6 de junho de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
AO VIVÁÇO
Normalmente eu não gosto muito de discos ao vivo, claro que existem clássicos como o Kiss Alive ou o Made in Japan do Deep Purple, mas no geral, sempre dou preferência aos discos de estúdio.
Mas alguns discos ao vivo funcionam bem como um “The Best Of” e na semana passada saiu um ao vivo do Killswitch Engage que além de ter uma qualidade de gravação sensacional e moderna, tem um repertório bem bacana, que pode servir de porta de entrada pra quem ainda não conhece tão bem essa banda inovadora do vamos chamar de Metalcore Moderno.
O Killswitch Engage foi uma das primeiras bandas a misturar a influência do Death Metal Melódico da Suécia com pitadas de Hard Core Melódico dos Estados Unidos. Unindo versos com vocais rasgados e refrãos limpos e catchy.
Vale a pena conferir esse disco ao vivo, tem tocado o dia inteiro nos meus ouvidos nos últimos dias.
Por Vinícius Cabral
THE TCHERETCHETCHE PAPERS**
Eu vou começar este texto de maneira bem simples e direta: a forma de comunicação empreendida através das redes sociais esgotou a muito tempo qualquer possibilidade de crítica. E isso destruiu completamente a mentalidade dos campos “progressistas”, e de “esquerda” que, sem o exercício da crítica, basicamente não servem para nada. A polêmica musical do momento reforça a declaração acima com requintes de tragédia. O que muitos de nós ainda não percebemos, é que a tal da “pós-verdade” baseia-se em um dispositivo muito simples: enterrar os fatos, a dialética, a realidade e a crítica em dualidades polarizadas. Em outras palavras, reduzir fatos a narrativas pré determinadas.
A narrativa do momento (que por sinal o campo progressista está alimentando ainda mais, ao invés de combater), é a velha noção de que o artista é um vagabundo que faz farra com dinheiro público. A (falsa) dicotomia entre “Lei Rouanet” versus “dinheiro direto de prefeitura” serve unicamente ao reforço da narrativa central. Em qualquer um dos pólos que você estiver, é bem provável que sua “militância” seja diluída na narrativa central. O que, obviamente, atende muito bem ao interesse principal dos canalhas que estão no poder em relação à cultura, que nada mais é do que exterminá-la totalmente, em todas as suas formas de financiamento e sobrevivência.
Alguns fatos para termos em mente:
*Já disse milhões de vezes, mas repito: não há nada de errado, à princípio, em prefeituras celebrarem contratos com shows de grande porte. Desde que não haja desvios de verba pública (que devem sim ser investigados com a devida descrição), essa prática deve ser inclusive incentivada. Vale lembrar que o Brasil não se resume à Santa Cecília. Existem municípios tão carentes que a única alternativa cultural é uma festa do milho, festa junina, ou feiras agrícolas, poucas vezes ao ano. Algumas prefeituras são tão carentes em termos de gestão, que chegam a devolver verbas federais referentes à cultura, por incapacidade de cumprir os requisitos das leis em termos de prestações de contas e contrapartidas. Sobre isso, vale lembrar que:
*As leis de incentivo (seja a Rouanet, que sequer existe – o atual governo trocou seu nome para, simplesmente, Lei Federal de Incentivo à Cultura) são instrumentos de fomento altamente burocratizados. Aliás, é seguro dizer que toda verba pública que sai do Governo Federal já sai com milhões de amarras burocráticas, seja através das Leis (Lei Federal, Lei Aldir Blanc), seja através dos poucos fundos que ainda temos destinados à cultura (como o Fundo Setorial do Audiovisual, gerido pelo BRDE). O caso recente da Lei Aldir Blanc é emblemático: eu conheço casos de municípios do interior que, literalmente, devolveram os recursos destinados a eles, por não conseguirem atender os requisitos de comprovação de despesas e celebrar os (muitos) contratos necessários. Esse é o fato que alimenta alguns argumentos que tenho visto por aí, do tipo “a Rouanet é super burocrática, enquanto contratos com prefeituras são diretos, e não exigem prestações”. Mas aí eu afirmo, com vasto conhecimento de caso: a questão é simplificar as leis, não demonizar os contratos diretos (seja com prefeituras, seja com quem for). Meu sonho é receber dinheiro público para executar um projeto e entregar o projeto como produto final e comprovação de despesas (não 85 planilhas completamente desnecessárias).
*Sim, eu estou dizendo que a cultura pode – e deve – ser bancada com dinheiro público. Não existe setor cultural forte no mundo (nem o da Coréia do Sul, do K-Pop, tá?!) que tenha crescido e se desenvolvido sem dinheiro do estado.
*Dito isso, é óbvio que eu defendo diversidade e transparência. O problema todo me parece ser o de que o Sertanejo exerce no Brasil de 2022 um monopólio constrangedor no setor cultural. E é justamente esse, pra mim, o “x” da questão: como fazer com que essa hegemonia econômica de um gênero “respingue” em setores alternativos e possibilite a democratização das cadeias culturais produtivas?
*Isso é, em boa medida, o que acontece no estado do nosso magnânimo apoiador, Luis Feitosa. Goiás conseguiu catalisar a bonança sertaneja para a criação de um ecossistema econômico mais diverso, tendo o rock como coadjuvante de luxo. Estúdios, festivais, selos e estruturas profissionais de mercado se consolidaram, no centro e à margem, fazendo de Goiânia uma das capitais mais criativas e ricas musicalmente deste país. E isso é visto em inúmeros aspectos. A foto que ilustra este post, por exemplo, é da Enoé Guitars, de um produtor artesanal de guitarras que desenvolve os instrumentos mais lindos que eu já vi. Essa telecaster do Gusttavo Lima é da marca. O sertanejo acabou virando um endorser de luxo da pequena empresa goiana.
*Vale lembrar que, CPI do Sertanejo, e outras babaquices, não passam de lacrações cuja única consequência (se houver) irá se voltar, para variar, contra os artistas pequenos. É preciso aperfeiçoar e democratizar as estruturas existentes de fomento, não criminalizá-las. Foi fazendo isso que nós chegamos até aqui: através da criminalização de atividades fundamentais para a vida social, como a política.
*Política que, aliás, não está em subir num palco e defender este ou aquele candidato (como o Gusttavo Lima faz, mas também fazem Pabllo Vittar, Daniela Mercury, e tantos outros). Política não é disputa eleitoral. A verdadeira política, em relação a este assunto, é defender a necessidade do artista ser remunerado, e da produção cultural refletir, economicamente, a enorme diversidade estética deste país sensacional em que tivemos o privilégio de nascer – e, claro, defender a distribuição equânime de recursos, independente da força econômica deste ou daquele gênero.
*Façamos a crítica. Mas com mais cérebro e menos fígado, por favor.
**título gentilmente cedido pelo grande Márcio Viana.
Por Márcio Viana
UM GRANDE (MAS LIMITADO) ENCONTRO
Volta e meia, especialmente em tempos tão extremos, é comum ver pessoas – nas redes sociais, sobretudo – conjecturando sobre como seria a orientação política de celebridades que não estão mais entre nós. Basicamente se fala muito em como seriam as escolhas de personalidades como Renato Russo, Cazuza ou Ayrton Senna, por exemplo.
Além desses, muitos se perguntam sobre como se comportaria Raul Seixas no cenário atual, ainda mais pelo fato de seu último parceiro, Marcelo Nova, ter dado opiniões controversas sobre vacinação e sobre (a concepção que ele faz de) liberdade de expressão, a ponto até de mudar uma letra de Raul em apresentações ao vivo, suprimindo a expressão “sou vacinado” de Cowboy Fora da Lei. Bem, não sabemos realmente como Raul se comportaria. Sabemos porém que algumas escolhas artísticas dele foram controversas, e algumas delas não caberiam no mundo de hoje (estou falando especificamente de Rock das Aranha).
Voltando então para o lado artístico e para as escolhas feitas por Raul Seixas ao longo da vida, fui além do que explorei no Raio-X sobre o disco Krig-Há Bandolo! e sobre o início de carreira do artista, avançando para 1977, no disco O Dia em que a Terra Parou, em que uma inusitada parceria ganhou menos destaque do que deveria.
A canção Que Luz é Essa?, presente no álbum, é um baião cuja letra aborda um dos temas preferidos de Raul naquela década, a atenção para o céu em busca de objetos não identificados. O produtor Mazolla, parceiro de Raul desde os primeiros discos como artista-solo, que acompanhou o cantor em sua boa fase, reconheceu naquela canção uma oportunidade de unir dois gigantes, e a história se fez: pelas mãos do produtor, Que Luz é Essa? ganhou violões e uma (discreta) segunda voz de ninguém menos que Gilberto Gil, em um ensaio de parceria que poderia ter sido gigante.
O primeiro segundo da música se inicia com um “Ah!” de Gil, que desde o início já toma a frente, como um maestro, seguro com seu violão e fazendo com que a banda o seguisse. Raul canta a letra toda com uma segurança impressionante, provavelmente pelo requinte do acompanhamento de seu conterrâneo.
A parceria, infelizmente, nunca foi além, muito provavelmente pelo pouco interesse de Raul, embora os dois ainda tenham se encontrado nos palcos em 1985, no projeto capitaneado por Gil, Esse tal de Roque, junto a outros nomes como Erasmo Carlos, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Cazuza, Sérgio Dias e Rita Lee.
A carreira de Raul, sem Gil e sem Mazolla, adquiriria dali para frente um caráter um tanto errático, ainda que tenha rendido mais alguns clássicos. Gil, que naquele ano havia lançado Refavela, ainda segue firme e forte e dono de sua própria obra.
Ainda que a parceria não tenha acontecido como devia, vale relembrar este momento em que Raul Seixas fez uma música que poderia ser de Gilberto Gil.
Por Brunno Lopez
ALEC
Achei que seria capaz de escrever algo sobre Alec, mas, sinceramente, é bem difícil lidar quando os integrantes da sua banda favorita começam a ir embora.
Eu já fiquei sem palavras em algumas ocasiões, mas hoje, estou sem uma parte da minha própria existência.
Sem ele, o Bon Jovi não existiria. Alec reuniu Richie Sambora e Tico Torres para o embrião que viria a ser uma das maiores bandas de Hard Rock do planeta.
Deixo aqui a lembrança de um dos shows em que ele mais se destaca. Um baixista sorridente, com presença de palco e muito coração.
O Bon Jovi está acabando…
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana