Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 147

16  de maio de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças e temos uma participação especial do nosso apoiador Daniel Motta, que mandou um texto pra gente. 


LANÇAMENTOS

Texto do convidado Daniel Motta

THE OFFICE

No auge da fama, a série The Office (US)  teve um de seus episódios exibidos logo após o SuperBowl, um dos maiores eventos televisionados do mundo. A ideia era compartilhar a série com o maior número de pessoas possível. O problema é que essa é uma daquelas séries em que você precisa conhecer o enredo e entender a dinâmica entre os personagens pra conseguir entender e achar engraçado. Ou como dizem por lá: something for everyone.

Pra contornar esse problema, os episódio foi feito como uma espécie de greatest hits, assim todas as dinâmicas entre os personagens foram estabelecidas, por vezes em formato de flashback ou em piadas magníficas como Michael Scott cantando I Will Survive ao invés de Stayin’ Alive na hora de aprender como fazer massagem cardíaca. 

Teve também as bizarrices do Dwight, teve as pegadinhas do Jim, Andy Bernard cantando e pequenos highlights de outros personagens como Creed e Meredith. Quem acompanhava a série já sabia de tudo aquilo, mas foi uma maneira inteligente de fazer um compilado da relação entre os personagens para quem estava chegando. 

Uma das coisas mais interessantes  sobre o King Gizzard & the Lizard Wizard é a versatilidade de seus discos. É quase como se cada disco fosse feito por uma banda diferente. Tem meio que de tudo – metal, dream pop, jazz, folk e por aí vai. São 20 discos em apenas 10 anos de carreira e nenhum deles soa como outro. 

Ominium Gatherum em português quer dizer “Tudo Junto e Misturado”. Mentira, não é isso.  Mas, poderia ser, Cada faixa é uma trip diferente. Tem desde um metalzão rasgado na faixa Gaia até um, sei lá, hip hop medieval em The Grim Reaper.

Sempre que eu ouço KGLW eu acho que eles se divertem demais fazendo música. Deve ser maneiro demais começar cada projeto novo sem nenhuma restrição. Meu irmão acha que eu passo pano demais pros caras e que eles nem são tão legais assim. Pode ser, mas então pra dar uma passada de pano, vou dizer que a longa duração do disco me incomoda um pouco. Quem tem tempo pra ouvir 80 minutos de música? Pronto, falei mal deles. 

Espero que você goste do disco. Mas, se não gostar, recomendo o episódio Stress Relief da quinta temporada do The Office assim você vai sair dessa resenha com uma boa dica de entretenimento. Something for everyone. 

Ouçam aqui


Por Bruno Leo Ribeiro

MORAL E GRANDES PASSOS

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Gerenciamento de expectativas sempre será a coisa mais difícil pra mim, quando se trata de artistas que já gosto. Muitos lançamentos após um grande disco, geralmente me causa decepção. Projeto um disco ideal em discos seguintes. Aconteceu comigo em várias bandas. Depois do Scenes from a Memory do Dream Theater, eu esperava outro discos e veio o Six Degrees, que eu não consigo gostar tanto até hoje, por essa “decepção”. Eu esperava um disco diferente do que veio e acabou me afetando.

Será que isso aconteceu com o Mr. Morale & The Big Steppers do Kendric Lamar? Na primeira audição, sim. Eu esperava um disco que viria com um tapa na cara do mundo, xingando geral e falando sobre pandemia, racismo e eleições nos EUA. Mas veio um disco com críticas sobre mídias sociais, sexualidade, paternidade e romance.

Mr. Morale & The Big Steppers é um disco que tive que mudar meu próprio pensamento do que eu esperava, durante a primeira vez que dei play porque estava achando estranho e me senti desconfortável.

Quando fui ouvir pela segunda vez, já lendo todas as letras junto, minha cabeça já sabia o que viria, a expectativa não existia mais e foi libertador sentir essa melhora na segunda vez.

Esse disco é um documentário em formato de disco, como ele já faz há muito tempo, e a cada play, ele cresce dentro de mim um pouco mais. Pode parecer exagero, mas eu ouvi esse disco pelo menos 10 vezes desde que saiu na sexta feira.

Mas ouvir bastante esse discos, te coloca no lugar que ele está e você pode se libertar e descobrir as pequenas nuances dos arranjos e produção. E cada música tem várias surpresas maravilhosas. 

Ouçam algumas vezes o Mr. Morale & The Big Stepper aqui


Por Vinícius Cabral

A FACE DA NOITE

No desinteresse completo de ficar fuçando os lançamentos ocidentais deste último mês, voltei minhas atenções ao selo chinês Maybe Mars (do qual já falei aqui). Descobri o último EP da banda Backspace (退格), chamado Face Of The Night (夜晚的模樣). A banda, da pequena cidade de Yulin, mas radicada em Beijing, é uma das mais interessantes desta cena construída ao redor do selo. 

O quarteto apresenta uma interpretação muito particular do assim chamado post-rock, remetendo à Mogwai e às japonesas Boredoms e Ooioo, mas com uma pegada bem própria. O que se ouve neste EP interessantíssimo é uma cruza de sons mais “clássicos” desta vertente do alternativo (o post-rock), com elementos melódicos cantados que remetem a uma sonoridade das melodias tradicionais chinesas. Os garotos de Yulin são super universais, mas com um pézinho em tradições regionais deste país continental. 

Backspace representa bastante a energia que tenho destacado deste rock alternativo contemporâneo chinês: um som que renova sonoridades noventistas, ao resgatar aquela força das bandas alternativas “de performance” e metê-la em um contexto muito próprio e novo. A China é o presente e o futuro. E o Brasil precisa acompanhar esse movimento. 

Ouça Face Of The Night aqui


Por Márcio Viana

TODO MUNDO É UMA ILHA

Chegou mais uma oportunidade de tabelar com o texto do Vinícius Cabral e permanecer pelas paragens do Oriente, neste caso o Japão. 

Tomei conhecimento da existência do Kikagaku Moyo somente agora, justo quando o grupo japonês de pop psicodélico anunciou um hiato em sua carreira. Mas eis que o fazem deixando um belo disco de despedida, o recém-lançado Kumoyo Island.

É óbvio que para nós do Brasil o grande destaque seja Meu Mar, regravação da canção de Erasmo Carlos do clássico álbum Sonhos e Memórias, de 1972, que recentemente ganhou destaque também por ter sido “garimpado” pelos integrantes do Belle & Sebastian em sua passagem por Londres.

A versão em si guarda uma peculiaridade: o grupo inicialmente traduziu a canção para o inglês, para depois vertê-la para o japonês. Segundo o release, a letra ganhou o efeito de ilustrar o protagonista flutuando entre nuvens.

Mas o que o grupo entrega aqui é bem mais do que Meu Mar, desde a abertura com Monaka, inspirada em um biscoito wafer japonês e uma mistura de música folclórica japonesa com guitarras de rock progressivo (lembra um pouco o trabalho do Focus), passando pelo riff em wah wah de Dancing Blue, a viagem transcendental de Daydream Soda, a guitarra criativa da curtinha Field of Tiger Lilies e o término calminho em Maison Silk Road.

O nome Kikagaku Moyo significa “padrões geométricos”, que se referem à experiência do membro fundador Go Kurosawa durante uma jam session que durou a noite toda, quando se sentiu tão cansado que começou a ver grades de formas ao fechar os olhos.

Kumoyo Island foi gravado durante a pandemia, em Amsterdã e Tóquio, e como dito, é o último disco antes da pausa por tempo indeterminado nos trabalhos do grupo. Que seja um “até logo”, para que não pensemos em um adeus.

Ouça Kumoyo Island


Por Brunno Lopez

A LUZ

Nunca é bom ficar longe do bom e velho rock progressivo. Do moderno então, nem se fala. Pra não errar, o segredo é sempre escolher algo que venha da Suécia, pois a satisfação é garantida.

O Seventh Wonder já anunciou um trabalho inédito para o verão e  o aperitivo para tal acontecimento veio afugentando escuridões. “The Light” é deliciosa pois carrega as linhas de prog metal com as melodias viciantes do Hard Rock.

Parece que as opções de 2022 estão ficando cada vez melhores. 

AOR e PROG, de uma só vez.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana