Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 144

25  de abril de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

CHUVA PÚRPURA

No dia 21 de abril da semana passada completamos 6 anos com um dos maiores vazios que temos na música. O gênio máximo chamado Prince, infelizmente fez sua passagem, mas deixou pro mundo muita influência, amor, sedução, inovação e criatividade.

Já cansei de falar que do For You de 1978 (seu disco de estreia) até o Diamonds and Pearls de 1991, todos os discos do Prince são impecáveis. Alguns melhores que outros, mas é muito difícil superar toda a emoção, inovação, energia e sentimento do Purple Rain de 1984.

Esse é um disco que pairou pela minha vida desde que eu era criança. Em casa, Purple Rain era música que tocava no repeat. Depois veio a trilha do Batman e minha admiração pelo Prince só aumentou. Mas eu era muito criança pra entender tudo que ele fez.

Hoje, com 40 anos, entendo um pouco mais, mas preciso de outra vida pra ouvir com calma e apreciar cada detalhe de todas as músicas que ele fez nos mais de 30 discos.

O Purple Rain voltou pra minha vida há alguns anos. Ele voltou com tudo pra nunca mais sair. Se me perguntassem qual seria o último disco que eu gostaria de ouvir antes de morrer, seria o Purple Rain. 

Tem Rock, Blues, Funk, Soul, música eletrônica e muito mais. É um disco com tudo, mas que conversa entre si. As letras, provocativas ou pessoais do Prince, só melhoram esse disco nota 10+.

Esse tem que ouvir sempre. Prince, obrigado por ter existido.

Ouça aqui


Por Vinícius Cabral

PAVEMENTMANIA

Em muitos sentidos, 2022 é um ano excelente para o Pavement. Relançamento luxuoso de seu último disco, hype na internet contemporânea com um Lado B outrora esquecido e, finalmente, o anúncio do relançamento especial de seu primeiro disco, Slanted and Enchanted, que completa 30 anos neste mês de abril.

Não é preciso que eu volte a descrever este álbum. Já falei da banda milhares de vezes, já destrinchei sua carreira em um Raio X, e tudo. Mas, quanto mais o tempo passa, mais o impacto da banda fica evidente, então nunca é demais chamar atenção para sua obra. Este ano tivemos até um artigo da Pitchfork, argumentando muito convincentemente que os caras da Califórnia seriam os Beatles de sua geração. Fez muito sentido, e eu endosso totalmente a tese (na verdade é um artigo contando a história do Terror Twilight, mas ele começa com essa reflexão, então tá valendo). 

Este hype, diga-se, eu antecipei. Não porque sou vidente, mas porque percebi uma garotada de 17/18 anos exaltando Pavement como uma das bandas mais importantes da vida deles. Isso, inclusive, foi o que me fez voltar à banda, e a estudar esse legado – coisa que, pelo visto, virou realmente uma tendência.

Sobre o primeiro disco da banda, se a comparação com os Beatles faz algum sentido, ele seria uma espécie de ponta de lança da “pavementmania”, ainda baseado em um som mais cru e totalmente calcado na essência do “novo rock” que a banda californiana buscava- um indie rasgado, desconstruidor dos principais clichês do rock tradicional, mas ainda assim, profundamente envolvente.

É sempre uma boa hora para se ouvir Pavement.

Aproveitem e ouçam godofredo – nós não existiríamos se não fossem esses malucos.

Ouça Slanted and Enchanted aqui 


Por Márcio Viana

ATEMPORAL

É impossível falar sobre 1990 sem pensar no impacto que a chegada da MTV ao Brasil teve para a forma como a música era consumida e apreciada, já que a partir daquele momento – ainda que houvesse uma tímida veiculação de clipes em outras emissoras – as canções passaram a ser visuais. Para se ter uma ideia, o que era um evento – o lançamento de um videoclipe no Fantástico – passou a ser corriqueiro, e até havia as premières na MTV, mas depois disso o clipe passava a fazer parte da programação rotineira.

Todo este preâmbulo para dizer que o Living Colour, especialmente em seu segundo álbum, Time’s Up, foi um grande beneficiado em terras nacionais por conta da chegada da emissora tocada por aqui sob a batuta – para o bem e para o mal – do Grupo Abril.

Calcule o impacto da chegada de um clipe vaticinando a sentença de que Elvis Presley, o intitulado Rei do Rock, a despeito das teorias da conspiração (que saudade da época em que elas causavam mais alegria do que tristeza), estava realmente morto. E mais: quem ajudava a sentenciar este fato era ninguém menos do que seu contemporâneo Little Richard, este sim bem vivo à época. Cabe ressaltar que a música não se tratava de um vilipêndio à memória de Elvis, apenas um convite a aceitar os fatos.

Pois bem: o Living Colour, com a ajuda da MTV e de um disco que ia além do terreno já conquistado com Vivid, seu disco de estreia, entregou bem mais do que se esperava da banda, que – impossível negar – era alvo dos estereótipos: como assim uma banda formada por quatro homens pretos ousa tocar rock pesado? Tanto que a banda foi prontamente encaixada num estilo que na real nunca existiu: funk metal. A concessão que a indústria da música fazia aos homens da etnia que – vamos combinar – criou o rock lá atrás era essa: se vai tocar som pesado, é porque tá misturando com outro estilo, pra não sair da caixinha que ela preparou para eles.

É claro que a banda não deixaria de tocar neste tema, e é aí que temos Type, o primeiro single, que elenca todas essas imposições do sistema para no refrão nos presentear com a descrição precisa:

We are the children of concrete and steel

This is the place where the truth is concealed

This is the time when the lie is revealed

Everything is possible, but nothing is real 

Os temas sociais dominam o disco, e temos preciosidades como History Lesson e a apocalíptica (e atual) Information Overload. Além de temas mais introspectivos e reflexivos, como Solace of You (cuja introdução da guitarra de Vernon Reid foi comparada à de Alagados dos Paralamas do Sucesso) ou Love Rears Its Ugly Head, em que Corey Glover demonstra o porquê de ser considerado um dos grandes cantores de sua geração.

Tudo isso e a técnica apurada de Glover, Reid, o baixista Muzz Skillings (que depois deixaria o grupo, dando lugar ao igualmente fenomenal Doug Wimbish) e o baterista William Calhoun (que além de descer o braço na bateria, ainda é o autor da devastadora Pride) fazem de Time’s Up um álbum indispensável, uma crônica bem escrita do mundo à época em que foi criado, mas que serve bem para nossos tempos, já que o mundo continua sendo um lugar cruel. Ainda bem que existe a arte.

Ouça Time’s Up


Por Brunno Lopez

QUANDO O COVER IMPULSIONA O DISCO


Uma das bandas mais talentosas dos anos 90 atendia pelo curioso nome de Sixpence None The Richer. Talvez nem todos soubessem exatamente que o grupo se chamava assim, mas certamente não tinham a menor vergonha de chamá-los de “os caras que tocavam Kiss Me”. O estigma de quase one hit wonder quase colou neles, mas a verdade é que Leigh Nash e companhia tinham talento de sobra pra criar mais canções tão impactantes quanto o single mundial que os projetou.

Isso ficou ainda mais notável em Divine Discontent, lançado em 2002 e que mostrava os integrantes mais maduros e revigorados. Com um setlist poderoso, eles já tinham material suficiente pra emplacarem um álbum impossível de ser ignorado. Porém, por sugestão da gravadora, um cover de Crowded House foi incluído nos últimos segundos da gravação e “Don’t Dream It’s Over” acabou fazendo um grande barulho nas rádios da época. Em 2003, a versão entrou na trilha sonora do seriado ‘’Smallville’’.

Entretanto, é válido dar o devido crédito aos outros grandes singles desse material. “Breathe Your Name”, por exemplo, é uma das músicas mais incríveis de toda a história do grupo, com um clipe curioso e irresistível, que nos transporta para aquela atmosfera tão apaixonante do início dos anos 2000.
“Melody Of You” é aquele tipo de canção que nos dá vontade de visitar anjos pessoalmente.

Enfim, um clássico adorável que tem seu lugar bem quentinho na história do Sixpence e de todos os seus fãs e, por que não, do Crowded House também.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana