Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 113

20 de setembro  de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro

A LISTA DO BlACK ALBUM

Geralmente uma lista de desafetos é a lista de pessoas indesejadas, mas para o Metallica, a Blacklist é uma seleção do melhor que a gente poderia imaginar. Goste ou não do Metallica, eles são a maior banda de metal do mundo de todos os tempos. Não só pelo maior número de fãs em shows, ou vendas, mas também por ser uma banda que evoluiu, que é progressista.

Talvez o pensamento cultural do Lars Ulrich, sendo um dinamarques, ajude num pensamento mais pra frente. Já vi várias entrevistas que a banda favorita do Lars era Oasis ali no meio dos anos 90. Pra um metaleiro “true” isso seria um pecado.

Pra comemorar os 30 anos do Black Album, a banda poderia apenas lançar um box (o que foi o caso) com a versão remasterizada com um livro especial e etc (sim eles também fizeram tudo isso), mas eles foram muito além do que a gente poderia querer. A banda fez uma celebração mais do que sensacional, foi uma jogada de mercado genial e o resultado ficou incrível. 

Eles convidaram mais de 50 artistas pra gravar versões das 12 músicas do Black Album. Mas não foi um tributo comum, como foi o Judas Priest ou Black Sabbath há alguns anos, foram artistas não óbvios. Tem gente do Metal, do Country, do Pop, do Indie, da música eletrônica e muito mais.

Lembra que falei que o Lars tá sempre ligado no que anda rolando? Pois então. 

Eles conseguiram que artistas como St. Vincent, Elton John, Miley Cyrus, Mac DeMarco, Rina Sawayama, José Madero, Weezer, J Balvin, Jon Pardi, Phoebe Bridges, Chris Stapleton, Imelda Mary, Izïa e muito mais, gravassem versões incríveis das músicos do disco pra essa verdadeira celebração de como a música está hoje em dia.

É capaz que alguns desses artistas nem conheciam o Black Álbum por inteiro, e muitos deles nem eram nascidos. É uma jogada de mestre. Vários dos covers ficaram incríveis e alguns eu até ouso dizer que são quase a versão definitiva.

Um disco que ouvi demais e não aguento mais dar play, conseguiu ser refrescado com a visão dos artistas novos e variados pra gente voltar a amar esses hinos. Eu nunca pensei que iria dar play em pleno 2021 em Nothing Else Matters 12 vezes pra ouvir todas as versões do disco. Acho que não ouvi 12 vezes a original nem nos últimos 20 anos. Só o Metallica e sua incrível capacidade de se adaptar e de ser essa banda progressista pra eu querer ouvir o Black Album de novo em 2021. 

Eu tenho minhas versões favoritas, quais são as suas?

Ouça aqui o The Metallica Blacklist


Por Vinícius Cabral

O FOLK É FREAK?

Emaranhado em uma pesquisa intensa para episódio vindouro deste podcast (vocês entenderão em breve), acabei mergulhando nas profundezas das décadas recentes do indie rock. Termo famigerado, é certo, que temos tentado sempre “corrigir”, resgatando o mais austero e duro rock alternativo. Pois é, indie é mais fácil, né? Mas perdeu o sentido. O termo vinha de “banda independente”, o que, pelo menos a partir dos anos 90, passou a ser sinônimo de selos regionais, shows e festivais altamente alternativos, cultura de registros em gravadores cassete e venda/distribuição de K7s e CDRs caseiros, e por aí vai. 

Essa tradição hoje se profissionalizou e ganhou um belo makeover dos dispositivos e plugins digitais. O que torna boa parte do indie contemporâneo bem acabado demais para sequer poder ser chamado assim. Mas isso é algo bem mais recente. A primeira década do século viu a emergência de uma cacetada de bandas mantendo viva a tradição. Só que, como tem sido muito comum na contemporaneidade, a espontaneidade indie dessas bandas foi classificada de outra forma, o que nos levou à ideia de um outro pseudo-gênero, arrancado das profundezas dos blogs e fóruns da época (entre, mais ou menos, 2002 e 2011): o freak folk. Também chamado às vezes de psychedelic ou psych folk (ou até mesmo alt-folk) o contexto é polêmico e difícil de definir – quem sabe vem um episódio aí, hem?! – mas serve de recorte para dar um zoom in em algumas coisas interessantes. 

Mais superficialmente, os maiores projetos indie da época foram, definitivamente, marcados com a tag do freak folk: Animal Collective, Joanna Newsom, Grizzly Bear, às vezes até Deerhunter e, surpreendentemente, Devendra Banhart e Rodrigo Amarante – isso sem contar no resgate desse “estilo”, perpetrado pelo hype da obscura cantora e compositora inglesa Vashti Bunyan. Muito amplo e genérico né? Claro…mas havia, como era de se esperar, um caldo de bandas realmente lo-fi, do qual Animal Collective eram os representantes mais assíduos e resilientes. Essa outra cena, mais alternativa ainda, ficou “perdida” em selos de Bandcamp como o Folktale Records, e nos trouxe pérolas como a banda Happy Jawbone Family Band, que ilustra o post e merece a indicação da semana, por ser a versão lo-fi mais autêntica de toda essa história: em relação a ser folk e freak, talvez não haja definição melhor do que o que podemos perceber na canção fireflies make out of dust, do disco indicado abaixo. 

O pseudo-gênero também deu luz a alguns projetos tão ruidosos e lo-fi que é até difícil colocar em qualquer outra caixinha, que não seja junto das grandes experiências dos anos 80 e 90 voltadas à captação em fitas. É o caso de No Paws (No Lions), uma banda virtualmente invisível, que segue viva graças ao nosso querido Bandcamp. Há muito a se explorar ainda neste universo, e prometo que o farei com mais tempo e cuidado. Por ora, fica o gostinho do misterioso, polêmico e  – ainda – obscuro freak folk

Ouça hotel double tragedy, de Happy Jawbone Family Band aqui


Por Márcio Viana

FRAMPTON, VIVO E AO VIVO

Em meio a uma pesquisa para um futuro episódio sobre um disco brasileiro, acabei por precisar ouvir algumas referências do tal disco, e foi assim que eu voltei a escutar Peter Frampton.

Talvez este texto pudesse até suscitar o reavivamento de uma discussão a respeito de discos ao vivo serem ou não possíveis de serem considerados clássicos. Bem, se não são, este com certeza é exceção, já que Frampton Comes Alive! trata-se do disco ao vivo mais vendido da história, o que coloca o guitarrista e cantor, ex-integrante do Humble Pie em um destaque nunca mais alcançado.

Basta a gente observar que Show me The Way traz o maior exemplo de uso da talk box, aquela espécie de mangueira mastigável que faz com que o guitarrista “converse” com a guitarra.

Outro destaque, já no set acústico, é Baby, I Love Your Way, baladinha de refrão memorável, regravada nos anos 80 por Debbie Gibson, sucesso na voz de ambos.

Mas há que se destacar mesmo é a versão de Jumpin’ Jack Flash, dos Rolling Stone, numa versão matadora. E o disco se encerra com Do You Feel Like We Do, de mais de 14 minutos de duração (!), o que não é estranho para um disco lançado em 1976, época em que o rock progressivo imperava.

O músico viveu ao longo de sua carreira muitos altos e baixos, vindo a se aposentar em 2019, por conta de uma doença degenerativa que o impede de tocar guitarra. Talvez uma de suas últimas apresentações, memorável, tenha sido quando acompanhou o Soundgarden e outros artistas no tributo a Chris Cornell. Porque ídolo é assim: exerce sua grandeza colaborando com quem ele próprio influenciou.

Uma sequência deste disco, Frampton Comes Alive II, foi lançada em 1995, mas não alcançou o mesmo sucesso do original.

Ouça Frampton Comes Alive!


Por Brunno Lopez

THE PROMISE OF LIFE

Numa sequência de eventos inesperados, este disco se misturou aos dourados álbuns de 2021 e escalou a prateleira dos melhores sem tomar conhecimento de quem já estava por lá. (Na minha humilde opinião, evidentemente.)

E para não dar spoiler do texto final que contempla os trabalhos mais importantes desse ano, me limitarei apenas a dizer que esta banda sueca escreveu um dos singles mais impressionantes de todos os lançamentos que tenho escutado.

“Higher Ground”, do igualmente delicioso The Promise of Life, é o que tem tirado o meu fôlego por completo. Ouçam Reach. Mas ouçam mesmo. É restaurador.

Pode estar no meu top 3?

Talvez.

Pode estar no de vocês?

Seria lindo!

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana