Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 15

04  de Novembro  de 2019


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Bruno Leo Ribeiro

BONJOUR, MÉTAL
Há que diga que alguns países tem movimentos musicais mais bem definidos. Na história do metal, com certeza isso é de certa forma verdade. Quando pensamos em metal pesado, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha são sempre o mais lembrados. São os países mais tradicionais no metal. Alguns países tem o movimento bem pequenininho e um desses é a França. Claro que a França ganhou muito mais respeito depois que o Gojira explodiu pro mundo e hoje é uma das bandas mais respeitadas do mundo.

Mas em falar em França, numa cidadezinha pequena chamada “Bagnols-sur-Cèze”, uma banda chamada Alcest começou tocando Black Metal e até teve um pouco de atenção. Passaram-se os anos e eles ficaram cansados de tocar Black Metal cru e adicionaram melancolia nas suas músicas. Vejo até um paralelo com os ingleses de Liverpool, Anathema – que começaram como uma banda de Doom Metal e hoje tocam um rock progressivo melancólico e triste. 

O Alcest lançou semana passada, no dia 25 de outubro, o disco “Spiritual Instinct”, que gostei bastante. É pesado, melancólico, mas com harmonias e vocais limpos e bem bonitos. Nessa semana que teremos um episódio sobre músicas para chorar é bom pra entrar no clima. É um disco curtinho, com apenas 6 meses, então passa rapidinho e fica aquele gostinho de “vou ouvir de novo”! Recomendo dar uma chance pro Alcest (que abriu o show do Anathema aqui em Helsinki). 

Ouça o disco aqui

E pra fazer um jabázinho de leve, to mixando o disco do Gabriel Lamonier (Laso) e semana passada ele lançou um lyric vídeo de mais um single do disco que vai pro ar no dia 24 de Novembro. Vamos dar aquela moral pro artista local e pro seu amigo aqui que ficou horas achando aquele timbre perfeito pra soar bem aos seus ouvidos 🙂

Veja o lyric vídeo de Mercúrio Retrógrado aqui

Vinícius Cabral

A GRANDE BANDA DO ANO
Finais de década são momentos definidores. Sempre surgem artistas como que enviados do futuro, dando verdadeiros spoilers de quais serão as tendências dos anos vindouros. O ano é 2019, e isso está sendo levado ao extremo, com dois moods bem definidos pra mim. de um lado, artistas que já estão em 2080 e que trazem aquela sensação de “caralho, robôs já fazem música?!?”. De outro, bandas que recuperam o prazer do rock e do pop, nos convidando a tirar a poeira de nossas guitarras, violões, sintetizadores e instrumentos de corda e anunciando um resgate mais do que bem vindo de determinadas linguagens mais -digamos- ousadas e experimentais associadas a estes gêneros.

Onde Big Thief se encaixa nisso? Bom, pra começo de conversa, eu achei que o Alt Folk tinha morrido- já já volto nisso-.

De cara, Big Thief comete a audácia de lançar dois álbuns com 5 meses de distância, em pleno 2019. Essencialmente, UFOF, o primeiro deles, é uma pequena obra prima de canções Folk descontruidíssimas. Métrica aparentemente desordenada, quebradas de ritmo, contratempos, sussurros e desafinadas charmosíssimas da genial cantora e compositora Adrianne Lenker. Diversos ingredientes de uma dessas bandas que eu tinha esquecido que eram possíveis, evocando um cancioneiro tradicional do Rock com ares de inquietação e renovação (afinal, não foi sempre esse o motor do conceito tão surrado de Rock Alternativo?).

Volto aqui ao Alt Folk. Chegando ao auge em meados dos anos 2000, o nicho foi se banalizando até parecer ter desaparecido (ainda que artistas como Fleet Foxes e Angel Olsen tenham carregado recentemente o legado de forma honesta). Big Thief resgata a ideia com força gigantesca e bombástica em um disco quase perfeito.

Como se não bastasse a divina experiência de UFOF, no dia 11 de outubro a banda lança Two Hands, seu segundo LP no ano (!!!). Desta vez, um compilado de canções gravadas ao vivo (quase sem overdubs e com praticamente todos os vocais em takes únicos), ao melhor estilo de álbuns “genuínos” de folk dos anos 70. Um pouco mais “roqueiro” e direto ao ponto, o disco completa uma espécie de jornada inédita na experiência indie contemporânea. Sem exageros.

De UFOF destaco a intrigante e irresistível faixa título, o single perfeito, Cattails, a estranhíssima (ironicamente) Strange, a linda e hipnótica From e a potente Jenni (entre outras…é um disco quase perfeito, mesmo!). De Two Hands, a estupidamente perfeita Forgotten Eyes, a deslumbrante Two Hands (faixa título), a forte e “Neil Younguesca” Not e a maravilhosa Cut My Hair.

Big Thief é uma banda que parece nos presentear com tudo aquilo que o rock alternativo ainda pode nos trazer e me faz cravar sem muitas dúvidas: trata-se DA grande banda de 2019.

Ouça o Big Thief aqui


Márcio Viana

ESQUECER DE TUDO, DAS DORES DO MUNDO
Michael Kiwanuka é imenso. E veio para ficar. Nada foi fácil na vida do black man in a white world, e ele sabe disso. A começar pela sua própria identidade, uma vez que executivos de gravadora o sugeriram que arranjasse um nome artístico que garantiria maiores vendas de discos, mas representaria uma negação do músico britânico às suas origens africanas (a família de Kiwanuka é da Uganda).

Este episódio (não vamos amenizar as coisas, é realmente um caso de racismo velado) mexeu com a cabeça do artista, que chegou a pensar em desistir da carreira. Um segundo álbum chamado Night Songs, após seu álbum de estreia, foi descartado.

Mas Kiwanuka não se rendeu. E a recompensa veio com Love & Hate, álbum de 2016, um disco muito aclamado por crítica e público, que trouxe à tona todo o talento de seu autor. Mérito de Danger Mouse e Inflo, renomados produtores, responsáveis por vários dos grandes álbuns da música pop atual.

A dupla repete a dose neste terceiro trabalho, intitulado Kiwanuka, para deixar claro que o artista não vai e nem deve abrir mão de sua origem. É frequente em vários momentos perceber a sonoridade característica do som tirado por Danger Mouse.

Muito se diz que a música cura. Michael Kiwanuka sabe disso, e é através dela que ele se questiona “Are you really giving up? Are you really going to stop right now?”, logo no início da faixa de abertura, You Ain’t The Problem.

O disco todo é maravilhoso, mas destaco ainda Piano Joint e sua introdução e Living in Denial.

Michael Kiwanuka não vai desistir. Que sorte a nossa.

Ouça o álbum Kiwanuka. 

Brunno Lopez

KIND

É real oficial: o rock deixou a UTI e saiu andando do hospital. Preencheu os formulários de alta, cruzou a porta da frente e já começou a fazer esportes radicais como escalada para o topo das paradas britânicas.

E quem realizou esse alpinismo musical foram os veteranos do Stereophonics, colocando – graças a Deus -, o presbítero Kanye West na segunda colocação.

Quem diria que, após discos mais monótonos que um show acústico do Jota Quest, os galeses voltariam com um álbum consistente. 

Em Kind, a banda usa o coringa back-to-basics e entrega grandes momentos ainda em 2019.
Vários singles podem tranquilamente figurar em suas playlists até o natal, mas nada pode ser tão delicioso quanto a faixa “Don’t Let The Devil Take Another Day”.
É o tipo de canção que entra na minha lista perigosa de músicas que preciso tomar cuidado pra não ouvir muito e enjoar. Então ela fica ali, em plays bem distribuídos durante o dia, só pra manter o frescor da descoberta.

Enquanto o Oasis não volta, é gratificante ver representantes do Britpop ainda soando inovadores e importantes, mostrando que essa geração não está totalmente perdida.

E vale lembrar que essa banda é impossível de ouvir no mono, logo, é melhor trocar os fones de ouvido que funcionam apenas de um lado só.

Ouça o disco Kind aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana