uma maneira hiper moderna), a apresentação é impecável. Mostra que o conjunto argentino, liderado pela incrível Anabella Cartolano* (um verdadeiro cânone indie contemporâneo), se aproxima – e supera – algumas experiências gringas (Soccer Mommy e Alvvays vêm à mente), em uma atualização nítida de elementos tradicionais do indie rock. O diálogo entre as guitarras (com explosões incrivelmente sofisticadas), a presença sutil (mas pulsante) dos synths e a cozinha firme e “seca”, isso tudo amarrado por um amadurecimento vocal incrível de Anabella, coloca esta performance dentre as coisas mais interessantes que eu assisti nestes programas de performances indie.
Enquanto tudo mais é adorno, stories o tempo todo e “arrasta pra cima” permanente, Las Ligas Menores aposta em uma abordagem sazonal, mas marcante, que nos faz acreditar também na resistência das bandas. Em uma época em que é difícil juntar mais de duas pessoas em um lugar para criar qualquer coisa, é notável a beleza de um conjunto que consegue construir, a partir de 5 cabeças talentosas, uma síntese tão agradável e marcante.
Aguardemos os próximos passos de Las Ligas Menores, mas com parcimônia: as meninas (e o menino) da banda não estão com pressa.
*Ando meio obcecado com a artista, que além de compositora, guitarrista, vocalista e letrista, é ilustradora, tendo feito várias artes de flyers da banda e a capa de seu segundo álbum, Fuego Artificial. Em entrevistas recentes ela tem falado sobre as dificuldades de manter a banda como atividade principal, tendo que se desdobrar também como designer para obter uma renda fixa. Se não tá fácil nem pra ela…
Veja a performance na KEXP aqui
Por Márcio Viana
DEVIA SER PROIBIDO ESTAR DO LADO DE CÁ ENQUANTO A LEMBRANÇA VOA
Um dos meus planos para esta semana foi abruptamente frustrado por um fato lamentável: eu me preparei para visitar o Centro Cultural São Paulo, exclusivamente com o intuito de conhecer a magnífica exposição Afro Brasileiro Puro, que celebra a obra do inesquecível Itamar Assumpção. Porém, na sexta-feira, 26/08, ocorreu o furto de uma peça importantíssima da coleção, o inconfundível par de óculos usado pelo artista, que foi preservado pela família e fazia parte do acervo do MU.ITA, museu virtual dedicado ao cantor.
O acontecimento fez com que a exposição fosse cancelada, a fim de que seja feita a investigação e a busca pela recuperação da peça.
No intuito de fazer deste limão uma limonada, vale a visita virtual, que apresenta uma linha do tempo bastante completa sobre a obra de Itamar e também de sua filha Serena, falecida em 2016.
Fico aqui na torcida para que os óculos do nosso querido artista sejam recuperados e que em breve possamos ver a exposição restabelecida. Deixo aqui uma das pérolas de Itamar Assumpção para acalmar nossos ouvidos.
Ouça “Devia Ser Proibido” aqui
Por Brunno Lopez
SO, SO, SO HIGH
Num dos passeios aleatórios pelo Youtube antes de começar um dia cotidiano de trabalho, me deparei com um lançamento incomum. Era o vídeo da canção “Got So High”, do The Pretty Reckless, só que o disco em que a música estava presente era do ano passado. Entretanto, de fato, o material era novo. E quando se trata Taylor Monsen, toda atenção é pouca.
Apesar da atmosfera tempestuosa da faixa, foi interessante revisitá-la através do clipe, que criou bem o cenário que a letra expressa, voltada principalmente para passar a ideia de alguém sobre o efeito de entorpecentes. Como se sabe, todo o contexto do Death By Rock And Roll foi composto ao redor de temas de luto e algumas batalhas emocionais da vocalista, principalmente a perda de amigos próximos, entre eles, o fantástico Chris Cornell.
Honestamente, não me lembro da última vez que um artista disponibilizou um clipe anos depois de seu lançamento. Não me soa uma intenção de aumentar os plays do disco, pois na época, ele já estava na primeira posição das paradas.
De qualquer forma, funcionou para que eu voltasse pra 2021 e entrasse em contato com toda a intensidade dessa banda que não tenho a menor dificuldade de adorar.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana