15 de agosto de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
NO SENTIMENTO TUDO É CLÁSSICO
Ontem fui no primeiro show em 2 anos e meio. O último tinha sido o Slayer com o Lamb of God e Anthrax em dezembro de 2019 em Helsinki. A pandemia foi uma loucura pra todo mundo. No meu caso, recebi uma oferta pra vir pra Califórnia e depois de algumas semanas da entrada do visto nos EUA, a pandemia bateu e tudo atrasou.
Esperamos 1 ano e 7 meses pra mudança e com o mundo um pouco menos caótico, lá fui eu no meu primeiro show, levando o meu pequeno Arthur no seu primeiro show da vida.
A sorte quis que o primeiro show fosse do Coheed and Cambria, que já cansei de falar aqui, nos episódios e no grupo. É uma banda que amo. Não tem explicação. Apenas acho maravilhosa.
Algumas semanas antes do show, mandei as músicas e os clipes do que a banda iria tocar pro meu filho. Ele adorou e já decorou todas as letras.
O show foi lindo, a banda é muito precisa e o Claudio Sanchez canta demais ao vivo. Foi contagiante estar no Greek Theater, que fica dentro do Campus de Berkeley da Universidade da Califórnia.
A presença do meu filho, o cenário, o país novo e a banda, fizeram desse momento um clássico.
Todo aquele papo nostálgico de “quando foi o primeiro show da sua vida”?, tem um novo sentido pra mim.
Pro meu filho será o Coheed and Cambria e pra mim de certa forma, parece que também foi.
Ouça aqui o No World for Tomorrow do Coheed and Cambria
Por Vinícius Cabral
A CLÁSSICA HISTÓRIA DE UM CLÁSSICO PERDIDO
2022 vai ficar para a história da vida pessoal deste humilde pesquisador por uma série de motivos. Um deles chama-se Secret Stories Heard From A Girl In An Opium Den, álbum sul-coreano lançado oficialmente em 2012.
E a história por trás do grupo responsável pelo trabalho é quase tão fascinante quanto a obra em si. byul.org não é exatamente um grupo musical. Trata-se de um coletivo de arte e design que, no início dos anos 2000, lançou uma série de zines sem periodicidade definida. Os zines vinham com CDRs de músicas eletrônicas, ambient-experimentais. Foi assim que este disco veio à luz, mesmo que de forma fragmentada. Em 2012, o selo estadunidense Burnt Toast Records descobriu a pérola, e lançou o trabalho em CD, vinil, e nas plataformas de streaming. O selo também é responsável por uma das únicas fontes registradas na internet sobre a obra-prima (neste pequeno artigo encontrado em seu site). O grupo byul.org, cujo nome funciona também como URL oficial, segue ativo, embora não destaque em seu site-portfólio a obra-prima musical que chegou aos meus ouvidos quase que por um acaso.
Se esta história parece toda muito underground, é porque trata-se de um projeto, em todos os sentidos, profundamente underground. Sim. Ainda existe um underground, e aparentemente, ele nunca morreu.
É aí que a arte pede licença para a história. Underground e, consequentemente, pouco conhecido, comentado e registrado, Secret Stories Heard From A Girl In An Opium Den é um disco perfeito. Uma obra-prima criativa, sensível, delicada, nervosa, inquieta e inovadora. Inovadora porque antecipa, quase sem querer, uma década de micro gêneros de internet ao longo de suas 14 faixas (na versão do streaming).
Tem de tudo aqui: ambient-synth-lo-fi – como em 2, Biidankill e Blue Marble, canções quase pré-vaporwave, chillwave, ou qualquer outra “wave” de soundcloud ou bandcamp; experimentos techno-minimalistas com um uso criativo e experimental das modulações vocais – como em Bug Dance ou Secret Police; cruzas inusitadas entre algo como Four Tet e Aphex Twin (em suas verves mais melódicas e ambientes) – como em Beer From Holland; e por aí vai. Quem acompanha as linguagens contemporâneas da música alternativa eletrônica vai, provavelmente, chegar à beira de um orgasmo auditivo. Daqueles que induzem interjeições enfáticas, como querer gritar pela janela do apartamento: onde este álbum esteve enquanto eu achava que o The Knife, ou o Aphex Twin, o Caribou ou a Ramona (Machintosh Plus) eram as maiores experiências eletrônico-experimentais do século?! Pois é. Onde esse álbum esteve durante todo esse tempo?
Basta dizer, que viveu bem escondido em algumas prateleiras de ouvintes sortudos espalhadas pela ásia e pelo ocidente. Mas finalmente, por obra de alguns maníacos (como eu), pode vir a luz. Em qualquer época, diga-se, pois trata-se de um álbum que, apesar de se conectar de forma visionária com tendências que só iriam se consolidar muitos anos depois, é atemporal e inesquecível.
E eis aí uma das maiores belezas do underground: quando se descobre o que ele escondeu (não importa por quanto tempo), alguma mágica é realizada. É como se abríssemos uma caixinha de tesouros abandonada na areia de uma praia deserta por milênios. Aceitamos a fadiga da viagem, porque as joias são, afinal, profundamente reluzentes.
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Ouça Secret Stories Heard From A Girl In An Opium Den aqui
Por Márcio Viana
HÁ 25 ANOS SENDO SEMPRE O ÁLBUM DO ANO
No recente episódio sobre o ano de 1992, comentamos sobre o disco do Faith no More lançado naquele ano, Angel Dust. Foi o último da banda a contar com o emblemático guitarrista Jim Martin, que deixou o grupo logo após seu lançamento. Na gravação do disco seguinte, o excelente King for a Day… Fool for a Lifetime, a banda contou temporariamente com Trey Spruance, colega de Mike Patton no Mr. Bungle, fazendo as guitarras, mas na turnê de divulgação, o antigo roadie da banda, Dean Menta, assumiu o cargo de guitarrista do grupo.
A passagem de Menta pelo grupo, no entanto, não foi duradoura: o músico era visto como bom para a turnê, mas a parte criativa ficou a desejar, e a banda resolveu dar-lhe o bilhete azul. Para seu lugar, a banda recrutou Jon Hudson, advindo da banda de new wave Systems Collapse, que o baixista do FNM, Billy Gould havia produzido.
A chegada de Hudson trouxe muitas novidades para o grupo. Para começar, o som da banda, que já havia passado por muitas mudanças, além de por si só trazer muita inovação para o meio do metal tradicional, dobrava a aposta no crossover entre o pop e o som pesado, com a guitarra sendo mais meio do que fim. O guitarrista deu sua contribuição na maior parte das composições, e o que pode ser notado no álbum que foi resultado deste novo vigor, Album of The Year, de 1997, é a priorização das harmonias, com bastante espaço para as partes de piano e teclados de Roddy Bottum.
Este novo vigor pode ser notado em todas as faixas, mas especialmente no principal hit do disco, Ashes to Ashes, clássico instantâneo.
Curiosamente, logo após este disco, a banda acabou entrando em um hiato, que durou até 2009, quando a banda se reuniu (com a mesma formação de Album of The Year) para shows. Em 2015, lança Sol Invictus, seu álbum mais recente, com muitas semelhanças com seu antecessor.
Em 2016, Album of The Year ganhou uma versão deluxe, incluindo versões remix e ao vivo das músicas da sequência original.
Por Brunno Lopez
OLHOS NO TELESCÓPIO
Clássicos e debutes costumam andar de mãos dadas. Este aqui então, é quase um casamento feito no bom e clichê amor à primeira ouvida.
Com uma voz que flutua por nuances suaves e intensas, KT Tunstall consegue adequar seu timbre ao nível de suas composições. A forma com que encaixa letras geniais dentro de melodias inspiradoras é assustadora para um primeiro álbum.
Ouvintes ocasionais podem ter se deparado apenas com o hit “Suddenly I See”, porém, com um pouco mais de minutos, a obra inteira vai se desenhando diante de nossos ouvidos em capítulos absurdamente deliciosos de deixar rolando.
“Stoppin’ the love” é talvez uma das canções com mais quotes apaixonantes da música contemporânea. E vamos falar a verdade: nesses tempos de amores gasosos (o líquido do Bauman já foi bebido com limão), é bom entrar em contato com algo que lembre nosso coração que ele pode bater por motivos melhores.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana