O ano começou meio lento pro meu gosto. O segundo semestre foi mais agitado e mais coisas me emocionaram. 2024 foi um ano de muitas mudanças pra mim, então consegui prestar atenção em pouca coisa. Foi um ano que resolvi ouvir menos, mas ouvir melhor. Foi um ano que ouvi mais vezes alguns discos pra poder curtir com calma. A palavra do ano pra mim foi desacelerar. Ouvi os discos como fazia nos anos 90. Conseguia 1 CD a cada 15 dias e ouvia aquilo até gostar, ou não. E esse ano fiz o mesmo. O que está na minha lista, ouvi bastante pra entender melhor as obras. A ordem em si, não tem tanta importância assim, tirando os 5 primeiros. Mas algumas coisas que gostei ainda ficaram de fora, mas ainda valem um play:
- Chat Pile – Cool World
- Alcest – Les Chants de l’Aurore
- Pearl Jam – Dark Matter
- Judas Priest – Invincible Shield
- Tahiti 80 – Hello Hello
- Kim Gordon – The Collective
- Charli XCX – brat
Top 10:
10. Jerry Cantrell – I Want Blood
Em seu quarto álbum solo, Jerry Cantrell do Alice in Chains, nos entrega mais um disco cheio de riffs e melodias, mas com sonoridade de banda. Não soa como um trabalho estritamente solo. Ele expande seus gostos e referências e nos presenteia com músicas como a faixa-título, “I Want Blood”, que é mais Hard Rock trilha sonora de viagem na estrada, do que de seus famosos ritmos arrastados e melancólicos (embora o álbum tenha isso também, ainda bem!).
Sophie Allison, mais conhecida como Soccer Mommy, mais uma vez lança um trabalho que adorei, só que um pouco mais enxuto que o disco anterior. É um disco mais violão, mais clima, mais arranjos mínimos. É um álbum com mais espaços, onde o silêncio também faz parte da música. Ela conta que o álbum lida com o sentimento de perda. É um disco de luto. Nele, Sophie expressa histórias que ela gostaria de compartilhar com alguém que já não está mais lá. É um disco de cura. Sou fã demais.
O disco começa com uma sequência de três faixas pesadas e modernas, com aquele toque de Metal de arena mais acessível. É como se os caras do Periphery resolvessem tocar com o Evanescence. Jordan Fish, produtor e ex-tecladista do Bring Me The Horizon, é o responsável pela produção do disco. O álbum traz também algumas faixas de transição curtinhas e ótimas canções de industrial synth-pop, mas no geral, é um disco de metal moderno. Em várias músicas, é quase uma homenagem explícita ao Nine Inch Nails.
07. Opeth – The Last Will And Testament
Detesto definir música como algo “sofisticado”, mas dessa vez será impossível falar do Opeth sem usar esse adjetivo. The Last Will and Testament é um disco conceitual contando a história da abertura de um testamento num clima meio Edgar Allan Poe onde cada música do disco é uma parte do testamento sendo revelado. É uma aula de transições, dinâmicas e cadência. É um disco pra ouvir com a letra na mão e entrando no clima da história. Opeth são os mestres do gênero. Nenhuma banda faz o que eles fazem.
06. Mdou Moctar – Funeral for Justice
Em um cenário de tensão e conflito no Níger, o Mdou Moctar lançou em 2024 o “Funeral for Justice”. Este disco é uma poderosa prova de resistência e criatividade. Mdou Moctar, carinhosamente apelidado de “Hendrix do Saara”, é um músico e guitarrista nascido no Níger, conhecido por sua fusão única de música tradicional do Saara com elementos do Rock contemporâneo e alternativo.
05. Vola – Friend of a Phantom
Talvez tenha sido a melhor surpresa musical do ano pra mim. Com um som atmosférico, melodias marcantes e peso e dinâmicas na medida certa, o Vola soa como se o Katatonia tivesse um “filhote” com o TesseracT, mas com toques dos sintetizadores do CHVRCHES. Amei! Possivelmente foi o disco que mais ouvi em repeat durante o ano. Além da capa ser linda também.
04. RM – Right Place, Wrong Person
“Right Place, Wrong Person” do RM (também conhecido como Kim Namjoon, líder do fenômeno BTS), é um disco que parece uma busca de respostas de quem o Kim é. Primeira coisa que tenho que deixar claro é que esse disco tá longe de ser um disco de K-pop. É um disco do mundo. É um disco de experimentação criativa. São 34 minutinhos com 11 faixas que transitam entre o Hip Hop, Jazz, R&B e Shoegaze. É um disco genial. Certamente fico espantado que poucos lugares estão falando desse disco.
03. Blood Incantation – Absolute Elsewhere
Blood Incantation é mais uma daquelas bandas que descobri que existia por causa de meme de logo de banda metal que não dá pra ler nada. Depois de ouvir algumas coisas aqui e ali, nada tinha me emocionado até então. Mas com o lançamento do Absolute Elsewhere, tudo mudou. Assim que dei play, de alguma forma o disco me levou pra dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Diretamente para uma fazendinha com uma vaca em 1970, mais conhecido como Atom Heart Mother do Pink Floyd e para o final dos anos 80 e começo dos anos 90 na Flórida, precisamente em Tampa Bay Area. Mais conhecido como movimento de bandas de Death Metal da Flórida. E o Blood Incantation vem nessa pegada. O melhor de dois mundos tão distintos. Muito peso e muito clima que fica entre o progressivo e o psicodélico. Discáço! Um dos melhores e mais inovadores discos de Metal que ouvi nos últimos 10 anos.
02. David Gilmour – Luck and Strange
O David Gilmour, pra mim, tem a perfeita combinação de duas personalidades musicais melódicas. Suas linhas de voz e melodias cantando vão lá dentro da minha alma. Seus solos, igualmente perfeitos, usam melodias completamente diferentes das melodias que ele faz cantando. É como se ele fosse duas pessoas em uma. Eu sou completamente apaixonado por suas notas, detalhes mínimos e simplicidade desde que me entendo como gente. Era um sonho poder ver ele tocando ao vivo, o que não tive a oportunidade até 2024, quando saiu esse disco maravilhoso que ouvi sem parar desde que saiu. Felizmente, ele fez alguns poucos shows em Roma, Londres, LA e NY. Consegui ingresso pra ver esse ídolo e foi uma das noites mais inesquecíveis da minha vida. Cada segundo desse disco, vai me levar pra noite que tive o privilégio de poder chorar ouvindo as músicas do David Gilmour com ele ali, alguns metros de distância de mim. A música “Between Two Points”, com a fofíssima e linda voz da Romany Gilmour, filha do homem, foi a música que mais ouvi no ano. Linda, linda linda. Melodia, voz e o solo… ahhh o solo.
01. Geordie Greep – The New Sound
Eu nem acredito que um disco teatral, cinematográfico, aleatório e que soa quase como um musical da Broadway é meu disco favorito de 2024. Talvez essa introdução me faria simplesmente ignorar a existência desse disco. Me soaria pretensioso. E é. O disco é extremamente pretensioso, mas funciona. Nem tudo super bem pensado pra soar como artístico é música pra dividir opiniões e criar polêmica ou achar um “Som novo”. Muitas das vezes a arte quer passar uma mensagem. E o The New Sound do Geordie Greep (ex vocalista e guitarrista do black midi) acha esse novo som. Pelo menos pra mim. Foi o disco dos últimos anos que mais expandiu meu gosto. Foi como beber cerveja amarga pela primeira vez na vida. Não gostei do primeiro gole, mas no final do copo já queria outra. O The New Sound tem um pouco de Frank Zappa, samba, musical da Broadway, jazz, baião, fusion, rock, Mr. Bungle, Steely Dan, J-Rock e muito mais. Tem muita malemolência, irreverência e criatividade. A maior parte do disco eu fiquei pensando, “de onde vieram essas ideias todas?”. Na primeira audição, fiquei com uma sensação de estranhamento. Mas na segunda, comecei a entender o que estava acontecendo. A cada vez que escuto, compreendo um pouco mais e gosto um pouco mais. O disco conta uma história bem atual de um homem patético numa jornada quase de um conquistador barato que poderia ser um redpill. O disco conta com a participação de vários músicos brasileiros, já que boa parte do disco foi gravado em São Paulo. É uma viagem musical que brinca com o visual. É pra dar play e não fazer mais nada além de ler as letras e rir das piadas e refletir sobre a história. É certamente um dos discos mais legais que ouvi na vida. Desses que ouvirei pra sempre. Dando play na música 1 até o final. Sem pular nada. Curtindo cada detalhe e prestando a atenção em todos os milhares de detalhes. É um disco pretensioso, mas nem tudo pretensioso é cheio de pedância e soberba. Muitas das vezes é uma arte que dá certo.
Bônus! Pra quem gosta de K-Pop:
j-hope – HOPE ON THE STREET VOL.1
O nosso episódio sobre os melhores discos de 2024 a lista completa do nosso time está aqui