21 de junho de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana (de número 100!) é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
MELHORANDO UMA BORBOLETA
Todo mundo que escuta música em algum momento sente que falhou em ouvir com mais carinho algum estilo musical. Já falei aqui que demorei horrores pra ouvir e apreciar Jazz e ainda estou aos poucos entrando nesse universo que muitas vezes parece assustador.
Outro estilo de música que tenho um respeito enorme, mas nunca parei pra ouvir com carinho, foi o Rap / Hip Hop. Conheço os clássicos como NWA, Public Enemy, Nas, Run DMC e Tupac. Mas também nunca fui de colocar pra ouvir muito. Tem tanta coisa que gosto que nunca consegui entrar de cabeça.
Mas tem um disco que eu acho uma obra prima e talvez, o melhor disco de Rap que já ouvi na vida e, pra mim, é um clássico absoluto entrando numa lista mental de melhores álbuns de todos os tempos. Esse disco é o To Pimp A Butterfly do Kendrick Lamar.
A primeira vez que ouvi esse disco com calma foi logo depois da morte do David Bowie, onde ele citava que o Blackstar foi inspirado nesse disco. O hype do Kendrick Lamar não tinha furado a minha bolha ainda. Nessa época eu parei de acompanhar as premiações e o que andava rolando no mundo. Tive meus filhos em 2013 e 2014 e muita coisa caótica aconteceu na minha vida. Foi em 2016 que voltei a ouvir música com mais carinho mesmo.
O To Pimp a Butterfly foi um disco que me pegou porque ele não se parece com um disco de Rap que eu tinha como ideia na minha cabeça, conhecendo os clássicos. É um disco de Jazz com um Rap levando a emoção lá pra cima.
As letras do Kendrick e suas críticas eu nem vou falar muito porque você tem que ouvir e ler as letras, mas destaco logo uma das coisas mais geniais que já ouvi na música. Uma conversa que ele teve com o Tupac no final do disco.
Na música “Mortal Man”, o Kendrick Lamar conversa com o falecido Tupac Shakur usando trechos de áudio de uma rara entrevista de 1994 entre o Tupar e um apresentador de um programa de rádio da Suécia. Com esses trechos da entrevista, o Kendrick simula uma conversa bastante inspiradora sobre racismo e luta de classes.
É de uma genialidade imensa. Ele viu um show do Tupac quando era criança e provavelmente aquilo mudou a vida dele. Ainda bem. O To Pimp A Butterfly é uma obra de arte que merece o título de clássico, mesmo sendo um disco de 2015.
Alguns discos nascem clássicos e não precisam ser dos anos 60 ou 70. E espero que em breve, o Kendrick lance mais um clássico. 2020 e 2021, tão sendo anos horríveis e estamos precisando da voz do Kendrick. Será que esse ano vem coisa nova? Espero que sim.
Ouça o To Pimp a Butterfly aqui
Por Vinícius Cabral
O INÍCIO DE UM SONHO / DEU TUDO CERTO
Com mais de 25 anos de estrada, em 2021 o duo Daft Punk encerrou suas atividades. Não teve disco especial, single, estardalhaço nenhum. Bastou um vídeo-teaser e um anúncio: acabou-se um dos maiores e mais importantes projetos de música eletrônica de todos os tempos. Mas não consigo escrever isso com tristeza. Nas duas últimas décadas, Thomas Bangalter and Guy-Manuel de Homem-Christo simplesmente dominaram o cenário da música eletrônica, criando uma ponte estruturante com o mainstream a partir do nicho do acid-house francês, e sendo respeitados a torto e a direito por praticamente todo o espectro criativo musical: do pop mainstream de Kanye West aos indies. Para se ter uma ideia dessa amplitude, o duo é uma das maiores influências de Panda Bear, um dos mestres da Animal Collective.
Outra curiosidade que poucos conhecem, e que ajuda a explicar a estética do duo (especialmente em seu primeiro álbum, Homework) é a seguinte: antes de formarem o projeto eletrônico, Thomas e Guy-Manuel tiveram uma banda de rock chamada Darlin’. A banda entrou com duas faixas na coletânea Shimmies in Super 8, lançada pelo Duophonic, selo da banda Stereolab. Fracasso completo de vendas, a coletânea flopou enormemente, rendendo uma crítica horrível às músicas da banda Darlin’ na revista Melody Maker, que afirmou que as canções do grupo eram: “a daft punky thrash” (algo como “um punk sujo e bobo”). Obviamente, a Darlin’ não foi para frente, mas suas únicas canções lançadas pavimentaram o caminho para um punk sujo e bobo … eletrônico. O jargão pejorativo da crítica e o espírito da coisa ficaram (afinal, a crítica era quase um elogio, se pensarmos bem).
Homework é o primeiro disco do grupo. O início do sonho Daft Punk, encerrado neste ano de 2021. Mesmo para quem não gosta – ou não conhece – absolutamente nada do universo do house ou de outras linguagens da música eletrônica, essa é uma obra de força indiscutível. Os loops insistentes, quase experimentais – e que encontram no single Da Funk sua versão mais palatável – nos envolvem em uma colagem de samplers que pode ser definida exatamente pelo jargão: é um punk sujo, quase bobo – mas eletrônico. Os beats saturados e repetições revelam as inovações na manipulação dos samplers, que iriam marcar a carreira do duo e mudar a história da música eletrônica, talvez para sempre. Para se ter uma ideia básica de como o duo desenvolve métodos inventivos a partir da manipulação dos samplers, basta dar uma olhadinha nesse vídeo após ouvir o álbum (os primeiros minutos são dedicados a desmembrar músicas do Homework).
É inacreditável, para dizer o mínimo, o que esses dois caras conseguiram fazer com o uso – à época já engessado, em vários sentidos – dos samplers. Homework é um dever de casa básico. Pode não ser o melhor disco do duo, nem o mais famoso e elogiado, mas é o pontapé inicial ideal, que joga todas as cartas na mesa e já chega metendo os dois pés no peito.
Como já disse, não consigo sequer escrever sobre a separação do duo com tristeza. Não adianta anunciarem o fim do projeto. Daft Punk é eterno.
Por Márcio Viana
QUEM NÃO OLHA NO OLHO NÃO ESTÁ LEGAL
Há muito o que se descobrir no que diz respeito à psicodelia brasileira e seus clássicos perdidos. Este disco, de nome extenso e creditado à dupla Rubinho e Mauro Assumpção, mas executado em uma concepção de banda, é um deles, e embora esteja nas plataformas de streaming, há pouquíssima informação sobre ele na internet.
Nos resta então, comentar sobre o conteúdo de Perfeitamente, Justamente Quando Cheguei, que é fenomenal. As faixas misturam samba, folk, MPB, um pouco de sonoridade jazzística, rock e muita psicodelia em música e letra.
Um dado curioso é que, apesar de ter 13 faixas, o disco dura pouco mais de meia hora. Nas canções, a temática frequente é sobre as relações humanas e sobre a frieza das pessoas em seu convívio.
Cheia de suingue, a canção Os olhos não faria feio num disco de Jorge Ben, e dá o recado “quem não olha no olho não está legal, pensa que está muito bem, mas está muito mal…”.
Além de Rubinho (que depois passou a se identificar como Ruban) nos violões, teclados e vocais e Mauro como compositor (que depois teria parcerias com Claudio Nucci, entre outros), o grupo tinha em sua formação Marcelo (baixo), Gegê (bateria), Hermes (percussão), Formiga e Darci (ambos tocando piston).
Raríssimo, o álbum chegou a ter alguns relançamentos em LP, em edições que custam entre 450 e 800 reais. Uma edição original chega a ser negociada na faixa dos 4 mil reais.
O disco foi lançado em 1972 pela Tapecar, gravadora fundada por Manolo Camero, que após 40 anos de inatividade está de volta e promete grandes lançamentos. Esperamos que este disco esteja entre eles.
Ouça Perfeitamente, Justamente Quando Cheguei Aqui
Por Brunno Lopez
BETTER THAN EVER
Acompanhar a evolução de uma banda e perceber o momento exato no qual ela consegue atingir seu ápice criativo é uma sensação quase inenarrável. Ainda mais quando o grupo passa por reconstruções dolorosas, com membros clássicos se desligando do projeto no auge da carreira e deixando o futuro para quem ficou totalmente nebuloso.
Mas o Helloween nunca parou. E depois de serem obrigados a se reformular quase que completamente, os alemães do Power Metal encontraram a apoteose com o brilhante Better Than Raw.
Lançado em 1998, o disco mostra que o caminho percorrido desde o Master Of The Rings e passando pela evidente evolução no The Time Of The Oath, capacitou a banda a finalmente experimentar o nível mais harmonioso de sua nova história. A química é percebida em todas as faixas, mostrando um trabalho excelente de concepção e um alto nível de composição e execução. É impossível ficar indiferente às canções desse material.
Outro ponto alto é o andamento do disco. Parece que cada música foi colocada meticulosamente em sequência, oferecendo uma coesa e fervilhante viagem sonora pelas 12 tracks. Fica até difícil escolher uma favorita, pois cada uma delas brilha dentro do estilo que foi proposta.
Mas se o mundo só tiver tempo de escutar uma para poder saborear a grandiosidade desse álbum, provavelmente o play seria em “Midnight Sun”. Extremamente melodiosa, com vocais intensos, refrão de arena e riffs marcantes.
Tudo isso fez do Better Than Raw, better than ever.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana