Newsletter- Silêncio no Estúdio Vol. 156

18 de julho de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

QUASE 6 MIL DIAS

Já passaram aproximadamente 6 mil dias desde o lançamento do 10,000 Days do TOOL. Lembro bem daquele 2006. Um disco que viria em sequência do Lateralus e que alguns fãs não gostam tanto.

Eu particularmente adoro. É um disco mais pessoal e eu imaginava ser impossível ser mais introspectivo do que os lançamentos anteriores.

Esse disco tem duas músicas que eu acho obras de arte máximas da música progressiva. The Pot e Jambi.

Jambi tem uns dos riffs mais sensacionais do Adam Jones e The Pot é um hit máximo dos Reacts de YouTube. Parece modinha, mas todo canal de React faz um vídeo sobre o TOOL e normalmente é The Pot.

O que eu gosto desses canais de react é que me faz sentir mais ou menos o sentimento de ter escutado uma música que eu amo pela primeira vez aos olhos de quem tá reagindo.

Não sou de ver muitos, mas eu sempre assisto os vídeos do canal Lost in Vegas. São dois amigos amantes de Rap que começaram a reagir a Rock e Metal. Eles viraram fãs de TOOL e Gojira (da banda mandar ingresso VIP pros caras e tudo).

Mas voltando pro clássico 10,000 Days, eu daria um pedaço da minha unha pra ouvir esse disco pela primeira vez de novo e lembrar de todos os sentimentos e queixos caídos que tive durante a 1 hora e 15 minutos de disco.

Se você ainda não ouviu, aproveite este momento pra ouvir pela primeira vez e depois me conta o que você sentiu. Já se passaram 6 mil dias do lançamento desse disco maravilhoso, mas de certa forma, parece que foi ontem.

Ouça aqui o 10,000 Days


Por Vinícius Cabral

A JOVEM IDADE

Em 2010 eu provavelmente estava aproveitando os meus 26 anos de vida normal em baladas toscas, discotecando música moderna, achando que Deerhunter e Animal Collective eram a salvação do indie, e que o Kanye West tinha mudado a história da música para sempre com seu último álbum.

Enquanto isso, aqui do lado, no Uruguai, uma banda completamente despretensiosa e indie “à moda antiga” lançava um disco que, em retrospecto, pode ser considerado um dos maiores clássicos underground da história recente. A banda é a Carmen Sandiego (que muito provavelmente por causa da força da franquia de mesmo nome, teve que mudar para Carmen Sandiego de Montevideo). O grupo formou-se em 2006, quando Flavio Lira e Leticia Skycry (duo que assina quase todas as canções da banda) se encontraram após uma sessão de cinema na Cinemateca Uruguaia. Deve ter sido um desses encontros de horas e horas, com trocas de referências e descobertas de afinidades inacreditáveis. O encontro gerou um projeto, que em seus primeiros anos focou basicamente em composições acústicas e discos caseiros. Até que em 2010, com uma banda formada, lançaram a obra prima Joven Edad. Os uruguaios lançariam ainda outros dois ótimos álbuns de estúdio antes de terminarem o projeto em 2018, mas o debut é o diamante bruto, a pedra fundamental.

É difícil explicar a mágica que este pequeno disco, com suas 12 faixas e pouco mais de meia hora, consegue produzir. Pode ter a ver com a excelente introdução de Destape, uma canção que bota o Yo La Tengo para tomar um mate na américa do sul; ou com o clássico indie Augustin, que vem logo em seguida. Não sei dizer. O que acontece quando chegamos em faixas como Mi Novio Gremlin, ou Superado, é que parece que as experiências mais lúdicas, melódicas (quase infantis) e, portanto, mágicas, de encontros como o de Nico com The Velvet Underground em 1967, reproduzem-se aqui de maneira intensa e incontornável. A sutileza destas duas canções, pontuadas por dedilhados (e, no caso de Superado, por um dueto vocal masculino-feminino sussurrado e adornado por “sininhos”), é de chorar.

O que não significa que o álbum não tenha momentos explosivos, como em Noche De Pánico, Asco al Sexo e Tamagotchi, essa com uma letra absurda, que fala do artefato japonês que é “a solução (e exportação) de todos os meus problemas, que nem meu terapeuta jamais conhecerá”. Nem que eu tivesse 200 páginas de tese de doutorado eu poderia descrever tão irônica  e brilhantemente a tragédia millennial do século XXI. Isso em uma canção que lembra Weezer (a lá Mykel and Carli) e chuta o pau da barraca com os vocais brilhantemente errôneos de Leticia. As letras despretensiosas voltam, aqui e ali, a nos impressionar, como em Pintame De Gatito ou em Piba Chorra (que termina em uma catarse anunciando que o cantor está “todos os domingos apoiando o Peñarol”). O álbum transita, aparentemente de forma caótica, entre cultura pop, crônica, futebol e sentimentalismo profundo – daqueles dignos de uma angústia artística raramente articulada de forma tão simples e certeira.

Joven Edad já está tocando a tempo suficiente nas minhas caixas de som para que eu crave uma dessas afirmações aparentemente exageradas: trata-se de um dos maiores clássicos indie da nossa época, completamente esquecido em meio ao infame ostracismo dedicado à américa latina pelo resto do mundo (e pelo Brasil, que como sempre digo, sequer parece fazer parte do continente). Ainda está em tempo de corrigir este esquecimento criminoso.

Este é um daqueles discos que nos inspira a ser jovem em qualquer idade, acreditando nas canções e em sua potência. A Joven Edad é a base da crônica universal deste disco inesquecível, mas o título só reforça a ideia de que, jovem mesmo, é o mundo do rock latino – pelo menos para nós, os vizinhos que teimam em não tocar no apartamento ao lado para pedir um quilo de açúcar.

Ouça Joven Edad aqui 


Por Márcio Viana

E SE O SEU CLÁSSICO FOR UMA COLETÂNEA?

Compilações sempre fizeram parte da minha vida.Nos anos 80, muitas vezes era muito mais fácil ter acesso a uma delas do que a discos de carreira, por inúmeros motivos. Havia então as trilhas de novela, os discos promocionais de emissoras de rádio e as coletâneas de singles.

Já pelo meio da década, o The Cure tinha muitas canções de sucesso, e foi natural que elas estivessem reunidas em um álbum, formando aí uma sequência diferente da original, mas ainda assim capaz de emocionar os fãs.

Sob este prisma, é fácil saber de alguém que se lembre do velho pescador na capa de Standing On a Beach, a grande coletânea da banda lançada em 1986 e depois relançada em CD e em streaming como Staring at The Sea, ambos os nomes tirados de trechos da letra de Killing An Arab, inspirada no livro O Estrangeiro, de Albert Camus. Desta até A Night Like This são 17 sucessos, passando por clássicos como Boys Don’t Cry, In Between Days, Lovecats ou Close to Me.

No fim das contas, por mais que isso possa parecer menosprezo à obra de um grupo tão importante como o liderado por Robert Smith, é fato que existe público para coletâneas, e neste quesito, há que se notar que neste caso houve bastante critério e capricho na concepção do álbum. Esta coletânea é um dos meus clássicos, e eu me sinto bem com isso.

Ouça Standing on a Beach / Staring at The Sea


Por Brunno Lopez

LOVY METAL 2 – A MISSÃO

A boa e velha indústria adorava aprontar das suas no começo dos anos 2000. Olhando bem no fundo dos olhos dos adolescentes do novo milênio, a Som Livre imaginou que poderia abocanhar uma fatia considerável desse pessoal criando uma coletânea acessível de canções mais desaceleradas e açucaradas de alguns grupos imponentes da cena hard rock oitentista e noventista.

Tudo bem que de metal mesmo não tinha nenhuma banda. Ou tinha? Pois na época, todos juravam que Iron Maiden figurava entre as faixas, numa espécie de “Wasting Love” copiado. Ou um “Wasting Love” que tivesse sido composto em algum lugar da Sunset Strip. Se assim fosse, Derek Riggs não desenharia nada parecido com o Eddie.

É bem possível que o mascote da banda inglesa fosse algo mais na linha de Mai Shiranui, do The King of Fighters.

Enfim, o fato é que, entre Whitesnake, Skid Row, Firehouse (maravilhoso) e até Marillion, existia um artista chamado Marc Ferr com a música “Die For Love”. Justamente a faixa que trazia elementos que lembravam consideravelmente a balada do Iron Maiden, só que na malemolência maquiada do Hair Metal.

Aí o chicote estralou. Já começaram a acusar as donzelas de ferro de plágio e, se estivéssemos em nossos tempos, o cancelamento viria pesado para os cabeludos da terra da rainha.

Pois bem, o tal de Marc Ferr era Marc Ferreira, mais um dos brasileiros perdidos no mundo e muitas vezes sendo incluídos em escândalos contra a própria vontade. Foi tentar ajudar um amigo produtor do Rio de Janeiro, Ivan Duarte, que produzia a coletânea e precisava de uma música instrumental. Nosso querido Marcão enviou na amizade mas, na mixagem, alteraram o andamento, a dinâmica e outros detalhes do arquivo original, transformando o material em algo completamente diferente. Ah, ainda mudaram o nome da tal música para “Prisioner” e a ‘banda’ que a executou em estúdio foi creditada à Eclipse.

Só que o nome do nosso adorável brazuca generoso foi parar como o artista de “Die For Love”, sendo que o rapaz sequer cantou, tocou ou fez qualquer coisa nessa faixa.

No meio desse rolo todo, esse segundo disco de um total de 4, conseguiu ficar entre as coletâneas mais vendidas do Rio de Janeiro em 2002. E o Marc Ferr, ou Marcão Ferreira, não viu um centavo desse lucro em seus bolsos.

Mas tudo isso, além das faixas clichês selecionadas pela Som Livre safadinha, faz do Lovy Metal 2 um clássico de sua geração, que aproximou os ouvidos da galerinha para o rock farofa e deixou um pouco do estilo soar no mainstream. 

E ‘Die For Love’ certamente tocaria mais do que ‘Wasting Love’.

Ouça aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana