Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 143

18  de abril de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Por Bruno Leo Ribeiro

INVEJA DE NINGUÉM

Saber a hora certa de parar a banda é pra poucos. Saber o que fazer quando existe uma pressão por clickbait pra um retorno da banda depois da morte de um integrante é pra poucos também. Seguir a vida e fazer um som totalmente diferente da banda que te consagrou é raro. Estou falando do Rush e do Alex Lifeson.

O Alex, que já tinha feito projetos solo com seu nome nos anos 90 (disco chamado Victor, que é bem interessante), volta depois do fim do Rush com um novo projeto, mas é uma banda e não um projeto solo.

A banda se chama Envy of None, com Alfio Annibalini na guitarra, teclados e programação, Andy Curran no baixo, a excelente vocalista Maiah Wynne e o Alex Lifeson na guitarra solo. Eles acabaram de lançar o seu primeiro disco. A banda faz um Indie / Grunge com aquele tempero de riffs sujos e harmonias que só o Alex sabe fazer. 

Não dei play esperando nada parecido com o Rush e isso foi ótimo. O legado do Rush sempre vai existir e temos que parar com essa mania de querer coisa nova de bandas que já se resolveram.

O Alex, mostra que podemos seguir nosso caminho, com muito respeito ao passado, mas fazendo coisas novas ainda em muito bom nível. Eu adorei o novo disco do Envy of None. Quero que ele faça mais música. Quero ver ele feliz e curtindo o seu novo processo. Se o Alex tá feliz, eu tô feliz.

Ouça aqui o Envy of None


Por Vinícius Cabral

ALDOUS, NO PLURAL

Aldous Harding tem múltiplas vozes. Do grave à lá Kim Gordon de Fever, aos agudos quase caricatos de Lawn, aos falsetes de Joanna Newsom, como em She’ll Be Coming Round The Mountain, aos reflexos stereolabianos de Tick Tock, ou até mesmo às esquisitices fantásticas de Passion Babe – a cantora-compositora neozelandesa parece ser muitas em uma só.

O maravilhoso single de Lawn deixa bem clara a amplitude não só técnica, mas estética da compositora: sua voz aguda, tornada estridente de forma orgânica, sem uso aparente de auto tune, é dobrada por um vocal masculino. A música evolui em uma levada que nos remete imediatamente às experiências de Laetitia Sadier e Tim Gane à frente do Stereolab, mas a canção se afirma como uma criação muito particular de Harding, em um despojamento lírico bastante contemporâneo e em um conjunto onde as referências somem, ou se perdem, no panorama geral de uma obra universal e particular. 

Universal porque, como temos visto em outros álbuns importantes de 2022, esbarra, aqui e ali, em diversas referências e influências bastante claras. She’ll Be Coming Round The Mountain, por exemplo, é Joanna Newsom, escarrada e cuspida. Fever parece ser uma canção-irmã de Simulation Swarm, do Big Thief, e por aí vai. Particular, porque não dá pra dizer que essas referências são meramente acidentais. Ainda que sejam, e ainda que se aproximem muito das inspirações (como é no caso dos maneirismos vocais que gritam Joanna Newsom), no conjunto, o disco traz peculiaridades corajosas que fazem parte do próprio repertório – até aqui um pouco mal sintetizado – da neozelandesa. 

Em álbuns anteriores Harding parecia se perder na multiplicidade que lhe é característica, variando demais entre estilos e influências, sem uma “cola” evidente. Esta cola aqui parece grudar tudo – e nos grudar – em um estilo próprio, despojado e bastante moderno. Harding é uma cantora-compositora de habilidades raras, e Warm Chris é seu melhor álbum até aqui. Como se não bastasse, é certamente um dos melhores álbuns do ano. 

Ouça Warm Chris aqui


Por Márcio Viana

AMOR QUE NÃO SE MEDE

Passadas duas semanas do lançamento de Unlimited Love, muito se falou e muito se falará sobre o álbum novo do velho Red Hot Chili Peppers, com o retorno de John Frusciante e Rick Rubin ao processo de confecção de discos da banda. A bem da verdade, é exatamente o que parece: o quarteto e o produtor retomam o negócio de onde pararam: Unlimited Love é parente próximo de Stadium Arcadium, última vez em que os cinco estiveram reunidos em um estúdio (Rubin ainda produziria I’m with you, com Josh Klinghoffer estreando como titular das guitarras, e a banda seguiria seu caminho com produção de Danger Mouse em The Gettaway).

Levando em conta que Stadium Arcadium é um bom disco, não é nenhum demérito que o novo álbum soe como tal. Além disso, há que se observar que trata-se da retomada de um estilo de composição muito familiar ao que a banda praticava, cortesia do dono das seis cordas, em sua terceira passagem pelo grupo.

O que talvez possa ser um “pecado”, seja mais ou menos o mesmo cometido em Stadium Arcadium: o exagero no número de faixas. As 17 canções bem poderiam ser 10. Mesmo assim, está tudo bem, principalmente porque a banda entrega boa diversão ao longo de mais de uma hora de duração. Para quem pode achar frustrante (com o perdão do trocadilho) a participação um tanto discreta do guitarrista, John Frusciante avisou recentemente em entrevistas que guardou o melhor para o próximo disco.

O entrosamento dos músicos está afiado. É notável isso em momentos como The Great Apes, na faixa de trabalho Black Summer, em Veronica (que se aproxima um pouco do caminho trilhado em The Gettaway), em Let ‘Em Cry e na funkeada (pra não perder o costume) One Way Traffic.

Na conta final, o saldo é positivo, e isso já repercute de alguma forma, já que o álbum figura como o disco de rock mais vendido do ano até o momento.

Ouça Unlimited Love


Por Brunno Lopez

O TREM ESTÁ DE VOLTA NOS TRILHOS

Logo nos primeiros segundos do recente single “Running Back (Trying To Talk To You)” já é possível perceber que o mood cadenciado favorito de qualquer comédia romântica dos anos 2000 está mais do que vivo. O Train tem aquela assinatura de banda que fala bem sobre sentimentos e relações, trazendo com muita elegância em suas letras vários elementos cotidianos que aproximam inevitavelmente quem está ouvindo.

O timbre de Pat Monahan continua inconfundível, deslizando sobre arranjos envolventes que fariam Marvin Gaye ficar orgulhoso. Claro, não se trata de soul, mas os californianos beberam nessa fonte com a sede de quem caminhou por um deserto interminável durante a pandemia. 

A canção é bem diferente da track que dá nome ao vindouro disco que sairá no dia 20 de maio. “AM Gold” já se parece mais com produções no estilo “Drive By” e mostra que o álbum terá várias atmosfera – ou seriam estações?

Fato é que todos já estão esperando na plataforma, prontos pra embarcarem nesse locomotiva de hits do dia a dia.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana