06 de setembro de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
TELAS VIOLENTAS
Nesse inferno quase infinito que estamos vivendo, trabalhando olhando pra uma tela o dia inteiro sem ver as pessoas ao vivo, parece que a violência foi transferida pros dedos. Não damos mais socos e facadas, agora digitamos ofensas.
Nesse sentimento de uma vida presa nas telas do computador e do celular, mais um disco de pandemia foi lançado na sexta 27 de Agosto com esse conceito. O Screen Violence do Chvrches foi um disco que eu estava com um total de ZERO expectativas.
O Chvrches é uma banda que sempre gosto de ouvir. Os 3 primeiros discos da banda são uma delícia de ouvir. O Love is Dead de 2018 é um dos discos que mais gostei naquele ano, mas nunca fui daqueles super fãs da banda. É uma dessas bandas que eu gosto bastante, se tiver show eu vou, mas sou apenas um consumidor sem entrar tanto na história da banda ou dos seus integrantes. Sei que eles são da Escócia, mas mal sei o nome deles (OK, pra esse texto eu fui procurar).
Esse “Power Trio”, faz um Synth Pop de muito bom gosto. Os sintetizadores e a instrumentação e quase orquestração dos arranjos dos sintetizadores do Iain Cook e do Martin Doherty, são inspiradores e nesse disco temos guitarra, baixo reais, além de bateristas contratados pra tocarem e ficar menos sintético o som da banda que é basicamente samples em cima de samples.
Nos vocais, temos a voz super bonitinha da Lauren Mayberry, que tá longe de ser uma grande cantora cheia de técnica, mas que cria as linhas melódicas perfeitas pros clima das músicas.
O disco é enxuto com 42 minutos e é o tempo perfeito. Você escuta e já quer ouvir de novo. Nenhuma música é pulável e ainda tem a participação do Robert Smith do The Cure na música How Not to Drown. Os grandes destaques pra mim são as músicas California, Final Girl e Lullabies.
Ouvi o disco assim que saiu na sexta-feira por horas e no sábado já fui buscar minha cópia do Vinil. Será que eu gostei? Então… meu Top 3 discos do ano foi atualizado.
Por Vinícius Cabral
A FOTOSSÍNTESE DA IRRELEVÂNCIA
Eu não posso dizer que Solar Power, o esperadíssimo disco novo da Lorde, chega a ser ruim. Também não chega a ser bom. Em diversos sentidos, não é nem bom o suficiente para ser exatamente ruim (sim, existe isso). É um disco irrelevante. Inóspito, insosso, pedestre. Um disco de paisagem. Não fede, não cheira, não diz nada. Quando diz, infelizmente é para dividir opiniões, como na escandalosa apropriação da progressão de Freedom!‘ 90, do mestre George Michael na faixa-título. Justiça seja feita, a canção Solar Power não é um quase-plágio apenas de Freedom!‘ 90, mas também de Come Together, do Primal Scream, e de tantas outras músicas. Trata-se de uma progressão bem característica do rock-pop. Erro comum, certo? Não exatamente. Não é só a progressão que Solar Power “toma emprestada” do clássico de George Michael, mas também o clima solar, emancipatório. Toda a vibe da música da Lorde é uma triste emulação de outra música, de outro clima, de outro momento.
E tem a questão do momento. A exaltação solar good vibes do disco todo é praticamente um insulto diante do momento que vivemos. Vá lá que a Nova Zelândia (terra da artista) é um farol civilizatório no meio da barbárie; é governado por mulheres e eliminou o Covid-19 em poucos meses. Mas é uma ilusão. Ao impor sua visão poliana ao resto do mundo, Lorde cospe uma positividade tão tóxica quanto a cópia descarada de um clássico de outros tempos. Tempos mais positivos e otimistas, diga-se.
Além de não haver nada, musicalmente, que chame demais a atenção nesse disco medíocre, há as letras banais, quase infantis, e os arranjos magros e porcos, fruto de uma parceria supervalorizada com o (supervalorizado) Jack Antonoff. O único momento mais revelador, liricamente, está na canção The Man With The Axe, onde a cantora dispara, de uma forma melancólica: I thought I was a genius / But now I’m twenty two. A canção segue com a artista listando as coisas que precisa fazer, agora que tem 22 anos e que não pensa mais (ao que parece) ser um gênio; dentre elas, levar seu “punhado de canções, dolorosas de tocar”. Pois é, Lorde. Dolorosas de ouvir também. Não porque cheguem a ser ruins, como já foi dito. Mas porque são irrelevantes, e porque não faz diferença, para ninguém, em 2021, parar para ouví-las.
No fim das contas, Solar Power me parece ser mais um daqueles exercícios supérfluos, hedonistas e auto-indulgentes de alguns artistas grandes. Lorde pode se dedicar a um disco assim e ainda receber reviews entusiasmados de publicações como NME e The Guardian. Isso sem contar no texto de Zeca Camargo que, no fim das contas, inspirou essa resposta. Em um artigo emocionadíssimo, o ex-crítico musical e VJ da MTV – um cara que surpreende até hoje por ser antenadíssimo e ligado nas vanguardas musicais, pasmem – compara o movimento solar e positivo da cantora (até então tão melancólica e soturna) a uma fotossíntese. A fotossíntese da irrelevância, provavelmente. Aquela que acontece corriqueiramente na nossa frente, diariamente e nem nos damos conta. Pois, no fim do dia, não precisamos dar conta de tudo o que acontece ao redor.
Em um ano terrível para a música, onde a profusão de lançamentos parece estar destruindo nossa capacidade de filtrar o que é bom ou ruim e de mapear e catalogar nossas preferências, talvez seja melhor evitar esse disco: um devaneio alienado e desnecessário.
Ouça Solar Power aqui por sua conta e risco
Por Márcio Viana
FÉRIAS TRABALHADAS
Okupas é uma série da TV argentina escrita e dirigida por Bruno Stagnaro, cuja única temporada de 11 episódios estreou em 2000. A produção reflete a vida de jovens à época da decadência sócio-econômica do país no final dos anos 90.
Em sua trilha, a série contou com sons de artistas renomados da música mundial, como Beatles, Rolling Stones, The Kinks, Luciano Pavarotti & Henri Mancini, Sonic Youth, The Doors entre tantos e tantos outros nomes. Junto a eles, alguns artistas locais como Ratones Paranoicos, Sui Generis e Pescado Rabioso.
21 anos depois, a série chega remasterizada à Netflix, e para celebrar o lançamento e resolver um problema (os direitos autorais dos vários artistas presentes na trilha não puderam ser renovados), Stagnaro pediu a um grande fã da série, o cantor e baixista da banda El Mató a Un Policía Motorizado, Santiago Barrionuevo (conhecido como Santiago Motorizado), que criasse os sons para a trilha.
Assim surgiu o álbum Unas Vacaciones Raras, composto pelo single inédito La Otra Ciudad e regravações de outros sete temas do grupo, como Yoni B e Día de Los Muertos.
Para quem conhece o trabalho do grupo, as regravações não trazem exatamente uma renovação nos arranjos, mas mesmo assim é perceptível um maior brilho na qualidade do som, uma evolução nas melodias e uma sonoridade bem menos lo-fi do que as originais.
Já para quem não conhece, o álbum pode funcionar como um belo cartão de visitas, um convite a explorar a discografia da banda, que se apresentou no Brasil por duas vezes (este que vos escreve compareceu ao show realizado no Sesc Pompeia há cinco anos, e foi fantástico).
Ouça Unas Vacaciones Raras aqui
Por Brunno Lopez
IT’S A MIRACLE, MIRACLE, MIRACLE
Imagine que você está navegando numa embarcação de prog metal e avista um imponente iceberg nessa jornada. Este elemento tão característico em outras narrativas cinematográficas representa aqui, unicamente, o novo trabalho da competente banda norueguesa Leprous.
Em Aphelion, observando a superfície, enxergamos toda a consistência original e cativante da sua musicalidade, com um exagero compreensível de beleza instrumental e composições realmente impactantes.
Mas aí, quando mergulhamos um pouco, nos deparamos com uma quantidade gigantesca de trabalho pesado, toneladas de emoção e uma extensão enorme de criatividade que sustenta todo o monumento do produto final. Esses aspectos são um brilho único à toda a expansão sonora que a banda experimenta desde o seu nascimento.
E ainda que o prog seja sua correnteza mais segura, não soa prepotente afirmar que agora eles fluíram em afluentes mais amplos, levando suas ondas para praias musicais mais distantes. O estilo continua lá, mas agora explorando possibilidades além da zona de conforto, construindo ideias que dão braçadas pelo pop sem perder o fôlego no som desafiador que moldou o grupo.
Neste ponto, estamos diante de um disco que traz faixas mais equilibradas e elegantes. Eles uniram componentes orquestrais intensificados com uma sutileza natural que a banda já carregava, misturaram com explosões teatrais extravagantes e conseguiram temperar todas essas informações com a magnificência vocal contínua e, por que não, vulnerabilidade emocional de seu vocalista Einar Solberg.
Um material com virtudes distintas para ouvintes exigentes e também para apreciadores casuais.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana