Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 12

14 de Outubro  de 2019


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças, em recortes editoriais livres. 


LANÇAMENTOS

Bruno Leo Ribeiro

O MUNDO AZUL
Se tem um estilo musical que me assusta um pouco é o Jazz. Muitas vezes fico sem saber por onde começar, qual artista é mais importante ou de onde surgiu. Quando se fala em Rock, Blues e Metal, tô dentro da minha zona de conforto pra saber indicar ou saber o que falar e saber o que ouvir. É onde eu aprendi a gostar de música. Mas e o Jazz

Bem, o Jazz foi vindo aos poucos, com as conexões com o Blues, com as trilhas de filme, com as recomendações dos Streamings. E em falar em recomendação do Spotify, na minha lista de Novos Lançamentos para você, apareceu esse disco do incrível John Coltrane chamado Blue World. 

Esse disco na real é um compilado de gravações do seu quarteto em 1964 para uma trilha de filme (viu como os filmes ajudam?), juntadas e lançadas agora em Setembro. É aquele disco que você coloca pra tocar, fecha os olhos e se imagina nos anos 60, tomando um whiskey e fumando um charuto usando uma roupa bem bonita. Vale a pena ouvir e ver as diferenças entre os diferentes takes de algumas músicas e tentar decidir qual é a versão que te emociona mais. Porque, na real, o Jazz é isso. Você apenas curte. Quem se importa por onde começar? 🙂

Ouça o disco aqui

Vinícius Cabral

ANGEL OLSEN- ALL MIRRORS

Com uma recepção estratosférica e estridente (quase exagerada), os singles que pavimentaram o caminho para este álbum acabaram criando expectativas muito grandes. É raro, nesses casos, que o produto consiga ao menos alcançar as expectativas. Mas ele as superou.

All Mirrors é um daqueles álbuns que qualquer fã de música, em especial de pop e rock alternativo, gosta de ficar tentando entender “de onde veio”. Com excelentes álbuns anteriores mais alinhados a um alt-folk, Angel acabou consolidando influência fortíssima nessa atual tendência de cantoras/compositoras indie (notadamente após seu disco de estreia, Burn Your Fire For No Witness). Apesar de seu impacto na “cena”, Angel parecia estar confortável mas sonoridades exploradas, mas desta vez surpreendeu, já nos singles, com experiências inesperadas. A faixa Lark resume a bronca; adornada com um luxuoso arranjo de cordas, a música não tem estrutura imediatamente inteligível. Verso 1 – Refrao – Verso 2 (mais grudento que o refrão) – Ponte – Outra Ponte. Como em um salto no escuro, a canção vai surpreendendo a cada virada, até mergulhar em uma “parede sonora” digna de Phil Spector, com guitarras que também se enterram em uma “massa” sonora que aponta, de uma só vez, para My bloody Valentine, Serge Gainsbourg e Pulp em sua épica This is Hardcore.

Nesse ritmo inusitado, o álbum vai intercalando canções com referências mais claras – do “quase” Synth Pop orquestrado da faixa título ao Big Band Pop estilo The Ronettes da faixa de encerramento, Chance –  com mergulhos em sonoridades praticamente abandonadas – como na gainsbourguesca New Love Cassette ou na melancólica Spring, que por sua vez acena para atos Pop de bandas dos anos 70, como The Carpenters. Importante lembrar do refrão sublime de Too Easy, da enérgica What it Is, da dramática e quase Hollywoodiana Impasse e da magnífica Summer. 

Uma viagem por tantos estilos, gêneros e décadas só pode estar apontando para um lugar novo (se lembra tanta coisa, acaba não lembrando nada, não é?). Mesmo que se possa evocar outras artistas, inclusive algumas das que despontam como importantes destaques de 2019 (como Weyes Blood e Lana Del Rey), Angel Olsen, mesmo quando erra na mão em orquestrações pesadas demais ou em baladas muito arrastadas na última “perna” do álbum, parece em alguns momentos romper um maior número de barreiras … ao mesmo tempo.

Não há uma caixinha específica para encaixar a deliciosa experiência de All Mirrors, e isso apenas reforça uma das tendências mais incríveis deste final de década: a renovação de linguagens do Pop e do Rock há muito tempo adormecidas, ou até mesmo, desgastadas. 

Ouça aqui

Márcio Viana

A TRAVESSIA QUE NÃO SE LIMITA
Ouvir um álbum clássico é um exercício de desconstrução. Em grande parte das vezes, sequer éramos nascidos quando aquelas canções foram unidas num conjunto e lançadas num suporte, com uma arte de capa e um título (que nem sempre está explicitado na tal capa). Em um destes discos, por exemplo, quatro distintos cavalheiros atravessam uma rua. Um deles está descalço. A rua em questão chama-se Abbey Road. O álbum ganha o nome da rua. O estúdio onde o registro foi feito passa a ter o mesmo nome da rua e do álbum. Aquele quarteirão passa a ser ponto turístico e possivelmente o trecho mais descompromissadamente atravessado da história.

Abbey Road completou 50 anos em 2019. Aquele exercício de desconstrução mencionado no início deste texto ganha maior instrumentalização, na medida em que a edição comemorativa traz sobras de estúdio, versões alternativas e até gravações inéditas. Algumas delas já conhecíamos da série Anthology, lançada no fim da década de 1990.

E é assim que os Beatles ganham aqui um pouco daquele sentimento de seres humanos falíveis: John desafina e se esgoela em Come Together, Paul gargalha em Maxwell Silver Hammer, George cantarola a linha de baixo na demo de Something, Ringo faz seus gracejos e testa viradas alternativas em diversos momentos. A banda, muito próxima de anunciar seu final, se diverte, enfim. Para além das brincadeiras e imperfeições, há Come And Get It, não aproveitada, e posteriormente repassada ao Badfinger, banda apadrinhada pelos Beatles.

O álbum tal qual o conhecemos continua lá, nesta edição deluxe com uma nova mixagem, que não macula o trabalho de George Martin, que voltou a trabalhar com o grupo, com a condição de que fosse ele o responsável pelos arranjos. Antes disso, o grupo havia tentado produzir um álbum chamado Get Back, cujo projeto foi abandonado, até ser recuperado e entregue a Phil Spector, que com remendos e intervenções duvidosas, transformou-o em Let It Be, o derradeiro lançamento do grupo. Mas isso é assunto para uma próxima newsletter. Por hora, curta a travessia de 50 anos.

Ouça aqui

Brunno Lopez

DE BELAS TRISTEZAS O FONE DE OUVIDO ESTÁ CHEIO

Várias obras de arte foram lançadas no intervalo de nossas newsletters. Como algumas delas merecem uma análise mais aprofundada, logo, não quis apenas citar aqui pois pretendo falar separadamente, com a atenção que cada uma pede.

Para quem aprecia beleza com cadência tempestuosa, logo no título do disco recente do City and Colour, o sentimento já chega enchendo o coração de aflição e os olhos de lágrimas: A Pill For Loneliness.

Dallas Green continua cirúrgico na sua forma de escrever canções com o poder de nos fazer parar e apreciar. Para este trabalho, ele trouxe o produtor Jacquire King, conhecido por colecionar Grammy’s e também por parcerias com Kings Of Leon e Norah Jones.

Existem tantas atmosferas espalhadas por este disco que fica até injusto destacar um ou outra música em especial. Sugiro apenas que você tome essa Pílula de Solidão e espere os efeitos imediatos de mais esse incrível álbum fresquinho, melancólico e, claro, tristemente irresistível.

Ouça aqui o Pill of Loneliness
 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana