12 de julho de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
VÍDEO CASEIRO
Eu adoro autobiografia, principalmente em formato de disco. Se as músicas forem boas, melhor ainda e no caso da Lucy Dacus isso tá bem claro. No disco mais recente chamado Home Video, ela se abre e conta de uma criação cristã rígida, sua sexualidade e fala de saudades e nostalgias.
O Home Video é um disco que fui gostando cada vez mais que ouvi. A voz da Lucy é um tecido de seda com 3 mil fios egípcios de tão confortável. Suas melodias criativas tem personalidade com pitadas da mistura dos 2010s de Snow Patrol e os anos 70 do Bruce Springsteen.
As progressões de acorde das músicas tem aquela melancolia Robert Smithiana do The Cure e os arranjos trazem o melhor do Pop para um Indie Rock simples, cativante e principalmente emocionante.
Esse disco entrou no meu ano de forma lenta, mas cada vez que dou play, ele sobe no meu ranking de melhores do ano. Se eu ouvir o suficiente, é capaz dele chegar entre os 10 melhores do ano.
Esse tem que dar uma conferida, tenho certeza que alguma das 11 músicas vai te emocionar, vai por mim. 🙂
Por Vinícius Cabral
CRIADOR E CRIATURA
“We’ll never be those kids again”, disse Frank Ocean.
Há mais de 10 anos atrás, uma crew de moleques ousados, criativos e inovadores aparecia no horizonte: Odd Future Wolf Gang Kill Them All. Eu vi essa história começar, com atenção. Um dos membros mais proeminentes e ativos do grupo, Tyler, The Creator, parecia que ia chegar pra quebrar tudo, com uma mixtape matadora de 2009, a Bastard. Em 2011, seu debut oficial, Goblin, não mudava exatamente o game do rap, ou da música independente (como uns mais empolgados estavam prontos para cravar, à época). Mas havia intenção, talento e caminhos para uma carreira em constante evolução, o que de alguma maneira traz o artista embalado a esse 2021 – uma década depois.
Uma década em que tudo mudou: ele não é mais o moleque insolente cheio de ataques e impropérios destinados a, basicamente, qualquer um. Tyler, na verdade, são muitos: Wolf Haley, Tyler Okonma, Tyler, The Creator, Igor e, agora, Tyler Baudelaire. Roteirista, diretor, estilista, rapper, compositor, beatmaker. Criador. Artista maduro, pronto para desfilar seus talentos de forma ousada em trabalhos que não apenas queiram chocar e mudar a ordem das coisas, mas que consigam satisfazer esses objetivos, de uma forma ou de outra. Isso é o que ele faz em seu último álbum, CALL ME IF YOU GET LOST. Um catálogo de referências, samplers inteiros de canções de artistas admirados por Tyler (Westside Gunn, Gravediggaz), interpolação de mestres como Jay-Z e Kanye, participações matadoras de Lil Wayne (em um verso absurdo), Lil Uzi Vert, YoungBoy NBA e, para deleite de muitos, de seu mestre e ídolo Pharrell Williams. O disco tem espaço ainda para uma participação quase oculta de Frank Ocean, na sensacional LEMONHEAD (apenas dando um recado, em OFF, sem versos novos infelizmente), e de Domo Genesis em MANIFESTO, selando os acenos à Odd Future, com dois de seus mais proeminentes criadores em destaque.
Mas não é um disco só de referências (embora seja legal explorar todas elas aqui). É, antes, o disco mais sólido e consistente do artista em pouco mais de uma década de carreira. CALL ME IF YOU GET LOST agrega, por exemplo, a vibe soulful arrojada de Igor (e de algumas canções de seu clássico Flower Boy) com os arroubos agressivos de versos rascantes em sua tradicional voz hiper grave, em cima de beats surpreendentes – onda que vem lá de trás, de hits como Yonkers, e veio se sustentando até o Flower Boy, por exemplo, com Who Dat Boy. Neste novo álbum parece haver um equilíbrio entre os muitos Tylers: o rapper agressivo, o soulman sedutor e caricato, o romântico arrojado e inspirado (compositor de linhas de piano e melodias marcantes), e por aí vai.
Isso fica claro em uma das canções mais interessantes do disco, SWEET / I THOUGHT YOU WANTED TO DANCE. Com 9 minutos, a canção se divide exatamente em duas partes, trazendo, na primeira, a levada soul canastrona que marca seu disco anterior, Igor e, na segunda, um reggae (sim, um reggae), quebrando totalmente as expectativas e levando o disco para o seu clímax. Os universos criativos de Tyler parecem, aqui, coexistir em uma harmonia nunca antes vista, em um trabalho que revela que a maturidade não precisa matar a invenção. Muito pelo contrário. Não ser mais aquele garoto polêmico alimentado pelo hype é exatamente o que parece trazer Tyler a um outro patamar do game, como artista respeitado (e de respeito).
Um disco que vai marcar a década do criador (e de suas criaturas), Tyler.
Ouça CALL ME IF YOU GET LOST aqui
Por Márcio Viana
O GRANDE NÓ (ENTRE NÓS)
O nome Corisco remete a um cangaceiro do bando de Lampião. Porém, em sua concepção original, corisco tem relação com raios, e é inspirado nisso que Pedro Bonifrate narra na parte 1 da faixa-título a visão de uma tempestade elétrica, vista de sua casa em Paraty, no Rio de Janeiro. Casa esta que foi onde o cantor e multiinstrumentista, ex-Supercordas, gravou sozinho o disco, uma coleção de dez canções que alternam entre o caos da citada faixa que dá nome ao trabalho e a tranquilidade (e uma certa psicodelia) em músicas como Cara de Pano e Lunário.
Há espaço ainda para o rock basicão Grande Nó, com participação da cantora Betina, o único aceno para uma participação externa, mas nada que seja muito convencional: os vocais só aparecem aos dois minutos da canção, que tem redondos nove de duração.
Corisco começou a ser pensado pelo cantor há cinco anos, uma característica comum em Bonifrate, se formos ler os releases de seus discos anteriores. Talvez o artista sinta esta necessidade de deixar as canções maturando. Em tempos de isolamento forçado e diante de uma necessidade inadiável de repensar todos os nossos processos, quem é que pode condená-lo por dar tempo ao tempo?
Por Brunno Lopez
BREAK ME IN
2021 segue seu fluxo de muita competência em ser inesperado. Dessa vez, o tiro certo veio dessas irmãs sublimes que não lançavam nada desde o interessante Happysad, seu último álbum de 2019.
Meg & Dia sempre me surpreendeu por um som original, com melodias que passeiam entre rock e pop, sempre esbanjando originalidade e carisma. As vozes das duas combinam demais para a atmosfera que a banda procura criar e isso foi ficando cada vez mais evidente com a sequência de discos lançados.
O lançamento mais recente, “Break me In”, traz uma sonoridade mais crua, mas não menos encantadora. Em tempos loucos, era exatamente o que estava precisando ouvir, mesmo sem fazer ideia que esse som apareceria.
Que bom que apareceu. Espero que seja apenas um aperitivo de um álbum inteiramente novo. Assim como o nosso próprio futuro.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana