Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 16

11  de Novembro  de 2019


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter dessa semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!

PS: A partir desta edição, passamos a padronizar os envios com as seguintes categorias (em ordem): It’s a Classic, Recent Plays, Notícias e Lançamentos. 


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

CHEGA DE LÁGRIMAS

Depois do episódio da semana passada que fez todo mundo chorar (obrigado, Bruna e Rose por isso), tá na hora de parar de chorar e ouvir um disco clássico que tem a participação de um dos meus guitarristas favoritos (que será citado no episódio dessa semana), que é o No More Tears do Ozzy. Esse foi de longe um dos discos que mais ouvi na vida. Na época que o mundo tava totalmente dominado pelo grunge, em 1993 o Ozzy lançou um CD ao vivo chamado “Live & Loud”. Eu tive o VHS desse show e eu assistia em loop no vídeo cassete lá de casa. Quando consegui juntar um dinheirinho, finalmente comprei o No More Tears, que era o disco da turnê do Live & Loud.

Acho que uma das primeiras vezes que lembro de chorar com uma música foi ao som da clássica “Mama I’m Coming Home”, que apesar do disco falar “chega de lágrimas”, foi uma lembrança da minha infanto-adolescência que mais lembro. O solo é perfeito, a letra é linda e o Ozzy é um dos homens da minha vida.

Além dessa baladinha maravilhosa, o disco abre com Mr. Tinkertain e segue na sequência com a incrível “I Don’t Want to Change the World”, com um riff de guitarra que me empolga até hoje. O disco segue excelente até chegar na faixa título, “No More Tears”, que tem uma das introduções de baixo mais incríveis do mundo, criada pelo genial Mike Inez, que logo em seguida entrou no Alice in Chains (em 1993).

Mas pra terminar aqui meu momento nostálgico, tenho que falar da música que ouvi em loop durante aquele ano inteiro de 1993 que é a baladinha / meio farofa chamada “Road To Nowhere”, que até hoje eu escuto e fico fazendo air guitar no meio da rua com a introdução de solo do maravilhoso Zakk Wylde (que essa semana como comentei, será citado no episódio “A Jornada das Guitarras Famosas”. Então ouça, entre no clima e faça essa viagem até 1991 e ouça o No More Tears, mas se quiser, pode chorar..

Ouça o No More Tears aqui


Vinícius Cabral

ELVIS COSTELLO & THE ATTRACTIONS – THIS YEAR’S MODEL

Eu me considero, entre outras coisas, um curador. E uma das características que acho fundamentais em curadores é a capacidade de admitir seus erros. Dito isso, vamos lá: eu errei feio. A ausência de destaque para Elvis Costello no episódio “O Que é Rock Alternativo?” foi absolutamente imperdoável, e será considerada assim por qualquer um que leve a sério a historiografia do gênero. Claro que lembrei do artista a tempo de incluí-lo na playlist, mas ainda assim minha consciência exige um pouco mais de cuidado, revisando essa obra prima de um dos maiores nomes do Rock, e certamente, um dos nomes mais influentes deste “nicho” que eu procuro registrar aqui em nosso podcast.

Elvis Costello despontou em 1977 com seu (também clássico) My Aim is True, mas só no ano seguinte iria, com esse This Year’s Model, cravar definitivamente seu nome no hall de grandes novidades do final dos anos 70. Um pouco alheio à explosão Punk (sem deixar, claro, de apresentar influências do estilo), Elvis Costello se junta neste álbum à banda The Attractions para olhar para outros artistas (seus conterrâneos de Liverpool, os Beatles, ou até mesmo Bowie) para fazer um RockStraight Foward” e, ainda assim, ligado aos sintetizadores, ritmos inusitados (Dub, Reggae, tocados, é claro, com veia roqueira), energia e uma “vibe” alternativa, evidente em canções como Lip Service (um prenúncio evidente de bandas como REM, por exemplo) ou Pump it Up (essa regravada pela Mudhoney em 1994).

A voz rasgada (e ora desafinada) de Elvis, os riffs de guitarra “dobrados” por sintetizadores moderníssimos para a época e a abordagem irônica (ainda que artsy) das letras, colocavam o compositor em um patamar de destaque diante daquilo que parecia ser o novo (e único) caminho para o Rock a partir de meados dos anos 70: a agressividade, velocidade e revolta incontida do movimento Punk. Costello trilhava outros caminhos, reconciliando o Rock Pop, de refrões grudentos e baladas incríveis (Little Triggers, Hand In Hand, isso sem contar o grande Hit do disco anterior de estréia, a clássica Alison) às modernidades da época, abrindo um novo espaço inexplorado de possibilidades para compositores e bandas futuras, em especial aquelas que, a partir dos anos 80 começam a difundir o que hoje chamamos de Rock Alternativo (daí sua ausência no episódio ser tão lamentável e grave).

Enquanto me redimo do vacilo, aproveito para me deliciar com os ritmos e Riffs inesquecíveis deste álbum, refletidos perfeitamente na faixa título, música que, inclusive, ganhou reverência recentemente na abertura da (incrível) série da HBO, The Deuce.

Perdoem o erro,, mas só não se esqueçam do grande, maravilhoso e brilhante Elvis Costello.

Ouça Elvis Costello & The Attractions- This Year’s Model


Márcio Viana

PLEBE RUDE, A BANDA QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO

Não tem engano, é uma banda punk: as letras corrosivas retratam o Brasil do meio dos anos 80. O proletariado que coloca nas mãos de Deus a esperança por dias melhores, a polícia na rua reprimindo manifestantes, o caos da cidade em forma de avião que responde pela alcunha de capital do país, a crítica irônica sobre artistas que se vendem em nome do sucesso e do dinheiro.

Calma lá, não é uma banda punk! O disco começa com acordes de um violoncelo tocado por Jacques Morelembaum, conceituadíssimo músico parceiro de Tom Jobim.

É punk sim. O disco tem pouco mais de 21 minutos de duração, discurso rápido e urgente, como todo disco punk que se preze.

Não tem como ser punk: as guitarras arpejadas conectam os arranjos ao som da new wave do início dos 80’s, os jogos de vozes entre Philippe Seabra e Jander Bilaphra, por vezes se contrapondo são muito sofisticados para serem comparados a bandas de três acordes.

Não tem nada mais punk: lançado no ato final da ditadura militar, o disco escapou por pouco da censura, graças a uma manobra da gravadora EMI.

O Concreto Já Rachou, disco do qual falo aqui neste humilde texto, foi produzido por Herbert Vianna, que, a princípio ressabiado com a banda, por conta da crítica bem humorada em Minha Renda, que brinca com artistas que fazem concessões a pretexto de aumentar seus ganhos. Mas Herbert entendeu o sarcasmo característico da Plebe, e até resolveu deixar sua contribuição em um exercício de auto-ironia, completando nos vocais a parte da letra que diz “já sei o que fazer pra ganhar muita grana” com o próprio dizendo “vou mudar meu nome para Herbert Vianna”. Foi de Herbert também a ideia do cello de Morelembaum no início de Até Quando Esperar, além dos vocais de Fernanda Abreu em Sexo e Karatê.

A banda lançou mais alguns discos, passou por alguns percalços, idas e vindas de integrantes, entre elas a chegada de Clemente, líder dos Inocentes na formação atual, mas a Plebe nunca teve a sorte das outras bandas conterrâneas. À exceção de Até Quando Esperar, as músicas da banda nunca passaram de algumas tímidas execuções radiofonicas. Não é uma banda que tenha gozado de muito prestígio com as rádios. Compreensível, afinal de contas a Plebe é uma banda punk, não é? 😉

Ouça o EP O Concreto Já Rachou


Brunno Lopez

JOVENS DEMAIS PARA MORRER II

Após terminar por completo o maravilhoso jogo Red Dead Redemption II, fiquei imerso na temática do Velho Oeste por um bom tempo. E um dos meus desejos era que, dentro da maravilhosa trilha sonora do game, o disco Blaze of Glory estivesse incluído.

Mas, apesar da Rockstar não ter aproveitado essa oportunidade de ressuscitar um clássico do faroeste dos anos 90, o filme Young Guns II teve as canções de Jon Bon Jovi no longa.

Era o primeiro disco solo do vocalista de New Jersey e o resultado não poderia ter sido melhor: Ganhador do Globo de Ouro de melhor canção original e indicado ao Oscar!

Um dos atores do filme, o menino Kiefer Sutherland, conta que Jon escreveu a primeira música para o filme num bar, em três guardanapos de papel. O mais engraçado é que ele sequer sabia que o filme teria uma sequência. Segundo o eterno protagonista da série 24 Horas, “compor um dos maiores clássicos do Hard Rock alcoolizado e em 20 minutos não é pra qualquer um”.

São ou não, Jon Bon Jovi foi impecável nesse trabalho. Todas as músicas funcionariam tranquilamente como singles. Apesar dos destaques girarem sempre em torno de “Blaze Of Glory” e “Miracle”, é impossível não se emocionar do “Santa Fe”, “Bloody Money” e a minha favorita “Dyin’ Ain’t Much of a Living”.

Grande parte do sucesso também está ligado aos músicos presentes no projeto. Um deles, tem até uma passagem divertida no processo de gravação. Jeff Beck estava gravando arranjos no estúdio quando Jon sugeriu uma mudança.

Imediatamente, o próprio Jon disse: “Alguém por favor me bata. Eu estou dizendo a Jeff Beck o que fazer!”

Bom, não sei se alguém bateu no Jon Bon Jovi, mas eu vou bater em vocês se não escutarem esse disco. Ah, e se puderem, joguem o Red Dead II também. O Velho Oeste agradece.

Ouça o Blaze of Glory


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana