IMPRESSIONAR SEM FAZER MUITO ALARDE
Música é música, assim como planetas são planetas. Não dá pra dizer que Júpiter ou Saturno sejam astros de nicho só porque orbitam longe de uma crítica que insiste em ter endereço residencial fixo na Terra. Um disco de rock pode ser o melhor do ano sem precisar aparecer nas listas dos melhores de rock. O mesmo vale para qualquer outro álbum que exista além da sua prateleira de estilo.
Talvez seja esse o propósito dessa lista de 2025: não apenas um reflexo de gostos pessoais mais um protesto quase inaudível da universalidade de tudo o que se pode ouvir e dos lugares que esse sons podem ocupar sem a necessidade de caber nessas caixinhas de gênero.
Permita-se sair da atmosfera das premiações e experimentar o ar rarefeito de um ou outro artista que segue criando sem a mídia ou a boa vontade da crítica. Claro, vão ter algumas chuvas de meteoros conhecidos, mas na essência, tudo é uma viagem para um lugar relativamente novo. Como o ano que virá.
20. Jade Bird – Who Wants To Talk About Love?

Who Wants To Talk About Love? é a interrogação e o terceiro álbum dessa artista com um timbre que parece um anzol novo atravessando o coração de desavisados. Amante do som e da aparência das palavras, compõe desviando dos rótulos de country demais e folk de menos (como podemos acompanhar em “Dreams”). Mesmo sendo difícil conseguir soar folk, rock alternativo e pop sem atirar para todos os lados, ela acerta e a única opção é cair de amores.
19. Ginger Evil – The Way it Burns

O debute desse grupo finlandês impressiona a ponto de superar a definição que a própria banda faz de seu som “de Foo Fighters à Fleetwood Mac”. É aquele rock contemporâneo muito bem tocado, com riffs acessíveis e uma das vozes mais bonitas do estilo. É sério: o mundo não vai se arrepender do que Ella Tepponen pode fazer. “Flames” conta bem essa história, sendo uma das melhores músicas do ano.
18. The Cold Stares – The Southern, Pt.2

Esqueça os dispositivos de percurso: The Southern, Pt.2 é estrada aberta, música alta e contemplação. Com beleza e arranjos energéticos, o The Cold Stares prova que simplicidade em altíssimo nível não envelhece. De “Little More Rope” a “Mighty High”, a viagem cruza blues, rock clássico sulista e ecos de Cream, ZZ Top e Led Zeppelin. E em “Hurting Side Of Love”, entregam uma balada lenta, confessional e fatal.
17. Helloween – Giants & Monsters

Os alemães das abóboras são um supergrupo dentro da mesma banda e isso, naturalmente, já é roubar no jogo. Aqui, eles usam com habilidade o coringa raro de ter os três vocalistas juntos e entregam a versão 2025 de algo que precisava existir. De Keepers a The Dark Ride, a banda costura novos trajes para roupas que os vestiram muito bem. E continuam na moda.
E em meio a tanta pluralidade, há uma absurda acessibilidade: “A Little Too Much” é a prova.
16. Twilight Aura – Believe

Convenhamos: o termo power metal é terrivelmente reducionista, e Believe surge como um tesouro contemporâneo com assinatura nacional. O álbum oferece uma perspectiva mais abrangente de sonoridade e faz o Twilight Aura merecer mais do que atenção. Além de corajoso, é humano e sem receio de ser otimista Só por “Coming Home”, com Daísa Munhoz e Fábio Caldeira, já vale cinco estrelinhas. E quando “Yourself Again” ecoa, a sensação é simples: ainda dá pra acreditar no estilo.
15. Trópicos – Trópicos

Receba toda a sonoridade plural da nossa cultura groovada misturada ao soul, com Tim Maia, Jorge Ben e Al Green pulsando por dentro. O projeto Trópicos soa como um refresco vintage: raízes profundas com acesso direto ao moderno, entre funk, samba-rock e bossa. Com vocais de Vinícius Araújo e um instrumental afiado, tudo dança, provoca e transpira euforia. Mais do que surpresa, Trópicos faz massagem cardíaca na música contemporânea.
14. Hayley Williams – Ego Death At A Bachelorette Party

Desplastificar a forma como a música é consumida pode salvar o que restou desse oceano (e Hayley está lá, tirando partículas artificiais da boca dos seres marinhos). Antes de lançar o disco completo, ela escolheu soltar as músicas fora de ordem, fora de formato e fora da lógica do single que vende ideia maior. Entre estética de VHS e sonoridades que vão do experimental ao hit, a experiência mudava conforme o caminho escolhido. No fim, a geniazinha acertou do mesmo jeito, independente da maneira que se ouvisse.
13. Ghost – Skeletá

O disco mais Hard Rock da história de Tobias Forge e seus seguidores mascarados, curiosamente, é o que mais revela sua identidade musical. Um salto criativo que nos transporta para as eras oitentistas sem a penumbra que ainda continua característa, porém, menos teatral e mais crua. “Umbra” é a nova obra-prima que Skeletá ofereceu.
12. Art Nation – The Ascendance

A consistência do Art Nation na esfera do Hard rock melódico moderno é quase que uma assinatura da banda. Os vocais que atingem as estrelas em meio à melodias que abraçam, fazem de The Ascendance um disco obrigatório para todas as vertentes dessa cena. Produção impecável e performance que torna ouvinte casual em presidente de fã-clube.
11. Maestrick – Espresso Della Vita: Lunare

Quando Solare terminou, em 2018, a sensação era de completude, mesmo não sendo o fim,
Sete anos depois, Espresso Della Vita: Lunare mantém o ritmo e eleva a experiência, conduzindo a viagem por paisagens mais tempestuosas e intrigantes. Há um salto evidente de produção e ideias, com teatralidade, burlesco e virtuosismo amarrados com nó de marinheiro veterano. “Ghost Casino” é um convite para acompanhar mais dessa banda que ainda ocupará o topo do metal brasileiro.
10. Lady Gaga – MAYHEN

Depois de uma trilha sonora irresistível de Coringa 2, a srta. Stefani Joanne Angelina Germanotta veio com uma metralhadora de hits de danceteria que não só fazem dançar, eles machucam. Pegue “Vanish Into You” por exemplo, que carrega uma estética do Artpop nos versos iniciais mas escala ao dançante sintetizado num refrão que as pessoas precisam cantar. Não é todo dia que se derrete em alguém, apesar das altas temperaturas globais.
Se “Disease” e “Abracadabra” deixavam claro como ela faz do pop sua marionete, em “How Bad Do U Want Me”, ela brinca de criar música com o template de Taylor Swift, porém, com aquela arquitetura perfeccionista que lhe é peculiar. Lady Gaga sabe deixar suas marcas e isso vira tatuagem assim que “Blade of Grass” começa. Nem precisava do Bruno Mars pra encerrar o disco com uma brutalidade dessas tocando antes.
9. Aranda – Four0Five Sessions

O papel da curadoria musical é tirar do radar confortável aquilo que não nasce de propaganda, dinheiro pesado ou campanhas predatórias. Four0Five Sessions mora exatamente aí. Lançado discretamente, o novo trabalho do Aranda amadurece o rock pós-2000 e entrega dez faixas que deveriam servir de bússola. O single do ano está logo na segunda música: “Blamin’ You” é acessível, refrescante e obsessivamente bem escrita.
Faixas como “Superficial Girl”, “Hooked On You” e as baladas “Another Day” e “Now and Forever” mostram como pop, groove e rock ainda podem soar vivos. A hora de escutar algo autêntico, fora da moda e longe do hype é agora.
8. Battle Beast – Steelbound

Quando lhe disserem que o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode causar um furacão no Texas, acredite, mas mude apenas o país. o furacão acontece na Finlândia e passa pela voz de Noora Louhimo. Em Steelbound, o Battle Beast escala o metal sem equipamentos de segurança, chegando a lugares mais raros e menos óbvios. Entre guitarras pesadas e bateria cortante, teclados com atmosfera ABBA e um flerte pop convidam mais gente para a subida. Faixas como “Angel of Midnight” vestem épico com maquiagem, sem constrangimento. E em “Twilight Cabaret”, fica impossível não amar: o metal se diverte e conquista o cume.
7. Nospūn – Ozai

Escândalo Progressivo, Épico Pitoresco, Estonteante Performance… a verdade é que não dá pra economizar na definição de EP com um material tão bom assim. O prog do Nospūn já causava terremotos desde o excelente Opus e segue movendo as placas tectônicas do gênero com o absurdo que é Ozai. Para citar um pouco dessa atmosfera, os guturais meticulosos, as linhas engenhosas e a autoridade de execução na faixa de abertura, “Life, the Universe, and Everything” deixam claro que é banda grande. Agora, sem medo nenhum de errar, “Out With a Bang” é um dos melhores singles de prog dos últimos tempos, absorvendo Pink Floyd e Dream Theater sem soar nem um pouco derivativo.
6. Joya Marleen – the wind is picking up

A srta. Marleem se equilibra num avião de papel enquanto violinos quase setentistas tremulam, mas estamos 50 anos adiantados e ela ousa roubar essa estética. Seu timbre amarra gerações ao longo das nove faixas, uma aula de contemporaneidade maior que o rótulo confortável do pop. Quem atravessa “i think i’m in love”, “end of the world” e “theremin” chega entregue à beleza quase rouca de “oxigen”. Em “difficult”, mesmo nas métricas obrigatórias de um hit, ela consegue criar uma canção potente, que empurra o pop para uma prateleira menos estereotipada. Ao fim de “lights on”, a única certeza é que estamos ricos com essa Joya.
5. Cardinal Black – Midnight At The Valencia

Com o timbre hipnotizador de Tom Hollister, as seis cordas profundas de Chris Buck e o andamento preciso de Adam Roberts, o Cardinal Black entrega algo raro em Midnight At The Valencia. É o amadurecimento de todas as emoções de anos tocando em bares e clubes até alcançar aqui um registro geracional. De “Racing Cars” à absurda “Breathe”, tudo faz sentir, parar o tempo e esquecer o fluxo dos dias. É um disco inevitável de amar, irresistível de favoritar e indispensável de colecionar.
4. TORA DAA – Prayer and Pleasure

Falando com cordas vocais e de aço, Tora Dahle Aagård é um escândalo rebelde, e em Prayer and Pleasure suas digitais afundam direto na alma. Ao longo das 10 faixas, o carrossel de emoções gira sem enjoo, com blues se desdobrando em aromas diversos e magnéticos. Entre púlpito sagrado e palco burlesco, oração e prazer se alternam testando lágrimas, sorrisos e sentidos. De “Run Faggot Run” a “Dear Lord”, o disco obriga o corpo a lembrar de conjugar o verbo sentir no presente. Avassalador, o álbum promove uma heroína na guitarra e no microfone sem um monte de retalhos sem identidade.
3. Halestorm – Everest

Lzzy Hale nunca atira sem a intenção de ferir mortalmente. Ninguém sai ileso quando a cantora decide gritar aos quatro ventos com seu timbre capaz de mover geleiras inteiras e inverter o curso das cachoeiras. Se antes ela e os outros integrantes arrancavam pedaços com “Love Bites (So Do I)”, agora a atmosfera ficou mais tempestuosa e profunda, a julgar por “Darkness Always Wins” e a faixa-título “Everest”. É um rock moderno, pesado sem transbordar e que consegue expor os machucados, feridas e curas de um grupo que sabe falar alto. O Halestorm precisou construir essas histórias até conseguir juntá-las num produto que representa seu provável ápice de carreira.
2. Ina Forsman – After Dark Hour

Neste álbum, a história de Ina Forsman alcança um nível invejável de poderio criativo, incorporando ao soul retrô passagens inspiradas no mais puro R&B, fazendo a própria Motown sentir que está olhando para seus anos dourados. É o resultado de alguém que escolhe colocar sua energia ao vivo em cada segundo das gravações, dessa forma, as canções já nascem prontas para explodir, desde apresentações mais intimistas até grandes festivais. Essa mistura de sensualidade, catarse e entrega absoluta, fazem com que hinos como “Alone” existam e empurrem After Dark Hour para um lugar quase que divino.
É por discos assim que hipérboles existem.
1. Malou Lovis – Things I Wrote Down Last Night

Artistas existem para ir além de performance e voz afinada. E isso fica completamente perceptível aqui, logo no disco de estreia dessa alemã instigante, nos lembrando que é possível se emocionar faixa a faixa. Experimente fechar os olhos com força para apreciar o absurdo de composição que é “Step by Step”. Ela brilha tanto aqui quanto o Quasar J0529-4351, esvaindo seus versos entre o teclado inicial até explodir num refrão que tem o poder de salvar vidas. De longe, a melhor música do ano que vai fazer a festa nas playlists de envolvimento. things I wrote down last night é um registro pessoal que se estende aos que compartilham tantos episódios próprios de vida sem saber como desenhá-los. Na viagem entre a suavidade acústica e as intervenções sonoras mais acessíveis, este disco de estreia entrega sentimento. Uma obrigação de quem faz música.



