11 de julho de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
DE VEZ EM SEMPRE
Texturas, tristeza, melancolia, agonia, beleza e lucidez. Tudo isso muito bem misturado no terceiro disco da Sophie Allison, mais conhecida como Soccer Mummy. Um dos plays mais agradáveis de 2022, me cativou do começo ao fim. Um disco pra se ouvir em loop e se envolver nos sentimentos e melodias.
Os anos 90 estão com tudo mesmo. O que parece ainda coisa de 10 anos atrás pra mim, pras novas gerações realmente são 30 anos. A adolescência de quem viveu os anos 90, teima em aceitar que os anos 90 já são retrô. Rid of Me da PJ Harvey já é um clássico assim como o Madman Across the Water do Elton John, era o clássico antigo pra quem viveu os anos 90.
Quando os anos 90 se inspiraram nos anos 70 com suas melodias mais catchy, mas com produção mais polida, os anos 70 da Carole King, passam de uma geração pra outra de um jeito mais natural.
Quando meninas se inspiraram a pegar a guitarra com o Taylor Swift Effect, nunca iríamos imaginar que as inspirações iriam lá no passado com a Joni Mitchell, passando pela Tori Amos e Fiona Apple. Isso somando com a importância do movimento Riot Grrrl.
Dessa mistura toda, a Soccer Mummy fez um disco ousado como o Live Through This do Hole, com pitadas de Stories from the City, Stories from the Sea da PJ Harvey.
Com essa geração com Snail Mail, Soccer Mommy, Lucy Dacus, Phoebe Bridgers, Japanese Breakfast, Mitski e Julien Baker, o futuro da música está muito bem representado pelas mulheres.
Ouça aqui o Sometimes, Forever da Soccer Mommy
Por Vinícius Cabral
SHOEGAZE COM BOLOVO ENGORDURADO
gorduratrans é uma das bandas mais representativas do indie nacional. Vejam bem, eu disse representativas. Não é a melhor, ou uma das (não quero entrar nesse debate de ranking quanto a bandas brasileiras). Trata-se de uma banda representativa por incorporar, pro bem e pro mal, boa parte das características definidoras da cena do rock independente brasileiro.
Por um lado (o ruim), o duo carioca extravasa os defeitos da “cena”. A mixagem podia ser mais equilibrada. As guitarras podiam amassar mais a nossa cara. Os álbuns podiam ser mais longos e diretos, sem remorsos ou vergonha de se assumirem por aquilo que são. É uma banda, enfim, que por vezes parece pedir desculpas por existir. Não precisa.
O lado bom, contudo, é animador. Em seu último trabalho, zera, a banda segue explorando um indie lo-fi em climas etéreos, alternando estes momentos com pura “guitarrada” shoegaze. O disco se inicia, aliás, com um belo trabalho de guitarras com a clássica alavanca na Fender Jaguar, eternizada por Kevin Shields. Mas é só o vocal entrar que o clima “gringo” do som vai pro espaço. A canção passa a soar como uma espécie de shoegaze-carioca-malemolente, cheio de personalidade. Não há motivos para não explorar isso ao máximo. É é o que se segue com enterro dos ossos, uma canção perfeita, em todos os apesctos: letra, clima, arranjos, métrica, estilo vocal, etc (claro que tem a questão da mixagem, mas a música é tão foda que deixamos isso de lado). A sequência segue matadora com a ótima cortisol. Pura porrada, com um refrão em loop-melódico cantarolado.
Em outros momentos, como em nem sempre foi assim, são os climas mais etéreos que tomam conta, em belas baladas indie. A canção tem uma frase (acidentalmente?) copiada de uma canção do Bon Iver (mas, enfim, a essa altura do campeonato, foda-se o Bon Iver). Dentro de um álbum que se destaca muito mais quando parece não se “comportar”, me chama atenção a canção arão, que além de ser muito boa, é daquelas que chuta o protocolo de forma maravilhosamente despretensiosa. Trata-se, simplesmente, de uma canção sobre o Flamengo, com direito ao clássico trecho de uma crônica de Nelson Rodrigues declamada por Felipe Aguiar, o vocalista e guitarrista. É nestes momentos que se vê uma banda mais segura de si, que deve apostar cada vez mais em letras, arranjos e gravações que captem a essência de quem os caras são – sobre o quê gostam de escrever, e qual obra conseguem extrair disso.
Para encerrar esse balanço nada casual de “prós e contras” de um disco que, no quadro geral, é bem acima da média, vale uma lembrança: gorduratrans faz parte da Balaclava, selo que muitas vezes parece mais interessado em hype do que na música. Dentro desse contexto, os caras me inspiram ainda mais. Porque mostram que não é necessário fazer pirueta no instagram para fazer boa música, mesmo integrados a um meio que parece ser dependente das piruetas.
Vida longa à gorduratrans!
Por Márcio Viana
LAR, DOCE LAR
Dediquei o último final de semana para uma audição ao novo álbum de Regina Spektor, Home, before and after.
Confesso que o disco não me surpreendeu. A cantora e pianista entregou mais um standard de sua obra, e acredite: isso é bom. Nem sempre é necessário reinventar a obra.
A faixa de abertura, Becoming All Alone, por exemplo, é conhecida por muitos fãs desde sua primeira execução pública em shows da artista, em 2014, portanto anterior ao disco que precede este, Remember Us To Life, de 2016. A canção retrata a cantora em um bate-papo com Deus, que a convida para uma cerveja (a qual sequer precisa pagar, porque afinal, quem é que se sente à vontade para cobrar uma conta de Deus?).
Ainda que o álbum tenha foco principal na voz e piano da cantora, há bons momentos instrumentais com sua banda, como em SugarMan ou One Man’s Prayer, além da vibrante Up the Mountain e de Loveology, que começa calminha e vai criando climas até a apoteose.
Fica aqui a dica de um bom álbum para se ouvir quando se quer paz. E todos queremos paz, não é mesmo?
Por Brunno Lopez
ANTIMAI
Queria ter algo pra dizer, mas simplesmente não dá. O The Dear Hunter é uma grande injustiça por não figurar entre as maiores bandas de rock, não apenas de prog. Esse material novo consegue trazer elementos diferentes todas as vezes que se escuta novamente. Camadas e camadas de descobertas. Casey Crescenzo é um gênio subestimado pelo mainstream preguiçoso. Já era, esse disco é o grande lançamento de 2022 e dificilmente poderei mudar de ideia, já que não consigo mudar de álbum.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana