Newsletter- Silêncio no Estúdio Vol. 158

1  de agosto de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.  


NOTÍCIAS & VARIEDADES

Por Bruno Leo Ribeiro

DICAS DO LOLLA DE CHICAGO

Esse fim de semana rolou o Lollapalooza de Chicago, local original onde o Perry Farrell do Jane’s Addiction idealizou e começou o festival lá em 1991. 

Aproveitei que no Hulu TV teve dois canais com alguns dos shows, assisti e gostei de algumas coisas que vi.

Uma das bandas que só conhecia de nome e vi o show completo pela TV e tem uma vibes meio Depeche Mode misturado com a melancolia do Anathema, mas com um som um pouco mais Spacy no bom estilo The Joshua Tree do U2 é a dupla canadense Bob Moses. Não conhecia o som deles e achei bem interessante.

Uma banda de Popzinho indie, mas que tem bons arranjos e refrões gostosinhos de ouvir é a banda chamada Muna. Me chamou atenção, porque Muna em Finlandês significa Ovo, mas acho que não é esse o motivo da banda se chamar Muna. Acho que vale o play (tem no YouTube até o momento de derrubarem o vídeo).

E outra dica que até postei no grupo é da banda feminina de indie rock da Espanha chamada Hinds. Achei bem interessante e vale a dica também (tem vídeo antes de derrubarem também).

Tirando isso, vi o show do Metallica, que é sempre divertido, o Turnstile ao vivo fez bonito e o Green Day foi excelente. Perdi alguns shows que queria ver, mas dentro do que consegui, gostei de ter conhecido do Bob Moses, Hinds e Muna. Vai ficar no meu radar daqui pra frente. Espero que curtam também.


Por Vinícius Cabral

A CIÊNCIA DA CURADORIA

O senso comum nos ensina que a maior parte das pessoas sofre de uma espécie de “conservadorismo” musical. E é um fato: de acordo com pesquisas, é comum as pessoas se apegarem às músicas, estilos e padrões melódicos que consumiram até o início da idade adulta. Empiricamente, é fácil observar este padrão, como nos famosos “revivals” de décadas que surgem de vez em quando. Precisou a geração X assumir as picapes, por exemplo, no início dos anos 2000, para os sons dos 80 voltarem à moda, e por aí vai.

Mas existiria uma comprovação científica para explicar o processo? Pior é que sim.

Como este excelente artigo explica (ainda que de maneira sinuosa), o cérebro humano possui uma região no córtex, o córtex auditivo (ou “sistema corticofugal” – corticofugal network), responsável por registrar os sons. Quando ouvimos algo pela primeira vez, o córtex auditivo “registra” aquela informação. A cada vez que se ouve novamente o mesmo padrão, o cérebro manda liberar o famoso neurotransmissor dopamina (já cantado em prosa e verso), responsável por uma sensação de satisfação, ou prazer. O que significa que nosso cérebro basicamente se acostuma com determinadas progressões, melodias e ritmos, e depois de um certo tempo, toda vez que confrontamos nosso córtex com novos padrões musicais o cérebro dá uma enlouquecida- libera dopamina demais, o que pode atrapalhar a sensação de conforto, ou o ponto de inércia do córtex em relação à experiência.  

Isso explica várias coisas, como a lógica dos revivals, que comentei acima, mas também a reprodução massiva de padrões de composição na música pop. Como esse vídeo mostra muito bem, há progressões (como a I, V, vi IV), que são repetidas, literalmente, em milhares de canções diferentes. É uma melodia confortável, que nosso cérebro já decodifica de cara, sem grandes sobressaltos. Ou seja, funciona. Não que o Max Martin ou o Paul McCartney, por exemplo, sejam neurocientistas. Mas qualquer compositor pop sabe, por experiência, que algumas progressões simplesmente … funcionam.

Até aí, beleza. Toda essa reflexão ajuda a explicar a tese do meu texto. Mas cabe a pergunta que o artigo que motivou essa escrita propõe: por que, então, se “arriscar”, descobrindo músicas novas? O artigo motivador acaba respondendo a pergunta à sua maneira, argumentando que é simplesmente legal correr o risco. Afinal, muitas coisas que estranhamos de início acabam se tornando importantíssimas para a nossa formação, e para novas formações e contextos culturais. Mas também existe um motivo científico para continuar exercitando nosso córtex para descobrir músicas estranhas, assinaturas bizarras e canções com modulações e outros exercícios mais complexos: quanto maior for o nosso repertório musical, mais padrões o cérebro absorverá. O que dificulta, sobremaneira, descobrir coisas novas que efetivamente nos encantem. Mas, ao mesmo tempo, nos permite uma elasticidade maior. 

Ou seja, nós, que somos nerds musicais, teremos simplesmente uma tolerância maior a ouvir uma peça do Frank Zappa com mais de 40 sessões que não se repetem uma única vez, ou a ouvir esses prog metal malucos que mudam de assinatura a cada 3 segundos. Desconforto sempre vai haver, mas é possível que, rapidamente, ao forçar um pouquinho a elasticidade do nosso cérebro, transformemos o excesso de dopamina na exata “dose” ideal para obter prazer com um som diferente.

Viva a ciência da curadoria, e a descoberta constante de novos sons!


Por Márcio Viana

A VIDA (NEM SEMPRE) ATÉ PARECE UMA FESTA

Existe um risco em bandas tão longevas como os Titãs: o de se contar uma história desprezando os conflitos. Sobretudo em uma banda que possuía muitos integrantes e que acabou por superar a saída da maioria deles, sempre dando um jeito de se adaptar às mudanças. Por conta disso, achei agradável a experiência de assistir o primeiro episódio dedicado a um artista brasileiro na série Bios. Vidas que Marcaram a Sua, que recém estreou no Star +. A partir dos depoimentos dos integrantes remanescentes, Branco Mello, Tony Belloto e Sérgio Britto, dos ex-integrantes André Jung, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos, imagens dos já falecidos Marcelo Fromer e Ciro Pessoa, e opiniões de pessoas que circulam pelo universo do grupo, o episódio constrói em ordem cronológica toda a saga dos músicos.

O ponto central, então, é enxergar os conflitos que acabaram por culminar nas saídas de seus integrantes. A mais emblemática certamente foi a de Arnaldo Antunes, que já despontava como compositor e poeta e parecia não ser mais possível ser apenas ⅛ dentro de um conjunto. Nando Reis em depoimento expõe também seu longo descontentamento com o que os demais integrantes tinham como concepção para a banda, e a morte de Fromer parece ter sido para ele a gota d’água para que ele acabasse por deixá-la, pouco antes do início das gravações do disco Como Estão Vocês? Com Charles Gavin, a coisa pareceu ter a ver com a vontade do baterista de ter uma rotina mais flexível, o que faria com que a banda precisasse ter um planejamento diferente para substituí-lo esporadicamente. Foi decidido que seria melhor que ele saísse em definitivo, e assim aconteceu. Miklos saiu por último, de maneira semelhante aos colegas Nando e Arnaldo. Ciro e André, cada um a seu tempo, foram os primeiros a sair/serem dispensados.

Por conta de tudo isso, o episódio de pouco mais de uma hora e meia cumpre bem o papel de contar uma história tão rica, de forma sintética, mas sem deixar escapar detalhes importantes. Recomendo fortemente para quem tem acesso à plataforma Star+. E sem dar spoiler, vale prestar atenção na opinião de Nando Reis sobre o disco Titanomaquia.


Por Brunno Lopez

VAMOS DE CUMBIA?

Fronteira é igual lateral, existe pra cruzar. 

E bons cruzamentos costumam resultar ótimas experiências. Ou gols. No caso, provavelmente estamos vivendo a mesma coisa, pois no lado argentino, temos um verdadeiro golaço do Ráfaga em seu iminente lançamento.

Señales aportou nos streamings mostrando que a cumbia argentina continua sendo produzida com o mais alto bom gosto por estes sujeitos que são mestres no estilo.
Aproveitando um pouco do post informativo do Vinny Cabral acima, eles certamente sabem como criar canções no espaço confortável de sequência de acordes que os consagrou numa identidade quase que única.

E pra falar a verdade, quando se está dançando, é bem difícil continuar escrevendo.
O play mostrará que tenho razão.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana