Newsletter- Silêncio no Estúdio Vol. 159

08 de agosto de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Por Bruno Leo Ribeiro

O TOTEM DE MAX CAVALERA

Quando o Soulfly surgiu com sua saída do Sepultura, o Max Cavalera ainda estava explorando a sonoridade regional e mais “nu metal”.

Na meiúca da carreira do Soulfly ali pelos anos 2000, ele assumiu um lado mais cru de Thrash Metal com raiva e muita velocidade e riffs mais simples e diretos.

Nos últimos lançamentos do Soulfly foi pra sua fase mais Death Metal com mais transições e dinâmicas.

O Totem, lançado na sexta-feira passada tem esse tempero de Death Metal com uma formação nova com o Arthur Rizk (que também co-produz o disco) assumindo as guitarras solo com a saída do Marc Rizzo em 2021. Mesmo tendo o Dino Cazares assumindo as guitarras ao vivo, ele não entrou na banda oficialmente. Agora a banda conta com Max, seu filho Zyon na bateria e o baixista Mike Leon.

O Totem é um ótimo disco pra quem já admira os riffs e a raiva do Max Cavalera. Tem momentos que o disco lembra o Beneath the Remains em sua simplicidade, refrões gigantes e riffs matadores. 

O Max nunca errou na minha humilde opinião. Muita gente acha que ele parou no tempo e vive do passado. Eu acho o contrário. Ele vive num mundo do metal que acontece na sua cabeça genial e ele não tá nem aí pra opinião dos outros. Ele quer fazer uns riffs, tocar ao vivo e gravar uns discos. O Max é a simplicidade que o metal sempre precisou.

Ele não tá nas redes sociais e nem tem telefone celular. Ele ainda vive aquela paixão pela música que tretas externas só atrapalham. Melhor focar na música.

De vez em quando a Glória Cavalera vai no Walmart fazer compras e deixa ele com o telefone sozinho em casa e ele faz umas lives falando o que deveria ter falado há 20 anos, mas ele tem crédito de sobra. 

Ouça aqui o Totem


Por Vinícius Cabral

UM PASSEIO PULSANTE

Uma das melhores sacadas sobre este trabalho interessantíssimo de Sam Prekop e John McEntire, chamado Sons Of, vem de um review do Bandcamp Daily: “Seja inspirado por Kraftwerk ou Bitchin Bajas, ou por um desejo de meia-idade de acessar o cânone da música dançante abstrata, é um prazer se perder neste pulsos”. 

De fato, nunca tinha cunhado um termo tão interessante para me referir às experiências IDM/House-lofi (ou blog house, como chama uma amiga minha, a Raíssa) quanto “música dançante abstrata”. Além de descrever perfeitamente o som que ouvimos neste álbum, o termo ajuda a definir um montão de coisas, que escapam de caixinhas específicas por passearem de forma demasiadamente livre entre subgêneros da música eletrônica. 

O duo Prekop & McEntire é formado por dois veteranos da cena indie de Chicago dos anos 90 -os dois integraram a The Sea & Cake, e McEntire foi o lendário baterista da Tortoise -, e parecem driblar neste disco qualquer associação preguiçosa com o post-rock, que caracterizou tão marcadamente suas experiências noventistas. Juntos, os dois mergulham em um universo de texturas eletrônicas sofisticadas e minimalistas, construindo uma obra deliciosa de se ouvir e, ao mesmo tempo, desafiadora. 

Tome-se por exemplo o centerpiece, a incrível A Yellow Robe. Com mais de 20 minutos, a música soa como uma espécie de Autobahn, que troca a auto-estrada alemã por um passeio no parque em um domingo ensolarado, com um roupão amarelo fritando no sol de primavera. A música é dançante e experimental na medida certa. Impossível de se lançar em uma pista, mas a trilha perfeita para uma caminhada pela cidade. 

O que parece marcar o disco, em todas as suas transições e repetições excessivas, é realmente a ideia de pulso. Os beats sutis marcam o tempo de uma caminhada, ou de um pulsar leve que não te acelera o suficiente para sair pulando, e que parece nos aliviar a mente de qualquer aceleração desmedida produzida artificialmente pela vida maluca que andamos levando. O pulso dos beats, complementados por sintetizadores etéreos e ambientais, é o que nos induz a uma viagem bastante agradável – experimental, ousada e, ao mesmo tempo, altamente acessível.  

Ouça Sons Of aqui


Por Márcio Viana

POR ISSO UMA FORÇA (DO ÓDIO) ME LEVA A CANTAR

Após um hiato de 8 anos, o Mukeka di Rato, banda capixaba de punk rock dos bons, chega com um disco destruidor e necessário, Boiada Suicida, com título auto-explicativo e temática que o faz juntar-se ao igualmente indispensável Walking Dead Folia, do Mundo Livre S/A como crônicas do desesperador Brasil atual.

Nas suas 16 curtas e interligadas faixas, a banda manda o recado a todos que colocaram o fascismo, a miséria, a fome e a ignorância na linha de frente dos assuntos a nos causar desespero. Sobra pedrada para toda vidraça conservadora. Por falar em pedrada, o disco conta com uma versão para a canção de Chico César, originalmente um reggae – “Pedrada”, do disco O Amor é Um Ato Revolucionário, de 2019 – aqui transformada num empolgante punk rock bom para berrar junto.

A disposição das músicas, uma após a outra, quase sem pausa, nos remete à urgência e à necessidade de prender a respiração para suportar a situação do país.

Para mim, um dos discos do ano, e fica aqui o desejo de que um dia ele seja lembrado como retrato do que foi o Brasil dos últimos tempos. E que nunca mais nos esqueçamos dele.

Ouça Boiada Suicida


Por Brunno Lopez

DEUS LOCAL

É sempre admirável quando os artistas decidem contar verdades incontestáveis sobre si mesmos, ainda que tal atitude possa vir embrulhada num pacote bem enfeitado de ironia.

O Helloween fez isso em 2003, na canção “Never Be A Star” do disco Rabbit Don’t Come Easy, quando reconheciam que a banda poderia até ser relevante, mas nunca seria uma estrela. Como fã, creio que eles estavam sendo duros demais com eles mesmos, talvez fosse mais um deboche sobre tudo aquilo que o mainstream produz e seus números inalcançáveis para grupos que não fazem uma espécie de som, digamos, comercial.

Pois bem. Eis que agora, o Panic! At The Disco – meio que a sua maneira – retorna com um discurso parecido em seu terceiro single do disco Viva Las Vengeance que será lançado neste mês.

“Local God” propõe essa reflexão, porém, com a história sendo bem mais generosa com eles em relação ao grupo alemão de power metal. Basicamente, descrevem a experiência que tiveram com bandas locais e a desconfiança de muitos sobre eles. Afinal, assinando o primeiro contrato aos 17 anos, quase todos os outros grupos odiavam o quarteto (na época) de Nevada.

Nem todos nasceram para o estrelato e a grande maioria passa por esse mundo apenas com a competência pra ser um Deus local. Um apontamento interessante a se fazer nesse universo tão competitivo de pessoas alucinadas por holofotes mas que, saindo da vizinhança, são apenas grandes desconhecidos.

Vale a pena ouvir essa realidade dançante e energética de uma banda que parece ter voltado com força ao topo que já ocupou. 

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana