Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 14

28  de Outubro  de 2019


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter dessa semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

CINQUENTA E UM, CINQUENTA.
Já vou começar o meu texto com uma polêmica, mas não desistam de mim. Eu prefiro o Van Halen com o Sammy Hagar do que com o David Lee Roth. “Ahhh! Mas Bruno Leo Ribeiro! Você é louco! Os 3 primeiros discos do Van Halen são os melhores e coisa e tal e isso e aquilo!”. Sim eu concordo com tudo que você falar sobre o começo do Van Halen, mas eu não to dizendo com o David Lee Roth é ruim, eu to falando que eu me emociono bem mais com a fase do Sammy Hagar nos vocais do que com o Lee Roth. É isso. Não precisa desgostar de um pra gostar do outro. São apenas fases diferentes. 

Então pensando nisso, andei pesquisando sobre um episódio que vai pro ar em breve falando sobre algumas das guitarras mais famosas do mundo, e andei ouvindo um pouco mais de Van Halen. E quando eu penso, “Ah, vou ouvir Van Halen”, eu sempre começo por esse disco.

O 5150, é um disco de 1986 e tem as músicas mais grudentas e “pop” da banda. A baladinha “Why Can’t This Be Love”, se encaixa muito bem na categoria Para Ouvir e Amar. A música “Dreams” é daquelas que anima até velório e a música de abertura “Good Enough” é bem melhor do que o suficiente. 

É um belíssimo disco da estreia do Sammy nos vocais depois da saída de Lee Roth. É um metal farofa, meio pop rock que anima qualquer dia. Um Van Halen mais acessível e com músicas mais simples e harmonias e melodias mais bonitas. Afinal, você pode preferir as músicas da fase Lee Roth, mas o Hagar, canta bem mais.

Ouça o disco aqui

Vinícius Cabral

O MELHOR ÁLBUM DA DÉCADA
O que define um clássico? Não importa por onde comecemos a responder a pergunta, o bom senso nos diz que, quase sempre, certo distanciamento temporal é importante. Álbuns que marcam uma época, que representam bem um período de tempo ou que, de tão inovadores e fora da curva, antecipam tendências e permanecem relevantes décadas a fio. O que me leva então a trazer um disco tão recente a esta nossa seção de clássicos?

Bom, eu acredito, de verdade, em clássicos instantâneos. Álbuns que já nascem à frente do tempo e, paradoxalmente, estão tão enraizados no tempo vivido que, instantaneamente, passam a virar verdadeiras referências. É o caso, sem a menor dúvida, de Blonde. Com pouco mais de 3 anos de seu lançamento, o disco foi eleito recentemente o melhor álbum da década de 2010 pela publicação Pitchfork (título que eu não posso de maneira nenhuma refutar). Mas o que faz de Blonde um clássico?

Não é, certamente, um álbum perfeito (há entre os fãs de Frank Ocean quem prefira fervorosamente o Channel Orange, de 2014). Também não é um álbum propositadamente laborado à exaustão, como a maioria dos clássicos é. Blonde é processual, aberto, experimental. E é por este caminho que ele define tão bem Nossos tempos.

Na canção de abertura, Nikes, Frank nos presenteia com uma voz etérea e quase pós humana (dele mesmo, modificada, esganada) enquanto canta versos que exaltam ironicamente clichês da exaurida cultura das celebridades ou lembra irmãos negros assassinados pela polícia. Em um segundo movimento, a música se comporta e traz a voz cristalina e angelical de Frank, acompanhada por um violão em versos que anunciam: we gon see the future first (veremos o futuro antes). A partir daí, é só o futuro que Frank Ocean traz. Um crossover inusitado entre guitarras indie e sua tradicional levada soulful, por exemplo, como na faixa seguinte, Ivy, já desmonta qualquer expectativa e anuncia um álbum de experiências que, se não foram inéditas, pelo menos soaram assim.

De tudo o que se ouviu desde então em Determinado “canto” da indústria musical – das melodias Trap autotunadas de artistas como Travis Scott às experiências “maduras” de Beyoncé em Lemonade, passando pelo entusiasmo quase experimental de artistas/bandas atuais “sem gênero” como Lil Uzi Vert, Yung Lean, Lil Peep, Young Thug, Brockhpton, Playboi Carti etc – não há um lugarzinho sequer que não tenha sido tocado pela força das canções deste álbum. Blonde resumiu a década, as crises existenciais millennial e as incertezas políticas e sociais dos tempos que vivemos, que estamos vivendo e que ainda viveremos por algum tempo.

Musicalmente, Frank ignora qualquer barreira de gênero, indo do R&B quase clássico de Pink and Blue às experiências minimalistas, porque não dizer, indie, como em White Ferrari (que interpola nada menos do que Here, There and Everywhere dos Beatles) e Siegfried (que por sua vez interpola Elliot Smith), com naturalidade e destreza ímpares. isso tudo sem contar na livre adaptação de Close to You dos Carpenters, em uma clara demonstração de que a própria noção de utilização do sampler, de tão difundida, precisava ser revista e apropriada de formas mais criativas e dinâmicas. Para quê simplesmente samplear um trecho de uma música se era possível adaptar alguns de seus versos, resguardando a referência e garantindo a emoção e o clima das canções “sampleadas” em um novo contexto?- Beyoncé utilizou exatamente este mesmo recurso no Lemonade, de 2017 –

Faixa a faixa, o que se ouve aqui é puro sentimento, energizado por um senso de novidade único. Mesmo quando sua voz é processada de forma irreconhecível como na já citada Nikes ou na épica Nights, a emoção é transmitida por caminhos tortuosos; pela imperfeição de um homem quase que literalmente processado por filtros digitais na simples e praticamente ingênua intenção de tornar-se mais humano, cuspindo suas aflições em autotune a partir de melodias singelas e inesquecíveis em estruturas de viradas inesperadas, envolvendo em um liquidificador Hip Hop, Soul, Rock Alternativo, e Pop (voltem a Nights, por exemplo).

Blonde é, sim, um clássico. Um Clássico instantâneo, que seguirá recebendo esse rótulo por 10, 20, 30 anos (podem me cobrar!)…

Ouça Blonde, de Frank Ocean


Márcio Viana

O DERRADEIRO VÔO DO CONDOR
Na última semana estive em viagem de férias no Peru, e uma das minhas aventuras pelo país envolveu uma viagem de 10 horas de trem, de Puno a Cusco. Esta viagem incluiu, para além das paisagens naturais, alguns entretenimentos, como a apresentação de um trio local, executando algumas canções do folclore inca, entre outras coisas. Para se ter uma ideia, a apresentação foi de um improviso de Boys Don’t Cry, do The Cure, na passagem de som, até um final em que a bailarina convidada tirou os passageiros para dançar, a começar por este que vos escreve, transformando aquele vagão-restaurante em uma pista de dança para turistas de diversas nacionalidades. Devo aparecer no Instagram de alguém em alguma parte do mundo. Nunca saberemos (ou saberemos).

Fato é que no repertório do trio não poderia faltar a tradicional canção peruana El Condor Pasa, e minhas lembranças foram transportadas diretamente para o quinto e último álbum de Simon & Garfunkel, Bridge Over Troubled Water, que contém uma versão letrada da canção, com o subtítulo If i could.

Por esta época, Garfunkel havia encontrado no cinema uma forma de aplacar seu sentimento de inquietação, o que deixava Simon sozinho na tarefa de pensar o álbum (sendo que sempre foi ele o principal compositor).

Enquanto isso, Art Garfunkel estava envolvido nas gravações do filme Catch 22.

Isso não impediu Garfunkel de, ao voltar às gravações do álbum, realizar o trabalho magistral nos vocais principais da faixa-título, missão que Paul Simon até pensou em cumprir sozinho, mas se rendeu ao talento e coragem do companheiro, que ainda sugeriu a inclusão de mais um verso.

O álbum, porém, não se resume à perfeição da faixa principal, indo além do estagnado estilo folk, incluindo elementos de reggae, soul music, etc. Há nele The Boxer, com o grande dueto de vozes que os caracterizou, minha música preferida do disco, e The Only Living Boy In New York, a preferida de Simon, por sua vez.

Eu falei em influências de soul music, né? Ouça o arranjo de metais em Keep The Costumer Satisfied e tente não curtir.

A dupla acabou se separando após o lançamento do disco, mas reatou a amizade em meados dos anos 1970, chegando a se reunir para uma apresentação no Central Park em 1981, o que gerou um álbum duplo ao vivo lançado no ano seguinte, outro clássico para ser lembrado num futuro texto.

Ouça o álbum Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkel 

Brunno Lopez

ANGÉLICA IA DE TAXI. AQUI, VAMOS DE TREM
2012 era o ano do fim do mundo mas longe de acabar, o que tivemos aqui foi o início de uma locomotiva de hits do Train. O grupo californiano já tinha conquistado meu coração – e o de muitas outras pessoas around the world –  há uns anos atrás com o hit “Drops of Jupiter” mas foi com o California 37 que a banda colocou a carreira nos trilhos e o nome da banda na estação (de rádio).

Assim que “Drive By” saiu, a identificação foi instantânea. E pelo visto não só minha. A canção conseguiu se tornar o maior sucesso dos californianos e alcançou a 13ª posição da Bilboard.

Porém, não era apenas esse excelente single que o álbum trazia na bagagem: “50 Ways To Say Goodbye” traz um tema viciante e potencialmente grudento, fazendo todo mundo desejar ser um mariachi.

Quem conhece um pouco da banda sabe que eles adoram atuar em seus clipes, principalmente o vocalista Pat Monhan. Para esta música, duas versões foram lançadas: a oficial traz Pat contracenando com o clássico ator David Hasselhoff, popular na série Baywatch. A outra é uma divertidíssima ação de divulgação, com mariachis entrando em cafés e tocando a canção.

Antes que os vagões cheguem ao final, o último destaque é um mergulho delicioso na faixa “Mermaid”. Num clima mais havaiano com groove I-R-R-E-S-I-S-T-Í-V-E-L, somos apresentados outra vez ao poder da banda em criar hits. E dessa vez, não apenas nas baladas românticas. As três sugestões aqui tem uma atmosfera mais animada e dançante, diferentes dos ritmos favoritos e consagrados deles.

Depois desse itinerário, não resta outra opção a não ser adquirir seus tickets to ride no California 37 do Train. Garanto que será um passeio mais do que agradável.

Ouça o disco California 37 aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana