11 de outubro de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
MENTE SUJA
Na sexta-feira da semana passada o Dirty Mind, 3º disco do Prince, completou 41 anos. Na minha humilde opinião, esse é o disco que o Prince vira o Prince que a gente conhece. Dali pra frente tivemos o Controversy, 1999, Purple Rain e por aí vai. Foi uma sequência nos anos 80 que parece até de mentira.
Quando você inova e sai na frente, muita gente começa a copiar. É o diferencia os seguidores de trends e os que criam os trends. O Prince era esse criador. Inovador, curioso, inquieto, prolífico e acima de tudo, magnífico.
Já falamos muito dele no episódio do Lendas da Música – Prince, mas queria deixar aqui a dica desse clássico que é um dos melhores trabalhos da carreira toda dele e pouco se fala. É um disco que tem batidas eletrônicas, R&B, Pop, Rock e muita sensualidade.
O Dirty Mind é provocativo, sexy e perigoso. Do jeito que a gente gosta. Tem belos grooves pra gente dançar, tem música pra sedução, tem música pra falar “EITA!” e tem música pra se divertir. É uma obra completa. Foi o nascimento do Prince que a gente se lembra. Um gênio máximo, monstro sagrado, que veio pra mudar o mundo e mudar a nossa percepção sobre a música. Ele foi um gigante cheio de ideias provocativas. Tinha uma mente bem sapeca. 🙂
Por Vinícius Cabral
A CELEBRAÇÃO DO AUTO-ENGANO (E UMA OBRA-PRIMA NOVENTISTA)
Uma das grandes anedotas do jornalismo musical brasileiro que tive o privilégio de presenciar aconteceu em 1996, nas páginas da Showbizz. Um empolgadíssimo Zeca Camargo, então colunista da revista, mandou um fax para o editor Sérgio Martins, exaltando a importância de Odelay, do Beck. Sérgio publicou o fax na revista Showbizz #134, de setembro de 1996, no lugar do review. A ousadia conseguiu demonstrar para todos os leitores, inclusive para um fascinado Vinicius Cabral, se tratar de um disco que, no mínimo, deveríamos ouvir com atenção. Ps- esta edição da revista está digitalizada aqui. Agradeçam o Márcio Viana!!
Mais de 20 anos depois, a empolgação com o disco segue viva. Por mais que a ideia de crossover entre gêneros até pareça meio diluída diante de tanta confusão dos dias atuais, Odelay foi pioneiro em misturar Folk, Country, Hip Hop e Bossa Nova, tudo embalado por um trabalho fenomenal de samplers (com o dedo de Mario Caldato e dos Dust Brothers), em uma espécie de continuidade do legado inventivo de Paul’s Boutique, dos Beastie Boys. Isso tudo, claro, aterrissando em uma cena já altamente viciada por alguns maneirismos do rock alternativo (que invadiu o mainstream em um processo que se desdobrou em desgaste criativo).
Odelay foi, sim, um escândalo. E o Zeca de 1996 entendeu tudo: “Melhor disco do ano”, “…difícil não resistir à tentação de não evocar Sgt. Peppers”, por aí vai. Sua empolgação à época pareceu tão legítima quanto a empolgação atual com o último álbum da Lorde, mas com uma enorme diferença: em 1996 Zeca tinha bons motivos para estar empolgado. Em 2021, ele está apenas iludido com uma peça irrelevante do mainstream, parecendo desejar imensamente que ela seja melhor do que de fato é. Não deixa de ser emblemática a triste trajetória: de acompanhar de camarote (e absorver) grandes inovações musicais, a celebrar como se fosse fora da curva um disco que é apenas medíocre. Resume bem 2021 essa história – uma espécie de celebração do auto-engano.
Para não me alongar, deixo aqui o texto do fax original enviado para o Sérgio, que o editor teve a feliz e ousada ideia de publicar na revista. No texto, informal e espontâneo, Zeca chega a fazer uma lista de 10 razões para afirmar que o Odelay é uma obra-prima. Concordo com todas.
Por Márcio Viana
CRIATURINHAS DO POP
Donos de uma obra bastante criativa do início ao fim, mesmo que este fim não tenha sido nada pacífico, o Talking Heads, ainda que discretamente, é uma das bandas mais influentes do período em que esteve em atividade. Dá pra citar os álbuns Fear of Music, Remain in Light ou 77 como responsáveis pelo surgimento de muitas bandas em evidência nos anos seguintes.
Mas dessa vez quero falar do disco pelo qual conheci os Talking Heads, o pop Little Creatures, uma assumida incursão da banda por uma sonoridade mais simplificada. Lançado em 1985, o álbum inicia com And She Was e já mostra a que veio.
O grande hit do disco é The Lady don’t Mind, com sua introdução inconfundível e seu coral pee-pee. Mas há ainda Road to Nowhere, com um pequeno flerte com a World Music a qual David Byrne se dedicaria em obras futuras, e letra com um quê de existencialista.
Talvez seja até injusto comparar este disco de canções simples com os álbuns mais “cabeça” dos Cabeças Falantes. É um disco pop, apenas. E quem é que não precisa de um disco pop às vezes?
Por Brunno Lopez
NO TOPO
O oitavo álbum do Cheap Trick surgiu num momento em que a banda já tinha um status maior do que no início de sua trajetória. Se antes eles apenas abriam shows para Kiss, The Kinks e Lou Reed, após o At Budokan lançado no início de 1979 as coisas mudaram de patamar e catapultaram o grupo.
E ainda que grande parte da crítica tenha certo prazer em apontar o disco como uma tentativa preguiçosa da banda de soar pop para aumentar ainda mais os holofotes na direção de seu som, existem grandes pérolas no então intitulado Standing On The Edge, de 1985.
A maior delas é sem dúvida uma das maiores obras de arte que eles puderam produzir em sua duradoura carreira compondo e inspirando outros milhares de grupos: “Tonight It’s You”. Um hit máximo que explora diferentes transições até explodir num refrão irresistível.
É muito difícil não se deixar encantar por Robin Zander cantando:
“All I want is a place in your heart to fall into
All I need is someone to love
And tonight it’s you, tonight it’s you”
Mesmo com o abuso de teclados e outros elementos nem tão rock n’ roll quanto a essência do Cheap Trick, vale muito a pena se deixar levar por mais esse material indispensável de uma das bandas mais importantes da história do rock.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana